Reflexões sobre o Medium e o cenário do conteúdo escrito na internet atualmente

Esse texto é uma extensão de um texto anterior: Reflexões sobre o Medium e o resgate de um sentimento perdido na internet 

Em uma de minhas jornadas lendo blogs gringos e atualizando minhas bookmarks, achei um texto falando sobre a plataforma Medium, especificamente sobre migrar de lá para um blog. O que me deixou pensativa sobre a impessoalidade de plataformas de publicação de texto, que não são um website próprio. 

I realized Medium is really great about surfacing content, but it removes the face of it. It neutralizes all content to basically be author-agnostic. It’s like Walmart or Amazon in that you can buy from thousands of different brands, but you rarely actually know what brand you’re buying…you just know "I got it from Amazon."

Same with content on Medium. Sure, you can see who the author is or what publication it’s on, but ultimately your takeaway is "I read this article on Medium", and that’s not what I wanted.

[Why We Transitioned from Medium Back to Our Own Blog, por Josh Pigford]

Acho que essa é a diferença do Medium pra uma newsletter, que atualmente é mais próxima dos textos de um blog. No fim das contas tudo pode ser recebido por e-mail, mas é diferente. Ainda não sei definir bem a diferença entre um e outro, em termos que propósito, apesar de saber que a entrega é diferente, uma vez que newsletters chegam na casa das pessoas, não são as pessoas que vão até o autor/ texto. Sem falar nos aspecto estéticos e de acessibilidade que cada formato tem. No fim, são diferentes formatos de escrever, que permitem diferentes formas de ler e que não se anulam. Eu gosto das possibilidades, ainda que preferindo blogs e websites pessoais. 

Mas vamos por partes. Quando criei uma conta no Medium, meu intuito era ler outras pessoas. Logo, eu tinha descoberto que esse era o mais novo point para as pessoas que escrevem. Enquanto blogs tem endereços descentralizados, o Medium reunia todos num só lugar e promovia o tráfego comum de uma rede social voltado para o formato escrito (não fotos ou vídeos). Parecia promissor, pensei. Porém, não naveguei por muito tempo e logo esqueci a existência da plataforma. 

Faz uns 7 anos, desde então. Eu já acessei outras vezes, guiada por links que me levaram até um texto hospedado lá, mas nada que me mantivesse na plataforma. Não sabia explicar bem o motivo, mas agora que eu voltei a ler coisas lá, tudo me pareceu compulsivo e sem identidade alguma. A plataforma é movida pro algoritmo de interesse, o sistema de busca é ruim igual ao do Wattpad e por último, é tudo muito aleatório. Você pode achar sobre tudo e achar nada também.

Achei algumas publicações legais no meio de um monte de post de dicas sobre alcance, tráfego, como escrever mais rápido, como ganhar dinheiro e várias coisas que mais pareciam poluição visual e textual. O tipo de texto genérico que se encontra na busca do google. Ver isso foi me desanimando de buscar e ler na plataforma. 

Acessar o Medium por meio da busca é uma roleta russa, você acha muito texto ruim e alguns que se salvam, e ás vezes os que se salvam nem são tão bons assim, são muito curtos ou vagos. Mas em meio a tanto texto propaganda, de dicas infalíveis pro sucesso, os textos medianos acabam se tornando bons por terem o mínimo de identidade de quem escreveu eles. 

Percebi que a maioria dos textos legais são de 2016-2018 ou muito antes, talvez porque a plataforma tinha um outro perfil nessa época. Os textos mais recentes parecem superficiais. O negócio é você achar perfis legais, no meio do joio. O mesmo que achar blogs legais, no meio dos diversos blogs sobre diversos assuntos. Acaba não valendo a pena a centralização dos textos de várias pessoas aleatórias numa plataforma daquelas. Você continua dando tiro no escuro. 


Aproveitei que não tava fazendo nada e joguei umas palavras chaves sobre o Medium no twitter, e descobri que todo mundo posta lá (no Medium), principalmente resenha de filme. Eu falo, falo mal do twitter, mas lá é minha fonte de pesquisa social. Aonde eu recorro pra saber a opinião da pessoas sobre qualquer tema. Um Censo BR e internacional. 

Então descobri que, apesar dos pesares, o Medium parece ser o meio mais acessível pra galera que só quer fazer um texto mais estruturado, divulgar o link do texto no twitter e fim. Sem ter que se comprometer em criar e manter um blog ou até uma newsletter. Vira uma plataformas de textos aleatórias, uma vez que hoje em dia o facebook caiu no conceito. Lembra quando ao invés de ter blogs, a galera tinha uma página no facebook? Onde o tráfego de pessoas era maior do que um blog e não precisa muito esforço pra gerar engajamento. Enquanto escrever em blog ou no tumblr era mais nichado ou com objetivo de ser escondido mesmo.

Também descobri que, fazer "thread" ou "fios" no twitter é considerado algo demodê (a palavra velha kkkkk), é mais vantagem e menos coisa de tio, escrever um post no Medium. Ao mesmo tempo que vi gente fazendo piada de pessoas que escrevem texto no Medium. Mas também pode ser considerado algo de gente com intelecto elevado. Enfim, a linha tênue das opiniões alheias na internet. Vi piada até sobre o Wordpress... não sei porque, nem esperava por isso... Por algum motivo, em algum contexto, deu a entender que Wordpress ou ter um blog é demodê também... "coisa dos anos 2000". Logo, me enganei achando que tava na moda ser Y2K. 

Achei muito tweet, pedindo pelo amor de deus, pra alguém publicar coisa no medium sobre um assunto que não se acha por aí, ou ninguém ta falando sobre. Sempre acho legal quando vejo gente interessada em ler artigos e textos, feito por pessoas normais. Ainda que eu ache fruto duma preguiça sem tamanho de pesquisar pra achar esses textos de interesse, antes de chegar dizendo que ninguém ta escrevendo sobre. Mas acho legal o incentivo e significa que entenderam minimamente que não tem consistência alguma postar coisa no Twitter, porque tudo se perde na timeline. É como areia movediça engolindo tudo segundos depois de ser publicado. 

Mas sempre me lembro de não acreditar muito no apelo das pessoas, pois elas são empolgadas igual eu e falam coisas da boca pra fora. Como quem se interessa em consumir ou criar algo e no fim das contas nada acontece. Ainda que a oportunidade bata na porta, elas vão ta ocupadas de mais, com medo de mais pra participarem, estarão sem ideias, sem dinheiro e sem um monte de coisa que nem precisa ter pra começar a fazer algo. Mas a gente incute que precisa ter e ai não faz. Quando no fundo no fundo elas não querem se comprometer e se responsabilizar com nada a longo prazo. E ta tudo bem.

Vou jogar aqui a ideia para as pessoas terem um blog de férias, que só publica no mês de julho ou janeiro. Assim fica um conceito do blog, sem cobranças, mas com seu período garantido de postagens devido ao tempo livre. Joguei. Alguém pega aí.

Ainda na pesquisa pelo twitter, achei muita gente da área de programação penando pra achar publicações em português e, por isso, tendo que fazer o seu próprio conteúdo. Amo esse assunto, pois eu consumo muita coisa em inglês, mas cadê a galera escrevendo no seu próprio idioma e tomando controle do conteúdo na sua língua, trazendo termos pro seu idioma, não só aprendendo "mansplaining" e achando bonito ficar repetindo palavras vazias por ai. Ou achando que vai ter mais acesso se escrever na língua universal. Meu cu. O mesmo valendo pra filmes e séries. Eu vejo as coisa por ai e penso: nossa, dava bom no Brasil uma história dessas. Mas ai, são muitas e muitas camadas até isso acontecer de fato (não vou entrar no assunto cinema brasileiro).


Respondendo ao twitt acima: se você não tiver escrevendo, ninguém vai ler mesmo. E continuando nesse questionamento sobre onde se escreve hoje em dia: atualmente, conheço outras plataformas das quais chamo todas de newsletters, como Substack, Tinyletter (soube que vai ser desativado), Beehiiv, mas é diferente e eu não sou muito de assinar coisas com meu e-mail. Velhos hábitos de uma criança que achava que precisava pagar pra se inscrever em algum canal no youtube, passando anos salvando os canais preferidos nos favoritos do navegador até descobrir que era gratuito. 

Depois de velha, cheguei a assinar algumas newsletters de blogs, mas eu não gosto do que é exatamente a essência desse formato: receber coisas no e-mail, pois não gosto da caixa de entrada cheia, ainda mais com textos que demandam tempo pra ler. Eu acabava acumulando os textos pra ler depois e lotando a caixa de entrada, enquanto ia resolvendo os e-mails mais urgentes... Fica complicado quando se assina várias newsletter diferentes, ainda que elas postem uma vez na semana ou no mês, se eu segui 6 contas, serão 6 e-mails pra dar conta de uma vez... É muito. Cancelei minhas inscrições e hoje mantenho uma sessão no meu blogroll, acesso lá de tempos em tempos, pra ler as atualizações.

Entendo as vantagens e faz sentido pra muita gente. A newsletter da pra acessar no celular sem problemas, você recebe a notificação do email, abre e lê. Simples e prático. Logo eu sou avessa a tudo isso. Notificação e ler no celular. Ainda que leia e entenda a praticidade. Essa não é minha primeira opção, pois gosto de sentar e ler numa tela grande. Meu blog não é mobile friendly e eu tenho certa resistência com isso também. Então digamos que pro meu perfil, atualmente, newsletter não é algo que funcione. 

Novamente, são formatos diferentes que, graças a dels, são bem distintos entre si, sem monopolizar um mesmo formato, igual fazem as redes sociais, e sem forçar todo criador de conteúdo, escritor e blogueiro a escrever em um formato apenas, por falta de opção. Viva a diversidade! 

12 comentários:

  1. Eu achei esse texto tão especifico, mas fiquei tão feliz quando vi o título hahaha justamente porque eu estava pensando exatamente sobre isso esses dias... eu comecei a postar no medium antes de criar meu blog e posso dizer que não sinto falta alguma de lá. Você comentando sobre a impessoalidade da plataforma deu nome a algo que eu não conseguiria explicar.

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    1. Eu conheço algumas pessoas que começaram a publicar lá, mas logo partiram pra outras plataformas melhores. Acho que o medium promete muito e não entrega.

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  2. Oi Lana!
    Nunca usei o medium ativamente. Tava lá quando ele surgiu, mas justamente, achei meio mais do mesmo e impessoal - se for pra ler pessoas, prefiro ler em blogs pessoais, se for pra aprender coisas, preciso caçar em fóruns rápidos e no youtube. Nunca me chamou a atenção em nada, e na minha cabeça era "plataforma de gente chique na qual eu não me encaixo", hahaha.

    Mas o print que mais me mobilizou a ficar refletindo foi sobre inglês não ser acessível, e acho que a questão era mais que todos tivessem acesso ao idioma né? Eu mesma penso em quanto conteúdo legal eu acho em inglês e simplesmente não posso compartilhar ou tenho que traduzir pra alguns amigos, e olha que aprendi sozinha. E entendo tb quem escreva, afinal, se você tá publicando um texto você quer que ele seja acessado, né? Se vai ser mais acessado em inglês, não cabe julgar.

    Ri um pouco do seu comentário sobre ma moça que escreve na própria cabeça, hahaha! De fato moça, escreve onde você quiser.

    Gostei do texto e de reflexão e assim como você, meu blog não é mobile friendly, mas deixo o layout velho do blogspot lá pra quem quiser ler. Bonito não é - mas sabe que eu ando lendo blogs pelo celular? Quando tô em sala de espera, por exemplo. Só é ruim de comentar, porque o sistema de blogger tá dando erro faz uns tempos e não dá pra ler o que está na caixa de texto (às vezes tem que publicar o comentário na cara e na coragem, bem triste)

    Enfim. Beijinhos! :*

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    1. Plataforma de gente chique kkkkkkk eu nem sei de fato o perfil daquela plataforma, mas não é um lugar pra blogs.

      Eu gosto de ler no celular as vezes, mas os comentários ficam no bloco de notas pra quando eu acessar pelo computador, porque não consigo conectar a conta.

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  3. Oi Lana ~

    Eu admito que não conhecia o Medium e por isso achei seu texto bem interessante, afinal era um assunto novo, mas não apenas uma apresentação e sim toda uma analise, o que me prendeu na leitura.

    Gostaria de ressaltar um ponto que você mencionou no texto, o fato de que é tudo jogado, textos ruins ou genéricos, textos que parecem vazios e sendo honesta, eu vejo isso como um reflexo de como a internet é hoje como um todo, evita o pessoal e a originalidade para ter algo comum e genérico, afinal o genérico é mais confortável e convidativo, atraindo mais cliques e visibilidade.

    No fim esse é o male atual, o desespero pelo reconhecimento, saber existem textos bons é algo que me anima, porém comparado aos demais textos mencionados vem o balde de água fria, penso que são pessoas que tem muito a dizer, mas que se calam cada vez mais por não se encaixar em um todo.

    Como eu disse, foi um ótimo texto que lerei novamente, irei sim visitar o Medium e lerei uma terceira vez, para ver se minhas impressões foram as mesmas.

    Ps.: Eu também uso o twitter como fonte de informação.

    Até logo~

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    1. São textos feitos pro SEO do google, parecem textos de chatgpt, alias. Querendo ou não esse tipo de texto tem aos montes e sempre vai ter. Por isso ter um blog hoje em dia é quase que uma resistência em meio a esse conteúdo genérico.

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  4. Oi Lana, quanto tempo né? Espero que esteja bem.
    Sobre o Medium, confesso que só soube por meio de outras pessoas que botavam o link no meio das postagens, seja no Twitter (que ultimamente uso de vez em quando, mas que em 2011 foi de grande serventia pelo menos no Japão) ou no próprio blog da pessoa. Dependendo do autor, até vale a pena ler no Medium, mas tem que procurar MUITO mesmo, porque a maioria, pffffffffff
    Como eu vivo postando no meu Emporio que, eu escrevo porque gosto, e se uma pessoa ler, já está bom demais. E detalhe que não divulgo tanto assim como deveria, no máximo no Twitter quando lembro e o link do meu blog está tanto no Twitter como no meu IG pessoal (tem do blog também, mas quem diz que eu atualizo?)
    O que a Gabi mencionou, é uma verdade - ultimamente muita gente posta pra ganhar visibilidade do que passar alguma informação. São poucos os blogs que se salvam, acho que até mesmo várias contas no IG também. É difícil achar alguma conta que informam o produto, lugar, evento, etc. Se bem que até eu posto e escrevo o resumo, depois eu faço o post no blog e informo onde está com mais detalhes.
    Gostei do seu texto, é bem interessante sobre o Medium, embora eu nunca tive interesse de postar algo lá tampouco um newsletter.

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    1. Como eu disse pra Gabi, ter um blog, no modelo que a gente tem, é uma resistência atualmente, em meio a tanta publicação genérica e click bait. Um sinal de que ainda existem pessoas escrevendo de verdade sobre as coisas, seja indicando produtos e lugares, seja como forma de expressão pessoal ou artistica.

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  5. isso de receber os textos no e-mail não funcionou comigo pelo mesmo motivo. o que gostei no substack que é que tem como desativar o recebimento no e-mail e assim paro para ler os perfis que sigo da mesma forma que com o blog, quando tenho tempo para sentar e ler com calma na frente do computador HAHAHAH

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    1. Pois é, de tempos em tempos eu me atualizou por lá

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  6. pra mim também só funciona ler blogs em uma tela grande, pc, páh! entrar no texto. eu até leio algumas poucas newsletters, que é justamente para não acumular tantos textos longos para ler no celular, daí consigo acompanhar.
    eu nunca usei o Medium e já não tenho interesse ao saber que é esse compilado confuso e pouco pessoal.
    cada um com seu formato, é isso ☆

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