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Política de boa vizinhança

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Getúlio Vargas (sentado à esquerda) e Franklin D. Roosevelt (sentado à direita), Rio de Janeiro, 1936.

A Política de boa vizinhança (ou Good Neighbor Policy, em língua inglesa) foi uma iniciativa política criada e apresentada pelo governo dos Estados Unidos presidido por Franklin D. Roosevelt durante a Conferência Panamericana de Montevideo, em dezembro de 1933. Ela se referiu ao período das relações políticas estadunidenses com os países da América Latina entre 1933 até 1945 - ao final da Segunda Guerra Mundial e Harry Truman assumindo a presidência do país.[1]

Os Estados Unidos, desde o fim da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) enfrentavam um intenso debate interno sobre “neutralidade” perante tais conflitos e a maioria da população e de seus representantes no Congresso preferia manter a nação norte-americana fora do conflito que já ocorria na Europa. Mas a guerra iniciada em 1939 afetava diretamente os interesses estadunidenses no mundo. Uma dessas zonas de interesse era a América Latina. Em relação aos países ao sul de sua fronteira meridional, havia o entendimento de que o crescente “expansionismo alemão ameaçava o hemisfério e o equilíbrio montado pelos Estados Unidos”.

Para dificultar a situação dos Estados Unidos, na América Latina, nos anos que antecederam e iniciaram a década de 1940, verificou-se uma simpatia de alguns de seus governantes às políticas adotadas pelos países de políticas fascistas.[2]

Sobre a política

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Carmen Miranda foi considerada a musa da Política de boa vizinhança.

Oficialmente essa política consistia em investimentos e venda de tecnologia norte-americana para os países latino-americanos, mas em troca, esses deviam dar apoio à política norte-americana. Ela consistia, no entanto, de um esforço para aproximação cultural entre EUA e América Latina, cujas relações vinham se deteriorando devido ao forte intervencionismo norte-americano durante a política do "Big Stick", lançada por Theodore Roosevelt em 1901.

Foi uma época em que gradativamente o "american way of life" foi ganhando espaço na sociedade brasileira, graças a um cuidadoso plano de conquista. Esse plano fazia parte da estratégia dos Estados Unidos de promover a cooperação interamericana e a solidariedade hemisférica, enfrentar o desafio do Eixo e consolidar-se como grande potência. A campanha teve início com a propagação dos "valores pan-americanos" durante as conferências interamericanas.

O passo seguinte foi a criação, em agosto de 1940, de uma superagência de coordenação dos negócios interamericanos, sob a chefia de Nelson Rockefeller, chamada Office of the Coordinator of Inter-American Affairs (OCIAA). Essa iniciativa diferia dos programas de colaboração já em funcionamento por estar diretamente vinculada ao Conselho de Defesa Nacional dos Estados Unidos. Na área cinematográfica, tanto os filmes de ficção quanto os documentários desempenhavam o papel de difusores culturais e ideológicos.

Zé Carioca foi criado com o intuído de promover a política de boa viziança

Procurava-se evitar a distribuição na América Latina de filmes que expusessem instituições e costumes norte-americanos malvistos, como a discriminação racial, ou que pudessem ofender os brios dos latino-americanos. Os bandidos mexicanos, por exemplo, foram banidos das produções de Hollywood. Outra importante iniciativa foi a criação de personagens que ajudassem a fomentar a solidariedade continental. Data dessa época o nascimento do conhecido personagem dos Estúdios Disney, o papagaio Zé Carioca.[3] O filme Alô, Amigos, que apresentou Pato Donald, enfatizava a política de boa vizinhança. Durante todo o seu tempo de vida, o OCIAA contou com ativa colaboração do DIP, quer na condução de projetos conjuntos, quer como órgão de apoio à sua ação no Brasil.

Foi nessa época que Carmem Miranda se tornou símbolo da cultura brasileira nos Estados Unidos, porém quando Carmen chegou aos EUA, o programa de "latinização" envolvendo as novidades musicais estava em andamento pelo trabalho de outros músicos representando o vasto universo da musica latino-americana, especialmente o bolero, através do catalão disfarçado de cubano Xavier Cugat e sua orquestra, no cinema brilhavam Dolores Del Rio e Lupe Velez, Fred Astaire e Ginger Rodgers dançavam rumba em filmes supostamente rodados no Rio, os ritmos latinos estavam na moda, os Estados Unidos precisavam da América Latina e dos bons vizinhos para o apoiar e ajudar no grande conflito que chegava para abalar seu isolamento.[4]

Já no plano econômico, a política de boa vizinhança convinha aos esforços dos Estados Unidos para se recuperar dos efeitos da crise de 1929 sobre sua economia. A retórica da solidariedade e os métodos cooperativos no relacionamento com os países latino-americanos facilitavam a formação de mercados externos para os produtos e investimentos norte-americanos, além de garantir o suprimento de matérias-primas para suas indústrias. A implantação dessa nova estratégia de relacionamento com a América Latina representou a vitória da corrente política do governo norte-americano que advogava o livre-cambismo como solução para a recuperação econômica dos Estados Unidos no plano internacional.[1]

Terminada a guerra, o governo dos Estados Unidos encerrou as atividades da agência, deixando a cargo embaixada americana no Brasil a condução de algumas de suas atividades.[5] Porém, ela nunca foi simétrica: enquanto na América Latina propagavam-se as qualidades da cultura norte-americana, como os valores democráticos e o industrialismo, nos EUA caracterizava-se a cultura Latina pelas belezas naturais e o exotismo.[6] A campanha de propaganda iniciada aí, junto com as alianças estratégicas firmadas durante a Segunda Guerra Mundial - como a que deu ao Brasil a CSN -, garantiu o domínio norte-americano nas Américas, permitindo que os EUA partissem para disputar a influência sobre a Europa com a União Soviética durante a Guerra-Fria.

A grande quantidade de vocábulos em inglês que vemos por todo o lado no Brasil - na publicidade e na moda, principalmente - e a influência da Pop Music - MTV - e do cinema Hollywoodiano, são facetas da penetração cultural norte-americana no Brasil, que data desse período.

Referências

  • MOURA, G. Tio Sam chega ao Brasil, a penetração cultural americana. São Paulo: Brasiliense, 1985. 92 p. Tudo é História.