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Constantino Constantinovich da Rússia

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Constantino Constantinovich
Grão-duque da Rússia
Constantino Constantinovich da Rússia
Nascimento 22 de agosto de 1858
  Palácio de Constantino, Strelna, São Petersburgo, Rússia
Morte 15 de junho de 1915 (56 anos)
  Palácio de Pavlovsk, São Petersburgo, Rússia
Sepultado em Jazigo dos Grão-Duques, São Petersburgo, Rússia
Esposa Isabel Augusta de Saxe-Altemburgo
Descendência João Constantinovich
Gabriel Constantinovich
Tatiana Constantinovna
Constantino Constantinovich
Oleg Constantinovich
Igor Constantinovich
Jorge Constantinovich
Natália Constantinovna
Vera Constantinovna
Casa Romanov
Pai Constantino Nikolaevich da Rússia
Mãe Alexandra de Saxe-Altemburgo
Religião Ortodoxa Russa

Constantino Constantinovich da Rússia (em russo: Константи́н Константи́нович; São Petersburgo, 22 de agosto de 1858 – São Petesburgo, 15 de junho de 1915), foi um Grão-Duque da Rússia, neto do czar Nicolau I da Rússia, poeta e dramaturgo de renome. Era mais conhecido pelo nome com que assinava as suas obras, “KR”, derivado das iniciais do seu nome e apelido em russo, Konstantín Romanov.

Primeiros anos

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Sendo o quarto filho do grão-duque Constantino Nikolaevich da Rússia e da sua esposa, a princesa Alexandra de Saxe-Altemburgo, Constantino nasceu no Palácio de Constantino em Strelna no dia 22 de agosto de 1858. A mais conhecida das suas irmãs foi a grã-duquesa Olga Constantinovna da Rússia que, em 1867, se tornou rainha-consorte da Grécia ao casar-se com o rei Jorge I dos Helenos.

Desde o principio da sua infância que KR se interessava mais pelas letras, artes e música do que na educação militar exigida para os membros masculinos da família Romanov. Mesmo assim, foi enviado para servir na Marinha Imperial Russa, na qual se sentiu insatisfeito e abandonando-a para se juntar ao Regimento Izmailovsky da Guarda Imperial onde se distinguiu. Durante toda a sua vida, lutou por conciliar a sua homossexualidade com as suas crenças ortodoxas e relações sociais menos toleráveis.

Casamento e descendência

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Constantino com a sua esposa Isabel
Constantino Constantinovich como Mozart, 1880

Apesar da sua homossexualidade, Constantino acreditava que tinha de colocar os deveres para com a família imperial em primeiro lugar, por isso casou-se em 1884 com a princesa Isabel de Saxe-Altemburgo, sua prima em segundo grau. Após o casamento, ao converter-se à religião ortodoxa, Isabel mudou o nome para Isabel Mavrikievna, sendo conhecida na família por “Mavra”.

O casal teve, ao todo, nove filhos.

O seu filho mais velho, o príncipe João Constantinovich da Rússia, casou-se em 1911 com a princesa Helena da Sérvia (filha do rei Pedro da Sérvia). A princesa Tatiana Constantinovna da Rússia casou-se com o príncipe Bagration-Muhransky, um príncipe georgiano, no mesmo ano. O casamento de Tatiana foi morganatico, mas foi aprovado pelo czar Nicolau II da Rússia e, por isso, válido aos olhos da Igreja Ortodoxa e da casa imperial.

Os filhos de Constantino foram os primeiros membros da família Romanov a cumprir a nova lei da família promulgada pelo imperador Alexandre III que concedia os títulos de grão-duque e grã-duquesa apenas aos membros que fossem filhos ou netos na linha masculina de um czar. Os bisnetos e restantes descendentes passariam a receber apenas o título de príncipe ou princesa da Rússia. Esta lei foi aprovada com o objectivo de baixar as despesas da família imperial, uma vez que o governo era obrigado a pagar um rendimento aqueles que possuíssem o título de grão-duque.

Segundo testemunhas, Constantino era dedicado à sua esposa e filhos. A família vivia no Palácio de Pavlovsk, nos arredores de São Petersburgo.

Vida pública

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Constantino Constantinovich na sua juventude

Constantino era tanto um mecenas da arte russa como um artista independente. Um pianista talentoso, o grão-duque era chefe da Sociedade Musical Russa e tinha Tchaikovsky entre os seus amigos mais próximos. Mas, antes de tudo, era um homem das letras. Fundou várias sociedades literárias russas, traduziu várias obras estrangeiras (incluindo Schiller e Goethe) para russo e tinha um orgulho especial na sua tradução de Hamlet, de William Shakespeare. Tornando-se num poeta reconhecido, bem como dramaturgo de renome, Constantino também se interessou na encenação das suas peças, chegando mesmo a representar o papel de José de Arimatéia na sua última peça, “O Rei dos Judeus”.

O eslavofilismo artístico do grão-duque, bem como a sua devoção ao dever fizeram com que se tornasse uma figura adorada tanto pelo czar Alexandre III como pelo seu sucessor, Nicolau II. O último czar da Rússia nomeou-o Presidente da Academia Russa das Ciências e, mais tarde, chefe de todas as escolas militares. Constantino e a sua esposa estavam entre os poucos membros da família Romanov que Nicolau e a sua esposa Alexandra Feodorovna estimavam, admirando a sua devoção à família que deferia do estilo de vida imoral de outros grão-duques.

Era também um amigo chegado da grã-duquesa Isabel Feodorovna e escreveu-lhe um poema onde exprimiu a admiração que sentiu por ela quando a antiga princesa de Hesse chegou à Rússia pela primeira vez para se casar. Foi também um dos poucos membros da família imperial a ir a Moscovo para assistir ao funeral do marido de Isabel, o grão-duque Sérgio Alexandrovich da Rússia que tinha sido assassinado por uma bomba terrorista.

Por muito exemplar, dedicada e até conservadora que fosse a vida pública de Constantino, o seu tumultuo pessoal era intenso. Se não fosse a publicação dos diários cândidos muito depois da sua morte, o mundo nunca teria sabido que o mais puritano dos grão-duques e pai de nove filhos, era, na verdade, homossexual.[1]

Retrato de Constantino Constantinovich, por Repin

As primeiras experiências homossexuais de Constantino aconteceram quando ele se encontrava na guarda imperial. O grão-duque fez um grande esforço para reprimir os seus sentimentos, mas apesar de amar a sua mulher, não conseguiu resistir às tentações oferecidas pelo seu importante estatuto. Constantino afirmou nos seus diários que, entre 1893 e 1899, se manteve longe da prática a que chamava o seu “pecado principal”. Contudo, após o nascimento do seu sétimo filho, ele tornou-se num cliente habitual dos bordéis masculinos de São Petersburgo. Em 1904, escreveu no seu diário: Ordenei ao meu cocheiro que avançasse e que continuasse o caminho em passo lento junto da casa de banhos. Tinha a intenção de passar por lá sem parar, mas nem sequer tinha chegado à ponte Pevchesky quando voltei para trás e entrei. E assim voltei a render-me, sem muita resistência, às minhas inclinações depravadas. O ciclo de resistência e cedência à tentação é uma constante nos diários de Constantino.[1]

Em finais de 1904, Constantino tornou-se, de certa forma, chegado a um jovem rapaz que se chamava Yatsko e escreveu: Mandei chamar o Yatsko e ele veio esta manhã. Persuadi-o facilmente a ser casto. Foi estranho para mim ouvi-lo descrever características que me são familiares: ele nunca se tinha sentido atraído por uma mulher e teve várias paixonetas por homens. Não lhe confessei que conhecia aqueles sentimentos por experiência própria. O Yatsko e eu conversamos durante muito tempo. Antes de se ir embora beijou-me a face e as mãos. Não o devia ter deixado fazer isto e deveria tê-lo afastado, mas fui castigado mais tarde por uma vaga de vergonha e remorso. Disse-me que, desde que nos conhecemos pela primeira vez, a sua alma tem estado cheia de sentimentos condenáveis em relação a mim que estão sempre a crescer. Como ele me faz lembrar da minha própria juventude. Alguns dias mais tarde os dois voltaram a encontrar-se e começaram uma relação.

Nos últimos anos de vida, Constantino começou a escrever cada vez menos sobre as suas necessidades sexuais, quer por ter chegado à paz de consciência ou pelo avanço natural da idade e fraca saúde.

Anos de guerra e morte

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Constantino Constantinovich nos seus últimos anos

Quando rebentou a Primeira Guerra Mundial, Constantino e a sua esposa encontravam-se na Alemanha para onde tinham viajado com o objectivo de tentar melhorar a saúde do grão-duque nas termas de Wildungen. Apanhados em território inimigo, o casal tentou um regresso depressa à Rússia, mas os seus planos foram destruídos pelas autoridades alemãs que diziam que o grão-duque e a mulher eram prisioneiros políticos. A grã-duquesa Isabel Feodorovna enviou uma mensagem ao kaiser e à esposa pedindo ajuda e, eventualmente, Constantino e a esposa tiveram autorização para abandonar a Alemanha e foram levados até à primeira estação russa. Enfraquecido, Constantino teve de fazer o caminho a pé pela frente de combate e, quando chegou a Petrogrado, estava num estado de saúde deplorável.

O primeiro ano de guerra foi particularmente cruel para a família. Cinco dos seus filhos serviram no Exército Russo e, em outubro de 1914, o seu quarto e mais querido filho, o príncipe Oleg Constantinovich da Rússia, foi ferido mortalmente quando lutava contra os alemães. No mês de março seguinte, o seu genro, o príncipe Bagration-Muhransky, casado com a sua filha Tatiana, foi morto na frente de combate do Cáucaso.

A saúde e sanidade de Constantino quebraram-se com estes golpes e ele acabou por morrer no dia 15 de junho de 1915. A sua morte poupou-o do sofrimento horrendo que ainda esperava a sua família após a Revolução Russa de 1917 quando três dos seus filhos foram assassinados pelos bolcheviques.

Descendência

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  1. João Constantinovich da Rússia (5 de julho de 1886 – 18 de julho de 1918), casado com a princesa Helena da Sérvia; com descendência. Foi assassinado pelos bolcheviques em consequência da Revolução Russa de 1917.
  2. Gabriel Constantinovich da Rússia (15 de julho de 1887 – 28 de fevereiro de 1955), casado primeiro com Antonina Rafailovna Nesterovskaya; sem descendência. Casado depois com a princesa Irina Ivanovna Kurakina; sem descendência.
  3. Tatiana Constantinovna da Rússia (23 de janeiro de 1890 – 28 de agosto de 1979), casada primeiro com o príncipe Constantino Alexandrovich Bagration-Mukhransky; com descendência. Casada depois com Alexander Vassilievich Korotchenzov; sem descendência.
  4. Constantino Constantinovich da Rússia (1 de janeiro de 1891 – 18 de julho de 1918), assassinado pelos bolcheviques em consequência da Revolução Russa de 1917; sem descendência
  5. Oleg Constantinovich da Rússia (27 de novembro de 1892 - [2 de outubro de 1914), morto em combate durante a Primeira Guerra Mundial; sem descendência.
  6. Igor Constantinovich da Rússia (10 de junho de 1894 – 18 de julho de 1918), assassinado pelos bolcheviques em consequência da Revolução Russa de 1917; sem descendência
  7. Jorge Constantinovich da Rússia (6 de maio de 1903 – 7 de novembro de 1938), nunca se casou e não deixou descendentes.
  8. Natalia Constantinovna da Rússia (morreu com dois meses de idade em 1905).
  9. Vera Constantinovna da Rússia (24 de abril de 1906 - 11 de janeiro de 2001), nunca se casou e não deixou descendentes.
Os antepassados de Constantino Constantinovich da Rússia em três gerações
Constantino Constantinovich da Rússia Pai:
Constantino Nikolaevich da Rússia
Avô paterno:
Nicolau I da Rússia
Bisavô paterno:
Paulo I da Rússia
Bisavó paterna:
Sofia Dorotéia de Württemberg
Avó paterna:
Carlota da Prússia
Bisavô paterno:
Frederico Guilherme III da Prússia
Bisavó paterna:
Luísa de Mecklemburgo-Strelitz
Mãe:
Alexandra de Saxe-Altemburgo
Avô materno:
José, Duque de Saxe-Altemburgo
Bisavô materno:
Frederico, Duque de Saxe-Altemburgo
Bisavó materna:
Carlota Jorgina de Mecklemburgo-Strelitz
Avó materna:
Amélia de Württemberg
Bisavô materno:
Luís de Württemberg
Bisavó materna:
Henriqueta de Nassau-Weilburg

Referências

  1. a b Maylunas, Andrei, e Mironenko, Sergei, editores; Galy, Darya, tradutor, A Lifelong Passion: Nicholas and Alexandra: Their Own Story, 1997