Por alguma força dos astros, eu virei uma pessoa que prefere estar lendo a estar assistindo algo. O que é uma grande inversão de valores, pois eu sempre fui preguiçosa pra ler e áudio/ vídeo me parecia mais fácil e rápido (logo, mais atraente). Então filmes, séries e Youtube sempre foram meus passatempos recorrentes. Uma grande destaque pro Youtube, onde passei a maior parte das minhas horas do dia fazendo nada. Aquela sensação de não ter feito nada o dia todo, mesmo tendo passado o dia consumido algo e aprendido coisas por vídeo.
No fim das contas, assistir vídeos me parece um consumo passivo de informações. Enquanto a leitura é um consumo de informação que certamente aciona partes do cérebro mais prazerosas, ao ponto de me fazer preferir passar horas fazendo algo que sempre tive preguiça, ao invés de fazer algo que considero fácil.
Eu comecei esse texto em março e tava planejando publicar ele no meio do ano, pra reunir as leituras do primeiro semestre. Mas não foi possível devido vários ocorridos e falta de internet, que mudaram meus planos. Na época eu também tava construindo uma página de bookshelf pra escrever "reviews" mais extensas, mas nunca finalizei a página, apesar de ter coisas escritas lá. Acabou que esse post foi ficando esquecido e desatualizado, não estamos mais no início do ano e hoje eu tô numa grande pausa da leitura... Mas pra nível de registro, ainda prefiro postar duas partes "semestrais" das leituras, do que colocar tudo num único e enorme post. Depois eu faço outro post reunindo as leituras de junho à dezembro.
Não tem sido o início de ano desejado, nem tem sido o possível também, em meio a tanta desgraça. A começar pela infecção por covid de toda minha família paterna, que é relativamente enorme e parte da minha família materna também. Uma infecção que não acaba quando termina, principalmente pra quem convive com quem tem comorbidades, mas vamos tentando sobreviver.
Desde a virada do ano, o que veio me sustentando foi ler. Não sei daonde eu tirei concentração pra isso, levando em consideração que eu nunca leio, mas esse ano eu acumulei várias leituras simultâneas. O que é inédito pra mim. Antes eu achava que só poderia começar um livro, quando terminasse o anterior. Assim, ficava me privando de começar leituras que eu estava interessada, simplesmente porque eu já tinha começado outra que nem tava mais tão interessante assim.Segue abaixo, uma série de relatos de leitura, sem intenções de fazer resenhas ou avaliar:
A biblioteca da meia noite, Matt Haig (livro em pdf)
Fiz um post com o texto que iria entrar aqui porque ficou muito grande.
O menino do dedo verde, por Maurice Druon (livro físico)⭐
Sinopse | 1986 | Páginas: 149 | Finalizado em: janeiro
História com criança protagonista sempre vão dar certo, é igual animação. Não decepciona. Eu ganhei esse livro sem ter nenhuma ideia do que se tratava, mas ele é cheio de ilustrações em folhas totalmente verdes. Eu sou uma criança por livro ilustrado, não posso ver.
Eu gostei dos nomes de personagens e lugares na história, autoexplicativo e didático, tem um pônei chamado Ginástico, um jardineiro chamado Sr. Bigodes, um médico chamado Dr. Milmares. É cômico e trágico ao mesmo tempo. É sobre uma criança transgressora que consegue parar uma guerra com flores, basicamente. Fica ai o contexto histórico pra quem pegar a referência.
Das curiosidades irrelevantes: o bisavô do autor é maranhense. Aleatoriedades do Maranhão e sua herança francesa.
"Mas cuidar da vida das pessoas era imensamente mais difícil; Tistu logo o compreendeu, só de ouvir o Dr. Milmares. Ser médico era travar uma batalha ininterrupta. De um lado a doença, sempre querendo entrar no corpo das pessoas; do outro a saúde, sempre querendo ir embora. E depois, havia mil espécies de doenças e uma única saúde." (p. 74).
"Para essa menina sarar, pensava ele, é preciso que ela deseje ver o dia seguinte. Uma flor, com sua maneira de abrir-se, de improvisar surpresas, poderia talvez ajudá-la... Uma flor que cresce é uma verdadeira adivinhação, que recomeça cada manhã. [...] Talvez esta menina esqueça a doença, esperando cada dia uma surpresa..." (p. 77)
"Mas a morte zomba dos enigmas. Ela é que os propõe" (p. 139)
XXX Holic, por CLAMP (mangá online)⭐
Sinopse | 2003-2011 | Volumes: 19 - 213 cap. | Finalizado em: março
Se eu tivesse dinheiro eu comprava todos os volumes pra ficar relendo como uma bíblia. Eu amo um BL. Não me importa se é uma história de fantasia ou o que... Watanuki&Domeki lives matter. A história de quando o CLAMP resolveu fazer um Shounen, mas não conseguiu desviar do Shoujo e virou um BL.
Eu queria conseguir escrever uma história a desse mangá. O que eu gosto de qualquer produção japonesa é que sempre pegam umas premissas sem pé nem cabeça, os protagonistas aleatórios no mundo e fazem a história mais simples, coerente e genial, abordando os assuntos mais pesados e filosóficos da humanidade, com humor. Pago pau total. Aliás, vai sair o live action (ou já saiu a essa altura do campeonato) feito pela diretora de Helter Skelter, importante lembrar disso pra eu assistir daqui 3 anos quando conseguir achar kiah 🤡. É difícil a vida do pobre brasileiro que gosta de produções asiáticas, que não vão pra Netflix do Brasil.
Essa foi uma leitura que eu fiz a noite antes de dormir e durante intervalos de alguma atividade que eu tivesse fazendo por muito tempo.
Pretendo fazer um post específico para esse e colocar na bookshelf com um banco de imagem com as melhores partes.
“Instead of regretting what we cannot do, it is better to do what we can do. Even if what we do does not bring us to our goal, it brings us much closer to it.”
Afogadorum - O dono do mangue, por Leo Felipe (Wattpad)
Sinopse | 2021 | Capítulos: 24 | Finalizado em: março
A história se passa no manguezal de Pernambuco, tem um linguajar bem próximo do meu e uma narrativa de fantasia muito distinta. Onde eu moro não tem manguezal, só mais próximo da capital do estado, onde já estive, então é um cenário que eu consegui visualizar enquanto lia. Mas o que me movimentou para ler ele junto dos outros que eu já tinha iniciado a leitura, foi por conter uma história paralela à principal. Na verdade a história se passa em várias temporalidades e eu gosto de histórias assim que vai e volta.
Essa foi uma leitura que fiz pelo celular nos momentos offline do meu dia. O Wattpad tem essa funcionalidade que me ajudou muito nos momentos de tédio e espera em locais públicos.
Ritos de sangue, por Barbara Ehrenreich (livro físico)⭐
Sinopse | 2000 | Páginas: 292 | Finalizado em: não lembro
Uma coisa que a faculdade me deixou de herança: gosto por livros acadêmicos. Esse é um livro de história sobre a origem da guerra e da religião. Não confundir com a área de pesquisa sobre história da guerra. Tudo a ver com o período, tanto pandêmico quanto da guerra na Ucrânia.
Essa leitura acontecia basicamente quando eu lembrava que ela existia, porque eu devo ter passado um ano com esse livro sob minha custódia e ele já passeou por várias partes da casa, até eu esquecer onde ele tava e depois esquecer que não tinha terminado de lê-lo. Falando assim parece que foi um livro muito ruim, mas pelo contrário, foi muito revelador e explodiu minha cabeça todas as vezes que eu parei pra ler. Cada parágrafo desbloqueava um chackra diferente. Talvez por isso me exigia longas pausas que não afetaram em nada na qualidade da leitura.
Sobre o livro... a autora consegue explicar as motivações humanas para o início e manutenção da guerra por meio de práticas religiosas, heranças culturais desde a “pré-história”, justificativas sociológicas e morais, e tudo o que não presta sobre a reafirmação masculina em gênero e adjetivo ao longo da existência. Será se eu consegui resumir bem? Não sei, apesar de ser um livro curto, ele é bem recheado com temporalidades e recortes diferentes na abordagem do tema.
É sobre ritos de sangue que desembocam nos ritos de guerra, desde a iniciação do homem e da mulher, até a separação do que é digno do homem e do que é digno da mulher em diferentes civilidades. Sobre o poder e o medo de perder o poder, levando a subjugação do que se considera mais fraco, sendo ele um animal, uma mulher ou um inimigo vizinho. No final sendo todos igualados a animais e inferiores. Ironicamente, são esses mesmos animais que personificam os deuses de várias civilidades antigas, para quem cultuavam em tempos de colheita e tempos de guerra. O ser humano (normalmente macho) e sua contradição em busca de uma superioridade forjada.
Esse livro é uma viagem tão grande e maravilhosa, que eu não conseguiria em mil páginas escrever aqui. Vem muitas coisas na minha cabeça das quais eu queria destacar, mas sobre isso a autora já escreveu mais de 200 páginas, então não há mais o que eu possa escrever.
A versão que eu li é uma xerox emprestada, cheia de comentários de uma amiga, escritos de caneta rosa. Então eu recebi uma edição especial comentada, que deixou a leitura mais interessante ainda. Se duvidar, eu nunca terminei de ler esse livro, do tanto que eu enrolei com ele mesmo sendo maravilhoso de bom.
Esse também vai pra boobkshelf, algum dia.
O mundo de Sofia, por Josten Gaarden (livro físico-releitura)⭐
Sinopse | 1995 | Páginas: 560 | Finalizado em: maio
Quem teria arrancado Sofia de seu cotidiano e a teria confrontado de repente com os grandes mistérios do universo? (p.20)
Eu tenho um carinho enorme por esse livro, pois foi minha primeira ambição infantil de leitura: ler um livro com mais de 500 páginas. Uma longa jornada de 13 anos pra conseguir terminar. E tal como a primeira vez, eu demorei bastante pra terminar essa releitura, comecei em janeiro. Mês passado (abril) eu meti bala pra terminar, senão iam mais 13 anos nele, mas não deu. Eu gosto muito do clima que ele desperta em mim e a vontade foi de degustar cada capítulo lentamente.
Já posso considerá-lo meu comfort book.
Ler esse livro é como revisitar o Eu de 2008 e depois a de 2015, como uma personagem do livro. É como vê-la de cima numa realidade paralela, abrindo o livro pela primeira vez e fechando logo em seguida, por não conseguir acompanhar as informações kkkk. Na verdade, a leitura me fez tropeçar em mim mesma e nas diversas coisas que aprendi de 2008 até hoje, com as anotações nas bordas das páginas com palavras simples que eu não sabia o significado aos 11 anos.
Dessa vez eu me atentei a aspectos que não me chamaram atenção antes. Talvez tenha sido minha formação docente que fez saltar aos olhos todos os aspectos pedagógicos do professor de filosofia da história, com suas metodologias para ensinar a Sofia, munindo ela de informações para conseguir desvendar o mistério que ela nem sabia que estava envolvida. Eu não tinha percebido que o mistério vem sendo anunciado ao longo da história, com várias dicas antes de começar a despontar de fato. Também não tinha me atentado que era uma história com realidades alternativas que eu tanto amo. Na verdade é um livro dentro de um livro. Misturando Matrix com O Mundo dos Quem.
Essa livro gira em torno da chegada de um dia específico, o aniversário de 15 anos de Sofia. Eu amo histórias assim, que antecedem um grande evento, sendo a história se passando em um dia apenas (como o casamento da Sophie em Mamma Mia!) ou algo que dure mais dias para acontecer (igual Close your eyes and kiss me, uma fanfic OffGun que eu li ano passado).
Chega um momento no livro que o tema ensinado pelo professor, vira realidade no mundo da Sofia, vira parte da história. Se eles estão falando de sonhos confundindo realidade, os sonhos começam a interferir na vida real. Se estão falando das concepções dos filósofos sobre deus, surge um personagem que assume o papel de criador do mundo. Se estão falando do período histórico que surgiram os contos de fada, aparece a chapeuzinho vermelho com um recado pra Sofia.
Inicialmente é uma brincadeira de esconde-esconde pra descobrir quem é o professor, quem é o major, quem é Hilde. Da metade pra frente do livro, cada parágrafo passa a ter uma quebra da quarta parede. Os personagens saem de dentro da história e você começa a se perguntar se você mesmo não é um integrante da história. Eu amo isso (por um momento me lembrou o livros de As Vantagens de Ser Invisível, quando eu percebi que as cartas foram escritas pra você, o leitor).
Hoje eu paro e me pergunto se minhas mudanças repentinas de pensamento e comportamento são culpa de quem ta escrevendo minha cena nessa história...
- E agora chega. Vou dizer simplemente "fim do capítulo"!- Pare com esta ironia!- Fim do capítulo!, eu disse. Faça o que eu digo! (p. 455)
Eu gosto da fantasia nesse livro, parece ser uma história normal, com acontecimentos normais, ou meras coincidências estranhas, até começar a ficar nitidamente SEM PÉ NEM CABEÇA. O que leva a gente a revisitar os ensinamentos do início do livro, quando o professor fala sobre as pessoas se acostumarem com a normalidade do mundo e se esquecem de admirar-se como uma criança. É como se o livro colocasse a prova os próprios ensinamentos do filósofo a todo momento, ficando mais evidente nos últimos capítulos.
Eu reli a largos passos, sem pressa de acabar. A história é bem longa por causa da quantidade de informações sobre as diferentes correntes filosóficas e períodos históricos, mas é bem didático e tranquilo de acompanhar. Pelo menos pra mim que amo história e filosofia.
Eu ia colocar os quotes aqui, mas vou deixar na bookshelf, porque merece um espaço só dele.
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Importante destacar que eu não sei avaliar leitura, só sei identificar se gostei muito ou nem. Então as leituras com estrelinha foram as preferidas. Nesse meio, eu li vários mangás, manhwas, weebtoons curtos e fresquinhos quando eu tava cansada de ler as outras coisas, não lembro mais quais foram...
No geral, tá sendo uma experiência única que eu nunca acreditei que seria possível, ler várias coisas ao mesmo tempo e mantendo uma constância.
Deve seguir a mesma lógica de quando eu tava atarefada com a faculdade e dava vontade de pintar uma tela, maratonar um anime, iniciar um projeto bem desafiador, enquanto as pendências se acumulavam e os prazos apertavam. Quanto mais coisa têm pra fazer, mais você quer fazer outras coisas. Enfim, velhos costumes a velhos gatilhos.
Não que eu ligue pra quantidade, mas para que eu não me engane futuramente achando que li um livro por mês, a maioria dessas leituras levaram no mínimo dois meses pra serem finalizadas.
Momento do despacho: como estive empurrando esse post desde março, ele já mudou de formato 500 vezes, já foi publicado sem querer várias vezes enquanto eu editava. Demorei muito pra ficar satisfeita com o formato, mas finalmente encontrei o que eu queria, então eu espero que agora ele descanse em paz. Amem!
XXXHOLiC AAAAAAAAAHHHHH!!! Não me lembra dessa delícia que eu não termino pois é uma leitura tão boa que se eu terminar provavelmente vou querer ler as outras séries que se ligam e ele e eu não tenho saco pra isso no momento aaaaaaaaahhhhhhh!!! Aliás, que bom que eu não sou a única a acumular vários livros começados mas não terminados, bateu uma paz aqui menina, 'cê não tem ideia!
ResponderExcluirE sim, pessoas que "leem muito" só leem para se manterem distraídas de seus dilemas e assuntos que necessitam de atenção mas que preferem ler para não ter de lidar com eles. Teoria comprovada por mim também que leio fanfics desde o colegial para equilibrar algo ilusório no fundo da minha alma e fiquei curiosa sobre a sua faculdade, do nada, qual curso você cursou Lana?
Por hora fico por aqui, vou ver se comento em outra postagem sua.
Vamos dar as mãos em contemplação a XXXHolic ( ノ ゚ー゚)ノ\(゚ー゚\)
ExcluirEu devorei esse mangá e ainda nem acabou, sem condições de esperar pelo ar da graça das senhoras do Clamp... sofro! Eu fiquei bem tentada a ler Tsubasa, mas não sei se me aventuro, não.
Bom que ja somos duas a comprovar a teoria, em breve arrecado gente suficiente pra consolidar com lei da física.
Respondendo sua pergunta: fiz pedagogia.