Conclave de 1304–1305
Conclave de 1304–1305 | |||||||
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O Papa Clemente V | |||||||
Data e localização | |||||||
Pessoas-chave | |||||||
Decano | Giovanni Boccamazza | ||||||
Camerlengo | Teodorico Ranieri[1][2] | ||||||
Protodiácono | Matteo Orsini Rosso (ausente)[2][3] | ||||||
Eleição | |||||||
Eleito | Papa Clemente V (Raymond Bertrand de Got) | ||||||
Participantes | 15 | ||||||
Ausentes | 4 | ||||||
Cronologia | |||||||
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O conclave papal ocorrido entre 10 ou 17 de julho de 1304 a 5 de junho de 1305 resultou na eleição do arcebispo Raymond Bertrand de Got como Papa Clemente V depois da morte do Papa Bento XI.[3] Foi o último conclave antes do chamado Papado de Avinhão.[3]
Cardeais eleitores
[editar | editar código-fonte]Participaram do conclave 15 dos 19 cardeais que compunham o Colégio dos Cardeais. Exatamente 10 desses constituíam o mínimo dos dois terços necessários que votaram a favor de Bertrand de Got, que se tornou Clemente V. Dois outros cardeais, Giacomo e Pietro Colonna, foram depostos pelo Papa Bonifácio VIII e foram portanto excluídos dos procedimentos eleitorais, sendo restituídos no Colégio dos Cardeais posteriormente, por Clemente V.[3]
Cardeais presentes
[editar | editar código-fonte]Criado por | Cardeais | Por Cento |
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Papa Urbano IV (UIV) | 1 | 5,26 % |
Papa Honório IV (HIV) | 1 | 5,26 % |
Papa Nicolau IV (NIV) | 1 | 5,26 % |
Papa Celestino V (CV) | 4 | 21,05 % |
Papa Bonifácio VIII (BVIII) | 10 | 52,63 % |
Papa Bento XI (BXI) | 2 | 10,53 % |
Total | 19 | 100 % |
- Giovanni Boccamazza (HIV)
- Teodorico Ranieri (BVIII)
- Leonardo Patrasso (BVIII)
- Pedro Rodríguez (BVIII)
- Giovanni Minio da Morrovalle, O.F.M. (BVIII)
- Niccolò Albertini, O.P. (BXI)
- Robert de Pontigny, O.Cist. (CV)
- Gentile Partino, O.F.M. (BVIII)
- Walter Winterburn, O.P. (BXI)
- Napoleone Orsini Frangipani (NIV)
- Landolfo Brancaccio (CV)
- Guglielmo de Longhi (CV)
- Francesco Napoleone Orsini (BVIII)
- Francesco Caetani (BVIII)
- Luca Fieschi (BVIII)
Ausentes
[editar | editar código-fonte]- Jean Le Moine (CV)
- Matteo Orsini Rosso, protodiácono. (UIV)
- Giacomo Gaetani Stefaneschi (BVIII)
- Riccardo Petroni (BVIII)
O Conclave
[editar | editar código-fonte]O Colégio dos Cardeais se dividiu em duas facções: os pró-franceses e os opositores à França ("Bonifacianos"). O menor deles era o partido pró-francês que contava com seis cardeais, sob a direção dos prelados Napoleone Orsini Frangipani e Niccolò Albertini. Eles buscavam a reconciliação entre França e os Colonna. O partido maior, o anti-francês, encabeçado pelos cardeais Matteo Orsini Rosso e Francesco Caetani, o cardeal-sobrinho do Papa Bonifácio VIII, exigiu expiação pelo ultraje cometido na pessoa de Bonifácio VIII pelo chanceler francês Guillaume de Nogaret em Anagni e rechaçou qualquer concessão a Filipe IV da França. Eles contavam com 10 eleitores.[4]
No começo do conclave os cardeais arbitrariamente decidiram anular as regras mais restritivas da Constituição Ubi periculum sobre o conclave, o que permitiu prolongar o processo.[5] Durante os primeiros meses do conclave, ambos os partidos votaram por seus líderes: Matteo Orsini e Napoleone Orsini.[6] Mas o velho Matteo Orsini (74 anos) adoeceu e não pode seguir tomando parte ativa no conclave. A falta de uma liderança efetiva com o tempo levou à divisão no partido anti-francês. Alguns de seus membros, em busca de um compromisso, propuseram ao arcebispo Raymond Bertrand de Got de Bordeaux. Napoleone Orsini inicialmente era cético acerca desta candidatura, mas a aceitou posteriormente. Sua opinião foi decisiva para o resultado,[7] devido a uma aliança do partido pró-francês com os "dissidentes Bonifacianos", o que deu exatamente a maioria necessária de dois terços. Em 5 de junho de 1305, depois de 11 meses de deliberações, Bertrand de Got foi eleito para o papado.
No momento de sua eleição, De Got era arcebispo de Bordeaux e era um amigo de infância de Filipe IV da França.[8]
Consequências
[editar | editar código-fonte]Os cardeais pediram a De Got para unir-se a eles em Perúgia e posteriormente viajar a Roma para sua coroação pontifícia. Mas Clemente V ordenou viajar a Lyon para sua coroação em 4 de novembro de 1305, na que Filipe IV estava presente.[8] Durante a procissão pública ocorrida, o colapso de um muro feriu a Clemente V e matou o seu irmão e ao velho cardeal Matteo Orsini Rosso (participante de doze conclaves).[8] No dia seguinte, outro irmão de Clemente V morreu em uma disputa entre seus servos e os criados do Colégio Cardinalício.[8]
Filipe IV de imediato exigiu de Clemente V que a memória do Papa Bonifácio VIII fosse condenada, que seu nome fosse apagado da lista dos papas, que seus ossos fossem desenterrados e queimados, que suas cinzas fossem jogadas ao vento e que fosse declarado blasfemo, herege e imoral.[8] Clemente V ganhou tempo como uma ação sem rechaçar explicitamente e, no entanto, fez várias concessões importantes a Filipe IV: estendeu a absolvição concedida por Bento XI, criou nove cardeais franceses (entre cardeais da coroa e cardeais sobrinhos), restaurou o cardinalato de Giacomo e Pietro Colonna (que tinham sido excluídos por Bonifácio VIII), deu a Filipe IV um título de cinco anos a uma variedade de propriedades da igreja, retirou a bula papal Clericis Laicos (1296) e limitou a bula Unam Sanctam (1302), outorgou alguns ingressos da igreja a Carlos de Valois, pretendente ao trono bizantino e fez concessões para o enfraquecimento dos Cavaleiros Templários.[8] Todavia, Filipe IV queria ver um processo similar ao Sínodo do Cadáver, o qual queria iniciar contra Bonifácio VIII, que Clemente V cedeu no estabelecimento do Concílio de Vienne, em 2 de fevereiro de 1309; mas, como o processo se mostrou demorado e provavelmente favorável ao Pontífice falecido, Filipe IV o cancelou em fevereiro de 1311.
Entre 1305 e 1309, Clemente V transladou sua sé papal por Bordeaux, Toulouse e Poitiers, antes de tomar sua residência como hóspede no mosteiro dominicano de Avinhão. Clemente V tomou a decisão de transladar o papado para a França, sendo um dos temas mais debatidos no conclave papal de 1314-1316 depois de sua morte, durante o qual a minoria de cardeais italianos eram incapazes de desenhar o regresso do papado a Roma. Avinhão seguia sendo um território de Nápoles até que o Papa Clemente VI a comprou de Joana I de Nápoles por 80.000 florins de ouro em 1348.[8]
Referências
- ↑ «Lista de Camerlengos da Santa Igreja Católica» (em inglês)
- ↑ a b «GCatholic» (em inglês)
- ↑ a b c d «The Cardinals of the Holy Roman Church» (em inglês)
- ↑ G. Mollat, p. 3; K. Dopierała, p. 233. Vale a pena adjuntar que os dois cardeais Orsini, apesar de suas relações familiares, estavam em grupos opostos.
- ↑ A. Piazzoni, p. 205
- ↑ K. Dopierała, p. 233
- ↑ The Catholic Encyclopedia: Orsini
- ↑ a b c d e f g Pope Clement V" in the 1913 Catholic Encyclopedia[ligação inativa]
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Baumgartner, Frederic J. 2003. Atrás das portas fechadas: Uma história das eleições papais. Palgrave Macmillan. ISBN 0-312-29463-8.
- Darras, Joseph Épiphane, Spalding, Martin John, e White, Charles Ignatius. 1869. A general history of the Catholic Church.
- Emerton, Ephraim. 1917. The beginnings of modern Europe (1250-1450).
- Trollope, Thomas Adolphus. 1876. The papal conclaves:as they were and as. Chapman and Hall.
- Mollat, Guillaume Os Papas em Avinhão 1305-1378, Londres 1963
- Kelly, J.N.D. O Dicionário Oxford dos Papas, Oxford, 1986
- Philippe Levillain, ed.. 2002. The Papacy: An Encyclopedia. Routledge. ISBN 0-415-92228-3.
- Walsh, Michael. 2003. The Conclave: A Sometimes Secret and Occasionally Bloody History of Papal Elections. Rowman & Littlefield. ISBN 1-58051-135-X.
- Mollat, Guillaume (1910). «L'élection du pape Jean XXII». Revue d'histoire de l'Église de France (em francês). 1. França: [s.n.] p. 147-166. ISSN 2109-9502
Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- «História Vaticana» (em alemão)