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Festival de Ciranda de Manacapuru

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Festival de Ciranda de Manacapuru
Festival de Ciranda de Manacapuru
Apresentação durante o festival.
Período de atividade 1997 – presente
Número de edições 26
Local(is) Manacapuru, Amazonas, Brasil
Data(s) último fim de semana de agosto
Gênero(s) ciranda, folclore
Página oficial cultura.am.gov.br

O Festival de Ciranda de Manacapuru é uma festa popular brasileira que acontece na cidade de Manacapuru, localizada na Região Metropolitana de Manaus, no estado do Amazonas. O evento é promovido pelas agremiações de ciranda Flor Matizada, Guerreiros Mura e Tradicional, realizado tradicionalmente no último fim de semana de agosto, no Parque do Ingá.[1] É considerado o segundo maior festival folclórico do estado do Amazonas, atraindo cerca de 60 mil turistas todos anos.[2] Os grupos de ciranda apresentam, em geral, temas populares e a história da origem das lendas, com novas músicas e ritmos.[3]

A ideia inicial da ciranda em Manacapuru partiu do professor José Silvestre do Nascimento Souza, que após aceitar uma proposta de criação de um "cordão folclórico" do diretor do Colégio Sólon de Lucena de Manaus para sua escola. Silvestre inicialmente teria tentado ensinar diversas variedades folclóricas aos alunos daquele colégio, sendo que por último ensinou a "Dança da Ciranda" que foi chamada primeiramente de "Ciranda de Tefé".[4]

Então, no começo da década de 1980, orientado pelo próprio Silvestre e a professora Perpétuo, trouxeram a dança brincante para o município de Manacapuru na Escola Estadual Nossa Senhora de Nazaré. Com grandioso sucesso, logo foram formados outros grupos de outras escolas: Escola Estadual José Seffair e Escola Estadual José Mota. Na metade da década de 90 as cirandas deixam de pertencer somente as escolas e passam a ser criadas as agremiações. A primeira foi a Ciranda Flor Matizada (E.E. Nossa Senhora de Nazaré), em seguida a Ciranda Tradicional (E.E. José Seffair) e por último a Ciranda Guerreiros Mura (E.E. José Mota).[4]

O primeiro festival como competição aconteceu em 1997, quando a brincadeira deixou as quadras das escolas para ganhar status de principal manifestação folclórica da cidade. Já no ano de 1998 o festival mudou de endereço e passou a ser realizado na recém construída Arena Parque do Ingá, na gestão do prefeito Ângelus Figueira. Foi a partir deste ano, 1998, que a manifestação tomou proporções maiores e tornou-se parte da cultura, tomando status de manifestação folclórica.[4]

Em 2020, o Governo do Estado do Amazonas adiou para 2021 a realização do 24º Festival de Cirandas de Manacapuru em função da pandemia de COVID-19 no Brasil. A decisão foi anunciada em 11 de setembro de 2020, após reunião do Comitê de Enfrentamento à Covid-19 com a participação dos poderes e representantes de classe.[5]

Características

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A ciranda no Amazonas é baseada na ciranda tradicional pernambucana, que teria chegado ao estado no município de Tefé, sendo inicialmente conhecida na região como "ciranda de Tefé'. As cirandas de Manacapuru não representam cirandas fiéis às origens pernambucanas, trazendo características destas mas se aproximando da cultura de toadas dos Bois de Parintins e outros ritmos populares brasileiros. De acordo com Gustavo Alonso, que foi jurado no festival de 2024, o Festival de Ciranda de Manacapuru "é um festejo cosmopolita, polissêmico e sobretudo pós-moderno" e afirma ainda que não é assertivo procurar em Manacapuru a autêntica ciranda nordestina, uma vez que no Amazonas a ciranda assimilou muito da cultura local e do país inteiro.[6]

Houve a absorção de muitos aspectos culturais regionais e nacionais. Por exemplo, em similaridade a Festival de Parintins, as agremiações levam grandes alegorias para a "arena" que apresentam animais amazônicos, a figura indígena e lendas locais. Artistas de Parintins fizeram parte dessa introdução de grandes alegorias com movimentos.[7] Os destaques também costumam vestir fantasias repletas de penas coloridas, e a indumentária do cantador por vezes lembra a de um levantador de toadas (figura do festival de Parintins). Por conta dessas similaridades, há intercâmbio de artistas de diversas áreas (montagem de alegorias, músicos e etc.), que durante a temporada fazem parte da "temporada bovina" de Parintins e da "temporada de ciranda" de Manacapuru, além de festivais em outras cidades.[8]

O Parque do Ingá, conhecido como "Cirandódromo", está sediado na Rodovia Manoel Urbano (AM-70), e conta com capacidade para 15 mil pessoas. Foi projetado em 1997, como parte do Centro Cultural Parque do Ingá, sendo um anfiteatro a céu aberto.[9] A inauguração ocorreu em 2000, ano que o festival foi pela primeira vez transmitido por uma rede televisiva, a Rede Amazônica. A arquibancada foi construída aproveitando o declive natural presente no terreno, sendo que no topo dessa estrutura estão os banheiros e os bares, a nível da rua de acesso.[10]

Para 2024 foi apresentado um projeto de ampliação e modernização do recinto, que passaria a capacidade de até 20 mil expectadores, passando a ter camarotes e cabines para os jurados.[11].

As três associações se apresentam uma em cada dia, com apresentação obrigatoriamente devendo durar entre 2 e 2 horas e meia. Seis jurados são designados para pontuar os itens avaliados.[12] Os itens são de cunho musical, artístico e de tema livre:[13]

  • Bloco musical: Tocada da Ciranda e Cirandada Letra e Música (2 itens)
  • Bloco artístico: Cantador de Cirandadas, Apresentador, Porta-cores, Cirandeira bela e Princesa Cirandeira (itens individuais); Cordão de cirandeiros e Cordão de entrada (itens coletivos) - (7 itens)
  • Bloco de Tema Livre: Alegoria, Fantasias de destaques, Harmonia, Criatividade, Originalidade e Tema e desenvolvimento (5 itens).

Há itens que não contam pontos mas que causam punição em caso de não serem apresentados na arena, sendo estes o Seu Manelinho, Mãe Benta, Cupido, Galo Bonito, Constância e o pássaro Carão[13][14]

O Festival de Ciranda de Manacapuru é transmitido ao vivo pela televisão desde o ano 2000 para todo o estado do Amazonas e mundo através da internet. A primeira emissora de TV a transmitir foi a Rede Amazônica pelo canal Amazon Sat do ano 2000 até 2011. A segunda emissora de TV a transmitir foi Rede Calderaro de Comunicação pela Inova TV Afiliada a Rede TV! do ano 2013 até 2020. Atualmente quem tem os direitos de transmissão desde 2021 é a TV A Crítica, emissora independente da Rede Calderaro Comunicação.

Período Emissora
2000–2011 Amazon Sat[15]
2013–2020 Inova TV[16]
2021–presente TV A Crítica

Lista de campeãs

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Ano Campeã Tema
1997 Flor Matizada Lendas e Mistérios de um Povo[17]
1998 Flor Matizada Amazonas, Turismo que Encanta[17]
1999 Guerreiros Mura Gênesis: A Criação Do Mundo[17]
2000 Guerreiros Mura Ciranda de Lendas, Encantos e Magias[17]
2001 Tradicional Nas Águas Encantadas do Piranha[17]
2002 Flor Matizada Uma Expressão Cabocla[17]
2003 Guerreiros Mura Bem-vindos à Manacapuru: Conheçam a Princesinha do Solimões[17]
2004 Guerreiros Mura Amazonas: Um Reino que Encanta e Clama pela Preservação[17]
2005 Guerreiros Mura Amazonas: Histórias e Lendas de um Povo Guerreiro [17]
2006 Flor Matizada Hévea Brasilienses: Um Conto Amazônico[17]
2007 Guerreiros Mura Apocalipse: Os Guerreiros Mura e a Divina Revelação[17]
2008 Guerreiros Mura Hiléia Amazônica: Lendas e Causos Caboclos[17]
2009 Tradicional Terra Preta: a Mãe Terra de Alma Índigena dos Caboclos Cirandeiros[17]
2010[17] Flor Matizada Flor Matizada no Festival: Um Aquecimento Global
Guerreiros Mura Manaus Deusa Mãe, Rainha do Amazonas
Tradicional Manacapuru: Uma Saga Cabocla Cirandeira Tradicional
2011 Guerreiros Mura Moisés: O Guerreiro da Liberdade, uma História de Fé[18]
2012 Flor Matizada O Elo do rio Negro e os Encantos de um Novo Eldorado[19]
2013 Guerreiros Mura A Fantástica Jornada de um Guerreiro Apaixonado[20]
2014 Guerreiros Mura Bravos Índios Mura: Das Lutas à Vitória, a Consagração dos Guerreiros Cirandeiros[21]
2015 Flor Matizada Ordem e desordem, a Metáfora da Existência[22]
2016[23] Flor Matizada Raiz, Arte e Paixão do Império da Magia Cirandeira
Guerreiros Mura Somos Luta, Somos Glória, Guerreiros Mura uma História de Vitórias
Tradicional Amazônia Colossal de um Povo de Fé, Bravo e Tradicional
2017 Flor Matizada Luz[24]
2018 Flor Matizada Poranduba[25]
2019 Tradicional Alado[26]
2020 Realizado sem a presença de público e sem disputa de título[27]
2021 Realizado sem a presença de público e sem disputa de título[28]
2022 Por conta de incidentes, não foi indicada a campeã oficial[29]
2023 Tradicional Eldorado Encantado[30]
2024 Guerreiros Mura Sob o Véu de Iacy[31]

Títulos por Ciranda

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Total| Agremiação Anos
13 Guerreiros Mura 1999, 2000, 2003, 2004, 2005, 2007, 2008, 2010, 2011, 2013, 2014, 2016 e 2024
10 Flor Matizada 1997, 1998, 2002, 2006, 2010, 2012, 2015, 2016, 2017 e 2018
6 Tradicional 2001, 2009, 2010, 2016, 2019 e 2023

Em 2010 e 2016 as três agremiações foram declaradas campeãs.

Referências

  1. «Festival de Ciranda agita Manacapuru no fim de semana». Secretaria de Cultura e Economia Criativa (SEC). Consultado em 29 de setembro de 2019 
  2. «Festival de Ciranda de Manacapuru movimenta o Turismo no município». Governo do Estado do Amazonas. 3 de setembro de 2018. Consultado em 29 de setembro de 2019 
  3. «Cópia arquivada». Consultado em 3 de fevereiro de 2011. Arquivado do original em 7 de março de 2010 
  4. a b c Silva, Adan Renê Pereira da (2 de maio de 2014). «A construção identitária dos cirandeiros do festival de cirandas de Manacapuru». Universidade Federal do Amazonas (UFAM). Consultado em 14 de novembro de 2020 
  5. «Governo do Amazonas adia para 2021 eventos culturais realizados pelo Estado». Governo do Estado do Amazonas. 12 de setembro de 2020. Consultado em 5 de novembro de 2020 
  6. Gustavo Alonso (6 de setembro de 2024). «A ciranda pós-moderna do Amazonas». Folha de S.Paulo. Consultado em 13 de setembro de 2024 
  7. «Artistas de Parintins preparam alegorias do Festival de Ciranda de Manacapuru, no Amazonas». G1 Amazonas. Consultado em 13 de setembro de 2024 
  8. «Cirandas de Manacapuru contam com vozes consagradas do Festival de Parintins». Folha de Parintins. 12 de agosto de 2022. Consultado em 13 de setembro de 2024 
  9. Débora Cristiny. «Parque do Ingá: palco do Festival de Cirandas de Manacapuru». No Ar. Consultado em 7 de setembro de 2024 
  10. Dassuem Nogueira (31 de agosto de 2023). «O cirandódromo». BNC Amazonas. Consultado em 7 de setembro de 2024 
  11. Leite, Fabio (28 de agosto de 2024). «Projeto de ampliação do Parque Ingá é apresentado em Manacapuru». Rios de Notícias. Consultado em 2 de setembro de 2024 
  12. Madson Euler (30 de agosto de 2024). «Começa hoje o Festival de Cirandas em Manacapuru no Amazonas». Radio Agência. Consultado em 7 de setembro de 2024 
  13. a b Robson Adriano (31 de agosto de 2023). «Entenda o processo de avaliação das apresentações no Festival de Cirandas de Manacapuru». Site do Jornal A Crítica. Consultado em 7 de setembro de 2024 
  14. Robson Adriano (3 de setembro de 2023). «Campeã do Festival de Cirandas de Manacapuru será conhecida nesta segunda-feira (4)». Site do Jornal A Crítica. Consultado em 7 de setembro de 2024 
  15. «A propagação cultural da Amazônia através do canal televisivo Amazon Sat» (PDF). Aninter. Consultado em 18 de outubro de 2019 
  16. «RCC fará a cobertura do Festival de Ciranda». A Crítica. 28 de agosto de 2013. Consultado em 18 de outubro de 2019 
  17. a b c d e f g h i j k l m n «Tabela de títulos». A Crítica. Consultado em 6 de outubro de 2019 
  18. «Guerreiros Mura é campeã do XV Festival de Cirandas de Manacapuru». Tefé News. Consultado em 6 de outubro de 2019 
  19. «Flor Matizada vence o 16º Festival de Cirandas de Manacapuru, no AM». G1. Consultado em 6 de outubro de 2019 
  20. «Guerreiros Mura vence Festival de Cirandas de Manacapuru». A Crítica. Consultado em 6 de outubro de 2019 
  21. «Ciranda Guerreiros Mura torna-se bicampeã do 18.º Festival de Manacapuru». A Crítica. Consultado em 6 de outubro de 2019 
  22. «Flor Matizada consagra-se campeã do 19.º Festival de Cirandas de Manacapuru». A Crítica. Consultado em 6 de outubro de 2019 
  23. «Superando crise, Cirandas de Manacapuru dão show e dividem título de campeã». A Crítica. Consultado em 6 de outubro de 2019 
  24. «Flor Matizada conquista título de campeã do 21.º Festival de Cirandas de Manacapuru». A Crítica. Consultado em 6 de outubro de 2019 
  25. «Flor Matizada é tetracampeã do 22.º Festival de Cirandas de Manacapuru». A Crítica. Consultado em 6 de outubro de 2019 
  26. «Em Manacapuru, no AM, Ciranda Tradicional vence festival». G1. Consultado em 18 de outubro de 2019 
  27. «Governo do Amazonas adia para 2021 eventos culturais realizados pelo Estado». Casa Civil do Estado do Amazonas. 11 de setembro de 2020. Consultado em 8 de setembro de 2023 
  28. «Live com apoio do Governo do Estado mantém a tradição das Cirandas de Manacapuru». Agência Amazonas. Consultado em 16 de maio de 2022 
  29. «Festival de Cirandas de Manacapuru não terá campeão em 2022». EmTempo. 29 de agosto de 2022. Consultado em 6 de julho de 2023 
  30. «Tradicional conquista o bicampeonato no 25º Festival de Cirandas de Manacapuru». Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa (SEC). 5 de setembro de 2023. Consultado em 8 de setembro de 2023 
  31. Adriano, Robson (2 de setembro de 2024). «Após dez anos, Guerreiros Mura conquista o título do 26º Festival Folclórico de Manacapuru». A Crítica. Consultado em 2 de setembro de 2024 

Ligações externas

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