Ao fim dos 100 dias felizes: uma reflexão e poucas fotos.


No período de fevereiro/março, alguns blogs fizeram listas de rolês introvertidos, mostrando que dá pra se divertir sozinho e ta tudo bem. Um desses post que me moveu a escrever esse texto. Nele é pontuada a questão das redes sociais gerarem um sentimento de culpa por não estar se divertindo com a vida, tal como as pessoas na internet mostram estar. Pessoalmente, eu não sinto isso, mas um trecho me pegou:
Hoje, adulta, meus colegas de trabalho insistem que eu preciso sair, beber e conhecer gente já que sou nova no interior. Refletindo sobre isso, cheguei à conclusão de que existe um ideal do que deve ser feito para aproveitar a vida de verdade. [sem fomo: a vida é o que é, por Jen]

Esse trecho conversou com coisas que já ouvi antes, de pessoas que acham que eu não vivo a vida, não me divirto e não saio de casa. Mas o plot twist é que elas só dizem isso porque eu não posto na internet as coisas que eu faço no meu dia a dia. Tirando as coisas relacionadas a trabalho, que são pontuais. Então, se elas não viram, não aconteceu. 

Eu cheguei a essa conclusão enquanto conversava com um parente e foi a coisa mais assustadora que eu percebi sobre as pessoas ao meu redor. Sei lá, perceber que elas levam a sério a persona que se performa nas redes e que sua vida pode facilmente se resumir àquilo. Perceber também, que essa é a única forma que as pessoas encontram de saber sobre você sem precisar perguntar sobre, sem se dispor o trabalho de conversar e perguntar "ei, como tá?". Elas preferem te abordar dizendo que já sabem sobre sua vida. Ou nem sequer te abordam.

*pausa dramática.

Felizmente, eu existo e continuarei existindo offline, independente do que seja publicado, ainda que isso afaste as pessoas que assumem que eu sou fechada e inacessível por não postar minha vida. 

Isso me leva a outra reflexão, sobre como eu uso minhas redes. Eu não consumo pessoas nas redes sociais, não vejo stories de quem é do meu convívio, ainda que eu siga essas pessoas. Quando o faço, é com pessoas duma realidade totalmente contrária a minha, tipo uma moça que mora perto do polo norte e mostra como são os meses em que a noite dura 24h e outros meses em que o sol nunca se põe. Eu amo ver essas realidades, de pessoas que moram em lugares bonitos e tiram fotos bonitas ou aconchegantes. No geral, eu consumo ilustradores, cantores, fotógrafos, drag queen, quadrilhas juninas, escolas de samba, atores asiáticos, ativistas negros, artesãos que gosto, gente que filma lugares bonitos do Japão, gente preta que faz comida vegana, gente que assa pão em formatos fofos. Não a vida pessoal deles, mas o que eles fazem que me inspira, ou alivia meus dias, que eu acho bonito e que me faz feliz.

A forma como eu uso minhas redes sociais, é como fonte de inspiração. Tanto de quem eu consumo, como do que eu posto. Meu twitter e tumblr são depósitos, de fotos, vídeos e qualquer coisa relacionada a kpop e séries que assisto. Raramente uso pra interação com outras pessoas. Nos stories do Instagram, eu posto as coisas que eu gosto, fotos bonitas que outras pessoas tiraram, uma imagem de um idol que eu gosto, as músicas que eu estou ouvindo, algo informativo que achei interessante. Eu posto todos os dias, muita coisa, mas raramente vão ter fotos minhas do dia, do que eu estive fazendo, com localização e afins, talvez tenham registros de algo que fiz ano passado, de uma viagem que fiz há meses, mas raramente coisas do dia.

No feed, eu gosto de deixar registrado momentos que eu queira lembrar, é meu álbum revelado de fotos selecionadas e compiladas por um motivo. Sempre que eu voltar para rever, vou lembrar do dia ou da motivação. Apesar de ter clareza de como atuo na internet hoje, não sei dizer desde quando eu sou assim, nem quando eu percebi a forma que eu uso minhas redes sociais, mas desde que eu me lembro, foi assim. A diferença é que antigamente eu não postava fotos minhas, nunquinha, só fotos tiradas por mim (na minha fase fotógrafa de câmera digital).
É aqui onde entra o projeto #100happydays, que eu decidi começar em janeiro e quis postar no meu Instagram pessoal. Dia 19 de abril fizeram 100 dias, algumas mais felizes que outros, só que nem todos foram registrados. Mesmo não tendo 100 fotos, eu me limitei aos 100 dias, como pede o projeto. E o resultado foi 46 fotos k:


Eu tinha planejado postar todo fim de semana, um compilado de fotos, mas não aconteceu. Nem tirei foto todos os dias, então tinha semana que tinha duas foto apenas, outra semana não tinha nenhuma. E tava tudo bem, eu sabia que ia esquecer de tirar foto e não ia querer fotografar qualquer coisa só pra bater a meta. 

Olhando as fotos, percebi que não tinha selfie, tinha foto das coisas e lugares que me fizeram feliz, não fotos minhas feliz nos momentos ou lugares. Isso não é um problema, é só uma constatação sobre a forma como eu vejo o mundo e como eu quero lembrar dos momentos. Existem fotos minhas nos lugares na galeria do celular, eventualmente, só não foram as fotos que escolhi publicar pro projeto. 

Num geral, as coisas que me deixam feliz são: comida, flores e volei. Eu sou uma pessoa simples. 

Com essas fotos, quero lembrar que eu aprendi a fazer pirão e minha vó me ensinou a fazer chambaril. Que ganhei flanelas pra limpar a casa. Que a vó banhou de piscina sem short. Que o bolo foi feito pela minha tia, com uma cobertura de chocolate durinha muito gostosa. Que o pombo tinha uma perna só. Que a lua estava cheia às 6h da manhã. Que eu gosto de lavar roupa. Que eu tentei uma rotina de tomar sol no jardim da casa da mãe, mas não foi pra frente. Que eu fiz a melhor macarronada da minha vida com couve refogado, ovo mexido e muito alho. Que eu quase não tirei foto do carnaval com medo de ser roubada, porque era a primeira vez que eu saia pro carnaval com celular, mas fotografei um cachorrinho. Que eu consegui tirar foto do jardim de uma casa que eu sempre passava na frente e isso me fez esquecer os minutos antes de crise de pânico no carro. Que eu tenho muitas roupas listradas. Que samambaia cresce nos lugares mais inusitados. Que o Leo me expulsou da cadeira dele. Que minha vó brincou de massinha pela primeira vez na vida e fez um chapéu. Que eu me irrito muito lendo livros de educação, é uma relação de amor e ódio. Que eu amo mingua de aveia. Que matei a saudade de tomar toddynho. Que achei um lugar que vende orea de macaco bem pertinho de casa!!

E que uma foto de gelatina colorida não entrou pra seleção porque me deixou doente da barriga, mesmo tendo me feito muito feliz na hora, agora eu só lembro dela com muita angústia. Por hoje, é isso. 

*Leituras registradas: Paradise Kiss (Ai Yazawa), The Girl from the Other Side (Nagabe), Formação Docente e Profissional (Imbernón). 

Atualização: Todas as fotos foram editadas com o aplicativo Kujicam, porque eu queria que elas tivessem a data registrada na foto, tal como em câmeras analógicas. Também queria que elas fosse distintas e nostálgicas, com algo que sinalizasse que elas eram específicas para esse projeto.

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5 comentários:

  1. "Hoje, adulta, meus colegas de trabalho insistem que eu preciso sair, beber e conhecer gente já que sou nova no interior. Refletindo sobre isso, cheguei à conclusão de que existe um ideal do que deve ser feito para aproveitar a vida de verdade. [sem fomo: a vida é o que é, por Jen]"

    Nossa, ISSO AQUI!! Vou marcar pra ler o texto na íntegra. Eu sou exatamente a pessoa que não faz nada disso e se cansou dos olhares de dó, como eu eu fosse infeliz. Quer dizer, não estou no meu pico de felicidade (kkkkrying), mas nem é por causa disso. Mesma coisa quando digo que não gosto de viajar. ("Como assim você não gooooosta de viajar???")

    Se cada um cuidasse da sua própria vida, a convivência provavelmente seria um pouco melhor.

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    1. Esqueci de comentar das fotos, hahaha! Acho a proposta desse desafio ótima, só não faço. Mas gosto de acompanhar. Achei sua participação muito boa, inclusive com os comentários. (Eu não tinha reparado o pombo perneta!?)

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  2. Geralmente é um saco, porque parece que você precisa dizer a todos que você existe, e isso é um incômodo surreal.
    Exato! A pessoa vê uma foto, achando que te conhecem, como se a rede social fosse a única coisa importante na vida de alguém, e gente, realmente é assustador. É sempre bom você conhecer coisas novas do que ficar vendo postagem em que pessoas aparecem brigando, ou um conteúdo seco, sem vida. Todas as coisas precisam ter um significado que nem sequer, precisa ser descrito.. mas as pessoas adoram ser incômodas!

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  3. Gosto da forma como você usa o insta, sinto falta de um pouco disso lá no meu perfil, as pessoas que eu seguia que postava coisas assim sem tanta complicação acabaram parando de usar. Eu gosto de postar nos stories coisas que estou fazendo no meu dia a dia, crochê, desenhos, às vezes um bolo... quando saio quase não uso o celular, se estou me divertindo eu esqueço dele. Só não consegui achar sua @ do insta aqui no seu blog, se não se importar, passa no meu e deixa sua @ lá? eu queria muito mesmo te seguir

    Lua de Marte

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    1. Vire e mexe eu tenho que fazer uma faxina nos meus seguidos, pra ver quem ainda ta ativo e pra movimentar meu algoritmo com a galera que eu quero ver. Passei a usar bastante os salvos, pra poder recorrer as pessoas que eu gosto de maneira mais rápida, porque a gente acaba seguindo mil pessoas e fica dificil de acompanhar todo mundo.

      Eu sou hacker e consegui achar seu arroba e já te segui. Esqueci de avisar que eu posto muuuuuita besteira nos meus stories, tipo vídeo de gatinho, memes e coisa de kpop, espero não ter feito uma propaganda enganosa e te iludido pra querer me segui kkkkk.

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