"BBB 23", intolerância religiosa e a importância de Tadeu Schmidt

 A vigésima terceira edição do "Big Brother Brasil" vem apresentando um jogo morno e uma audiência preocupante. São poucos os participantes que se destacam, embora a produção se esforce para provocar embates durante as dinâmicas, como o 'Jogo da Discórdia'. No entanto, as polêmicas têm dominado a temporada, o que expõe uma escalação equivocada de parte do elenco. No entanto, o apresentador e a produção têm marcado presença e tentado impedir que determinadas situações se agravem. 

Logo na primeira semana, Tadeu Schmidt teve que intervir para que a relação abusiva entre Gabriel Fop e Bruna Griphao acabasse antes que algo pior acontecesse. O participante a tratava com estupidez e chegou a dizer que 'em breve daria cotoveladas em sua boca'. Ainda que uma parcela do público tenha achado interferência demais no jogo, o jornalista fez muito bem em cortar o mal pela raiz. Até porque os erros do passado não podem mais ser repetidos, vide o traumático "BBB 17", onde Marcos Harter só foi expulso depois que agrediu Emily. 

E foi com base na correção de graves falhas do passado que houve mais uma interferência da produção ontem, dia 20. Cristian, Key e Gustavo já estavam há alguns dias praticando intolerância religiosa através de comentários preconceituosos e ignorantes sobre as rezas de Fred Nicácio.

O caso mais grave aconteceu quando Cristian insinuou que Fred ficou em pé, de frente para sua cama, à noite, e isso o deixou com muito medo. A produção ainda exibiu flashbacks de Key e Gustavo segurando um terço como uma espécie de 'defesa' contra Nicácio e, para culminar, debocharam do participante rezando na cama. E durante várias conversas disseram que estavam muito assustados. Foi vergonhoso e deprimente. 

O apresentador, então, falou sobre diversidade religiosa com todos os participantes e pediu para Fred Nicácio falar da sua religião, o Culto de Ifá: filosofia vinda dos iorubás, da região da Nigéria, que chegou ao Brasil depois do período escravagista. Fred falou que era filho de Oxum e comentou um pouco sobre os significados de sua crença, entre elas o culto à natureza como sua principal divindade. Cristian, Gustavo e Key mudaram a expressão assim que Tadeu abordou o assunto, enquanto os demais nem perceberam a razão para o debate. Mas os três identificaram na hora que o recado era direcionado a eles. O trio demonstrou preocupação com a reação de quem assiste ao programa, mas nenhum teve arrependimento porque todos garantiram que não foram preconceituosos. Key ainda reforçou sua intolerância quando afirmou que não é obrigada a aceitar ou ser 'amiguinha'.

Tadeu Schmidt deveria ter nomeado os responsáveis pela intolerância religiosa? Deveria ter sido mais duro? Bem, quanto aos detalhes cada um tem a sua opinião, mas o fato é que houve uma evolução em cima do tema. Impossível não lembrar do tenebroso "BBB 19", o pior da história do reality, que teve como vencedora uma participante que proferiu uma avalanche de falas problemáticas, entre elas preconceito religioso e racial. Na época, Tiago Leifert, o então apresentador, além de ter ignorado totalmente os absurdos que eram ditos por ela ao longo da temporada, fez questão de enaltecê-la com um discurso de vitória revoltante que muitos não esquecem até hoje: "Teve a audácia de ser imperfeita e a ousadia de ser real". Algo que já era absurdo há quatro anos, mas que hoje em dia seria intolerável. A eliminação do Cristian nesta terça (21), com 48,32%, provou que o público também vem se dando conta do que é ou não aceitável. Ainda que a pequena diferença para Ricardo (que teve 40,39%) exponha que uma parcela significativa das pessoas não se importa e até concorda com o que foi dito, o que não deixa de ser preocupante.

Porém, é um alívio que Leifert esteja fora da apresentação do "Big Brother Brasil" e Tadeu Schmidt tenha entrado em seu lugar. O "BBB 23" anda deixando muito a desejar em vários aspectos, mas tem um ótimo apresentador. Vale citar ainda outra interferência recente do jornalista a respeito das brincadeiras dos participantes durante o pós-festa que já quase resultaram em agressões. Reality show não é escola para ensinar nada a ninguém, mas é sempre bom quando há um apresentador que não se omite diante de situações que ultrapassam os limites do jogo.