Saltar para o conteúdo

Problemas econômicos do Brasil

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Em primeiro plano a Favela da Rocinha e ao fundo o bairro de São Conrado, um dos metros quadrados mais caros da cidade do Rio de Janeiro.

Os problemas econômicos do Brasil podem ser compreendidos através da interpretação de indicadores econômicos como PIB, inflação e taxa de desemprego no país, estando também atrelado aos problemas sociais do Brasil.

Desde meados de 2014 o Brasil passa por uma profunda crise política e econômica que se agravou a partir de 2020 com a crise causada pela pandemia de COVID-19.

O Brasil, em 2020, foi considerado o nono país mais desigual do mundo, principalmente quando se avalia a desigualdade na distribuição de renda e na carga tributária. Nos últimos sete anos houve aumento de pessoas em situação de extrema pobreza, a quantidade de famílias que estão na miséria passou de 6,5% para 13,5%. Em 2021, cerca de 27 milhões de brasileiros vivem na extrema pobreza.[1] As populações preta e parda, além das mulheres, são as mais afetadas.[2][3]

O abismo entre ricos e pobres é outra questão alarmante. Apenas cinco bilionários brasileiros possuem, juntos, o mesmo patrimônio que a metade da população mais pobre do país. Alguns fatores ajudam a explicar a concentração de renda, mas o principal, é o sistema tributário brasileiro, que favorece tanto os mais ricos como seus herdeiros.[4]

A concentração de terras é citada como um dos fatores agravantes. Dados do relatório Terra, Poder e Desigualdade na América Latina, da Oxfam, mostram que 45% de toda a área rural do país está nas mãos de menos de 1% da população. Apesar disso, mesmo sem acesso a recursos e a créditos no campo, os pequenos produtores são responsáveis por produzir mais de 70% dos alimentos de todo o país.[4]

A sonegação de impostos representa um dos principais responsáveis pelos problemas econômicos do Brasil, sendo o 2º país que mais sonega impostos (atrás apenas da Rússia) deixando de arrecadar R$ 417 bilhões por ano, segundo o Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT). O Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) foi o que mais foi sonegado pelas empresas no ano de 2018. Em contrapartida, no ano de 2019, a sonegação do Imposto de Renda (IR) superou o ICMS.[5]

Caracterização

[editar | editar código-fonte]

Os fatores que levam o Brasil a ser colocado em posição privilegiada em comparação a outros países refletem características regionais, geográficas, comerciais e de recursos extrativistas e energéticos. Dessa maneira, podemos citar a diversidade de regiões geográficas, a vastidão de espaço, a potencialidade de mercado interno e a variedade de recursos minerais e hidrelétricos.[6] Apesar de todas essas vantagens, o país também enfrenta alguns problemas colossais. Esses problemas exigem superação imediata. Todos os outros problemas estão atrelados a esses contrastes. Trata-se de questões relacionadas à alimentação, educação, saúde, saneamento, habitação e transporte.[6]

Por muitos anos, o Brasil conviveu com uma alta taxa de inflação. Essa taxa de inflação ampliou os já graves problemas de distribuição de renda.[6] Ao mesmo tempo, uma dívida externa batia recordes. Mas isso intimidou a entrada de investimentos no país. Durante toda a década de 1980, o crescimento econômico teve uma redução catastrófica. Isso levou muitos economistas a afirmar que houve crise econômica na época em que o Brasil sofreu um revés financeiro.[7] Uma formidável capacidade de reação tem sido mostrada na década de 1990.[6] Em 1994, o Plano Real entrou em vigor. O principal objetivo desse plano econômico foi estabilizar a inflação em patamares baixos. Antes disso, diversos planos econômicos tentavam equilibrar a situação interna, o que não surtiu efeito até certo momento.[8] Tal medida tomada pelo Plano Real possibilitou o início de reformas estruturais mais profundas. Essas reformas visavam alterar o quadro de abandono em que se encontravam as áreas de saúde, educação e saneamento, principalmente.[6]

Entre o fim da Década de 1990 até 2012, o aumento do preço das commodities no mercado internacional, impulsionado pela crescente demanda da China, representou para o Brasil um momento favorável para o crescimento econômico.O incentivo a exportações associado à busca por bons relacionamentos diplomáticos com países emergentes foram fundamentais para a criação de milhões de postos de trabalho e, em 2010, o país registrou uma taxa de crescimento do PIB de 7,5%, sendo a maior expansão desde 1986.[9]

O incentivo ao consumo e os anos de sorte econômica não refletiam a realidade provável de longo prazo para o país. A desaceleração da economia chinesa levou a uma queda brusca no preço das commodities, impactando diretamente na produtividade nacional com excesso da oferta de produtos e consequente queda dos preços. A partir de 2013, o Brasil iniciou o seu quadro de recessão, que vem se agravando continuamente nos últimos três anos, com queda de PIB per capita de 10%, o que representa uma expressiva diminuição de renda da população.[10] No fim de 2014, a dívida pública tinha crescido de 51,3% para 57,2% do PIB e alcançou 66,2% em 2015.[9]

Em 2016 os efeitos da crise econômica estão sendo amplamente sentidos pela sobrecarga nos serviços públicos e pela população, que precisa adaptar as contas para a atual realidade financeira. De acordo com pesquisa realizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) em 2016, quase metade dos entrevistados (48%) passou a usar mais transporte público e 34% deixaram de ter plano de saúde.[11] O aprofundamento da crise econômica levou 14% das famílias a trocarem a escola dos filhos de particular para pública em junho de 2016, com percentual superior aos verificados em 2012 e 2013, antes da crise econômica.[12] Além disso, os consumidores estão enfrentando a crise trocando produtos por similares mais baratos (78%), esperando liquidações para comprar bens de maior valor (80%) e poupando mais para o caso de necessidade (78%).[13]

O custo Brasil é um termo genérico, usado para descrever o conjunto de dificuldades estruturais, burocráticas e econômicas que encarecem o investimento no Brasil, dificultando o desenvolvimento nacional, aumentando o desemprego, o trabalho informal, a sonegação de impostos e a evasão de divisas. Por isso, é apontado como um conjunto de fatores que comprometem a competitividade e a eficiência da indústria nacional.[14] O custo Brasil tira R$1,5 trilhão por ano das empresas.[15]

A Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (ABIMAQ) divulgou em março de 2010 um estudo inédito que mensurou o Custo Brasil para produtos agrícolas. Oito itens foram considerados, e, ficou constatado que o Custo Brasil encarece em média 36,27% o preço do produto brasileiro em relação aos seus similares fabricados na Alemanha e nos Estados Unidos.[14] Apenas a falta de infraestrutura logística para o transporte de grãos ocasiona uma perda estimada em 4 bilhões de dólares por safra.[16]

Um estudo do Departamento de Competitividade e Tecnologia da FIESP comprova que um bem manufaturado nacional é, em média, 34,2% mais caro que o seu similar importado dos principais parceiros comerciais do Brasil, já incluídas as alíquotas de importação vigentes, unicamente em função do Custo Brasil, isto é, devido às deficiências no ambiente de negócios do país.[17]

Um estudo da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (FIRJAN) demonstrou que a liberação de carga em um aeroporto como o Galeão, no Rio de Janeiro, leva, em média, 217 horas para ser finalizada, enquanto na China a mesma operação não dura mais do que quatro horas.[18]

Em 2013, as más condições de conservação das rodovias federais do Brasil elevaram os gastos em combustíveis em 1,4 bilhões de reais.[19]

O Banco Mundial posicionou o Brasil na centésima vigésima terceira posição em seu ranking que classifica os países por "facilidade em se fazer negócios", o Doing Business Ranking. O ranking é composto por 190 países (2017).[20]

Exemplos do Custo Brasil são:

Em 28 de fevereiro de 2013, o Senado Federal aprovou Medida Provisória "que desonera empresas e visa reduzir o custo Brasil" reduzindo a tributação sobre a folha de pagamento de setores como transporte e engenharia.[41] Entretanto, a medida gerou uma redução média de apenas 0,5% da carga de tributos no preço final dos produtos e serviços, não tendo ocasionado, portanto, redução significativa do Custo Brasil.[carece de fontes?]

José Serra assim se posicionou em relação ao Custo Brasil:

O elevado custo Brasil começa na burocracia para pagar impostos, que consome o equivalente a 2,6% dos preços industriais! Com a carga tributária, o conjunto vai a 15,5%, em relação aos nossos parceiros comerciais. Se incluirmos os custos financeiros, de energia, matérias- primas e transportes, o ônus sobre os produtos manufaturados, na comparação com esses parceiros, é de 25%, segundo competente estudo da Fiesp. É o custo Brasil. Em cima disso, a sobrevalorização cambial teve um papel especialmente perverso: em relação a 2002, ficou em torno dos 40%, puxada por juros reais extravagantes, que só recuaram em 2012.

 [42]

Referências

  1. Couto, Camille (8 de abril de 2021). «População abaixo da linha da pobreza triplica e atinge 27 milhões de brasileiros». CNN. Rio de Janeiro. Consultado em 28 de setembro de 2021. Cópia arquivada em 31 de agosto de 2021 
  2. Batista, Vera (12 de novembro de 2020). «Brasil continua sendo 9º país mais desigual do mundo, diz IBGE». Correio Braziliense. Consultado em 15 de julho de 2021. Cópia arquivada em 16 de julho de 2021 
  3. «Brasil é nono país mais desigual do mundo, diz IBGE». Exame. 11 de novembro de 2020. Consultado em 15 de julho de 2021. Cópia arquivada em 18 de julho de 2021 
  4. a b «O que faz do Brasil um dos países mais desiguais?». Deutsche Welle. 20 de fevereiro de 2019. Consultado em 15 de julho de 2021. Cópia arquivada em 15 de julho de 2021 
  5. Carrijo, Wesley (26 de janeiro de 2021). «Sonegação de impostos resulta em uma perda de R$ 417 bilhões para o Brasil». Jornal Contábil. Consultado em 5 de outubro de 2021 
  6. a b c d e Antunes, Celso (1996). Geografia e participação, 1.º grau: Regiões do Brasil. São Paulo: Scipione. p. [falta página]. 161 páginas. ISBN 85-262-2737-8 
  7. Oliveira, Sanderson C. (26 de fevereiro de 2005). «A Crise Financeira dos Anos 80». Mídia Independente. Consultado em 1 de março de 2010. Arquivado do original em 8 de agosto de 2013 
  8. «Fim da inflação e conquista da estabilidade econômica». UOL Educação. Consultado em 1 de março de 2010. Arquivado do original em 6 de julho de 2011 
  9. a b Garcia, Giselle (15 de maio de 2016). «Entenda a crise econômica». Agência Brasil. Consultado em 1 de setembro de 2016. Cópia arquivada em 18 de fevereiro de 2020 
  10. Mendonça, Heloísa (19 de abril de 2016). «Entenda a crise econômica: Artigo "Temo que a crise econômica mal tenha começado, que estejamos apenas no prólogo"». El País. São Paulo. Consultado em 1 de setembro de 2016. Cópia arquivada em 23 de maio de 2020 
  11. Oliveira, Eliane (25 de agosto de 2016). «Recessão gera mudanças de hábitos de consumo na população». O Globo. Brasília. Consultado em 1 de setembro de 2016. Cópia arquivada em 27 de novembro de 2020 
  12. «'Luxos' que os brasileiros deixaram de lado com a crise». Estadão. 25 de agosto de 2016. Consultado em 1 de setembro de 2016. Cópia arquivada em 27 de fevereiro de 2021 
  13. «Pesquisa Mudança de Hábitos de Consumo». G1. São Paulo. 25 de agosto de 2016. Consultado em 1 de setembro de 2016. Cópia arquivada em 7 de novembro de 2020 
  14. a b Rehder, Marcelo (8 de março de 2010). «Custo Brasil, uma sobrecarga de 36%». O Estado de S.Paulo. Consultado em 8 de março de 2010. Arquivado do original em 6 de junho de 2011 
  15. Andrade, Robson Braga de (28 de setembro de 2021). «Custo Brasil: o preço é alto demais». Portal da Indústria. Consultado em 28 de setembro de 2021. Cópia arquivada em 28 de setembro de 2021 
  16. Brito, Agnaldo (27 de março de 2013). «Produtores perdem US$ 4 bilhões com caos logístico no país». Folha de S.Paulo. São Paulo. Cópia arquivada em 1 de dezembro de 2017 
  17. «"Custo Brasil" e a taxa de câmbio na competitividade da indústria de transformação brasileira» (PDF). FIESP. Março de 2013. Cópia arquivada (PDF) em 28 de setembro de 2021 
  18. Ordoñez, Ramona (2 de abril de 2013). «Liberação de carga no Galeão leva 217 horas, diz Firjan». O Globo. Cópia arquivada em 20 de setembro de 2020 
  19. «Má conservação de rodovias elevam em R$ 1,4 bi gasto anual de combustível, diz pesquisa». UOL. Maceió. 1 de novembro de 2013. Cópia arquivada em 28 de setembro de 2021 
  20. «Classificação das economias». Doing Business. Cópia arquivada em 28 de setembro de 2021 
  21. Camargo, Marianna (30 de setembro de 2010). «O preço da corrupção no Brasil». Revista IDEIAS. Arquivado do original em 10 de junho de 2015 
  22. «Corrupção: custos econômicos e propostas de combate». FIESP. Março de 2010. Cópia arquivada em 28 de setembro de 2021 
  23. Rato, João Moreira (14 de maio de 2009). «Custo Portugal». O Jornal Económico. Arquivado do original em 3 de março de 2016 
  24. «Abrir empresa no Brasil demora 120 dias.». Coluna de Hércules. 26 de fevereiro de 2012. Consultado em 17 de abril de 2018. Arquivado do original em 24 de dezembro de 2013 
  25. «Relatório Burocracia: custos econômicos e propostas de combate». FIESP. Junho de 2010. Cópia arquivada em 28 de setembro de 2021 
  26. a b Caldeira, João Paulo (5 de setembro de 2011). «Entenda o Custo Brasil». Advivo. Arquivado do original em 13 de junho de 2015 
  27. Euzébio, Gilson Luiz (3 de agosto de 2009). «Juros - Precisa cair mais - Taxas cobradas das pessoas físicas ainda são extorsivas». Ipea Desafios do Desenvolvimento 53 ed. Brasília. Cópia arquivada em 28 de setembro de 2021 
  28. Rehder, Marcelo (26 de dezembro de 2009). «Spread bancário custa R$ 261 bi aos brasileiros em 12 meses». Estadão. Cópia arquivada em 7 de março de 2016 
  29. «Agenda para a competitividade». Confederação Nacional da Indústria. Arquivado do original em 29 de agosto de 2014 
  30. «A Carga Tributária no Brasil: Repercussões na Indústria de Transformação». FIESP. 2015. Cópia arquivada em 28 de setembro de 2021 
  31. Rehder, Marcelo (24 de julho de 2011). «Brasil é n.º 1 em encargos trabalhistas». Estadão. Cópia arquivada em 26 de fevereiro de 2021 
  32. «Encargos trabalhistas sobre folha de salários e seus impactos no Brasil e no mundo». FIESP. Julho de 2011. Cópia arquivada em 27 de outubro de 2020 
  33. Ambrozio, Décio. «Custo Brasil». Netsaber. Cópia arquivada em 6 de agosto de 2017 
  34. Maranhão, Eduardo Torres de Albuquerque (18 de agosto de 2010). «Análise crítica do Sistema Tributário Nacional e sugestões para o seu aperfeiçoamento». Jus Navigandi. Cópia arquivada em 31 de outubro de 2020 
  35. «Documentos eletrônicos com assinatura eletrônica revolucionam o Poder Judiciário». SERPRO. Consultado em 17 de abril de 2018. Arquivado do original em 14 de março de 2016 
  36. «A eletricidade e o custo Brasil». Estadão. 29 de julho de 2012. Cópia arquivada em 29 de julho de 2012 
  37. «Carga Extra na Indústria Brasileira Parte 2 – Custos com Logística». FIESP. Janeiro de 2012. Cópia arquivada em 25 de novembro de 2020 
  38. «Mão de obra desqualificada é um dos maiores problemas dos empresários». Administradores.com. 31 de outubro de 2018. Cópia arquivada em 28 de setembro de 2021 
  39. Gerente de Cidades (66): 88. 2013 
  40. Rolli, Claudia (14 de novembro de 2013). «Gargalos na construção de imóveis atrasam obras em até 17 meses». Folha de S.Paulo. São Paulo. Cópia arquivada em 21 de outubro de 2020 
  41. «Senado aprova MP que desonera empresas e visa reduzir o custo Brasil». Jornal do Senado. 27 de fevereiro de 2013. Consultado em 17 de abril de 2018. Arquivado do original em 7 de março de 2013 
  42. Serra, José (14 de Março de 2013). «José Serra no Estadão: Nada além dos fatos». Deputado Federal Roberto Freire. Arquivado do original em 6 de agosto de 2017 

Ligações externas

[editar | editar código-fonte]