quinta-feira, 28 de novembro de 2024

Sucesso da reprise de "Alma Gêmea" prova que o público sente falta de novelas espíritas

 A reprise do fenômeno de Walcyr Carrasco, exibido entre 2005 e 2006, está perto de seu fim. "Alma Gêmea" mais uma vez repetiu o imenso sucesso e por muitas vezes foi o assunto mais comentado nas redes sociais, além de ter sido a responsável pela elevação da audiência da Globo, que teve sua grade noturna bastante beneficiada com os bons números. Aliás, em alguns dias a reexibição teve picos maiores no Ibope que os de "Mania de Você", novela das nove que vem fracassando. E os motivos para o êxito da aclamada história são muitos, sendo um deles a temática do espiritismo. 


O autor conseguiu uma mescla perfeita de dramalhão clássico com humor pastelão, tendo como pano de fundo o universo espírita e uma premissa de reencarnação envolvendo a mocinha da trama. O trágico assassinato de Luna (Liliana Castro) durante um assalto marca o primeiro capítulo de "Alma Gêmea" e o desespero de Rafael (Du Moscovis) faz a alma da protagonista voltar quase que imediatamente depois do início de sua passagem em uma sequência impactante, com direito a efeitos especiais avançados para a época. A partir de então, nasce Serena (Priscila Fantin) e o envolvente enredo é iniciado de fato. 

Recentemente, foi ao ar a cena antológica em que Débora (Ana Lucia Torre em seu melhor papel na carreira) bebe o extrato de dedaleira que colocou na bebida planejada para Rafael beber, sendo vítima não só do próprio veneno, quanto da própria obsessão com arrumação, uma vez que fez da vida do mordomo Eurico (Ernesto Piccolo) um inferno.

A sequência em que a vilã morre e vê seu corpo no sofá, sendo levada para o inferno logo depois, é uma das melhores da novela. Todos os elementos do espiritismo são muito bem usados por Walcyr e são eles que deixam a produção tão impactante, vide ainda as aparições aterrorizantes do fantasma de Guto (Alexandre Barillari), o diabo levando Cristina (Flávia Alessandra) pelo espelho, Rafael e Serena partindo juntos para a eternidade, enfim. 

A verdade é que o público nunca se cansou de novelas espíritas. Elas sempre foram muito bem-vindas, independente da crença de cada telespectador. Até porque todas as tramas nunca foram 'doutrináveis' e sempre abordaram a questão com sensibilidade. Folhetins do tipo sempre fizeram um enorme sucesso na teledramaturgia e a mais memorável é "A Viagem", remake da obra de Ivani Ribeiro, exibido em 1994 e já reprisado inúmeras vezes ---- a última reprise chegou ao fim há pouco tempo no Canal Viva. A figura de Alexandre (Guilherme Fontes) virou uma das mais temidas pelo público, que torceu para que Diná (Christiane Torloni) morresse logo para o aguardado reencontro com Otávio (Antônio Fagundes) no céu.

A última trama espírita da Globo foi "Espelho da Vida", exibida em 2019. A história não fez sucesso, mas teve um aumento significativo da audiência na reta final diante da expectativa para a revelação da identidade do assassino de Júlia Castelo (Vitória Strada) e o reencontro da mocinha com Daniel (Rafael Cardoso), a reencarnação do injustiçado Danilo Breton. Um enredo que misturou espiritismo com realismo fantástico através da viagem no tempo da mocinha, que voltava ao passado através de um espelho, na antiga mansão da protagonista. Uma obra ousada, primorosa e que destacou o talento de Elizabeth Jhin. A autora ficou conhecida pelos seus enredos espíritas e todos tiveram ótima aceitação popular, vide "Escrito nas Estrelas", "Amor Eterno Amor" e "Além do Tempo", folhetim marcado pela histórica passagem de tempo de mais de 150 anos, com todos os personagens reencarnados, após um final trágico dos mocinhos na primeira fase. A escritora não teve seu contrato renovado e já declarou em entrevistas que não pretende voltar a escrever para a televisão, o que é uma lástima. 

Ano passado, saiu em vários sites de entretenimento que Amauri Soares, então novo responsável pelas produções nos Estúdios Globo, tinha proibido folhetins espíritas por conta do crescimento da pluralidade religiosa no Brasil. Uma justificativa que nunca teve qualquer sentido, afinal, se há a tal pluralidade nada mais justo do que as novelas abordarem todas as religiões. A verdade, segundo consta nos bastidores, é um temor imbecil de desagradar os telespectadores evangélicos. Algo que também não tem qualquer lógica, uma vez que as obras espíritas nunca sofreram qualquer tipo de rejeição tendo como motivo o espiritismo. Vale até lembrar outras produções de sucesso, escrita por outros autores, como o remake de "O Profeta" e "Alto Astral". 

A atual fase da teledramaturgia da Globo anda tão controversa ---- embora o início de "Garota do Momento" esteja incrível e sendo um sopro de esperança ---- que a novela de maior sucesso de 2024 foi uma reprise de quase vinte anos atrás. E o fenômeno "Alma Gêmea" deixa bem claro que a audiência está com muita saudade de obras espíritas. O recado está dado. 

4 comentários:

Anônimo disse...

Exatamente, Sérgio. Até quem não é fã de novelas com temática espírita há de convir que é justamente este estilo um dos, senão o maior gerador de tramas instigantes, a ponto de fazer os telespectadores criarem teorias para compreender como as peças se encaixam no enredo.

Guilherme

Juvenal Nunes disse...

Conclui-se, portanto, que o espiritismo funciona como garantia de sucesso comercial.
Abraço de amizade.
Juvenal Nunes

FABIOTV disse...

Olá, tudo bem? O público sente falta de novela com cara de novela... Abs, Fabio www.blogfabiotv.blogspot.com.br

Jovem Jornalista disse...

Essas tramas tinham boas estórias e enredos. Serem espíritas é o de menos.

Boa semana!

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Até mais, Emerson Garcia