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Poliamor

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
 Nota: Não confundir com polissexualidade, nem com poligamia, nem com poliginia, nem com poliandria, nem com polirromanticidade.
Polyamory Pride em São Francisco, 2004

Poliamor (do grego πολύ - poli, que significa muitos ou vários, e do Latim amor, significando amor) é a prática ou desejo de ter mais de um relacionamento, seja sexual ou romântico, simultaneamente com o conhecimento e consentimento de todos os envolvidos na relação.

Diferencia-se de um relacionamento aberto, pois apesar dos participantes de uma relação poliamor não estarem em uma relação monogâmica e que pode ser fechada.[1]

Alguns grupos entendem o poliamor como o modelo de relacionamento não-monogâmico que possui três características principais: não exclusividade romântica ou sexual a dois, consensualidade e equidade entre todas as partes.[2]

Por outras palavras, o poliamor como opção ou modo de vida, defende a possibilidade prática de se estar envolvido — romântica ou sexualmente — em relações íntimas, profundas e estáveis com mais de um parceiro simultaneamente, de forma consensual, honesta e igualitária.

O poliamor como movimento é mais visível e organizado principalmente nos Estados Unidos, acompanhado de perto por movimentos na Alemanha e Reino Unido. No Brasil, já há jurisprudência reconhecendo relações poliamorosas.[3]

Recentemente, a imprensa em geral tem feito a cobertura quer do movimento poliamor em si, quer dos episódios que lhe estão ligados. Em Novembro de 2005 realizou-se a Primeira Conferência Internacional sobre Poliamor[4] em Hamburgo, Alemanha. Realizou-se, de 25 a 27 de setembro de 2015, em Lisboa, Portugal, a 1st Non-Monogamies and Contemporary Intimacies Conference. Atualmente existem grupos de poliamor no Brasil que se dedicam politicamente à causa, alguns advogam pela não-monogamia política (NMP).[5]

A palavra em si já foi inventada várias vezes, a maior parte das quais sob a forma de adjetivo (inclusivamente utilizado para referir Henrique VIII, Rei da Inglaterra). Existe publicada em português uma breve história sobre a palavra.[6] A palavra foi, em 2014, reconhecida oficialmente em vários dicionários online de português de Portugal.[7]

Formas de poliamor

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Existem várias maneiras de o pôr em prática, consoante às preferências dos interessados, e necessariamente deve envolver o consentimento e a confiança mútua de todas as partes envolvidas:

  • Relacionamento em grupo: quando a relação se estabelece de maneira horizontal entre três ou mais pessoas, ou seja, todas as pessoas se relacionam sexual ou romanticamente entre si sem hierarquia entre as partes. O relacionamento em grupo pode ser aberto ou fechado (polifidelidade). Sendo aberto é possível que as partes se relacionem — sexual ou romanticamente — , dentro de acordos pré-estabelecidos, com pessoas de fora do "grupo nuclear"; já a polifidelidade: envolve múltiplas relações românticas com contato sexual e afetivo restrito a parceiros específicos do grupo.[8][9]
  • Relacionamentos paralelos ou rede de relacionamentos interconectados: são os relacionamentos que existem paralelamente, ou seja, X se relaciona com Y e Z mas, Y e Z não se relacionam entre si e podem manter de forma independente também outros relacionamentos romântica ou sexualmente.[1]
  • Com hierarquia ou sem hierarquia: Nos relacionamentos com hierarquia distinguem-se entre relações "primárias" e "secundárias", nas relações sem hierarquia, como o próprio nome diz, não existe a priori diferença de importância entre uma relação e outra, há um esforço consciente para se tratar todas as relações da forma mais uniforme possível. Em algumas relações existe a possibilidade de parceiros primários, e adeptos da anarquia relacional ou monogamia política rejeitam esta.[2]
  • Parceiro Mono/Poli: um parceiro é monogâmico, mas permite que o outro tenha relações exteriores. Na realidade o que muitos chamam de mono/poli é quando uma das partes decide por vontade própria não se relacionar romântica ou sexualmente com terceiros e a outra decide se relacionar, no entanto, não há nenhuma obrigação para que a parte monógama assim permaneça, tendo sempre a possibilidade de se relacionar com outras pessoas.

Os chamados "acordos geométricos", que são descritos de acordo com o número de pessoas envolvidas e pelas suas ligações.

  • Exemplos incluem "trios" e "quadras", assim como as geometrias "V" e "N". O elemento comum de uma relação V é algumas vezes referido como "pivô" ou "charneira", e os parceiros ligados indirectamente são referidos como os "braços". Os parceiros-braço estão ligados de forma mais clara com o parceiro pivô do que entre si. Situação contrastante com o "triângulo", em que todos os 3 parceiros estão ligados de forma equitativa. Um trio pode ser um "V" , um triângulo, ou um "T" (um casal com uma relação estreita entre si e uma relação mais ténue com o terceiro). A geometria da relação pode variar ao longo do tempo.[10]
  • Pessoas também podem autointitularem-se poliamoristas mesmo não estando em nenhum relacionamento (solteiras) desde que se identifiquem com a possibilidade de relações simultâneas com consentimento e equidade entre as partes.[11][12][13] Isso é denominado por alguns como poliamor solo.[14]

O ordenamento jurídico brasileiro ainda não prevê expressamente a possibilidade de casamento entre mais de uma pessoa. No entanto, no ano de 2012, na cidade de Tupã, no Estado de São Paulo, lavrou-se escritura pública de união estável entre três pessoas denominada "Escritura Pública Declaratória de União Poliafetiva". A referida união foi entendida como família em razão do afeto mútuo entre os seus participantes, bem como a ausência de vedação legal no Código Civil, no Código Penal ou na Constituição Federal que proíba que as pessoas mantenham relações poliafetivas.[15]

Com efeito, as pessoas que são favoráveis a tais uniões entendem que o artigo 226, §3º, CF/88 ao regulamentar a união estável entre duas pessoas, não teria negado proteção à união estável composta por mais de duas pessoas. Além disso, argumentam que o moderno conceito de família passa pela noção de uma comunidade de afeto, sendo os laços de afetividade a razão de sua origem e fim.[16]

Por outro lado, argumenta-se que as uniões poliafetivas são dotadas de nulidade absoluta, haja vista a vedação expressa normativa quanto à possibilidade de se manter mais de um vínculo matrimonial, não se permitindo, por analogia, a possibilidade se conviver em união com mais de uma pessoa.[17]

Insta destacar que, após o ano de 2012, já ocorreram outras regularizações de uniões poliafetivas no Brasil. Contudo, em maio de 2016, o Conselho Nacional de Justiça, em decorrência de um pedido da Associação de Direito de Família e das Sucessões (ADFAS)[18] para a que a prática fosse proibida, resolveu suspender que novas escrituras de declaratórias de uniões poliafetivas sejam lavradas nos cartórios brasileiros.

Referências

  1. a b «Por que as relações abertas estão cada vez mais comuns». BBC News Brasil. Consultado em 27 de junho de 2024 
  2. a b Rocha, Natássia (1 de janeiro de 2023). «A não-monogamia está na moda? Uma análise da popularização e captura neoliberal das relações não-monogâmicas.» (PDF). Consultado em 27 de junho de 2024 
  3. Jornal Jurid, Juiz reconhece duplicidade de relacionamento e determina a partilha dos bens, 17 de Novembro de 2008, ISSN 1980-4288. Citação: "De acordo com o juiz Adolfo, a psicologia moderna chama essa relação triangular de "poliamorismo", que se constitui na coexistência de duas ou mais relações afetivas paralelas em que as pessoas se aceitam mutuamente.", Visitada 2013-12-11.
  4. International Conference on Polyamory & Mono-Normativity
  5. «Manifesto por uma Não monogamia Política». NM em Foco. 26 de maio de 2021. Consultado em 3 de fevereiro de 2024 
  6. interact: Poliamor, ou Da Dificuldade de Parir um Meme Substantivo
  7. S.A, Priberam Informática. «poliamor». Dicionário Priberam. Consultado em 24 de agosto de 2021 
  8. Goncalves, Italo Vinicius (23 de junho de 2022). «Projetos poliamorosos em rede : narrativas de casais não monogâmicos em busca de um novo amor». Consultado em 27 de junho de 2024 
  9. Henriques, Tiago de Matos (2018). «Satisfação de necessidades e bem-estar em relações amorosas : o impacto de diferentes modelos de relação, monógamas e não-monógamas». Consultado em 27 de junho de 2024 
  10. «UMA RELAÇÃO AMOROSA SEM CIÚMES? O POLIAMOR SOB A PERSPECTIVA DA ABORDAGEM DA GESTÁLT-TERAPIA». PUC Minas. 2018 
  11. Taormino, Tristan (1 de maio de 2008). Opening Up: A Guide To Creating and Sustaining Open Relationships (em inglês). [S.l.]: Cleis Press 
  12. Lavender‐Stott, Erin S. (setembro de 2023). «Queering singlehood: Examining the intersection of sexuality and relationship status from a queer lens». Journal of Family Theory & Review (em inglês) (3): 428–443. ISSN 1756-2570. doi:10.1111/jftr.12521. Consultado em 27 de junho de 2024 
  13. Hamilton, Lisa Dawn; De Santis, Carm; Thompson, Ashley E. (1 de maio de 2021). «Introduction to the Special Section on Consensual Non-Monogamy». Archives of Sexual Behavior (em inglês) (4): 1217–1223. ISSN 1573-2800. doi:10.1007/s10508-021-02055-z. Consultado em 27 de junho de 2024 
  14. bbcnewsbrasil. «O que dizem os adeptos do 'poliamor solo'». Terra. Consultado em 27 de junho de 2024 
  15. «O que é a família poliafetiva? Entenda o conceito». GEN Jurídico. 18 de junho de 2020. Consultado em 24 de agosto de 2021 
  16. «IBDFAM: O reconhecimento das uniões poliafetivas pelo ordenamento jurídico brasileiro e os efeitos decorrentes da dissolução inter vivos». ibdfam.org.br. Consultado em 24 de agosto de 2021 
  17. «Como relacionamentos poliafetivos estão quebrando tabus». BBC News Brasil. Consultado em 24 de agosto de 2021 
  18. «Corregedoria analisa regulamentação do registro de uniões poliafetivas» 

Ligações externas

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