Reflexões sobre o Medium e o resgate de um sentimento perdido na internet

Eu não vou saber escrever esse texto, porque eu dividi ele em dois, na minha cabeça. Que tá pra virar três. Porque existe uma primeira percepção minha sobre o Medium, positiva, do qual eu escrevi aqui nessa sessão que estou publicando. E existe uma segunda percepção, mais apurada e negativa, após algumas semanas de convivência com a plataforma (do qual também escrevi sobre, numa outra sessão). Só que agora, também existe uma pessoa que assinou newsletters, depois de ter escrito sobre não gostar do formato... Então, como vou proceder com tamanha fluidez minha, perante o assunto? Vou manter do jeito que tá e fingir que não é comigo. 

Em algum texto passado, eu disse que tenho liberdade pra escrever e as pessoas tem liberdade pra ler ou não, esse blog. Mas eu também acredito que a gente tem que ter reponsabilidade pelo que escreve na internet (principalmente em redes sociais que tem um alcance gigantesco, podendo tomar proporções absurdas de um telefone sem fio e sem fim). Mas também acredito que, depois de publicar um texto, imagem, arte ou opinião, já não é mais algo só seu. É algo público e que cada pessoa que entrar em contato com aquilo, vai ter uma interpretação própria, que está para além do alcance do autor original/inicial. O que ja quebra o argumento da responsabilidade... Pois não dá pra ser responsável pelo que as outras pessoas vão pensar, apenas pelo que eu escrevi. E não dá pra ficar prevendo o que vão achar do que eu escrevi. Então vira um dilema e não existe um manual de como proceder também.

Todas essas coisas acima são contraditórias e me deixam insegura quanto ao conceito de liberdade. Mas já que eu volto nesse tema, pra falar de outra faceta dessa liberdade que eu ainda não sei bem como chamar. Bora lá... uma hora eu me acho. 

Enquanto eu tava escrevendo sobre blogrollescrevendo sobre blogroll, sobre rede de apoio na blogsfera e afins, eu fui ler algumas coisas no Medium. Peguei os escritos que apareceram em destaque na plataforma, pesquisei sobre kpop e anime, assuntos que eu esperava encontrar relatos mais pessoais sobre. Achei mais coisas escritas de 2018, pra trás. Enquanto eu lia, percebi uma coisa que é difícil de encontrar em textos escritos na internet atualmente, mas não sei dar o nome pra isso. Talvez seja liberdade de expressão, mas esse termo já foi tão desfigurado nos últimos anos que é preciso uma breve explicação antes de usá-lo. Também não acho que esse termo seja o ideal pra situação.

Ao terminar de ler os textos, eu tinha a clareza de que aquilo não era a verdade, nem era uma informação correta sobre nada. Era simplesmente uma pessoa falando sua percepção de mundo através de um tema. Uma adolescente falando sobre como ela percebe o impacto de um grupo de kpop na vida dela e no mundo. Um adulto explicando por que Psycho-Pass é o melhor anime da face da terra. No fim das contas, eram diferentes tamanhos de mundo escritos pra quem quisesse ler. Estava claro que pessoas que escrevem no Medium, são amadores e ninguém precisa tratar eles como experts no que escrevem.  

Aqueles textos foram escritos sem pretensão de nada maior. Sem interesse em alcance. Talvez interessasse uma troca sincera entre pessoas com os mesmos interesses.

Era a sensação de ler opiniões fora das redes sociais. Sensação de ler um texto livre do formato viciado dum site de noticias/ fofoca. Ou qualquer outro formato condicionado a gerar um tipo de reação instantânea e voraz. 


Não importa se todas as opiniões estavam equivocadas, se a pessoa tinha uma compreensão reduzida do assunto, se ela tava falando aquilo claramente por ser um homem ou uma jovem, pois no fim das contas a gente só fala do que sabe. A gente parte do nosso ponto de vista, da nossa vivência. Seu mundo é literalmente do tamanho do seu mundo, apenas. Não tem como você falar da forma mais eloquente, cobrindo todos os tópicos possíveis e tendo ciência de todas as mazelas sociais. E ninguém tá esperando isso de um texto da internet. Olha só que graça... Enquanto nas redes sociais as exigências estão impostas e quase não sobra espaço pro assunto em si. O que é irônico, devido a informalidade que as redes sociais tem, portanto não deveria ser esperado nada de muito sério, acadêmico, erudito e etc vindo de lá. 

Eu terminei de ler todas as abas abertas e pensei: nossa... como é bom ler um texto que não seja um compilado de comentários de gente exigindo posicionamentos e conduta específica. Um texto completo, as vezes mal escrito e desinteressante. Mas um ingênuo e longo texto. 

Foi então que me deparei com três textos da Luísa Pinheiro, perdidos por lá, sobre a escrita na internet e era quase como se ela tivesse sentado comigo e conversado a noite toda sobre tudo o que estava passando na minha cabeça naqueles dias. Ela reuniu relato de outras pessoas que escreveram na internet nos últimos anos, até 2019, além de relatos próprios. Com o texto, eu consegui ter um panorama da mentalidade e motivação que levam as pessoas a escrever na internet. Também percebi como isso se perde toda vez que alguém escreve algo no twitter. Essa ultima parte não ta no texto, sou eu mesma que digo e constato. Não pra demonizar nenhuma rede social específica, mas pra pontuar certos maus hábitos que adquirimos nas redes, desde toda polarização política que passamos no Brasil (nos últimos 10 anos).

Quando eu falava de liberdade lá no início e sobre uma nova faceta da liberdade, e agora falando sobre os textos do medium, eu tava tentando falar sobre o sentimento de desprendimento. De escrever sem formato, sem certos vícios. De ler sem exigências, sem expectativas. E sobre permissões, de ser equivocado, de ser ingênuo, de ser dono da razão, sem ofender ninguém com isso. De não se levar a sério. Desprendimento é a palavra ideal, mesmo. 

"Eu senti saudades de escrever. De registrar em palavras opiniões que provavelmente vão me fazer passar vergonha daqui uns anos, de fingir que sou a voz de uma geração só porque tô escrevendo umas abobrinhas na internet."

[Agora eu tenho uma newsletter? — 07/01/2016 — Irena Freitas — última newsletter enviada: 11/07/2019]

Esse é um trecho presente num texto da Luisa sobre newsletters, quando ela se questiona o motivo que levou pessoas a voltar a escrever na internet, mas num novo formato que não fosse um blog. Nisso, temos relatos do resgate daquele sentimento de escreve sem pretensão. O desprendimento do qual falei, que é uma liberdade, mas não a plena. É mais um desapego de algo. Esse algo, sendo basicamente as redes sociais. 

É engraçado, que a gente ta nessa ladaina com redes sociais desde 2016 e antes, quando todo mundo parou de vez com blog e alguns migraram pra newsletters. Alguns tentaram se manter no Instagram/ Facebook e conseguiram, outros não conseguiram e assim ficou. Desde então, estamos nos lamuriando sobre como era antes e como não é mais. Mas toda vez que eu chego nesse tópico e vejo o tamanho do meu blogroll, eu penso na quantidade gigante de pessoas ativas escrevendo nessa pegada de blog, diário pessoal, diário de curiosidades, coluna, crônica e tudo o que se imaginar, só que descentralizado, mesmo. Tem que saber garimpar e cair de paraquedas em links. Eu acho que já escrevi sobre isso e, pelo visto, já posso me citar nos meus próprios textos como eu almejava em textos anteriores. 

Sei que, eu olho pro blog e penso como é bom que isso aqui esteja distante do fluxo de pessoas da rede social. Do ritmo de assuntos. Da quantidade de comentários. Gosto como tudo é mais lento e a longo prazo, como é esquecido, ás vezes e revivido outras. E como é diferente de tudo o que já foi. Precisa de tempo, precisa de atenção, precisa de interesse, precisa sair da rota e chegar aqui. Sou grata pelo espaço, grata pelas pessoas que chegam, pelas pessoas que ficam, pelas palavras que deixam. Acho tudo na medida certa, pra falar a verdade. 

Agora eu to um pouco eufórica por ter conseguido finalmente escrever esse troço, com as palavras que eu queria. Noutro momento volto a fritar os miolos com as outras partes dessa reflexão. Por hora, vou encerrar com um questionamento de Luisa.: 

A minha intenção aqui não é escrever sobre como a internet desandou e sim pensar em como usar esse espaço pra fazer o que a gente gosta, numa tentativa de resgatar aquele sentimento de pertencimento e comunidade que eu pelo menos conseguia no mundo dos blogs. Afinal, se a internet se tornou tão intimamente terrível, por que continuamos participando disso? Por que uma quantidade imensa de pessoas começou a gastar a maior parte de seu escasso tempo livre em um ambiente tão claramente tortuoso?

[fonte: Escrever na internet #1: os blogs, por Luisa Pinheiro]

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2 comentários:

  1. Nossa, ótimo texto!
    Eu nunca tinha parado para pensar nisso da responsabilidade de escrever. Assim, claro, há bastante essa discussão na internet, mas nunca pensei sobre isso de depois de publicado "não ser mais seu". Esse é um assunto um pouco contraditório.

    Você descreveu exatamente o meu sentimento com os blogs, não é algo rápido e a todo momento. "tudo é mais lento e a longo prazo", perfeito! É uma saudade que sinto quando visito blogs, estou tentando voltar a ler mais e fugir um pouco de toda a agitação que são as redes sociais. Consumir conteúdo de forma mais tranquila, no meu tempo. Saber que, se hoje eu não li o tal texto, eu volto semana que vem eu ainda vou poder ler e comentar, revisitar. E não ficar naquela ansiedade já pensando que o conteúdo some em 24h. É cada um no seu tempo e não no tempo de algoritmos.

    Gostei muito do seu texto, já tô com as outras abas abertas com os links que você recomendou para leitura!
    Até mais!

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    Respostas
    1. Estou dando uma olhada no blog e achei seu comentário sem resposta, por isso to respondendo ele só agora.

      Isso o que você falou, de poder voltar semana que vem pra ler depois, é algo que se perdeu nas redes sociais e só pertence a blogs mesmo hoje em dia. O conteúdo virou algo tão efemero que se torna irrelevante, mesmo sendo bem produzido e custoso de fazer. Dá até uma desanimada em produzir.

      Obrigada pelo comentário Emi, até mais!

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