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Estudos genéticos em brasileiros

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Estudos genéticos em brasileiros é a área da genética populacional que estuda a composição genética dos brasileiros.

Estudos genéticos mostraram que a população brasileira como um todo possui componentes europeus, africanos subsaarianos e ameríndios.

Um estudo autossômico de 2013, com quase 1.300 amostras de todas as regiões brasileiras, encontrou um grau predominante de ancestralidade europeia combinado com contribuições africanas e indígenas, em graus variados. “Seguindo um gradiente crescente de Norte a Sul, a ascendência europeia foi a mais prevalente em todas as populações urbanas (com valores até 74%). As populações do Norte consistiam numa proporção significativa de ascendência nativa americana que era cerca de duas vezes superior à contribuição africana. Por outro lado, no Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste, a ascendência africana foi a segunda mais prevalente. A um nível intrapopulacional, todas as populações urbanas eram altamente misturadas, e a maior parte da variação nas proporções de ancestralidade foi observada entre indivíduos dentro de cada população e não entre populações”.[1]

Um estudo de DNA autossômico (2011), com cerca de mil amostras de todo o país (brancos, pardos e negros, segundo as respectivas proporções), encontrou uma grande contribuição europeia, seguida de uma elevada contribuição africana e um importante componente ameríndio. “Em todas as regiões estudadas, a ascendência europeia foi predominante, com proporções variando de 60,6% no Nordeste a 77,7% no Sul”. As amostras do estudo autossômico de 2011 vieram de doadores de sangue (as classes mais baixas constituem a grande maioria dos doadores de sangue no Brasil), e também de funcionários de instituições públicas de saúde e estudantes de cursos da área da saúde. O estudo mostrou que os brasileiros de diferentes regiões são mais homogêneos do que se pensava anteriormente por alguns com base apenas no censo. “A homogeneidade brasileira é, portanto, muito maior entre as regiões brasileiras do que dentro das regiões brasileiras”.[2]

De acordo com um estudo genético de 2014, os brasileiros que se classificaram como pardos apresentaram 64,7% de ancestralidade europeia, 25,3% africana e 10% indígena. Por sua vez, os que disseram ser brancos tiveram 84,6% de ancestralidade europeia, 9,7% africana e 5,6% indígena e os pretos, 53,6% africana, 38,1% europeia e 8,3% indígena.[3][4]

Ancestralidade por região

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Segundo Manta et al. (2013) e Lins et al. (2010)

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Região[1][5] Europa África Subsaariana Ameríndios
Norte 51% 17% 32%
Nordeste 56% 28% 16%
Centro-Oeste 58% 26% 16%
Sudeste 61% 27% 12%
Sul 74% 15% 11%

Segundo Souza et al. (2019)

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Região[6] Europa África Subsaariana Ameríndios
Norte 52,6% 19,8% 27,7%
Nordeste 50,8% 35,2% 13,9%
Sudeste 68,1% 19,6% 11,6%
Centro-Oeste 62,7% 24,2% 13,1%
Sul 81,8% 8,4% 8,6%
Brasil 68,1% 19,6% 11,6%

Composição genética da população em diferentes cidades e estados do Brasil

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Cidade/Estado/Região Europa África Subsaariana Ameríndios Fonte
Região Norte
Belém (Pará Pará) 53,7% 16,8% 29,5% Manta et al. (2013)[1]
Pará Pará 52,4% 20,4% 27,2% Souza et al. (2019)[6]
Manaus ( Amazonas) 45,9% 16,3% 37,8% Manta et al. (2013)[1]
 Amazonas 54,9% 15,5% 29,6% Souza et al. (2019)[6]
 Amapá 47,2% 22% 30,8% Souza et al. (2019)[6]
 Rondônia 55,8% 21,6% 22,9% Souza et al. (2019)[6]
Região Nordeste
 Piauí 60% 22% 18% Souza et al. (2019)[6]
Fortaleza ( Ceará) 48,9% 15,7% 35,4% Silva et al. (2015)[7]
 Ceará 54,5% 18,7% 26,7% Souza et al. (2019)[6]
 Pernambuco[1] 58,8% 25,0% 16,2% Souza et al. (2019)[6]
 Alagoas[1] 61,4% 22,7% 16,3% Souza et al. (2019)[6]
 Salvador (Bahia Bahia)[8] 42,4% 50,5% 5,8% Lima-Costa et al. (2015)[8]
Bahia Bahia 48,5% 43,18% 8,29% Souza et al. (2019)[6]
Amostras dos municípios de Picos/PI, Ouricuri/PE, Crato/CE, Cajazeiras/PB, Sousa/PB e Patos/PB 56,8% 22,9% 20,3% Mychaleckyj et al. (2017)[9]
Região Sudeste
Ouro Preto Ouro Preto ( Minas Gerais) 50,3% 33,3% 16,4% Queiroz et al. (2013)[10]
Montes Claros ( Minas Gerais) 52% 39% 9% Silva et al. (2010)[11]
Belo Horizonte ( Minas Gerais) 66% 32% 2% Scliar (2007)[12]
 Minas Gerais 59,2% 28,9% 11,9% Manta et al. (2013)[1]
Rio de Janeiro ( Rio de Janeiro) 63,9% 25,3% 10,9% Souza et al. (2019)[6]
 Rio de Janeiro 64,2% 26,0% 9,9% Souza et al. (2019)[6]
 Espírito Santo 74,1% 13,4% 12,5% Manta et al. (2013)[1]
São Paulo ( São Paulo) 68,0% 22,5% 8,8% Souza et al. (2019)
 São Paulo 72,5% 18,1% 8,1% Souza et al. (2019)[6]
Região Sul
 Paraná 71% 17,5% 11,5% Manta et al. (2013)[1]
 Santa Catarina 79,7% 11,4% 8,9% Manta et al. (2013)[1]
Porto Alegre ( Rio Grande do Sul) 84,7% 4,5% 8,9% Souza et al. (2019)[6]
 Rio Grande do Sul 81,8% 8,4% 8,6% Souza et al. (2019)[6]
Região Centro-Oeste
 Distrito Federal 63% 24,1% 12,9% Souza et al. (2019)[6]
 Mato Grosso do Sul 59% 26% 15% Souza et al. (2019)[6]
  1. a b c d e f g h i j Saloum de Neves Manta, Fernanda; Pereira, Rui; Vianna, Romulo; Rodolfo Beuttenmüller de Araújo, Alfredo; Leite Góes Gitaí, Daniel; Aparecida da Silva, Dayse; de Vargas Wolfgramm, Eldamária; da Mota Pontes, Isabel; Ivan Aguiar, José (20 de setembro de 2013). O'Rourke, Dennis, ed. «Revisiting the Genetic Ancestry of Brazilians Using Autosomal AIM-Indels». PLoS ONE (em inglês). 8 (9): e75145. ISSN 1932-6203. PMC 3779230Acessível livremente. PMID 24073242. doi:10.1371/journal.pone.0075145 
  2. Pena, Sérgio D. J.; Di Pietro, Giuliano; Fuchshuber-Moraes, Mateus; Genro, Julia Pasqualini; Hutz, Mara H.; Kehdy, Fernanda de Souza Gomes; Kohlrausch, Fabiana; Magno, Luiz Alexandre Viana; Montenegro, Raquel Carvalho (16 de fevereiro de 2011). Harpending, Henry, ed. «The Genomic Ancestry of Individuals from Different Geographical Regions of Brazil Is More Uniform Than Expected». PLoS ONE (em inglês). 6 (2): e17063. ISSN 1932-6203. PMC 3040205Acessível livremente. PMID 21359226. doi:10.1371/journal.pone.0017063 
  3. Bonifaz-Peña, Vania; Contreras, Alejandra V.; Struchiner, Claudio Jose; Roela, Rosimeire A.; Furuya-Mazzotti, Tatiane K.; Chammas, Roger; Rangel-Escareño, Claudia; Uribe-Figueroa, Laura; Gómez-Vázquez, María José (24 de novembro de 2014). «Exploring the Distribution of Genetic Markers of Pharmacogenomics Relevance in Brazilian and Mexican Populations». PLOS ONE (em inglês). 10 (11): e112640. ISSN 1932-6203. PMC 4242606Acessível livremente. PMID 25419701. doi:10.1371/journal.pone.0112640 
  4. Lopes, Reinaldo José (18 de fevereiro de 2011). «DNA de negros e pardos do Brasil é 60% a 80% europeu». Folha de S.Paulo. Consultado em 8 de março de 2024 
  5. Lins, Tulio C.; Vieira, Rodrigo G.; Abreu, Breno S.; Grattapaglia, Dario; Pereira, Rinaldo W. (março de 2010). «Genetic composition of Brazilian population samples based on a set of twenty‐eight ancestry informative SNPs». American Journal of Human Biology (em inglês). 22 (2): 187–192. ISSN 1042-0533. doi:10.1002/ajhb.20976 
  6. a b c d e f g h i j k l m n o p q Souza, Aracele Maria de; Resende, Sarah Stela; Sousa, Taís Nóbrega de; Brito, Cristiana Ferreira Alves de (setembro de 2019). «A systematic scoping review of the genetic ancestry of the Brazilian population». Genetics and Molecular Biology. 42 (3): 495–508. ISSN 1678-4685. PMC 6905439Acessível livremente. PMID 31188926. doi:10.1590/1678-4685-gmb-2018-0076 
  7. Magalhães da Silva, Thiago; Sandhya Rani, M. R.; de Oliveira Costa, Gustavo Nunes; Figueiredo, Maria A.; Melo, Paulo S.; Nascimento, João F.; Molyneaux, Neil D.; Barreto, Maurício L.; Reis, Mitermayer G. (julho de 2015). «The correlation between ancestry and color in two cities of Northeast Brazil with contrasting ethnic compositions». European Journal of Human Genetics (em inglês). 23 (7): 984–989. ISSN 1476-5438. doi:10.1038/ejhg.2014.215 
  8. a b Lima-Costa, M. Fernanda; Rodrigues, Laura C.; Barreto, Maurício L.; Gouveia, Mateus; Horta, Bernardo L.; Mambrini, Juliana; Kehdy, Fernanda S. G.; Pereira, Alexandre; Rodrigues-Soares, Fernanda (27 de abril de 2015). «Genomic ancestry and ethnoracial self-classification based on 5,871 community-dwelling Brazilians (The Epigen Initiative)». Scientific Reports (em inglês). 5 (1): 9812. ISSN 2045-2322. PMC 5386196Acessível livremente. PMID 25913126. doi:10.1038/srep09812. Consultado em 8 de março de 2024 
  9. Mychaleckyj, Josyf C.; Havt, Alexandre; Nayak, Uma; Pinkerton, Relana; Farber, Emily; Concannon, Patrick; Lima, Aldo A.; Guerrant, Richard L. (18 de janeiro de 2017). «Genome-Wide Analysis in Brazilians Reveals Highly Differentiated Native American Genome Regions». Molecular Biology and Evolution (em inglês). 34 (3): 559-574. PMC PMC5430616Acessível livremente Verifique |pmc= (ajuda). PMID 28100790. doi:10.1093/molbev/msw249 
  10. Queiroz, E.M.; Santos, A.M.; Castro, I.M.; Machado-Coelho, G.L.L.; Cândido, A.P.C.; Leite, T.M.; Pereira, R.W.; Freitas, R.N. (2013). «Genetic composition of a Brazilian population: the footprint of the Gold Cycle» (PDF). Genetics and Molecular Research. 12 (4): 5124–5133. doi:10.4238/2013.October.29.6 
  11. Silva, M.C.F.; Zuccherato, L.W.; Soares-Souza, G.B.; Vieira, Z.M.; Cabrera, L.; Herrera, P.; Balqui, J.; Romero, C.; Jahuira, H. (2010). «Development of two multiplex mini-sequencing panels of ancestry informative SNPs for studies in Latin Americans: an application to populations of the State of Minas Gerais (Brazil)» (PDF). Genetics and Molecular Research. 9 (4): 2069–2085. doi:10.4238/vol9-4gmr911 
  12. Scliar, Marília de Oliveira (2007). Estudos sobre a história da população de Belo Horizonte e de uma população rural afrodescendente utilizando microssatélites (PDF). Belo Horizonte: UFMG