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Pedrinho Matador

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Pedro Rodrigues Filho
Pedrinho Matador
Pedrinho em 1991.
Nome Pedro Rodrigues Filho
Data de nascimento 29 de outubro de 1954
Local de nascimento Santa Rita do Sapucaí, Minas Gerais
Data de morte 5 de março de 2023 (68 anos)
Local de morte Mogi das Cruzes, São Paulo
Nacionalidade(s) brasileiro
Apelido(s) Pedrinho Matador
Religião Cristianismo
Crime(s) homicídios
motim
cárcere privado
Pena 128 anos (libertado em 2007, retornou à prisão em 2011. Cumpriu pena até 2018)
Situação Morto
Assassinatos
Vítimas +100
Feridos +16

Pedro Rodrigues Filho (Santa Rita do Sapucaí, 29 de outubro de 1954Mogi das Cruzes, 5 de março de 2023), conhecido como Pedrinho Matador, foi um assassino em série brasileiro.

É considerado o maior assassino em série do Brasil, tendo sido condenado a mais de 400 anos de prisão por matar 71 pessoas.[1] No entanto, alegou ter matado mais de 100. Gostava de aumentar sua fama contando vários casos, que não se sabe se eram verídicos.[2]

Primeiros anos

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Pedro nasceu numa fazenda em Santa Rita do Sapucaí, no sul de Minas Gerais, com o crânio ferido, resultado de violência doméstica praticada por seu pai, Pedro Rodrigues, que desferiu chutes na barriga da mãe durante uma briga.[2][3]

Aos nove anos fugiu de casa e chegou a viver por um tempo com seus padrinhos em Santa Rita do Sapucaí, quando fugiu outra vez para São Paulo. Na capital paulista passou a cometer roubos no Centro e na Zona Leste da cidade. Quando completou onze anos, assassinou Jorge Galvão, traficante em Itaquera. O irmão e o cunhado de Galvão também foram mortos por Pedrinho.[4]

Antes mesmo de completar 18 anos, Pedrinho matou diversas pessoas. Segundo contava, em seu primeiro crime tinha 13 anos: após briga com um primo mais velho, teria o empurrado em uma prensa de moer cana, e depois o matado com um facão.[2][5] Porém, não existe registro do narrado.[6]

Pedrinho fugiu para Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo, onde começou a roubar bocas-de-fumo e matar traficantes. Conheceu a viúva de um líder do narcotráfico, conhecida como Botinha, e foram morar juntos. Assumiu as tarefas ilícitas do ex-marido de Botinha e logo foi "obrigado" a eliminar alguns rivais, matando três deles. Morou em Mogi até sua companheira ser morta pela polícia. Pedrinho escapou dos policiais, mas não deixou a venda de drogas e acabou montando o próprio negócio.[3]

Envolveu-se depois com Maria Aparecida Olímpia, por quem se dizia apaixonado, e que chegou a engravidar, mas perdeu o bebê. Ele a encontrou morta a tiros, tendo depois torturado e matado várias pessoas para saber quem havia cometido o crime. Quando soube de quem se tratava, um traficante rival, invadiu uma festa de casamento com quatro amigos e matou, além do assassino de Maria, outras seis pessoas, além de deixar 16 feridos. Na época, ele ainda não havia chegado à maioridade.[2]

Pedrinho foi preso em 1973, com 18 anos, após ser condenado a 128 anos de prisão. "Já matou na rua, no refeitório, na cela, no pátio e até no 'bonde' - o camburão, na linguagem dos bandidos", escreveu a revista Época.[2]

Eram "pessoas que não prestavam”, disse, referindo-se a estupradores e traidores. Numa prisão de Araraquara degolou com uma faca sem fio o homem acusado do assassinato de sua irmã. “Era meu amigo, mas eu tive de matar”, disse.[3] Em seu braço esquerdo, trazia tatuada a frase "mato por prazer".[2]

Suposto homicídio do pai

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Pedrinho afirmava que aos 20 anos matou o próprio pai, dentro da cadeia, em razão dele ter matado sua mãe com 21 golpes de facão. "Ele deu 21 facadas na minha mãe, então dei 22", disse numa entrevista para o jornalista Marcelo Rezende, da TV Record. "O povo diz que comi o coração dele. Não, eu simplesmente cortei, porque era uma vingança, não é? Cortei e joguei fora. Tirei um pedaço, mastiguei e joguei fora", explicou ainda. Ele também disse que tinha um revólver preso à cintura, mas que usou a peixeira. Perguntado como havia conseguido o revólver, disse que prendeu um policial numa cela e lhe tirou a arma.

O pesquisador Ulisses Campbel afirma que a história não é verídica: apesar de realmente ter matado a mãe de Pedrinho, o pai dele só morreu anos depois, dentro do sistema prisional, por doença respiratória.[6]

Pedrinho Matador na prisão, em 1991

Primeira prisão

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Pedrinho foi preso definitivamente em 24 de maio de 1973 e viveu na prisão por boa parte de sua vida adulta. Enquanto estava sendo transferido para o presídio, assassinou seu companheiro de viagem. Ambos estavam algemados, e ele matou o homem condenado por estupro.[7]

Durante sua passagem pela penitenciária de Araraquara, foi acusado pelo juiz corregedor de ser um dos fundadores da suposta organização criminosa "Serpentes Negras".[8] Após uma rebelião ocorrida em 1985, quando Pedrinho participou da morte de quatro detentos,[9] foi transferido para a Casa de Custódia de Taubaté, considerado na época a mais segura do estado. Em 1986, uma reportagem do jornal O Estado de S. Paulo o apresentou como autor de quarenta homicídios até então.[4] No ano seguinte, durante uma briga na Casa de Custódia, Pedrinho quase assassinou Hosmany Ramos.[10]

Não tendo frequentado a escola, afirmava ter se alfabetizado na cadeia, onde teria lido livros como Negras Raízes ("o livro mais triste que eu li"), de Alex Haley, e a coleção de Sidney Sheldon.[2]

Em 2003, apesar da condenação em 126 anos de prisão, esteve para ser solto, em razão do tempo máximo de pena possível, que na época era de 30 anos (em 2019, o artigo 75 do Código Penal passou a dispor 40 anos).[11] No entanto, por causa dos crimes cometidos dentro dos presídios, que aumentaram sua pena para quase 400 anos, sua permanência na prisão foi prorrogada até 2007.

Segunda prisão

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Depois de ser solto em 2007, Pedrinho voltou a ser preso em 2011 pelos crimes de motim e cárcere privado, cometidos quando ainda estava detido em São Paulo.

Primeira liberdade

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Após permanecer 34 anos na prisão, foi solto no dia 24 de abril de 2007. Informações da inteligência da Força Nacional de Segurança indicavam que ele havia se mudado para o Nordeste, mais precisamente para Fortaleza, no Ceará.

No dia 15 de setembro de 2011, a imprensa de Santa Catarina publicou que Pedrinho Matador havia sido preso numa casa na zona rural de Camboriú, onde trabalhava como caseiro. Segundo o telejornal RBS Notícias, ele teria que cumprir pena de 8 anos pelos crimes de motim e cárcere privado, cometidos quando estava detido em São Paulo.[3]

Segunda liberdade

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Pedrinho voltou a ser solto em 2018, tendo se convertido ao cristianismo e se dizendo arrependido. Tinha então 64 anos de idade e havia ficado 42 anos preso. Na época também, ele criou um canal no YouTube e acompanhava a gravação de um documentário sobre sua vida. Andréia dos Santos, atriz e assistente de produção, chegou a descrevê-lo como "uma criança querendo voltar a viver”.[12]

“O crime não é brincadeira. Muitos estão entrando por verem os galhos [fama e dinheiro], não a raiz, prisão e morte. É como o diabo: dá com uma mão e tira com a outra. Tem muitos jovens que entram e, quando querem sair, já é tarde demais”, disse à Folha de S.Paulo em 2018.[12]

Em 5 de março de 2023, aos 68 anos, Pedrinho foi assassinado em Mogi das Cruzes, Região Metropolitana de São Paulo, na Rua José Rodrigues da Costa, no bairro Jardim Náutico, em frente a residência de sua irmã. Segundo apurações preliminares, dois homens encapuzados saíram de um carro e atiraram, atingindo o serial killer seis vezes, além disso, ele teve o pescoço degolado com uma faca de cozinha pelos criminosos. O SAMU foi acionado, mas ele morreu no local. [13][14][15] Foi sepultado no Cemitério São Salvador em Mogi das Cruzes.[16]

Modus operandi

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Costumava usar uma faca, mas à revista Época disse que matou cerca de dez pessoas quebrando-lhes o pescoço.[2][3]

Motivação e perfil psicológico

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A especialista brasileira em criminologia Ilana Casoy afirmou que Pedrinho não era um justiceiro, mas um vingador, por matar aqueles que ele considerava ser o pior na sociedade. Ela também afirmou que ele conseguia exercer fascínio nas pessoas, como reflexo de uma visão distorcida da sociedade, em que só 10% dos homicídios são resolvidos no Brasil. Ainda segundo a criminologista, o problema é que as vítimas de Pedrinho não tiveram direito a um advogado, como ele teve.[12]

Os psiquiatras Antonio José Elias Andraus e Norberto Zoner Jr., que o avaliaram em 1982 para um laudo pericial, escreveram que a maior motivação de sua vida era "a afirmação violenta do próprio eu" e o diagnosticaram com "caráter paranoide e anti-socialidade".[2]

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Pedrinho foi uma das inspirações para Dexter Morgan, o anti-herói protagonista da série de livros Dexter (2004), escrita por Jeff Lindsay, bem como sua adaptação para a série homônima (2006), de James Manos Jr. Nesta, ele é interpretado principalmente por Michael C. Hall, que ganhou um Globo de Ouro, além de cinco indicações para um Primetime Emmy Award. O ator reprisou Dexter na minissérie Dexter: New Blood (2021-22).[17][18] O sucesso da série também levou Pedrinho a adquirir um apelido pela mídia internacional: "O Dexter brasileiro".[19][20] Ele também foi a base para os personagens de Takumi Hijirihara e Shuji Fujigawa na série de mangá Danganronpa, em 2016, pelo criador da série Kazutaka Kodaka.[21]

Por causa da lista de crimes e de seu comportamento na cadeia, Pedrinho Matador entrou para a lista de assassinos citada pela escritora Ilana Casoy no livro Serial Killers – Made in Brazil. A publicação conta histórias de assassinos como o Vampiro de Niterói e Chico Picadinho.[22]

Referências

  1. «Maníaco do Parque, Pedrinho, Luz Vermelha: relembre assassinos cruéis». noticias.uol.com.br. 22 de junho de 2021. Consultado em 2 de fevereiro de 2022 
  2. a b c d e f g h i Mendonça, Ricardo (2003). «O monstro do sistema». revistaepoca.globo.com. Revista Época. Consultado em 24 de maio de 2020. Arquivado do original em 10 de setembro de 2024 
  3. a b c d e «Polícia de Santa Catarina prende "Pedrinho Matador", ele confessa ter matado mais de 100 pessoas». ND+. 15 de setembro de 2011 
  4. a b O Estado de S. Paulo (3 de setembro de 1986). «Pedro, 26 anos de crime, 40 mortes». Diário de Natal, ano XLVII, edição 165B, página 12/republicado pela Biblioteca Nacional-Hemeroteca Digital Brasileira. Consultado em 21 de agosto de 2022 
  5. Henrique, Alfredo (16 de novembro de 2023). «Oito meses depois, trio que degolou Pedrinho Matador continua solto | Metrópoles». www.metropoles.com. Consultado em 12 de setembro de 2024 
  6. a b Cortes do Inteligência [OFICIAL] (4 de setembro de 2024), OS PRINCIPAIS SUSPEITOS e a VERDADEIRA HISTÓRIA do PEDRINHO MATADOR - ULLISSES CAMPEBELL, consultado em 9 de setembro de 2024 
  7. Minas, Estado de (5 de março de 2023). «Veja os crimes de Pedrinho Matador, serial killer mineiro morto em SP». Estado de Minas. Consultado em 6 de março de 2023 
  8. «Governo ainda ignora "Serpentes Negras"». O Estado de S. Paulo, ano 105, edição 33529, página 14. 23 de junho de 1984 
  9. «Em Araraquara, 4 presos mortos». O Estado de S. Paulo, ano 106, edição 33767, página 14. 2 de abril de 1985. Consultado em 21 de agosto de 2022 
  10. Julio Saraiva (3 de outubro de 1987). «Hosmany Ramos: memórias do cárcere». Manchete, ano 35, edição 1850, página 83/republicado pela Biblioteca Nacional-Hemeroteca Digital Brasileira. Consultado em 21 de agosto de 2022 
  11. Barbosa, Adriano (28 de Fevereiro de 2020). «Modificações no Código Penal pelo "Pacote Anticrime" através da Lei 13.964/2019». Consultado em 29 de junho de 2021 
  12. a b c «Maior serial killer do Brasil vira comentarista de crimes e faz sucesso no YouTube». Folha de S.Paulo. 10 de dezembro de 2018. Consultado em 24 de maio de 2020 
  13. José, Eliane (5 de março de 2023). «Pedrinho Matador, serial killer brasileiro, morre em rua de Mogi». O Diário de Mogi. Consultado em 5 de março de 2023 
  14. «Serial killer Pedrinho Matador é assassinado em Mogi das Cruzes». Metropoles. 5 de março de 2023. Consultado em 5 de março de 2023 
  15. «Homem conhecido como 'Pedrinho Matador' é assassinado na Grande SP, diz PM». G1. Consultado em 5 de março de 2023 
  16. «Corpo de Pedrinho matador é enterrado em Mogi das Cruzes». G1. Consultado em 6 de março de 2023 
  17. «As The New Season Of 'Dexter' Nears, Who Are The Real Life Killers That Inspired (Or Were Inspired By) The Show?». Yahoo News (em inglês). Consultado em 7 de março de 2023 
  18. Williams, Jordan (13 de dezembro de 2021). «Dexter: New Blood – The Runaway Killer's True Story Inspiration». ScreenRant (em inglês). Consultado em 7 de março de 2023 
  19. «Brazil's biggest serial killer, Pedro Rodrigues Filho, shot dead». South China Morning Post (em inglês). 7 de março de 2023. Consultado em 7 de março de 2023 
  20. «Seriemorderen kjent som «Brasils Dexter» er drept». TV 2 (em inglês). Consultado em 7 de março de 2023 
  21. cycabs (27 de julho de 2017). «Notre interview de Kazutaka Kodaka (Danganronpa ) - L'actu J ...» (em francês). Consultado em 7 de março de 2023 
  22. «'Era um arquivo vivo', diz escritora que passou 6 dias com Pedrinho Matador». noticias.uol.com.br. Consultado em 7 de março de 2023 

Ligações externas

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