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Doca Street

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Doca Street
Doca Street
Doca Street em 1981, após seu segundo julgamento
Nome Raul Fernando do Amaral Street
Data de nascimento 5 de dezembro de 1934
Local de nascimento São Paulo, SP
Data de morte 18 de dezembro de 2020 (86 anos)
Local de morte São Paulo, SP
Nacionalidade(s) brasileiro

Raul Fernando do Amaral Street (São Paulo, 5 de dezembro de 1934 – São Paulo, 18 de dezembro de 2020),[1] mais conhecido como Doca Street, foi um empresário e criminoso brasileiro.[2]

Ficou conhecido após ter matado, em 30 de dezembro de 1976, com um tiro na nuca e três tiros no rosto, a socialite Ângela Diniz, com quem namorava há quatro meses.[3] O julgamento de Doca Street foi amplamente divulgado pela mídia[4][5][6] e teve como foco a moral sexual feminina. O assassino foi condenado a dois anos de prisão com sursis e imediatamente solto. A decisão judicial gerou um amplo movimento de protesto feminista, sob o lema "quem ama não mata", ocasionando um novo julgamento, quando Doca Street foi condenado a quinze anos de prisão.[7] O evento é considerado um marco na história do feminismo no Brasil.[8]

Foi julgado duas vezes: o primeiro julgamento (em 1979), no qual a defesa se baseou na tese da legítima defesa da honra, foi refeito em 1981. Cumpriu cinco anos de prisão até obter liberdade condicional em 1987.[9][7][10]

Após a prisão, Street continuou atuando no mercado financeiro e no comércio de automóveis.

Em 2006, Doca Street lançou o livro Mea Culpa, em que dá sua versão: Ângela teria o mandado ir embora, ocasião em que ele implorou para ficar com ela, que lhe respondeu que se aceitasse dividi-la com homens e mulheres poderia ficar, agredindo-o com uma maleta, que continha o revólver, que caiu no chão e foi utilizado por Raul para matá-la em seguida.[11][6]

Seu apelido é a abreviação de "Fernandoca", como era chamado pela família.[1]

O primeiro julgamento

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Ângela Diniz, assassinada por Doca Street em 1976

Doca Street foi julgado em 1979 em Cabo Frio, sendo defendido pelo advogado Evandro Lins e Silva. A defesa foi baseada na tese de legítima defesa da honra, responsabilizando-se a vítima por ter provocado tal violência, em razão do próprio comportamento.[7] Na acusação, a família de Ângela contratou o advogado Evaristo de Moraes Filho para atuar como assistente de acusação.[7][12]

Durante o julgamento, se examinou amplamente a vida de Ângela, questionando sua moralidade sexual, seu envolvimentos com outros crimes, e sua dependência de drogas.[5] O julgamento foi extensamente coberto pela mídia, sendo que só o Grupo Globo levou uma equipe de 68 pessoas entre técnicos e repórteres.[13]

O tribunal do júri condenou Doca Street por cinco votos a dois a uma pena de 18 meses pelo crime e seis meses por ter fugido da justiça, com direito à sursis. Por já ter cumprido sete meses preso, ou seja, um terço da pena, Doca foi liberado e pode sair livre do tribunal.[5][7]

O movimento feminista

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Protesto contra o machismo em frente ao tribunal onde ocorria o julgamento de Doca Street

A escandalosa decisão a favor do assassino de Ângela Diniz produziu o primeiro de uma série de movimentos feministas de protesto contra a violência doméstica sob o lema "quem ama não mata", slogan tomado como resposta da argumentação da defesa da Doca Street de que ele "matou por amor".[14][8] A pressão do movimento feminista levou a um novo julgamento de Doca Street.

O segundo julgamento

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Em 1981, Doca Street foi submetido a um novo julgamento e condenado a 15 anos de prisão.[12] O julgamento foi acompanhado pessoalmente por ativistas feministas, que organizaram uma vigília e exigiram sentença e prisão para o assassino, explodindo em aplausos quando a sentença foi anunciada.[8] Enquanto que no primeiro julgamento havia predominado uma cobertura machista da mídia a partir da vida sexual da vítima,[4][5] já no segundo julgamento, a pressão do movimento feminista impôs um quadro de sentido baseado no próprio assassinato e na invalidade do argumento emocional para justificá-lo.[8]

Em 1982, a Rede Globo exibiu a minissérie Quem Ama Não Mata, inspirada no caso Doca Street, sob a atuação de Marília Pêra e Cláudio Marzo.

É citado na música Nome aos Bois, da banda Titãs, lançada em 1988. Samba de Aluisio Machado, questionando a impunidade dos ricos, é intitulado "Doca Street".[15]

O programa Linha Direta, da Rede Globo, fez a reconstituição do crime e do julgamento no episódio Ângela e Doca.[16]

Em 2006, foi entrevistado por Amaury Jr., na RedeTV!, divulgando seu livro.[17]

O podcast Praia dos Ossos, produzido pela Rádio Novelo e lançado em agosto de 2020, aborda em oito episódios o assassinato de Ângela Diniz. O sexto tem como título: "Doca".[18]

Em setembro de 2023, foi lançado o filme Ângela. Doca foi interpretado por Gabriel Braga Nunes.

Morreu no Hospital Samaritano de São Paulo em 18 de dezembro de 2020, aos 86 anos, vítima de um infarto. Deixou viúva e três filhos.[1]

Referências

  1. a b c Franco, Marcella (18 de dezembro de 2020). «Doca Street, assassino de Ângela Diniz, morre aos 86 anos em São Paulo». Folha de S.Paulo. Consultado em 12 de outubro de 2023 
  2. «Doca Street, condenado por assassinar Ângela Diniz, morre em SP». G1. 18 de dezembro de 2020. Consultado em 12 de outubro de 2023 
  3. Revista Isto é (3 de junho de 2002). «Caso Doca Street». Edição 148. Consultado em 20 de maio de 2013 
  4. a b Revista Anagrama: Revista Científica Interdisciplinar da Graduação. «Lugar de Fala, Enquadramento e Valores no Caso Ângela Diniz» (PDF). Consultado em 16 de setembro de 2020 
  5. a b c d «Doca vai, mata e vence». Veja. 24 de Outubro de 1979. Consultado em 6 de Outubro de 2020 
  6. a b Jonas Furtado. «"Penso em Ângela todos os dias"». Isto É Gente, Editora Três. Consultado em 6 de dezembro de 2010 
  7. a b c d e «O Caso Doca Street». OAB SP 
  8. a b c d Grossi, Miriam Pillar (Novembro de 1993). «De Ângela Diniz a Daniela Perez: a trajetória da impunidade». Estudos Feministas. Consultado em 5 de Outubro de 2020 
  9. FURTADO, Jonal (11 de setembro de 2006). «"Penso em Ângela todos os dias"». IstoÉ Gente (ed. 368). Consultado em 27 de março de 2014 
  10. BRUM, Eliane (1 de setembro de 2006). «"Nem sei onde atirei"». Época. Consultado em 2 de junho de 2015 
  11. Angélica Santa Cruz (1 de setembro de 2006). «Perdoe-me, Ângela, diz Doca Street». O Estado de S. Paulo. Consultado em 7 de dezembro de 2010. Arquivado do original em 10 de novembro de 2010 
  12. a b «Os processos que fizeram história no Brasil». Consultor Jurídico 
  13. «Episódio 2 - O Julgamento» (PDF). Rádio Novelo. Consultado em 6 de outubro de 2020 
  14. «Quem ama não mata, 40 anos depois». www.geledes.org.br. Consultado em 20 de março de 2018 
  15. Doca Street - Aluísio Machado (YouTube), consultado em 25 de abril de 2024 
  16. «Linha Direta Justiça». Rede Globo. Consultado em 6 de Outubro de 2020 
  17. «Morre aos 86 anos, o empresário Doca Street, assassino de Ângela Diniz». GAZETA DO RIO. 19 de dezembro de 2020. Consultado em 23 de abril de 2024 
  18. «No Provoca, Branca Vianna, criadora da Radio Novelo, dá detalhes sobre produção de “Praia dos Ossos”». TV Cultura. Consultado em 23 de abril de 2024 
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