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Usuário:EnaldoSS/Testes/8

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Frida Kahlo


Frida Kahlo
Nome completo Magdalena Carmen Frida Kahlo y Calderón[nota 1]
Nascimento 6 de julho de 1907
Coyoacán, Cidade do México, México
Morte 13 de julho de 1954 (47 anos)
Coyoacán, Cidade do México, México
Residência Coyoacán
Nacionalidade mexicana
Progenitores Mãe: Matilde Calderón y González
Pai: Guillermo Kahlo
Parentesco Cristina Kahlo (irmã)
Cônjuge Diego Rivera (c. 1929; div. 1939)
Diego Rivera (c. 1940; v. 1954)
Educação autodidata
Ocupação pintura
Magnum opus As Duas Fridas
Movimento estético surrealismo
realismo mágico
Assinatura
[[Imagem:|150px|class=skin-invert|Assinatura de Frida Kahlo]]

Magdalena Carmen Frida Kahlo y Calderón[nota 1] (Coyoacán, 6 de julho de 1907 — Coyoacán, 13 de julho de 1954), mais conhecida como Frida Kahlo apenas (pronúncia espanhola: [ˈfɾiða ˈkalo]),[3] foi uma pintora mexicana conhecida por seus muitos retratos, autorretratos e obras inspiradas na natureza e artefatos do México. Influenciada pela cultura popular de seu país, empregava um estilo artístico folclórico naïf para explorar questões de identidade, pós-colonialismo, gênero, classe e raça na sociedade mexicana.[4] Suas pinturas frequentemente continham fortes elementos autobiográficos e misturavam o realismo com fantasia. Além de pertencer ao movimento pós-revolucionário Mexicayotl, que buscava definir uma identidade mexicana, Frida já foi descrita como surrealista e realista mágica.[5] Ficou conhecida por pintar sobre sua experiência de dor crônica.[6]

Filha de um alemão e de uma mestiça indígena e espanhola, Frida passou a maior parte de sua infância e vida adulta na chamada La Casa Azul ("A Casa Azul", em português), residência de sua família em Coyoacán, na Cidade do México — atualmente acessível ao público como Museu Frida Kahlo. Embora tenha sido incapacitada pela poliomielite quando criança, Frida demonstrava interesse pela arte, foi uma aluna promissora e ingressou em uma faculdade de medicina antes de sofrer um acidente de ônibus aos dezoito anos, que lhe infligiu dores e problemas de saúde pelo resto da vida. Durante sua recuperação, voltou a se interessar pela arte como na infância, com a ideia de tê-la como carreira.

Seu fascínio por política e arte levou-a a ingressar no Partido Comunista Mexicano em 1927,[3] por meio do qual conheceu o artista mexicano Diego Rivera. Casaram-se em 1929,[3][7] e passaram o final da década de 1920 e início da de 1930 viajando juntos pelo México e Estados Unidos. Durante esse tempo, Frida desenvolveu seu estilo artístico, inspirando-se principalmente na cultura folclórica mexicana, e pintou principalmente pequenos autorretratos que mesclavam elementos das crenças católica e pré-colombianas. Suas pinturas despertaram o interesse do artista surrealista André Breton, que organizou sua primeira exposição individual na Julien Levy Gallery em Nova Iorque no ano de 1938; a exposição foi um sucesso e foi seguida por outra no ano seguinte, em Paris. A exposição francesa obteve menos êxito. No entanto, o Museu do Louvre comprou uma de suas pinturas, O Quadro, e fez dela a primeira artista mexicana a ter uma obra incluída na coleção.[3] Ao longo da década de 1940, Frida participou de exposições no México e nos Estados Unidos e trabalhou como professora de artes. Ensinou na Escuela Nacional de Pintura, Escultura y Grabado e foi membro fundadora do Seminario de Cultura Mexicana. Sua saúde, que sempre foi frágil, começou a declinar nessa década. Em 1953, Frida fez sua primeira exposição individual no México, pouco antes de morrer em 1954, aos 47 anos.

Seu trabalho como artista permaneceu relativamente desconhecido até o final dos anos 1970, quando foi redescoberto por historiadores de arte e ativistas políticos. No início dos anos 1990, Frida tornou-se não só uma figura reconhecida na história da arte, como também um ícone para os movimentos chicano, feminista e LGBT. Suas obras têm sido aclamadas internacionalmente como emblema das tradições nacionais e indígenas mexicanas e por feministas que as veem como representações convictas da forma e experiência femininas.[8]

Carreira artística

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Frida em 15 de junho de 1919, aos 11 anos de idade

Frida desde cedo demonstrou gosto pela arte. Ela recebia instruções de desenho do gravurista Fernando Fernández (que era amigo de seu pai)[9] e enchia cadernos com esboços.[10] Em 1925, começou a trabalhar fora da escola para ajudar sua família.[11] Depois de atuar brevemente como estenógrafa, tornou-se aprendiz de gravura de Fernández.[12] Ele ficou impressionado com seu talento,[13] embora ela ainda não tratasse sua arte como carreira no momento.[10]

Em 1925, um grave acidente de ônibus a deixou com dores e complicações pelo resto da vida. Após três meses em cama por conta do acidente, Frida começou a pintar.[14] Na época, começou a considerar ter uma carreira como ilustradora médica, o que combinaria seus interesses em ciência e arte. Sua mãe lhe deu um cavalete feito especialmente para ela, que a permitia pintar deitada, e seu pai emprestou-lhe algumas de suas tintas a óleo. Um espelho foi colocado acima do cavalete para que ela pudesse se ver quando fazia autorretratos.[15][14] A pintura tornou-se uma forma de Frida explorar questões de identidade e existência.[16] Uma vez, ela explicou-se: "Pinto a mim mesma porque muitas vezes estou sozinha e sou o indivíduo que conheço melhor".[14] Mais tarde, ela afirmou que o acidente e o período de recuperação isolada fizeram-na desejar "começar de novo, pintando as coisas como [ela] as via com os [seus] próprios olhos e nada mais".[17]

A maioria dos quadros pintados por Frida nessa época foram retratos dela mesma, de suas irmãs e de colegas da escola.[18] Suas primeiras pinturas e correspondências mostram que ela inspirava-se especialmente em artistas europeus, em particular nos mestres da Renascença como Sandro Botticelli e Agnolo Bronzino[19] e em movimentos de vanguarda como a Nova Objetividade e o cubismo.[20]

Ao se mudar para o estado de Morelos com seu marido Rivera em 1929, Frida obteve inspiração da cidade onde moravam, Cuernavaca.[21] Ela mudou seu estilo artístico e deixou-se influenciar cada vez mais pela arte popular mexicana.[22] A historiadora de arte Andrea Kettenmann afirma que Frida pode ter sido influenciada pelo livro de Adolfo Best Maugard sobre o tema, pois incorporou muitas das características delineadas por ele — como a falta de perspectiva e a combinação de elementos dos períodos pré-colombiano e colonial da arte mexicana.[23] Sua identificação com o povo mexicano e profundo interesse por sua cultura vigoraram como aspectos importantes da arte de Frida durante toda a sua vida.[24]

Trabalho nos Estados Unidos

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Quando Frida e Rivera mudaram-se para São Francisco, Califórnia em 1930, ela foi apresentada a artistas estadunidenses como Edward Weston, Ralph Stackpole, Timothy L. Pflueger e Nickolas Muray.[25] Os seis meses que passou na cidade foram um período produtivo para ela,[26] que desenvolveu ainda mais o estilo de arte folclórica que havia adotado em Cuernavaca.[27] Além de fazer retratos de vários conhecidos novos,[28] ela pintou Frieda e Diego Rivera (1931), um retrato duplo baseado em sua fotografia de casamento,[29] e O Retrato de Luther Burbank (1931), que retrata o horticultor homônimo como um híbrido entre um ser humano e uma planta.[30] Embora ainda se apresentasse publicamente apenas como "a esposa de Rivera",[31] Frida participou pela primeira vez de uma exposição quando seu quadro Frieda e Diego Rivera foi incluído na Sexta Exposição Anual da Sociedade de Mulheres Artistas de São Francisco[nota 2] no California Palace of the Legion of Honor.[32][33]

Ao se mudar para Detroit, Michigan com Rivera, Frida teve diversos problemas de saúde relacionados a uma gravidez malsucedida.[34] Apesar desses problemas, bem como de sua antipatia pela cultura capitalista estadunidense,[35] o tempo na cidade foi benéfico para sua expressão artística. Ela experimentou diferentes técnicas, como gravuras e afrescos,[36] e suas pinturas começaram a mostrar um estilo narrativo mais forte.[37] Frida também começou a enfatizar os temas de "terror, sofrimento, feridas e dor".[36] Apesar da popularidade do muralismo na arte mexicana da época, Frida adotou um meio diametralmente oposto: imagens votivas ou retablos — pinturas religiosas feitas em pequenas folhas de metal por artistas amadores para agradecer aos santos por suas bênçãos durante uma calamidade.[38] Entre as obras realizadas à maneira do retablo em Detroit estão Hospital Henry Ford (1932), Meu Nascimento (1932) e Autorretrato na Fronteira entre o México e os Estados Unidos (1932).[36] Embora nenhuma de suas obras tenha aparecido em exposições de Detroit, Frida concedeu uma entrevista falando de sua arte ao Detroit News; o artigo foi condescendentemente intitulado "Esposa do Mestre Pintor de Murais se Aventura Alegremente em Obras de Arte".[nota 3][39]

Retorno ao México e reconhecimento internacional

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Ao retornar à Cidade do México em 1934, devido a complicações de saúde, Frida não fez pinturas novas. E no ano seguinte, pintou somente duas.[40] Em 1937 e 1938, no entanto, sua carreira artística foi extremamente produtiva, logo após o divórcio e a reconciliação com Rivera. Ela pintou mais "do que em todos os oito anos anteriores de casamento", criando obras como Minha Ama e Eu (1937), Memória, o Coração (1937), Quatro Habitantes da Cidade do México (1938) e O Que a Água Me Deu (1938).[41] Embora ainda não estivesse decidida sobre seu trabalho, a Universidade Nacional Autônoma do México exibiu algumas de suas pinturas no início de 1938. Frida fez sua primeira venda significativa no verão de 1938, quando o ator e colecionador de arte Edward G. Robinson comprou quatro pinturas por duzentos dólares cada.[42] Reconhecimento ainda maior ocorreu quando o surrealista francês André Breton visitou Rivera em abril de 1938. Ele ficou impressionado com as obras de Frida, imediatamente alegando que ela era surrealista e descrevendo seu trabalho como "uma fita em volta de uma bomba".[43] Breton não só prometeu providenciar que suas pinturas fossem exibidas em Paris, como também escreveu para seu amigo negociante de arte, Julien Levy, que a convidou para realizar sua primeira exposição individual em sua galeria na East 57th Street em Manhattan, Nova Iorque.[44]

Em outubro do mesmo ano, Frida viajou sozinha para Nova Iorque, onde seu vestido mexicano colorido "foi uma sensação" e a fez ser vista como "o auge do exotismo".[43] A abertura da exposição em novembro contou com a presença de figuras famosas como Georgia O'Keeffe e Clare Boothe Luce e recebeu bastante atenção positiva da imprensa, embora muitos críticos tenham adotado um tom condescendente em suas avaliações.[45] A título de exemplo, a revista Time escreveu que "os quadros da Pequena Frida [...] tinham a delicadeza de miniaturas, os vermelhos e amarelos vivos da tradição mexicana e a sofisticação divertidamente sangrenta de uma criança nada sentimental".[nota 4][46] Apesar da Grande Depressão, Frida vendeu metade das 25 pinturas apresentadas na exposição.[47] Ela também recebeu encomendas de Anson Goodyear, então presidente do MoMA, e de Clare Boothe Luce, para quem pintou um retrato de sua amiga, a socialite Dorothy Hale, que havia cometido suicídio saltando de seu prédio de apartamentos.[48] Durante os três meses que passou em Nova Iorque, Frida pintou muito pouco; em vez disso, concentrou-se em aproveitar a cidade ao máximo que sua saúde debilitada permitia.[49] Frida teve também vários casos extraconjugais, deu continuidade a um com Muray e envolveu-se com Levy e Edgar Kaufmann Jr..[50]

Em janeiro de 1939, Frida embarcou para Paris atendendo ao convite de Breton de organizar uma exposição com suas obras.[51] Chegando lá, descobriu que ele não havia liberado suas pinturas da alfândega e já não possuía nem mesmo uma galeria. Com a ajuda do pintor Marcel Duchamp, ela conseguiu organizar uma exposição na Galerie Renou et Colle.[52] Outros problemas surgiram quando a galeria se recusou a mostrar todas as pinturas de Frida, considerando duas delas chocantes demais para o público.[53] Breton insistiu que elas fossem expostas ao lado de fotografias de Manuel Alvarez Bravo, esculturas pré-colombianas, retratos mexicanos do século XVIII e XIX, e o que Frida considerava "lixo": caveiras de açúcar, brinquedos e outros itens que ele tinha comprado de mercados mexicanos.[54]

A exposição ocorreu em março, mas recebeu muito menos atenção do que nos Estados Unidos, em parte devido à iminente Segunda Guerra Mundial. Ao final, a exibição causou um prejuízo financeiro que levou Frida a cancelar uma outra planejada para acontecer em Londres.[55] Independentemente disso, o Museu do Louvre comprou O Quadro, tornando Frida a primeira artista mexicana a ter uma obra exposta na coleção.[56] Ela foi também calorosamente recebida por outros artistas parisienses, como Pablo Picasso e Joan Miró,[54] assim como por profissionais da moda, como a estilista italiana Elsa Schiaparelli que desenhou um vestido inspirando-se nela e a Vogue Paris que apresentou Frida em suas páginas.[57] Contudo, a opinião geral de Frida sobre Paris e os surrealistas permaneceu negativa; em uma carta para Muray, ela os chamou de "esse bando de cucos lunáticos e muito estúpidos surrealistas"[54] que "são tão 'intelectualmente' loucos e podres que eu não os suporto mais".[nota 5][58]

Nos Estados Unidos, as pinturas de Frida continuavam a despertar interesse. Em 1941, seus trabalhos foram apresentados no Institute of Contemporary Art em Boston, e no ano seguinte ela participou de duas exposições de alto nível em Nova Iorque: a Retratos do Século XX do MoMA e a exibição surrealista Primeiras Composições do Surrealismo.[nota 6][59] Em 1943, ela foi incluída na exposição Arte Mexicana Hoje do Museu de Arte de Filadélfia e na Mulheres Artistas da The Art of This Century Gallery de Peggy Guggenheim em Nova Iorque.[nota 7][60]

Sua arte ganhou mais reconhecimento no México também. Em 1942, Frida tornou-se membro fundadora do Seminario de Cultura Mexicana, um grupo de 25 artistas contratados pelo Ministério da Educação Pública para divulgar o conhecimento público da cultura mexicana.[61] Como membro, ela participou do planejamento de exposições e de uma conferência sobre arte.[62] Na Cidade do México, suas pinturas foram apresentadas em duas exposições de arte mexicana que aconteceram na Biblioteca Benjamín Franklin de língua inglesa em 1943 e 1944. Ela também foi convidada a participar da Salon de la Flor, uma exibição apresentada em um festival anual de flores.[63] Um artigo de Rivera sobre a arte de Frida foi publicado na revista do Seminario de Cultura Mexicana.[64]

Em 1943, Frida aceitou trabalhar como professora na então recentemente reformada Escuela Nacional de Pintura, Escultura y Grabado, na Cidade do México.[65] Ela incentivava seus alunos a tratá-la de maneira informal e não hierárquica e ensinava-os a apreciar a cultura e arte popular mexicana e a extrair seus temas da rua.[66] Quando seus problemas de saúde dificultaram seu deslocamento para a escola, Frida começou a dar aulas na La Casa Azul.[67] Quatro de seus alunos — Fanny Rabel, Arturo García Bustos, Guillermo Monroy e Arturo Estrada — tornaram-se seguidores dela e foram apelidados de Los Fridos por seu apreço à artista.[68] Frida e seus alunos receberam três encomendas de pintura de murais.[69]

Frida lutou para viver de sua arte até meados da década de 1940, quando recusou-se a adaptar seu estilo para atender aos desejos de seus clientes. No início na década de 1940, recebeu duas encomendas do governo mexicano. Não completou a primeira, possivelmente devido à sua antipatia pelo tema, e a segunda acabou sendo rejeitada pelo órgão de comissionamento. Entretanto, Frida tinha clientes particulares regulares, como o engenheiro Eduardo Morillo Safa, que realizou encomendas de mais de trinta retratos de familiares ao longo da década.[70] Sua situação financeira melhorou quando recebeu, em 1946, um prêmio nacional de cinco mil pesos pelo quadro Moisés (1945) e quando As Duas Fridas (1939) foi adquirido pelo Museo de Arte Moderno em 1947.[71] De acordo com Kettenmann, em meados da década de 1940, suas pinturas foram "apresentadas na maioria das exposições coletivas do México". Além disso, a escritora Martha Zamora diz que Frida poderia "vender o que quer que estivesse pintando" e "às vezes, pinturas incompletas eram compradas diretamente do cavalete".[72]

Últimos anos

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Mesmo ganhando reconhecimento em seu país, pintando retratos e participando de exposições, a saúde de Frida piorava rapidamente. Em 1945, a tentativa de uma cirurgia que desse suporte à sua coluna falhou. Pinturas realizadas nesse período como A Coluna Partida (1944), Sem Esperança (1945), Árvore da Esperança, Mantenha-se Firme (1946) e O Veado Ferido (1946) refletem seu pobre estado físico.[73] Durante seus últimos anos, Frida permaneceu confinada na La Casa Azul.[74] Pintava sobretudo naturezas-mortas, retratando frutas e flores com símbolos políticos, como bandeiras ou pombas.[75] Preocupava-se em retratar suas convicções políticas, afirmando que tinha "muita inquietação com relação à minha pintura. Principalmente porque quero transformá-la, para que seja algo útil, pois até agora consegui simplesmente pintar uma expressão honesta de mim mesma. [...] Devo lutar com todas as minhas forças para que o pouco de positivo que minha saúde permite realizar seja [usado] com o objetivo de ajudar a Revolução. A única razão real para viver".[nota 8][76][77] Frida também alterou seu estilo artístico: suas pinceladas, antes delicadas e cuidadosas, tornaram-se mais apressadas. Seu uso de cores também passou a ser mais ousado, e o estilo geral, intenso e febril.[78]

A fotógrafa Lola Álvarez Bravo, sabendo que Frida não teria muito mais tempo de vida, realizou a primeira exposição individual dela no México na Galería Arte Contemporaneo em abril de 1953. Ainda que inicialmente não devesse comparecer à inauguração, já que seus médicos haviam prescrito repouso, Frida solicitou que sua cama de dossel fosse transferida de sua casa para a galeria. Para a surpresa dos convidados, Frida chegou em uma ambulância e foi carregada em uma maca até o leito, onde permaneceu durante todo o evento.[79] A exposição recebeu atenção da grande imprensa em todo o mundo e foi um evento cultural notável no México.[80] No mesmo ano, a exposição da Tate Gallery em Londres sobre arte mexicana apresentou cinco de suas pinturas.[81]

Em 1954, Frida foi novamente hospitalizada em abril e maio.[82] Durante esse período, retomou a pintura após o intervalo de um ano.[83] Suas últimas obras incluem O Marxismo dará Saúde aos Doentes (c. 1954), Frida e Stalin (c. 1954) e Natureza Morta: Viva a Vida (1954).[84]

Estilo e influências

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Não se sabe ao certo quantas pinturas Frida criou durante sua vida. As estimativas variam de menos de 150[85] a cerca de 200.[86][87] Seus primeiros quadros, realizados em meados da década de 1920, mostram a influência de mestres da Renascença e de artistas europeus de vanguarda, como Amedeo Modigliani.[88] No final da década, Frida obteve mais inspiração da arte popular mexicana,[89] atraída por seus elementos de "fantasia, ingenuidade e fascinação pela violência e morte".[87] O estilo que desenvolveu misturava a realidade com elementos surrealistas e muitas vezes retratava dor e morte.[90]

Um dos primeiros defensores de Frida foi o surrealista André Breton, que a reivindicou como parte do movimento. Segundo Breton, Frida era uma artista que supostamente desenvolvera seu estilo "em total ignorância das ideias que motivaram as minhas atividades e as de meus amigos".[nota 9][91] Tal afirmação foi repetida por Bertram Wolfe, que escreveu que Frida trabalhava com uma "espécie de surrealismo 'ingênuo', que ela inventou para si mesma".[nota 10][92] Embora Breton a considerasse sobretudo uma força feminina dentro do movimento, Frida trouxe questões e temas pós-coloniais à dianteira de sua marca no surrealismo.[93] Breton também descreveu o trabalho dela como "maravilhosamente situado no ponto de intersecção entre a linha política (filosófica) e a artística".[nota 11][94] ^^^ Enquanto Frida participava de exposições surrealistas, subsequentemente afirmava que "detesta[va] o surrealismo", que para ela era uma "arte burguesa" e não a "verdadeira arte que as pessoas esperam de um artista".[95] Alguns historiadores da arte discordaram se seu trabalho deveria ser classificado como pertencente ao movimento. De acordo com Andrea Kettenmann, Kahlo era uma simbolista preocupada mais em retratar suas experiências interiores.[96] Emma Dexter argumentou que, como a mistura de fantasia e realidade das obras de Kahlo se inspirava principalmente na mitologia asteca e na cultura mexicana em vez de no surrealismo, seria mais apropriado considerar suas pinturas como tendo mais em comum com o realismo mágico, também conhecido como Nova Objetividade. O movimento combinava realidade e fantasia e empregava um estilo semelhante ao de Kahlo, como perspectiva achatada, personagens claramente delineados e uso de cores brilhantes.[97]

Assim como muitos outros artistas mexicanos contemporâneos, Kahlo foi fortemente influenciada pela Mexicanidad, um nacionalismo romântico que se desenvolveu após a revolução.[98][87] O movimento Mexicanidad afirmava resistir à "mentalidade de inferioridade cultural" criada pelo colonialismo e atribuía especial importância às culturas indígenas.[99] Antes da revolução, a cultura folclórica mexicana — uma mistura de elementos indígenas e europeus — era menosprezada pela elite, que alegava ter ascendência puramente da Europa e considerava esse continente como a definição de civilização que o México deveria imitar.[100] A ambição artística de Kahlo era pintar para o povo mexicano, e ela afirmou que desejava "ser merecedora, com minhas pinturas, das pessoas a quem pertenço e das ideias que me fortalecem".[95] Para fazer valer essa imagem, ela preferiu esconder a educação que recebeu em arte de seu pai e de Ferdinand Fernandez e na escola preparatória. Em vez disso, Kahlo cultivou uma imagem de si mesma como uma "artista autodidata e naïf".[101]

Quando Kahlo começou sua carreira como artista na década de 1920, os muralistas dominavam o cenário artístico mexicano. Eles criavam grandes peças públicas no estilo dos mestres da Renascença e realistas socialistas russos: geralmente representando massas de pessoas, e com mensagens políticas que eram fáceis de decifrar.[102] Embora ela fosse próxima de muralistas como Rivera, José Clemente Orozco e David Alfaro Siqueiros e compartilhasse com eles seu compromisso com o socialismo e o nacionalismo mexicano, a maioria das pinturas de Kahlo eram autorretratos de tamanho relativamente pequeno.[103][87] Particularmente na década de 1930, seu estilo era especialmente constituído de pinturas votivas ou retablos, que eram imagens religiosas do tamanho de cartões postais feitas por artistas amadores.[104] Seu propósito era agradecer aos santos por sua proteção durante uma calamidade, e normalmente retratavam um evento, como uma doença ou um acidente, do qual seu comissário havia sido salvo.[105] O foco estava nas figuras retratadas, e elas raramente apresentavam uma perspectiva realista ou um fundo detalhado, destilando assim o evento ao seu essencial.[106] Kahlo tinha uma extensa coleção de aproximadamente 2 000 retablos, que ela exibiu nas paredes da La Casa Azul.[107] De acordo com Laura Mulvey e Peter Wollen, o formato retablo permitiu a Kahlo "desenvolver os limites do puramente icônico e possibilitou que ela fizesse uso da narrativa e da alegoria".[108]

Muitos dos autorretratos de Kahlo imitam os retratos clássicos de busto que estavam na moda durante a era colonial, que subvertiam o formato ao retratar o tema como menos atraente do que na realidade.[109] Ela se concentrou com mais frequência neste formato no final da década de 1930, refletindo assim as mudanças na sociedade mexicana. Cada vez mais desiludidos com o legado da revolução e lutando para lidar com os efeitos da Grande Depressão, os mexicanos estavam abandonando o ethos do socialismo pelo do individualismo. Isso se refletiu nos "cultos à personalidade", que se desenvolveram em torno de estrelas do cinema mexicano como Dolores del Río. De acordo com Schaefer, os "autorretratos semelhantes a máscaras de Kahlo ecoam o fascínio contemporâneo pelo close-up cinematográfico da beleza feminina, bem como a mística da alteridade feminina expressa no film noir".[110] Sempre repetindo as mesmas características faciais, Kahlo se inspirava na representação de deusas e santos de culturas indígenas e católicas.[111]

Dentre os artistas especificamente folclóricos mexicanos, Kahlo foi particularmente influenciada por Hermenegildo Bustos, cujas obras retratavam a cultura mexicana e a vida camponesa, e José Guadalupe Posada, que retratava acidentes e crimes de maneira satírica.[112] Ela também se inspirou nas obras de Hieronymus Bosch, a quem chamou de "homem de gênio", e de Pieter Bruegel, o Velho, cujo foco na vida camponesa era semelhante ao interesse de Kahlo pelo povo mexicano. Outra influência foi a poetisa Rosario Castellanos, cujos poemas frequentemente narravam a situação de uma mulher na sociedade patriarcal mexicana, uma preocupação com o corpo feminino, e contavam histórias de imensa dor física e emocional.[89]

Simbolismo e iconografia

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As pinturas de Kahlo frequentemente apresentam imagens de raízes crescendo fora de seu corpo para amarrá-la ao chão. Isso refletia em um sentido positivo o tema de crescimento pessoal; em um sentido negativo o de estar preso a um determinado lugar, tempo ou situação; e em um sentido ambíguo de como as memórias do passado influenciam o presente para o bem e/ou para o mal.[113] Em Meus avós, meus pais e eu, Kahlo retratou-se como uma menina de dez anos segurando uma fita que produz uma árvore genealógica com os retratos de seus avós e de outros parentes, enquanto seu pé esquerdo está posicionado atrás do tronco de uma árvore crescendo no chão, refletindo a sua visão da união entre a humanidade e a terra e seu próprio senso de unidade com o México.[114] Nas pinturas de Kahlo, as árvores servem como símbolos de esperança, de força e de uma continuidade que transcende gerações.[115] O cabelo é, para Kahlo, um símbolo de crescimento e do feminino. Em Autorretrato com cabelo cortado, Kahlo pintou-se vestindo um terno masculino e sem seu cabelo comprido, que ela acabara de cortar.[116] Kahlo segura uma tesoura com uma das mãos ameaçadoramente perto de seus genitais, o que pode ser interpretado como uma ameaça a Rivera — cuja infidelidade constante a enfureceu — e/ou de machucar seu próprio corpo como se tivesse atacado o próprio cabelo, um sinal que representa a maneira como as mulheres frequentemente projetam sobre si mesmas a fúria tida contra os outros. Ademais, a imagem não reflete apenas a frustração de Kahlo com Rivera, mas também sua inquietação com os valores patriarcais do México, já que a tesoura simboliza um senso malévolo da masculinidade que ameaça "cortar" mulheres, tanto metaforicamente quanto literalmente. No México, os valores tradicionais espanhóis do machismo eram amplamente adotados, e Kahlo sempre sentiu-se incomodada com eles.[117]

O acidente de ônibus de sua juventude causou-lhe sofrimento e dores pelo resto de sua vida. Kahlo passou grande parte dela em hospitais e sendo submetida a cirurgias, muitas delas realizadas por curandeiros que Kahlo acreditava serem capazes de restaurar sua saúde de volta a como era antes do acidente. Muitas das pinturas de Kahlo tratam-se de imagens médicas apresentadas em situações de dor e mágoa, mostram Kahlo sangrando e com feridas abertas.[114] Muitas dessas pinturas médicas, especialmente as que tratam do parto e do aborto espontâneo, demonstram um forte sentimento de culpa, no sentido de ela estar vivendo a própria vida às custas de uma outra que já se foi e que permitiu que ela pudesse viver.[115]

Embora Kahlo pintasse a si mesma e eventos de sua vida em suas obras, eles costumavam ter significados ambíguos.[118] Ela não os utilizava somente para mostrar sua experiência subjetiva, mas para levantar questões sobre a sociedade mexicana e a construção de uma identidade dentro dela, tratando particularmente de gênero, raça e classe social.[119] A historiadora Liza Bakewell afirmou que Kahlo "reconhecia os conflitos provocados pela ideologia revolucionária":

O que era ser mexicano? — era moderno, mas pré-colombiano; jovem, porém velho; anticatólico, embora católico; ocidental, mas do Novo Mundo; em desenvolvimento, mas ainda subdesenvolvido; independente, embora colonizado; mestizo, não espanhol nem indígena.[120]

Para explorar essas questões através de sua arte, Kahlo desenvolveu uma iconografia complexa, empregando extensivamente símbolos pré-colombianos, cristãos e mitológicos em suas pinturas.[121] Na maioria de seus autorretratos, retratava seu rosto como uma máscara, porém cercado de detalhes visuais que permitiam ao observador decifrar significados mais profundos deles. A mitologia asteca aparece bastante nas pinturas de Kahlo em símbolos como macacos, esqueletos, crânios, sangue e corações; frequentemente, esses elementos faziam referência aos mitos de Coatlicue, Quetzalcoatl e Xolotl.[122] Outros elementos centrais que Kahlo adquiriu da mitologia asteca foram o hibridismo e o dualismo.[123] Muitas de suas pinturas retratam conceitos opostos: vida e morte, pré-modernidade e modernidade, mexicano e europeu, masculino e feminino.[124]

Além das lendas astecas, Kahlo seguidamente retratou duas figuras femininas centrais do folclore mexicano em suas pinturas: Malinche e La Llorona.[125] Retratava-as como interligadas às situações difíceis, ao sofrimento, infortúnio ou julgamento, como sendo calamitosas, miseráveis ou "de la chingada".[126][nota 12] Por exemplo, quando se pintou após o aborto espontâneo em Detroit, em Hospital Henry Ford (1932), ela se representou chorando, com cabelos desgrenhados e o coração exposto, elementos que fazem parte da aparência de La Llorona, uma mulher que assassinou seus filhos.[127]

Kahlo comumente representava o próprio corpo em suas pinturas, apresentando-o em vários estados e com diferentes disfarces: ferido, quebrado, como criança, e com diversas peças de roupa, como um vestido de tehuana, um terno de homem ou um vestido europeu.[128] Ela usava seu corpo como metáfora para explorar questões sobre papéis sociais.[129] Com frequência suas pinturas retratavam o corpo feminino de uma maneira não convencional, como durante abortos espontâneos e partos ou travestida.[130] Ao retratar o corpo feminino de maneira gráfica, Kahlo colocava o observador no papel de voyeur, "tornando virtualmente impossível para o espectador não assumir conscientemente uma posição em resposta".[131]

De acordo com Nancy Cooey, Kahlo fez de si mesma através de suas pinturas "a personagem principal de sua própria mitologia, como mulher, como mexicana e como uma pessoa padecente [...] Ela sabia como transformar cada um deles em um símbolo ou sinal capaz de expressar a enorme resistência espiritual da humanidade e sua esplêndida sexualidade".[132] Do mesmo modo, Nancy Deffebach afirmou que Kahlo "criou-se como um sujeito que era feminino, mexicano, moderno e poderoso", e que divergia da dicotomia usual dos papéis femininos de mãe/meretriz permitidos na sociedade mexicana.[133] Devido ao seu gênero e divergência da tradição muralista, as pinturas de Kahlo eram tratadas como sendo menos políticas e mais ingênuas e subjetivas do que as de suas contrapartes masculinas até o final da década de 1980.[134] De acordo com a historiadora da arte Joan Borsa, "a recepção crítica de sua exploração da subjetividade e história pessoal frequentemente negava ou tirava a ênfase da política que estava envolvida na análise de sua própria localização, heranças e condições sociais [...] As respostas críticas continuam a encobrir a remodelagem individual de Kahlo, ignorando ou minimizando seu questionamento sobre sexualidade, diferença sexual, marginalidade, identidade cultural, subjetividade feminina, política e poder".[85]

1907–1924: Família e infância

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Magdalena Carmen Frida Kahlo y Calderón[nota 1] nasceu em 6 de julho de 1907 em Coyoacán, um vilarejo nos arredores da Cidade do México.[135] Kahlo afirmou que nasceu na casa da família, La Casa Azul ("A Casa Azul", em português), mas de acordo com o registro oficial de nascimento, esse ocorreu na casa próxima de sua avó materna.[136] Os pais de Kahlo eram o fotógrafo Guillermo Kahlo (1871–1941) e Matilde Calderón y González (1876–1932), e tinham 36 e 30 anos, respectivamente, quando a tiveram.[137] Originário da Alemanha, Guillermo imigrou para o México em 1891, depois que a epilepsia causada por um acidente encerrou seus estudos universitários.[138] Embora Kahlo alegasse que seu pai era judeu, ele era na verdade um luterano.[139][140] Matilde nasceu em Oaxaca, e era filha de pai indígena e mãe de ascendência espanhola.[141] Além de Frida, seus pais geraram Matilde (c. 1898–1951), Adriana (c. 1902–1968) e Cristina (c. 1908–1964).[142] Kahlo tinha duas meias-irmãs do primeiro casamento de Guillermo, María Luisa e Margarita, mas ambas cresceram em um convento.[143]

Mais tarde, Kahlo descreveria a atmosfera da sua casa de infância como frequentemente "muito, muito triste".[144] Ambos os pais ficavam sempre doentes,[145] e seu casamento era desprovido de amor.[146] A relação de Kahlo com a mãe, Matilde, era extremamente tensa. Kahlo descreveu sua mãe como "gentil, ativa e inteligente, mas também calculista, cruel e fanaticamente religiosa".[147] O negócio como fotógrafo de seu pai, Guillermo, sofreu muito durante a Revolução Mexicana, já que o governo derrotado encomendara obras a ele, e a longa guerra civil limitara o número de seus clientes privados.[148]

Quando Kahlo tinha seis anos, contraiu poliomielite, o que deixou sua perna direita mais curta e mais fina do que a esquerda.[149][nota 13] A doença fez com que ficasse isolada de seus colegas por meses e que fosse intimidada.[152] Embora a experiência tenha deixado ela reclusa,[153] também tornou-a filha favorita de Guillermo devido à experiência compartilhada entre eles de viver uma deficiência.[154] Kahlo atribuiu a ele por tornar sua infância "maravilhosa [...] Ele foi para mim um imenso exemplo de ternura, de trabalho (fotógrafo e também pintor) e, acima de tudo, de compreensão para todos os meus problemas". Ele a ensinou literatura, natureza e filosofia, e encorajou ela a praticar esportes para recuperar suas forças, apesar do fato de que a maioria dos exercícios físicos era considerada inadequada para meninas.[155] Ele também ensinou-a fotografia e ela passou a ajudá-lo a retocar, revelar e colorir suas fotos.[156]

Devido à poliomielite, Kahlo começou a estudar mais tarde do que seus colegas.[157] Junto com sua irmã mais nova, Cristina, ela frequentou o jardim de infância local e a escola primária em Coyoacán e foi educada em casa para a quinta e sexta séries.[158] Enquanto Cristina seguiu com suas irmãs para uma escola de convento, Kahlo foi matriculada em uma escola alemã por desejo de seu pai.[159] Ela logo foi expulsa por desobediência e foi enviada para uma escola de professores vocacionais. Sua permanência na escola foi breve, pois foi abusada sexualmente por uma professora.[158]

Em 1922, Kahlo foi aceita na escola de elite Escuela Nacional Preparatoria, onde focou seu estudo em ciências naturais com o objetivo de se tornar uma médica.[160] A instituição havia começado a admitir mulheres a pouco tempo, e tinha apenas 35 meninas de seus 2 000 alunos.[161] Ela teve um bom desempenho acadêmico,[12] era uma leitora voraz e tornou-se "profundamente imersa e seriamente comprometida com a cultura mexicana, ativismo político e questões de justiça social".[162] A escola promovia o indigenismo, um novo sentido de identidade mexicana que se orgulhava da herança indígena do país e buscava se livrar da mentalidade colonial de que a Europa era superior ao México.[163] Nove de seus colegas de escola foram particularmente influentes para Kahlo nessa época, com os quais ela formou um grupo informal chamado "Cachuchas" — muitos deles, no futuro, se tornariam figuras importantes da elite intelectual mexicana. Eles eram rebeldes e contrários a tudo que consideravam conservador, pregavam peças, encenavam e debatiam filosofia e clássicos russos.[164] Para mascarar o fato de ser mais velha e se declarar "filha da revolução", começou a dizer que nascera em 7 de julho de 1910, ano do início da Revolução Mexicana, que continuou ao longo de sua vida.[165] Kahlo então se apaixonou por Alejandro Gomez Arias, o líder do grupo. Os pais dela não aprovaram o relacionamento. Arias e Kahlo ficavam frequentemente separados um do outro, devido à instabilidade política e violência do período, e por isso passaram a trocar cartas de amor entre eles.[14][166]

1925–1930: Acidente no ônibus e casamento com Rivera

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Em 17 de setembro de 1925, Kahlo e seu namorado, Arias, estavam voltando da escola para casa. Eles embarcaram em um ônibus, mas desceram para procurar um guarda-chuva que Kahlo havia deixado para trás. Eles então embarcaram em um segundo ônibus, que estava lotado, e se sentaram no banco de trás. O motorista tentou passar por um bonde elétrico que se aproximava. O bonde atingiu a lateral do ônibus de madeira, arrastando-o alguns metros. Vários passageiros morreram no acidente. Enquanto Arias sofreu pequenos danos, Kahlo foi perfurada por um corrimão de ferro que atravessou sua pélvis. Mais tarde, ela descreveu o ferimento como tendo "a forma com que uma espada perfura um touro". O corrimão foi removido por Arias e outros presentes ali, o que foi incrivelmente doloroso para Kahlo.[166][167]

Kahlo sofreu muitos ferimentos: seu osso pélvico foi fraturado, seu abdômen e útero foram perfurados pela grade, sua coluna foi quebrada em três lugares, sua perna direita em onze, seu pé direito foi esmagado e deslocado, sua clavícula foi quebrada, e seu ombro deslocado.[166][168] Ela passou um mês no hospital e dois meses se recuperando em casa antes de poder voltar ao trabalho.[169][170] Como ela continuava a sentir fadiga e dores nas costas, seus médicos prescreveram radiografias, que revelaram que o acidente também havia deslocado três vértebras. Como tratamento, ela teve que usar um espartilho de gesso que a confinou ao repouso absoluto por quase três meses.[171]

O acidente acabou com os sonhos de Kahlo de se tornar médica e causaria-lhe dores e doenças pelo resto da vida; seu amigo Andrés Henestrosa afirmou que Kahlo "viveu morrendo".[172] O descanso na cama de Kahlo acabou no final de 1927, e ela começou a se socializar com suas antigas amigas de escola, que agora estavam na universidade e envolvidas na política estudantil. Ela ingressou no Partido Comunista Mexicano (PCM) e foi apresentada a um círculo de ativistas políticos e artistas, incluindo o comunista cubano exilado Julio Antonio Mella e a fotógrafa ítalo-americana Tina Modotti.[173]

Em uma das festas de Modotti em junho de 1928, Kahlo foi apresentada a Diego Rivera.[174] Eles já tinham se visto brevemente em 1922, quando ele estava pintando um mural na escola dela.[175] Pouco depois de ser apresentada a ele em 1928, Kahlo pediu que ele julgasse se suas pinturas mostravam talento suficiente para que ela seguisse a carreira de artista.[176] Rivera lembrou de ter ficado impressionado com seus trabalhos, afirmando que eles mostravam "uma energia incomum de expressão, delineamento preciso de caráter e verdadeira severidade [...] Eles tinham uma honestidade plástica fundamental e uma personalidade artística própria [...] Era óbvio para mim que essa garota era uma artista autêntica".[177]

Kahlo logo começou um relacionamento com Rivera, que era 20 anos mais velho que ela e tivera duas esposas em união estável.[178] Kahlo e Rivera casaram-se em uma cerimônia civil na prefeitura de Coyoacán em 21 de agosto de 1929.[179] Sua mãe se opôs ao casamento, e ambos os pais se referiram a ele como um "casamento entre um elefante e uma pomba", referindo-se às diferenças de tamanho do casal; Rivera era alto e acima do peso, enquanto Kahlo era pequena e debilitada.[180] Contudo, seu pai aprovou Rivera, que era rico e, portanto, capaz de sustentar Kahlo, que não podia trabalhar e precisava receber tratamento médico caro.[181] O casamento foi noticiado pela imprensa mexicana e internacional,[182] e foi objeto de constante atenção da mídia no México nos anos seguintes, com artigos referindo-se ao casal simplesmente como "Diego e Frida".[183]

Logo após o casamento, no final de 1929, Kahlo e Rivera se mudaram para Cuernavaca, no estado rural de Morelos, onde ele foi contratado para pintar murais para o Palácio de Cortés.[184] Mais ou menos na mesma época, ela renunciou a sua filiação ao PCM em apoio a Rivera, que havia sido expulso pouco antes do casamento por apoiar o movimento de oposição esquerdista dentro da Terceira Internacional.[185]

Durante a guerra civil, o estado de Morelos viveu alguns dos combates mais pesados, e a vida na cidade de estilo espanhol de Cuernavaca aguçou o senso de identidade e história mexicanas de Kahlo.[21] Semelhante a muitas outras mulheres artistas e intelectuais de seu país na época,[186] Kahlo começou a usar roupas camponesas indígenas mexicanas tradicionais para enfatizar sua ascendência mestiça: saias longas e coloridas, huipils e rebozos, cocares elaborados e muitas joias.[187] Ela favorecia especialmente a vestimenta das mulheres da suposta sociedade matriarcal do Istmo de Tehuantepec, que passaram a representar "uma herança cultural mexicana autêntica e indígena" no México pós-revolucionário.[188] A roupa de tehuana permitiu a Kahlo expressar seus ideais feministas e anticolonialistas.[189]

1931–1933: Viagens aos Estados Unidos

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Depois que Rivera concluiu a encomenda em Cuernavaca no final de 1930, ele e Kahlo mudaram-se para São Francisco, onde ele pintou murais para o Luncheon Club da San Francisco Stock Exchange e para a California School of Fine Arts.[190] O casal foi "festejado, celebrizado [e] mimado" por colecionadores e clientes influentes durante sua estada na cidade.[191] O longo caso de amor de Kahlo com o fotógrafo húngaro-americano Nickolas Muray provavelmente começou por volta dessa época.[192]

Usuário:EnaldoSS/Testes/8 Claro que ele [Rivera] se sai bem para um garotinho, mas sou eu a grande artista Usuário:EnaldoSS/Testes/8

— Frida Kahlo, em entrevista ao Detroit News, em 2 de fevereiro de 1933

Kahlo e Rivera voltaram ao México para o verão de 1931 e, no outono, viajaram para a cidade de Nova Iorque para a abertura da retrospectiva de Rivera no Museu de Arte Moderna (MoMA). Em abril de 1932, eles foram para Detroit, onde Rivera foi contratado para pintar murais para o Detroit Institute of Arts.[193] Nessa época, Kahlo havia se tornado mais ousada em suas interações com a imprensa, impressionando os jornalistas com sua fluência no idioma inglês e afirmando ao chegar à cidade que ela era a maior artista entre os dois.[194]

O ano passado em Detroit foi uma período difícil para Kahlo. Embora ela tivesse gostado de visitar São Francisco e Nova Iorque, ela não gostava de aspectos da sociedade americana, que ela considerava como colonialista, assim como da maioria dos americanos, os quais ela achava "chatos".[195] Ela não gostava de ter que se socializar com capitalistas como Henry e Edsel Ford, e estava irritada porque muitos dos hotéis em Detroit se recusavam a aceitar hóspedes judeus.[196] Em uma carta a um amigo, ela escreveu que "embora eu esteja muito interessada em todo o desenvolvimento industrial e mecânico dos Estados Unidos", ela sentiu "um pouco de raiva de todos os caras ricos daqui, já que vi milhares de pessoas na mais terrível miséria, sem nada para comer e sem lugar para dormir, isso é o que mais me impressionou aqui, e é terrível ver os ricos fazendo festas dia e noite enquanto milhares e milhares de pessoas morrem de fome".[35] A temporada de Kahlo em Detroit também foi complicada por uma gravidez. Seu médico concordou em realizar um aborto, mas a medicação usada foi ineficaz. Kahlo estava deveras ambivalente quanto a ter um filho e já havia tido um aborto no início de seu casamento com Rivera.[197] Após o fracasso do procedimento, ela relutantemente concordou em continuar com a gravidez, mas acabou abortando em julho, o que causou uma hemorragia grave que a obrigou a ser hospitalizada por duas semanas.[198] Menos de três meses depois, sua mãe morreu devido a complicações de uma cirurgia no México.[199]

Kahlo e Rivera retornaram a Nova Iorque em março de 1933, pois ele havia sido contratado para pintar um mural para o Rockefeller Center.[200] Durante esse tempo, ela trabalhou em uma pintura apenas, Aí penduro meu vestido (1934). Ela também deu outras entrevistas para a imprensa americana.[201] Em maio, Rivera foi demitido do projeto do Rockefeller Center e foi contratado para pintar um mural para a New Workers School.[202] Embora Rivera desejasse continuar com sua estada nos Estados Unidos, Kahlo sentia saudades de casa e eles retornaram ao México logo após a inauguração do mural em dezembro de 1933.[203]

1934–1949: La Casa Azul e saúde em declínio

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De volta à Cidade do México, Kahlo e Rivera mudaram-se para uma nova casa no rico bairro de San Ángel.[204][205][27] Encomendada de um aluno do arquiteto Le Corbusier, Juan O'Gorman, a casa consistia em duas seções unidas por uma ponte; a de Kahlo foi pintada de azul e a de Rivera de rosa e branco.[204][205][206] A residência boêmia tornou-se um importante ponto de encontro para artistas e ativistas políticos do México e do exterior.[27][207]

Novamente Kahlo teve problemas de saúde — passou por uma apendicectomia, teve dois abortos e amputou dedos gangrenados[208][209][210][151] — e seu casamento com Rivera havia se tornado tenso. Ele não estava feliz por estar de volta ao México e culpou Kahlo pelo retorno deles.[211][205] Embora já tivesse sido infiel a ela antes, naquele momento Rivera tinha um caso com a irmã mais nova de Kahlo, Cristina, o que feriu profundamente os sentimentos dela.[211][205][27][212] Depois de descobri-lo no início de 1935, ela se mudou para um apartamento no centro da Cidade do México e pensou em divorciar-se dele.[27][208][213] Nessa época, Kahlo teve um caso com o artista estadunidense Isamu Noguchi.[208][214][215][27][216]

Kahlo reconciliou-se com Rivera e Cristina mais tarde em 1935 e voltou para San Ángel.[27][217][218] Ela se tornou uma tia amorosa para os filhos de Cristina, Isolda e Antonio.[207] Apesar da reconciliação, tanto Rivera quanto Kahlo continuaram a serem infiéis um ao outro.[219][215][220] Ela retomou suas atividades políticas em 1936, juntando-se à Quarta Internacional e tornando-se membro fundadora de um comitê de solidariedade para fornecer ajuda aos republicanos na Guerra Civil Espanhola.[221][27] Kahlo e Rivera fizeram uma petição bem sucedida ao governo mexicano para conceder asilo ao ex-líder soviético Leon Trotsky e ofereceram a La Casa Azul para ele e sua esposa Natalia Sedova como residência.[222][223][221][27] O casal viveu lá de janeiro de 1937 a abril de 1939. Kahlo e Trotsky não só foram bons amigos, como também tiveram uma breve relação amorosa.[222][223][221]

Depois de abrir uma exposição em Paris, Kahlo navegou de volta para Nova Iorque.[224] Estava ansiosa para se reencontrar com Muray, mas ele decidiu terminar a relação, pois havia conhecido outra mulher com quem planejava se casar.[224][225] Kahlo viajou de volta para a Cidade do México, onde Rivera pediu o divórcio a ela. As razões exatas de tal decisão são desconhecidas, mas ele afirmou publicamente que era apenas uma "questão de conveniência legal no estilo dos tempos modernos [...] Não há razões sentimentais, artísticas ou econômicas".[226] De acordo com amigos, o divórcio deles foi causado principalmente pela infidelidade mútua.[227][228][225] Ele e Kahlo conseguiram o divórcio em novembro de 1939, mas continuaram a se tratar como amigos; ela continuou a administrar as finanças dele e sua correspondência.[229]

Após se separar de Rivera, Kahlo voltou para La Casa Azul e, determinada a sustentar a própria vida, iniciou outro período produtivo como artista, inspirada por suas experiências no exterior.[230][231][232] Incentivada pelo reconhecimento que estava ganhando, ao invés de pintar nas pequenas e mais íntimas folhas de estanho que usava desde 1932, passou a usar telas maiores, por serem mais fáceis de expor.[233][234] Também adotou uma técnica mais sofisticada, limitando detalhes gráficos e passando a produzir mais retratos com quartos de comprimento, que eram mais fáceis de vender.[234] Kahlo pintou várias de suas peças mais famosas durante esse período, como As duas Fridas (1939), Autorretrato com cabelo cortado (1940), A mesa ferida (1940) e Autorretrato com colar de espinhos e beija-flor (1940). Três exposições apresentaram seus trabalhos em 1940: a quarta Exposição Surrealista Internacional na Cidade do México, a Golden Gate International Exposition em São Francisco e a Twenty Centuries of Mexican Art no MoMA em Nova Iorque.[235][236][237]

Em 21 de agosto de 1940, Trotsky foi assassinado em Coyoacán, onde continuou a viver após deixar a La Casa Azul.[238] Kahlo foi por pouco tempo suspeita de estar envolvida, pois conhecia o assassino, e acabou sendo presa e mantida por dois dias com sua irmã Cristina.[238][236] No mês seguinte, Kahlo viajou para São Francisco em busca de tratamento médico para a dor nas costas e uma infecção fúngica na mão.[239][240][241][242] Sua saúde continuamente frágil piorava cada vez mais desde o divórcio e tal situação foi exacerbada por seu consumo excessivo de álcool.[239][240][231][242]

Rivera também estava em São Francisco depois que fugiu da Cidade do México por conta do assassinato de Trotsky e aceitara uma comissão.[238][243][244] Embora Kahlo estivesse em um relacionamento com o negociante de arte Heinz Berggruen durante sua visita a São Francisco,[245][216] ela e Rivera se reconciliaram.[246][242][243] Eles se casaram novamente em uma cerimônia civil simples no dia 8 de dezembro de 1940.[246][242][243][238] Kahlo e Rivera voltaram ao México logo após o casamento. Durante os primeiros cinco anos, a união deles foi menos turbulenta do que era antes.[247] Ambos eram mais independentes,[238][243] e enquanto a La Casa Azul servia como residência principal, Rivera mantinha sua casa em San Ángel para usar como estúdio e apartamento secundário.[248] Ambos continuaram tendo casos extraconjugais, e Kahlo tinha com homens e mulheres. Evidências sugerem que os amantes homens de Kahlo eram mais importantes para ela do que seus casos lésbicos.[238][243][249]

Apesar do tratamento médico que recebeu em São Francisco, os problemas de saúde de Kahlo continuaram durante os anos 1940. Devido aos seus problemas na coluna, Kahlo usou 28 espartilhos de suporte separados, variando de aço e couro ao gesso, entre os anos de 1940 e 1954.[250] Ela sentia dores nas pernas, a infecção na mão tornou-se crônica e também recebeu tratamento para sífilis.[250][247] A morte de seu pai em abril de 1941 fez Kahlo entrar em depressão.[247] Sua saúde debilitada a confinava cada vez mais na La Casa Azul, que se tornou o centro de seu mundo. Ela gostava de cuidar da casa e de seu jardim, e era acompanhada por amigos, criados e vários animais de estimação, incluindo macacos-aranha, xoloitzcuintles e papagaios.[238][251][252]

Enquanto Kahlo ganhava reconhecimento em seu país, sua saúde continava a se agravar. Em meados da década de 1940, seus problemas nas costas pioraram ao ponto de não permitirem que ela sentasse ou ficasse de pé continuamente.[253][254][242] Em junho de 1945, Kahlo viajou para Nova Iorque para realizar uma operação que fundiu um enxerto ósseo e um suporte de aço em sua coluna para endireitá-la.[73][242] O procedimento foi complicado e falho. De acordo com Herrera, Kahlo sabotou a própria recuperação não descansando conforme era necessário e, em um acesso de raiva, reabrindo fisicamente suas feridas. As pinturas que criou nesse período, como A coluna quebrada (1944), Sem Esperança (1945), Árvore da esperança, mantenha-se firme (1946) e O veado ferido (1946), refletem a decadência de sua saúde.[73]

1950–1954: Últimos anos e morte

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Em 1950, Kahlo passou a maior parte do ano no Hospital ABC na Cidade do México, onde passou por uma nova cirurgia de enxerto ósseo na coluna.[255][256][242] O procedimento causou-lhe uma infecção problemática e exigiu várias cirurgias de acompanhamento. Depois de receber alta, ficou quase sempre reclusa na La Casa Azul, usando uma cadeira de rodas e muletas para deambular.[253][257] Durante esses últimos anos de vida, Kahlo dedicou seu tempo a causas políticas na medida em que sua saúde permitia. Voltou ao Partido Comunista Mexicano em 1948[76] e fez campanhas pela paz, como quando coletou assinaturas para o Apelo de Estocolmo.[258]

A perna direita de Kahlo foi amputada no joelho devido a gangrena em agosto de 1953. Ela ficou gravemente deprimida e ansiosa, e sua dependência de analgésicos aumentou. Quando Rivera começou outro caso, tentou se suicidar por sobredose.[83] Em fevereiro de 1954, escreveu em seu diário: "Amputaram minha perna há seis meses, me deram séculos de tortura e há momentos em que quase perco a razão. Continuo querendo me matar. Diego é o que me impede de fazê-lo, por minha vã ideia de que sentiria minha falta [...] Mas nunca sofri tanto em minha vida. Vou esperar mais um pouco...".[259]

Em seus últimos dias, Kahlo ficou praticamente acamada com broncopneumonia, embora tenha feito uma aparição pública em 2 de julho de 1954, participando com Rivera em uma manifestação contra a invasão da Guatemala pela CIA.[260][82] Ela parecia antecipar sua morte, pois falava sobre isso aos visitantes e desenhava esqueletos e anjos em seu diário. Seu último desenho foi um anjo negro, que o biógrafo Hayden Herrera interpreta como sendo o Anjo da Morte. O desenho foi acompanhado pelas últimas palavras que escreveu: "Espero alegre a partida — e espero não voltar jamais — Frida".[260]

A manifestação piorou sua doença e, na noite de 12 de julho de 1954, Kahlo teve febre alta e dor extrema.[260] Aproximadamente às 6 da manhã de 13 de julho de 1954, sua enfermeira a encontrou morta na cama.[261][262] Kahlo tinha 47 anos. A causa oficial da morte foi embolia pulmonar, embora nenhuma autópsia tenha sido realizada.[260] Herrera defende que Kahlo, na verdade, teria cometido suicídio.[263][260] A enfermeira, que contava os analgésicos de Kahlo para monitorar seu uso de drogas, afirmou que Kahlo havia tomado uma sobredose na noite em que morreu. A ela havia sido prescrita uma dose máxima de sete comprimidos, mas teria tomado onze. Kahlo também entregou a Rivera um presente de aniversário de casamento naquela noite, com um mês de antecedência.[262]

Na noite de 13 de julho, o corpo de Kahlo foi levado ao Palacio de Bellas Artes, onde foi colocado sob a bandeira comunista. No dia seguinte, foi transportado para o Panteón Civil de Dolores, onde amigos e familiares participaram de uma cerimônia fúnebre informal. Centenas de admiradores permaneceram do lado de fora. De acordo com seus desejos, Kahlo foi cremada. Rivera afirmou que sua morte foi "o dia mais trágico da minha vida". Ele morreu três anos depois, em 1957. As cinzas de Kahlo são atualmente exibidas em uma urna pré-colombiana na La Casa Azul, aberta como Museu Frida Kahlo em 1958.[264]

Reconhecimento póstumo e "Fridamania"

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Usuário:EnaldoSS/Testes/8 "A Frida do século XXI não só é uma estrela — uma propriedade comercial completa com seus fãs-clubes e merchandising — como também uma personificação das esperanças e aspirações de um grupo quase religioso de seguidores. Essa Frida híbrida e selvagem, uma mistura de boêmia trágica, Virgem de Guadalupe, heroína revolucionária e Salma Hayek, conquistou tanto a imaginação do público que tende a obscurecer a Kahlo historicamente recuperável".[265] Usuário:EnaldoSS/Testes/8

— Historiadora de arte Oriana Baddeley sobre Kahlo

O Tate Modern considera Kahlo "uma das artistas mais importantes do século XX",[266] enquanto que de acordo com a historiadora de arte Elizabeth Bakewell, ela é "uma das figuras mais importantes do México no século XX".[267] A reputação de Kahlo como artista desenvolveu-se tarde em sua vida e cresceu ainda mais postumamente. Durante sua vida foi conhecida principalmente por ser a esposa de Diego Rivera e uma personalidade excêntrica entre a elite cultural internacional.[268][269][270][271] Ela gradualmente ganhou mais reconhecimento no final dos anos 1970, quando estudiosas feministas começaram a questionar a exclusão de artistas mulheres e não ocidentais do cânone da história da arte e o Movimento Chicano a elevou como um de seus ícones.[268][269][272][273] Os dois primeiros livros sobre Kahlo foram publicados no México por Teresa del Conde e Raquel Tibol em 1976 e 1977, respectivamente,[274] e em 1977, Árvore da esperança, mantenha-se firme (1946) se tornou a primeira pintura de Kahlo a ser vendida em um leilão, arrecadando $19.000 na Sotheby's.[275] Esses marcos foram seguidos pelas duas primeiras exposições retrospectivas realizadas sobre a obra de Kahlo em 1978, uma no Palacio de Bellas Artes na Cidade do México e outra no Museu de Arte Contemporânea de Chicago.[274]

Dois eventos foram fundamentais para despertar o interesse em sua vida e arte para o público em geral fora do México. O primeiro foi uma retrospectiva conjunta de suas pinturas e fotografias de Tina Modotti na Whitechapel Gallery em Londres, que foi comissariada e organizada por Peter Wollen e Laura Mulvey.[276][272][271] Foi inaugurada em maio de 1982 e depois viajou para a Suécia, Alemanha, Estados Unidos e México.[277] A segunda foi a publicação do best-seller internacional do historiador de arte Hayden Herrera, Frida: A Biography of Frida Kahlo, em 1983.[272][277][271][278]

Em 1984, a reputação de Kahlo como artista havia crescido tanto que o México declarou suas obras como parte do patrimônio cultural nacional, proibindo sua exportação do país.[275][279] Como resultado, suas pinturas raramente aparecem em leilões internacionais, e retrospectivas abrangentes são raras.[279] Mesmo assim, suas pinturas ainda quebraram recordes para a arte latino-americana nas décadas de 1990 e 2000. Em 1990, Kahlo se tornou a primeira artista latino-americana a quebrar o limite de um milhão de dólares por uma pintura quando Diego e eu foi leiloada pela Sotheby's por $1.430.000.[275] Em 2006, Raízes (1943) atingiu US$5.600.000,[280] e em 2016, Dois Nus na Floresta (1939) foi vendida por $8.000.000.[281]

Kahlo atraiu tanto interesse popular que o termo "Fridamania" foi criado para descrever o fenômeno.[272][282][283] Ela é considerada "uma das artistas mais reconhecíveis instantaneamente",[277] cujo rosto já foi "usado com a mesma regularidade, e muitas vezes com um simbolismo compartilhado, que as imagens de Che Guevara ou de Bob Marley".[284] Sua vida e arte inspiraram uma variedade de mercadorias, e seu visual distinto foi apropriado pelo mundo da moda.[272][282][283][285][286] Um filme biográfico de Hollywood, Frida, da cineasta Julie Taymor, foi lançado em 2002.[287] Baseado na biografia de Herrera e estrelado por Salma Hayek (que coproduziu o filme) como Kahlo, arrecadou US$56.000.000 em todo o mundo e ganhou seis indicações ao Oscar, vencendo nas categorias de Melhor Maquiagem e Melhor Trilha Sonora Original.[288] A animação Coco de 2017 da Disney-Pixar também apresenta Kahlo em um papel coadjuvante, com a voz de Natalia Cordova-Buckley.[289]

O interesse popular por Kahlo é resultado, sobretudo, do fascínio por sua história de vida, especialmente por seus aspectos trágicos e dolorosos. Ela se tornou um ícone para vários grupos minoritários e movimentos políticos, como o feminismo, a comunidade LGBT e os Chicanos. Oriana Baddeley escreveu que Kahlo tornou-se um símbolo da não conformidade e "o arquétipo de uma minoria cultural", que é considerada simultaneamente "uma vítima, aleijada e abusada" e "uma sobrevivente que revida".[290] Edward Sullivan afirmou que Kahlo é saudada como heroína por muitos por ser "alguém que valida suas próprias lutas para encontrar suas próprias vozes e suas próprias personalidades públicas".[291] De acordo com John Berger, a popularidade de Kahlo se deve em parte ao fato de que "compartilhar a dor é uma das pré-condições essenciais para um reencontro da dignidade e da esperança" na sociedade do século XXI.[292] Kirk Varnedoe, ex-curador-chefe do MoMA, afirmou que o sucesso póstumo de Kahlo está ligado à maneira como "ela se encaixa com as sensibilidades atuais — sua preocupação psico obsessiva consigo mesma, sua criação de um mundo alternativo pessoal que carrega consigo uma tensão. Sua constante remodelagem de identidade e sua construção de um teatro de si são exatamente o que preocupa artistas contemporâneos como Cindy Sherman ou Kiki Smith e, em um nível mais popular, Madonna [...] Ela se encaixa bem com a estranha química hormonal andrógina de nossa época particular".[151]

A popularidade póstuma de Kahlo e a comercialização de sua imagem atraíram críticas de muitos estudiosos e comentaristas culturais, os quais acreditam que não apenas muitas facetas de sua vida foram mitificadas, mas também os aspectos dramáticos de sua biografia obscureceram sua arte, produzindo uma leitura simplista de suas obras, as quais são reduzidas a descrições literais de eventos de sua vida.[293][85][294][295]

Usuário:EnaldoSS/Testes/8 Kahlo foi abraçada como uma garota-propaganda de todas as possíveis causas politicamente corretas [...] Mas, como em um jogo de telefone, quanto mais a história de Kahlo era contada, mais era distorcida, omitindo detalhes incômodos que mostram que ela é uma figura muito mais complexa e falha do que os filmes e livros de receitas sugerem. Essa elevação do artista sobre a arte diminui a compreensão do público sobre o lugar de Kahlo na história e ofusca as verdades mais profundas e perturbadoras de seu trabalho. Ainda mais preocupante, porém, é que, ao reformular sua biografia, os promotores de Kahlo a prepararam para a queda inevitável típica das mulheres artistas, na qual os do contra se unem e se divertem derrubando sua imagem exagerada, e com isso, sua arte".[286] Usuário:EnaldoSS/Testes/8

— Jornalista Stephanie Mencimer sobre Kahlo

Baddeley comparou o interesse pela vida de Kahlo ao fascínio gerado pela vida conturbada de Vincent van Gogh, mas também afirmou que uma diferença crucial entre os dois é que a maioria das pessoas associa van Gogh a suas pinturas, enquanto Kahlo geralmente é vinculada a uma imagem dela — um comentário intrigante sobre a maneira como homens e mulheres artistas são vistos.[296] De maneira similar, Peter Wollen comparou os seguidores que quase cultuam Kahlo aos de Sylvia Plath, cuja "arte incomumente complexa e contraditória" foi ofuscada por um foco simplificado em sua vida.[297]

Homenagens e caracterizações

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O legado de Kahlo tem sido relembrado de diversas maneiras. La Casa Azul, sua casa em Coyoacán, foi inaugurada como Museu Frida Kahlo em 1958 e se tornou um dos mais populares da Cidade do México, com aproximadamente 25 000 visitantes por mês.[298] Em 1985, a cidade dedicou a ela um parque, o Parque Frida Kahlo, localizado em Coyoacán. O parque possui uma estátua de bronze de Kahlo.[299] Nos Estados Unidos, se tornou a primeira mulher hispânica a ser homenageada com um selo postal em 2001,[300] e em 2012 foi introduzida na Legacy Walk, uma exibição pública ao ar livre em Chicago que celebra a história e as pessoas do movimento LGBT.[301]

Kahlo recebeu várias homenagens pelo centenário de seu nascimento (1907) em 2007 e algumas pelo atestado por ela (1910), em 2010. O que incluiu o lançamento de uma nova cédula de quinhentos pesos mexicanos pelo Banco do México, com Diego Rivera na frente e a pintura de Kahlo O Abraço de Amor do Universo, a Terra (México), Eu, Diego e o Senhor Xolotl (1949) no verso.[302] A maior retrospectiva de suas obras no Palacio de Bellas Artes da Cidade do México quebrou o recorde de público anterior do teatro.[303]

A vida e a arte de Kahlo inspiraram homenagens de outros artistas em vários campos. Em 1984, Paul Leduc lançou um filme biográfico intitulado Frida, naturaleza viva, estrelado por Ofelia Medina como Kahlo. Ela é a protagonista de três romances fictícios, Frida (2001) de Barbara Mujica,[304] Frida's Bed (2008) de Slavenka Drakulic, e The Lacuna de Barbara Kingsolver (2009).[305] Em 1994, o flautista e compositor de jazz estadunidense James Newton lançou um álbum intitulado Suite for Frida Kahlo.[306] Em 2017, a autora Monica Brown e o ilustrador John Parra publicaram um livro infantil sobre Kahlo, Frida Kahlo and her Animalitos, que trata principalmente dos animais e bichos de estimação na vida e na arte de Kahlo.[307] Nas artes visuais, a influência de Kahlo foi ampla e abrangente: em 1996 e novamente em 2005, o Instituto Cultural Mexicano em Washington D.C. coordenou uma exposição de "homenagem a Frida Kahlo", que exibiu obras de arte relacionadas a ela de artistas de todo o mundo na Fraser Gallery de Washington.[308][309] Além disso, diversos artistas ​​como Marina Abramovic,[310] Alana Archer,[311] Gabriela Gonzalez Dellosso,[312] Yasumasa Morimura,[313] Cris Melo,[314] Rupert Garcia,[315] e outros já usaram ou se apropriaram da imagem de Kahlo em suas próprias obras.

Kahlo também foi tema de várias performances em palcos. Annabelle Lopez Ochoa coreografou um balé em um ato intitulado Broken Wings, para a companhia English National Ballet, que estreou em 2016; nele, Tamara Rojo interpretou Kahlo.[316] A Dutch National Ballet então encomendou a Lopez Ochoa a criação de uma versão completa do balé, intitulado Frida e em três atos, que estreou em 2020, com Maia Makhateli como Kahlo.[317] Kahlo também inspirou duas óperas: Frida de Robert Xavier Rodriguez, que estreou no American Music Theatre Festival na Filadélfia, Estados Unidos em 1991,[318] e Frida y Diego de Kalevi Aho, que estreou no Helsinki Music Centre em Helsinki, Finlândia em 2014.??? [297] Ela também foi personagem principal de várias peças, incluindo Goodbye, My Friduchita (1999) de Dolores C. Sendler,[319] La Casa Azul (2002) de Robert Lepage e Sophie Faucher,[320] Frida Kahlo: Viva la vida! (2009) de Humberto Robles,??? [300] e Tree of Hope (2014) de Rita Ortez Provost.[321] Em 2018, a Mattel lançou dezessete novas bonecas Barbie em comemoração ao Dia Internacional da Mulher, incluindo uma de Kahlo. Os críticos se opuseram à cintura fina da boneca e à visível falta de uma monocelha.[322]

Em 2014, Kahlo foi uma das homenageadas inaugurais da Rainbow Honor Walk, um salão da fama no sub-bairro de Castro, em São Francisco, que destaca pessoas LGBTQ que "fizeram contribuições significativas em suas áreas".[323][324][325] Em 2018, o Conselho de Supervisores de São Francisco votou por unanimidade na renomeação da Phelan Avenue para Frida Kahlo Way.[326]

Do texto
  1. a b c Frida recebeu seus dois primeiros nomes para que pudesse ser batizada de acordo com as tradições católicas. Contudo, sempre foi chamada apenas de "Frida". Até o final dos anos 1930, preferia pronunciar seu nome como "Frieda", mas depois abandonou o "e", porque não desejava ser associada à Alemanha durante o governo de Hitler[1][2] (pois "Frieda" era um prenome comum nas línguas germânicas).
  2. Tradução livre de "Sixth Annual Exhibition of the San Francisco Society of Women Artists".
  3. Tradução livre de "Wife of the Master Mural Painter Gleefully Dabbles in Works of Art".
  4. Tradução livre de "Little Frida's pictures [...] had the daintiness of miniatures, the vivid reds, and yellows of Mexican tradition and the playfully bloody fancy of an unsentimental child".
  5. Tradução livre de "this bunch of coocoo lunatics and very stupid surrealists" e "are so crazy 'intellectual' and rotten that I can't even stand them anymore". Na língua inglesa, coocoo (ou cuckoo) é uma gíria para se referir, pejorativamente, a alguém "louco" ou "maluco".
  6. Tradução livre de "Twentieth Century Portraits" e "First Papers of Surrealism".
  7. Tradução livre de "Mexican Art Today" e "Women Artists".
  8. Tradução livre de "mucha inquietud en el asunto de mi pintura. Sobre todo para transformarla, para que sea algo útil, pues hasta ahora no he pintado sino la expresión honrada de mí misma. [...] Debo luchar con todas mis fuerzas para que lo poco de positivo que mi salud me deja sea en dirección de ayudar a la Revolución. La única razón real para vivir".
  9. Tradução livre de "in total ignorance of the ideas that motivated the activities of my friends and myself".
  10. Tradução livre de "sort of 'naïve' Surrealism, which she invented for herself".
  11. Tradução livre de "wonderfully situated at the point of intersection between the political (philosophical) line and the artistic line".
  12. La chingada é um termo considerado grosseiro comumente usado no espanhol mexicano coloquial que se refere a várias condições ou situações, geralmente, com conotações negativas. A palavra chingada é derivada do verbo chingar, que significa "foder".
  13. Devido aos problemas posteriores de Kahlo com escoliose e com seus quadris e membros, o neurologista Budrys Valmantas argumentou que ela tinha uma condição congênita, espinha bífida, que foi diagnosticada pelo Dr. Leo Eloesser quando era uma jovem adulta.[150] O psicólogo e historiador da arte Dr. Salomon Grimberg discorda, afirmando que os problemas de Kahlo eram, em vez disso, o resultado de ela não usar um calçado ortopédico na perna direita afetada, o que causou danos aos quadris e à coluna vertebral.[151]
De tradução

Referências

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  • Barson, Tanya (2005). «'All Art is At Once Surface and Symbol': A Frida Kahlo Glossary». In: Dexter, Emma. Frida Kahlo. [S.l.]: Tate Modern. ISBN 1-85437-586-5 
  • Burrus, Christina (2005). «The Life of Frida Kahlo». In: Dexter, Emma. Frida Kahlo. [S.l.]: Tate Modern. ISBN 1-85437-586-5 
  • Cooey, Paula M. (1994). Religious Imagination and the Body: A Feminist Analysis. [S.l.]: Oxford University Press 
  • Deffebach, Nancy (2006). «Frida Kahlo: Heroism of Private Life». In: Brunk, Samuel; Fallow, Ben. Heroes and Hero Cults in Latin America. [S.l.]: University of Texas Press. ISBN 978-0-292-71481-6 
  • Deffebach, Nancy (2015). María Izquierdo and Frida Kahlo: Challenging Visions in Modern Mexican Art. [S.l.]: University of Texas Press. ISBN 978-0-292-77242-7 
  • Dexter, Emma (2005). «The Universal Dialectics of Frida Kahlo». In: Dexter, Emma. Frida Kahlo. [S.l.]: Tate Modern. ISBN 1-85437-586-5 
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Ligações externas

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