quinta-feira, 5 de dezembro de 2024

"Alma Gêmea" foi a melhor novela da Globo em 2024

 A Globo acertou em cheio com a reprise de "Alma Gêmea", que acaba nesta semana. Escrita por Walcyr Carrasco, a história foi uma das melhores novelas do autor e um dos maiores fenômenos de audiência do horário das seis. A trama chegou a marcar impressionantes 53 pontos, com picos de 56, no último capítulo, índice inimaginável na época, e impossível de ser alcançado hoje em dia até mesmo em uma novela de horário nobre. A história de época que tinha a reencarnação como tema central conquistou o público e foi um grande sucesso.


Logo no primeiro capítulo (exibido no dia 20 de junho de 2005), Luna (Liliana Castro), grande amor da vida do floricultor Rafael (Eduardo Moscovis) ---- que criou uma espécie de rosa branca especialmente para a amada ----, leva um tiro durante um assalto (planejado pela invejosa Cristina para ficar com as joias da prima) e morre, para o desespero do florista e da mãe (Agnes - Elizabeth Savalla) da pianista. Mas o sentimento que unia o casal era tão intenso que a mulher voltou na pele de uma índia (Serena - Priscila Fantin), para reencontrar o amor de sua vida.

Vinte anos se passam, e aquela criança, que nasceu em uma aldeia indígena, vira uma bela mulher. Já Rafael segue amargurado com a vida e infeliz sem Luna ----- apesar de ser constantemente cortejado por Cristina (Flávia Alessandra) ----- e se fecha em seu mundo de sofrimento e solidão, mesmo tendo um filho (Felipe - Sidney Sampaio) com sua falecida mulher.
O mocinho só volta a ter brilho nos olhos quando encontra Serena, que chega a São Paulo em busca de explicações para as visões que tem de uma rosa branca.


A bela história conduziu a novela, que tinha uma das melhores duplas de vilãs da teledramaturgia: Cristina e Débora. Flávia Alessandra e Ana Lucia Torre brilharam absolutas interpretando mãe e filha diabólicas que faziam de tudo para afastar Serena de Rafael. A sintonia cênica das atrizes transbordava na tela. A dupla não realizaria nem metade de suas maldades caso a novela fosse exibida atualmente, inclusive no horário das 21h. Foram muitas cenas fortes e todas brilhantemente interpretadas.


Pode-se afirmar, sem exagero, que Cristina e Débora foram os melhores papéis de Flávia Alessandra e Ana Lucia Torre em suas respectivas carreiras. Mas além delas, muitos outros atores se destacaram e também viveram seus melhores momentos na tevê. Aliás, o elenco era grandioso. Eduardo Moscovis fez um grande protagonista e emocionou com seu Rafael, um mocinho machista, conservador e totalmente condizente com a época da história --- a década de 1940. Foram várias cenas que exigiram uma intensa carga dramática e o ator correspondeu em todas. Vale lembrar que, cinco anos antes, o intérprete já tinha honrado outro protagonismo em "O Cravo e a Rosa", do mesmo autor, onde deu um show na pele do impagável Julião Petruchio.


Elizabeth Savalla, em mais uma parceria com Walcyr Carrasco, interpretou com maestria a elegante, cética e amargurada Agnes, que demorou meses para acreditar que Serena era a reencarnação de sua filha Luna, o que resultou em uma sequência emocionante e também proporcionou uma virada na vida da personagem, que abriu as portas para o amor através da bonita relação com Ciro (Michel Bercovitch). Walderez de Barros emocionou com sua Adelaide e fez um belo par com Umberto Magnani (Elias, seu amor do passado). Drica Moraes e Malvino Salvador fizeram o melhor casal da trama e divertiram interpretando os impulsivos Olívia, uma perua falida, e Vitório, um cozinheiro de pavio curto. O clássico jogo de gato e rato que nunca falha na teledramaturgia. O 'Cozinheiro' e a 'Vespa' caíram nas graças do público. 


O núcleo cômico dos caipiras foi um show à parte. Fernanda Souza virou um dos grandes destaques com sua encalhada Mirna, enquanto que Emilio Orciollo Neto divertiu com seu ciumento Crispim, cujo bordão "Ô MIIIIIIIIIIIRNAAAAAA" caiu na boca do povo. O veterano Emiliano Queiroz (Tio Bernardo) completava o trio e engrandecia a história. Outra peculiaridade da trama era a atitude tomada por Crispim para defender sua irmã que vivia atrás de um marido: jogava todos os pretendentes em um chiqueiro. O número de vítimas enlameadas foi incalculável. Ainda tinha a pata Doralice, companheira da solteirona, honrando a 'cota animal' presente em toda novela do autor.


A Pensão da Divina (Neusa Maria Faro, em seu melhor papel da carreira) era mais uma qualidade da novela. Também responsável pela comicidade da história, a casa abrigava um bando de gente, onde um falava em cima do outro o tempo todo (muito antes da ótima Família Tufão, de "Avenida Brasil"), cujo principal 'conflito' era a tradicional guerra entre genro e sogra. Fúlvio Stefanini (Osvaldo), a saudosa Nicette Bruno (Ofélia) e Neusa formaram uma trinca perfeita e o bordão de Divina foi outro sucesso da trama: "Osvaaaaaldo, não fale assim com a mamãe". Além deles, vale destacar também Fernanda Machado (Dalila, filha de Osvaldo e Divina, irmã de Vitório), Andrea Avancini (Terezinha), Lady Francisco (Generosa), Mariah da Penha (Clarice) e Ronnie Marruda (Abílio), que também faziam parte do núcleo. Aliás, a trama de Dalila era uma das melhores da novela. Enganada pelo vilão Raul (Luigi Baricelli), a personagem ambiciosa teve um crível arco de redenção graças ao romance com Roberval (Rodrigo Phavanello), que sempre a amou e aguentou as patadas até ter seu amor correspondido. O atrapalhado barbeiro ainda enricou e salvou a pensão da família. Também vale citar a divertida volta do 'falecido' (saudoso Ankito), que expôs o passado nebuloso de Ofélia. 


A trama envolvendo Alexandra (Nivea Stelmann) também foi atrativa. A personagem era tratada como louca, mas na verdade ouvia espíritos e não sabia lidar com isso. Rosane Gofman interpretava muito bem a enfermeira Nair, que cuidava da mulher, cujos surtos assustavam. Seu casamento com o médico Eduardo (Angelo Antônio) passou por muitos tormentos. Citando mais alguns atores e personagens que se destacaram, estão o marginal Guto (Alexandre Barillari), o mordomo Eurico (Ernesto Piccolo), a empregada Zulmira (Carla Daniel) ---- que protagonizou uma cena que virou um dos melhores memes das redes sociais ("Mas, Serena, você também é branca) -----, a sedutora Kátia (Rita Guedes), o Dr. Julian (Felipe Camargo), a elegante Sabina (Aisha Jambo), o sapeca Carlito (Renan Ribeiro), o menino de rua Terê (David Lucas), a bruxa (Duse Nacarati) e a irmã de Rafael, Vera (Bia Seidl).


A reta final da trama foi repleta de cenas marcantes, incluindo a morte de Débora, que se intoxicou com o próprio veneno, cujo objetivo era matar Rafael antes de ter os copos trocados pelo mordomo. A fala da vilã ("Ah, finalmente os refrescos") virou um meme que até hoje é lembrado. A morte de Cristina, sendo levada pelo diabo para dentro do espelho, enquanto a mansão pegava fogo, foi outro grande momento. E, claro, o final do casal protagonista, que faleceu, indo curtir a paz e a felicidade em outro plano, longe de toda a cobiça que os cercava, fechou a história com chave de ouro, que após uma passagem de tempo de 15 anos, reuniu os personagens para o lançamento de um livro (escrito por Terê, interpretado por Ângelo Paes Leme) contando a bela história de amor de um menino chamado Rafael com uma menina chamada Serena. Vale ressaltar que Walcyr sempre soube o desfecho de seu enredo. Ficou evidente durante toda a trama que os mocinhos morreriam. Isso porque a morte de Rafael estava traçada durante o assalto, mas Luna colocou seu corpo na frente e alterou o destino. Serena reencarnou com um problema cardíaco e sua missão era partir novamente, mas desta vez ao lado de seu amor. Os dois fizeram a passagem juntos e a sequência em que o dois apareceram representados por várias almas ao longo de muitos séculos, incluindo duas freiras e dois escravizados em uma alusão a relações de irmandade ou então homoafetivas, foi uma sacada de mestre, assim como a última cena, em que duas crianças brincam em um parque no ano de 2006 e se apaixonam, seguindo o ciclo da alma gêmea, mas agora com um futuro feliz e sem karmas. A palavra 'eternidade', dita pelos mocinhos durante a partida, foi lindamente representada.


Com 227 capítulos (a trama foi esticada devido ao êxito na audiência), "Alma Gêmea" foi um imenso sucesso de Walcyr Carrasco. O êxito na audiência se repetiu quando foi reprisada no "Vale a Pena Ver de Novo" em 2010, no Canal Viva em 2022 e agora mais uma vez no "Vale a Pena Ver de Novo". A história de época que mesclou drama, comédia, reencarnação e espiritismo de forma primorosa muitas vezes atingiu o maior pico nos índices do Ibope da Globo enquanto esteve no ar, superando as três novelas inéditas. Diante de tantas produções controversas ao longo de 2024, a reprise de uma obra de quase 20 anos atrás se tornou a melhor trama do ano da emissora. É o poder de um fenômeno que sempre será aclamado pelo público.


10 comentários:

Citu disse...

Genial

Anônimo disse...

A melhor novela do Walcyr ♥️
Pra sempre no meu coração

Anônimo disse...

Já pensou vc como seria o spoiler de ALMA GÊMEA para os dias atuais?

Anônimo disse...

Alma Gêmea sempre será icônica e memorável, a melhor novela do walcyr carrasco. Foi muito bom acompanhar novamente, é uma novela maravilhosa, a gente nunca se cansa de assistir. Cristina e Débora sempre serão icônicas, as melhores vilãs do horário das 18h, todos os núcleos foram ótimos e repletos de qualidades, as atuações também foram impecáveis, várias cenas ANTOLÓGICAS, o último capítulo maravilhoso, o melhor final da teledramaturgia brasileira. Alma gêmea sempre será famosa, eu aguardo ansiosamente pela próxima reprise. A maior e melhor novela de 2024. Walcyr Carrasco é genial.

Pandora disse...

A primeira vez que "Alma Gêmea" passou eu estava começando meu curso universitário. Lembro de um amigo que faltou a aula para assistir ao último episódio, eu vi no sábado. A novela ainda reprisa o último capitulo no sábado? Lembro que chorei, eu sempre chorava nos finais de novela. Deu até saudades de sentar para vê novela no final do dia, de preparar a janta junto com Mainha ouvindo as noticias do jornal, depois vê a novela das sete e por ai vai...

Esse post me encheu de nostalgia, não só em relação a novela em si, mas também em relação ao tempo em que morava naquela casa da Rua Maraú, em Recife, com meus pais... naquele tempo de televisão ligada praticamente o dia todo, das conversas que eram bem parecidas com as da Família Tufão. Meu pai gosta muito de vê novelas, se tornou, depois da aposentadoria dele, algo quase religioso, era um momento de rara paz na casa dos meus pais... eu gostava... não sei se gostava da novela ou de está com minha família vendo novela. Quanta nostalgia!

Anônimo disse...

uma curiosidade sobre a Andrea Avancini que participou deste sucesso que ela é a mãe do dublador Andreas Avancini, o dublador do Pennywise e ela foi casada com o famoso dublador Garcia Júnior

Marly disse...

Eu acho que, para além das qualidades que a novela tem, em si mesma, muitas pessoas se encantam com obras que tenham alguma temática digamos, espiritualista. Em minha opinião, os seres humanos se sentem conectados a algo que não é material.

Beijão e bom fim de semana

FABIOTV disse...

Olá, tudo bem? Desde o anúncio da reprise equivocada de Paraíso Tropical, já tinha sugerido a reprise de Alma Gêmea para reerguer o horário. Dito e feito. Ainda não acompanhei a reprise de Tieta. Abs, Fabio www.blogfabiotv.blogspot.com.br

Ane disse...

Esta novela é maravilhosa! Vi quando estava passando a primeira vez e já vi pelo menos duas vezes de novo. É linda, emocionante e engraçada, tudo ao mesmo tempo. Não se faz mais novelas como antigamente. Beijos nas bochechas! :-)

Anônimo disse...

Bom o facto da melhor novela de 2024 ser um producto de 20 anos atrás é preocupante Sérgio da muito o que pensar a globo deve olhar para o sucesso de alma gemea e repensar as suas decisões.