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terça-feira

bixiga

passa muita ambulância aqui onde eu moro. às vezes, mais de uma por dia. e, toda vez que passa, eu faço uma prece silenciosa pra que fique tudo bem.

também passa avião aqui onde eu moro. com menos frequência do que ambulância, mas fazendo o mesmo tanto de barulho. e toda vez que passa, eu faço uma prece silenciosa pra que ele não caia (rs).

tem uma pracinha aqui onde eu moro. e, às vezes, vejo moradores do meu prédio sentados ali, normalmente os mais velhos, conversando… e eu faço uma prece silenciosa pra chegar nessa idade com essa saúde e disposição.

tem bastante árvore aqui onde eu moro. tanto que até me esqueço que tô no coração de uma das cidades mais cinzas do mundo. sempre que ando pela rua, eu faço uma prece silenciosa em agradecimento aos que mantiveram essas raízes no chão.

tem uma livraria aqui onde eu moro. com cheiro, gosto e cara de casa de vó. e, sempre que eu vou lá, faço uma prece silenciosa por todos que mantém a literatura viva.

tem muita história aqui onde eu moro. antigo quilombo, nascente de rio. tem luta em cada pedacinho do asfalto, em cada tijolo, em cada coração que bate por aqui. e eu faço minhas preces como se o próprio bixiga pudesse ouvir. 

(fisio)terapia

às vezes eu penso que jornalismo foi mesmo a melhor escolha que eu fiz, porque eu amo ouvir histórias. gosto de ouvir e observar pessoas, porque pessoas são muito interessantes.

um dos melhores lugares pra ouvir conversas é a sala de espera. como eu sou uma pessoa ansiosa e esperar normalmente é um sofrimento, eu costumo prestar atenção em conversas alheias pra me distrair. 

estou fazendo fisioterapia por causa de uma cirurgia e hoje tive a primeira sessão. estava no consultório, depois da fisioterapeuta colar um monte de adesivos em mim e ligar um aparelho que dá choquinhos de leve, e comecei a prestar atenção na conversa de dois pacientes que estavam lá fora.

um deles chamava Mário. o Mário estava indagando o outro - cujo nome não lembro - sobre sua síndrome do túnel do carpo. eu não sabia nada sobre essa síndrome... até hoje. porque o senhor "sem nome" explicou tudinho pro seu Mário com a destreza de um médico especialista. 

não sei em qual momento a conversa mudou disso pra "relacionamentos saudáveis" e eu escutei o seu Mário (conversador o seu Mário) perguntar pra alguém, que depois eu notei, pela voz, ser a fisioterapeuta, o que ela achava sobre o assunto (conversador e profundo o seu Mário).

ela respondeu que amor é liberdade. que pra amar a gente tem que entender que o outro é um indivíduo único, com suas qualidades e, principalmente, seus defeitos. e que, normalmente, ela ama primeiro os defeitos, porque assim sabe que o sentimento é de verdade.

escorreu uma lágrima aí também?

infelizmente o seu Mário foi embora antes de eu poder ver seu rosto e eu não tive coragem de dizer pra fisioterapeuta que concordo 100% com o que ela disse. mas a sessão passou bem mais rápido e eu saí de lá mais leve.

pessoas são mesmo muito interessantes.

domingo

passei o fim de semana em casa de novo...

"desenhando círculos no chão.
tentei impedir de me machucar,
não sei mais o porquê.
eu só quero falar sobre isso."



o jeito que esse álbum me atravessa...