Guarda municipal (Brasil)

Guardas Municipais | |
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País | ![]() |
Corporação | Guarda Municipal,[a] Constituição Federal, art. 144, § 8 e Lei Federal n° 13.022 de 2014.[4] |
Subordinação | Governos Municipais |
Missão | Proteção de bens, serviços, logradouros públicos municipais e instalações do Município.[4] |
Denominação | Guarda Municipal,[b] Guarda Civil, Guarda Civil Municipal, Guarda Metropolitana e Guarda Civil Metropolitana[4] |
Sigla | GM ou GCM |
Criação | 14 de junho de 1831 (193 anos) |
Aniversários | 10 de Outubro[6] |
Patrono | Dom Pedro I |
Logística | |
Efetivo | Mais de 100 000 (2023)[7][8][3] |
No Brasil, as Guardas Municipais são instituições de segurança pública municipais que tem por finalidade exercer atividades de segurança urbana, inclusive, com o policiamento ostensivo comunitário com a finalidade de proteção de pessoas, bens, serviços e instalações públicas dentro de um município.[4][9][10][c] As instituições são subordinadas ao chefe do executivo municipal e sua atividade policial é fiscalizada pelo Ministério Público.[10] Conforme o Estatuto da Guarda Municipal, é admitido o uso de outros nomes consagrados pelo uso, como por exemplo Guarda Civil Metropolitana, Guarda Metropolitana e Guarda Civil.[4]
De acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) e com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as guardas municipais, atualmente, estão presentes em 1.467 municípios,[11] totalizando um efetivo de mais de 100 mil agentes – com São Paulo e Rio de Janeiro concentrando 45% do contingente[11][12] –, sendo assim a terceira maior força de segurança pública do país, atrás somente das Polícias Militares e Polícias Civis.[7][3][11]
Histórico
[editar | editar código-fonte]Em 10 de outubro de 1831, ainda na época do Brasil Império, foi promulgada a lei de criação do corpo permanente da antiga Guarda Municipal do Rio de Janeiro com a finalidade de "manter a tranquilidade e auxiliar a justiça", autorizando também que outras províncias criassem a sua Guarda Municipal.[13] Ao decorrer do tempo, com a chegada da República, o Exército Brasileiro começou a desencorajar que existissem instituições armadas no país sem controle militar, momento em que algumas guardas foram extintas ou assimiladas como forças estaduais com estrutura militar, como por exemplo a antiga Guarda Civil do Estado de São Paulo, sendo que posteriormente estas instituições foram vinculadas como força auxiliar do Exército dando origem ao que conhecemos hoje como Polícia Militar[14]. Com o fim da ditadura militar brasileira em 1985 e a promulgação da Constituição em 1988, as guardas municipais voltaram a surgir com o caráter de "guarda patrimonial", contudo, na atualidade, o dispositivo constitucional, através de mutação constitucional, é compreendido de forma a ampliar as atuações da guarda municipal como órgão policial responsável pela segurança pública municipal.[15]
Constitucionalidade
[editar | editar código-fonte]As guardas municipais utilizam-se do poder de polícia delegado aos municípios através do artigo nº 144, parágrafo 8º da Constituição brasileira de 1988 do Estatuto das Guardas Municipais (Lei Federal 13.022/2014)[4] e da Lei que institui o Sistema Único de Segurança Pública (SUSP) que disciplina a organização e funcionamento dos órgãos de segurança pública (Lei Federal 13.675/2018) ao afirmar que as guardas municipais são órgãos integrantes operacionais do Sistema Único de Segurança Pública (art. 9º, § 1º, inciso VII).[9][16][17]
Em agosto de 2023, o Supremo Tribunal Federal (STF) julgou a ADPF 995 que estabeleceu de maneira irrevogável que as guardas civis municipais são órgãos de segurança pública e fazem parte do sistema de segurança pública, equiparando-as às demais forças policiais. Tal medida tornou inválidas quaisquer decisões judiciais que possam eventualmente questionar ou retirar essa natureza policial das guardas municipais. A determinação ocorreu algumas semanas após a Suprema Corte confirmar a constitucionalidade do Estatuto Geral das Guardas Municipais através da ADI 5780 que teve a federação nacional de sindicatos de guardas municipais como participante na condição de amicus curiae e apresentou subsídios para o voto do relator que foi seguido de maneira unânime pelos demais ministros do STF, sendo o placar final de 10x0 pela constitucionalidade do estatuto geral das guardas municipais e estabeleceu que, na qualidade de órgãos de segurança pública, as guardas municipais estão autorizadas a desempenhar atividades inerentes à segurança pública, incluindo policiamento preventivo, abordagens e revistas pessoais, além da conservação da ordem pública no exercício de suas atribuições.[18][19]
Mesmo após o julgamento da ADPF, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) voltou a realizar decisões que anulavam a atuação policialesca das guardas, justificando que a busca pessoal e veicular realizada poderiam ser realizadas de forma excepcionalíssima, apenas se tivessem relação com a proteção de bens, serviços e instalações públicas. Contudo, em recentes decisões, o STF cassou diversas decisões do STJ nesse sentido, decidindo de forma definitiva que a atuação das guardas municipais não precisam estar estritamente vinculadas à proteção do patrimônio público, uma vez que essas corporações não podem ser tolhidas como órgãos de segurança pública municipal.[20]
Em fevereiro de 2025, o Supremo Tribunal Federal (STF) julgou o tema de repercussão geral nº 656, em que a discussão jurídica estava na questão "Lei municipal pode permitir que as guardas municipais atuem no policiamento urbano?". Após o julgamento, a maioria dos ministros seguiram o voto do relator, o Ministro Luiz Fux, para fixar a tese final, onde ficou estabelecido que " É constitucional, no âmbito dos municípios, o exercício de ações de segurança urbana pelas guardas municipais, inclusive policiamento ostensivo comunitário, respeitadas as atribuições dos demais órgãos de segurança pública previstos no artigo 144 da Constituição Federal e excluída qualquer atividade de polícia judiciária, sendo submetidas ao controle externo da atividade policial pelo Ministério Público, nos termos do artigo 129, inciso 7, da Constituição Federal. Conforme o artigo 144, parágrafo 8º, da Constituição, as leis municipais devem observar normas gerais fixadas pelo Congresso Nacional.".[10] Dessa forma, através de uma mutação constitucional da Constituição Federal, foi definitivamente estabelecido que Guarda Municipal é um órgão de polícia,[21] podendo realizar prisão de pessoas em flagrante delito ou realizar buscas pessoais ou veiculares caso possuam a fundada suspeita.[22]
Notas e referências
Notas
- ↑ Apesar de permitido, nem todos os municípios fazem uso de arma de fogo.[1][2][3]
- ↑ Em São Sebastião (SP), a Guarda Municipal adota o nome "Polícia Municipal" desde 2017.[5]
- ↑ As Guardas Civis são forças de segurança que tem como função histórica a proteção dos bens, serviços e instalações dos municípios, mas, em muitos casos, também atuam na segurança pública, em apoio às forças estaduais e federais.[4]
Referências
- ↑ «19 capitais do país têm Guarda Municipal com arma de fogo; apenas 4 não fazem uso». G1. 7 de fevereiro de 2021. Consultado em 27 de julho de 2024
- ↑ «30% das guardas municipais já atuam com armas de fogo, mostra IBGE». UOL. 31 de outubro de 2024. Consultado em 3 de novembro de 2024
- ↑ a b c «Perfil dos Municípios Brasileiros 2023» (PDF). Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pesquisa de Informações Básicas Municipais: 72–78. 2024. ISBN 978-85-240-4633-9
- ↑ a b c d e f g «LEI Nº 13.022, DE 8 DE AGOSTO DE 2014». r. 11 de agosto de 2014. Consultado em 19 de fevereiro de 2025
- ↑ «STF define que GCMs têm poder de polícia para ações ostensivas e preventivas; São Sebastião investe em Polícia Municipal desde 2017». radarlitoral.com.br. Consultado em 30 de maio de 2025
- ↑ «LEI Nº 12.066, DE 29 DE OUTUBRO DE 2009». 30 de outubro de 2009. Consultado em 19 de fevereiro de 2025
- ↑ a b «Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2024» (PDF). Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). Consultado em 26 de julho de 2024. Cópia arquivada (PDF) em 18 de julho de 2024
- ↑ «Raio-X das Forças de Segurança Pública do Brasil». Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). 2024: 10. ISBN 978-65-89596-35-6. Consultado em 3 de novembro de 2024
- ↑ a b «Guardas municipais integram o Sistema de Segurança Pública, decide STF». Supremo Tribunal Federal (STF). 28 de agosto de 2023. Consultado em 26 de julho de 2024
- ↑ a b c «STF decide que guarda municipal pode fazer policiamento ostensivo». Consultor Jurídico. 20 de fevereiro de 2025. Consultado em 29 de maio de 2025
- ↑ a b c «Efetivo de polícias Militar, Civil e guardas municipais cai no Brasil». O Globo. 27 de fevereiro de 2024. Consultado em 27 de julho de 2024
- ↑ Silva, João Batista (26 de fevereiro de 2018). «A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO EM SEGURANÇA PÚBLICA». Revista do Instituto Brasileiro de Segurança Pública (RIBSP) (1): 55–61. ISSN 2595-2153. doi:10.36776/ribsp.v1i1.5. Consultado em 26 de fevereiro de 2025 [ligação inativa]
- ↑ «LEI DE 10 DE OUTUBRO DE 1831 - Criação da antiga guarda municipal»
- ↑ «Análise histórica das antigas Guardas Municipais»
- ↑ «Guarda Municipal e seu papel na atualidade.»
- ↑ Ana Krüger (2 de maio de 2017). «Centro de Curitiba é a região mais violenta da capital (Nos quatro primeiros meses deste ano, 22% das ocorrências atendidas pela Guarda Municipal foram na região central de Curitiba.)». Massa News. Consultado em 3 de maio de 2017. Cópia arquivada em 3 de maio de 2017
- ↑ «Polícias e Guarda Municipal realizam operação na região sul de Curitiba». 2 de maio de 2017. Consultado em 3 de maio de 2017. Cópia arquivada em 3 de maio de 2017
- ↑ «Para maioria do STF, Guardas Municipais fazem parte da segurança pública». Consultor Jurídico. 25 de agosto de 2023. Consultado em 26 de agosto de 2023
- ↑ «STF define que guardas municipais podem fazer revistas e abordagens». CNN Brasil. Consultado em 26 de agosto de 2023
- ↑ «Supremo Tribunal Federal STF - RECLAMAÇÃO: Rcl 70751 SP | Jurisprudência». Jusbrasil. Consultado em 19 de março de 2025
- ↑ Foureaux, Rodrigo (2 de maio de 2020). «Qual é o conceito de polícia?». Atividade Policial. Consultado em 26 de fevereiro de 2025
- ↑ «Del3689». www.planalto.gov.br. Consultado em 26 de fevereiro de 2025