Brugmansia
Brugmansia | |
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Brugmansia 'Feingold' | |
Classificação científica | |
Reino: | Plantae |
Clado: | Tracheophyta |
Clado: | Angiospermae |
Clado: | Eudicots |
Clado: | Asterídeas |
Ordem: | Solanales |
Família: | Solanaceae |
Subfamília: | Solanoideae |
Tribo: | Datureae |
Gênero: | Brugmansia Pers. |
Sinónimos | |
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Brugmansia é um género botânico pertencente à família Solanaceae,[2] nativo das regiões subtropicais do México, América Central e América do Sul, ao longo dos Andes, desde a Colômbia até ao norte do Chile, incluindo o sudeste do Brasil. Inclui as espécies conhecidas pelo nome comum de trombetas, sendo morfologicamente muito semelhante ao género Datura, com o qual está estreitamente aparentado, diferindo por serem plantas perenes e lenhosas. A maioria das espécies deste género constitui um complexo específico, com frequente hibridação e desde há muito sujeito a cultura pelos povos ameríndios que as utilizam como enteógeno, como alucinógeno e como plantas medicinais. Todas as espécies conhecidas estão consideradas como extintas na natureza. Devido ao uso como droga recreativa, em algumas circunscrições está proibido o comércio ou mesmo o cultivo das espécies deste género.[3]
Descrição
[editar | editar código-fonte]Os membros deste género são arbustos ou pequenas árvores (mesofanerófitos) que alcançam alturas de 3–11 m. As folhas são alternas, geralmente com 10–30 cm de comprimento e 4–18 cm de largura, com margens inteiras ou apenas dentada, frequentemente com a base do limbo assimétrica e recobertas por uma fina velosidade.
S flores são pendulares, geralmente fragrantes, com até 30 cm de comprimento, geralmente esbranquiçadas ou amareladas, ainda que também posam ser rosadas, alaranjadas ou avermelhadas. O seu perfume, que se intensifica ao anoitecer, atrai insectos noturnos e morcegos que são os principais agentes de polinização, embora a espécie Brugmansia sanguinea seja polinizada por colibris.[3]
O fruto é uma baga não espinhosa, obovada ou em forma de fuso, que pode ser longa. Contém um grande número de sementes com cerca de 1 cm de comprimento máximo, nalguns casos até 300 sementes por baga.
Cultivo
[editar | editar código-fonte]O género cresce facilmente em climas sem geadas, sobre solos húmidos e férteis, de preferência bem drenados, com plena exposição ao sol ou a meia sombra. A floração inicia-se de meados a final da primavera em climas quentes e continua até ao outono, com frequência alargando-se até princípios do inverno em condições de clima quente. Nos invernos frios, as plantas cultivadas no exterior podem necessitar de proteção, mas a raiz é resistente e rebrota na primavera. As espécies das regiões altas, como as da secção Sphaerocarpium, preferem temperaturas moderadas e noites frescas, e podem não florescer se as temperaturas forem muito elevadas.
A propagação vegetativa da maioria das espécies consegue-se facilmente através de estacas de 10 a 20 cm de comprimento, recolhidas do final de um ramo e plantadas durante o verão.
Diversos híbridos e numerosos cultivares foram desenvolvidos para uso como ornamental. B. x candida é um híbrido entre B. aurea e B. versicolor, B. x flava resulta de B. arborea e B. sanguinea, e B. x cubensis[4] é o resultado de três especies: B. suaveolens, B. versicolor e B. aurea.
Também existem cultivares com flores dobradas e alguns com folhas variegadas.
Taxonomia
[editar | editar código-fonte]Linnaeus classificou inicialmente estas plantas como parte do género Datura com a descrição em 1753 de Datura arborea. O género Brugmansia foi estabelecido por Christiaan Hendrik Persoon e publicado em 1805 no Synopsis Plantarum,[5][6] tomando por espécie tipo o que actualmente se sabe ser o híbrido Brugmansia × candida Pers. A etimologia do nome genérico é uma homenagem a Sebald Justin Brugmans (1763-1819), professor de história natural em Leiden, Países Baixos.[7]
Para o novo género foram transferidas as espécies então incluídas em Datura que eram perenes, arborescentes, pelo menos parcialmente lenhosas e com fruto desprovido de espinhos.[3] Nos 168 que se seguiram, vários autores foram colocando alternadamente estas espécies nos géneros Brugmansia e Datura, até que em 1973, com uma análise morfológica detalha das diferenças entre grupos, o sistemata Tommie Earl Lockwood,[8] estabeleceu firmemente Brugmansia como um género separado, delimitando-o de forma a integrar todas as espécies então conhecidas de Brugmansia, situação que se mantém incontestada.[9]
Na sua actual configuração, o género Brugmansia inclui um complexo específico, com elevado grau de hibridização, que torna difícil individualizar as espécies, o que tem resultado numa elevada sinonímia, com diferentes autores a indicarem um número variável de taxa.
As espécies foram divididas anteriormente em dois grupos naturais geneticamente isolados:[4] (1) Brugmansia secção Brugmansia, que incluía as espécies aurea, insignis, sauveolens e versicolor, conhecido informalmente como "grupo de cultivo quente"; (2) Brugmansia secção Sphaerocarpium, que incluía as espécies arborea, sanguinea e vulcanicola, denominado informalmente "grupo de cultivo frio".[10]
Estão presentemente consideradas como validamente descritas 7 espécies de Brugmansia:[10]
- Brugmansia arborea (L.) Sweet (Andes - Equador até ao norte do Chile)
- Brugmansia aurea Lagerh. (Andes - Venezuela to Ecuador)
- Brugmansia insignis (Barb.Rodr.) Lockwood ex R.E. R.E.Schult. (Sopé oriental dos Andes - Colômbia à Bolívia e ocasionalmente ao Brasil)
- Brugmansia sanguinea (Ruiz & Pav.) D.Don (Andes - Colômbia até ao norte do Chile)
- Brugmansia suaveolens (Willd.) Sweet (Sudeste do Brasil)
- Brugmansia versicolor Lagerh. (Equador)
- Brugmansia vulcanicola (A.S.Barclay) R.E.Schult.. (Andes - Colômbia ao Equador)
Duas das espécies atrás apontadas foram consideradas como inválidas em 1973 por T.E. Lockwood na sua dissertação doutoral:[11] (1) a espécie Brugmansia vulcanicola foi considerada como uma subespécie de B. sanguinea, mas essa asserção foi refutada pelo orientador da dissertação, R. E. Schultes em 1977;[12] (2) Lockwood propôs que a espécie B. insignis fosse um híbrido da combinação (B. suaveolens x B. versicolor) x B. suaveolens, mas experiências posteriores de cruzamento e hibridação, cujos resultados foram publicados em 1997, invalidaram a hipótese.[3]
Estão ainda reconhecidos os seguintes híbridos:
Notas
- ↑ «Genus: Brugmansia Pers.». Germplasm Resources Information Network. United States Department of Agriculture. 1 de setembro de 2009. Consultado em 25 de setembro de 2010. Arquivado do original em 29 de outubro de 2000
- ↑ «The Plant List»
- ↑ a b c d Preissel, Ulrike; Hans-Georg Preissel (2002). Brugmansia and Datura: Angel's Trumpets and Thorn Apples. Buffalo, New York: Firefly Books. pp. 106–129. ISBN 1-55209-598-3
- ↑ a b Shaw, J. M. H. (1999). «Nomenclature Notes on Brugmansia». Royal Horticultural Society. The New Plantsman. 6 (3): 148–151
- ↑ «Brugmansia». Tropicos.org. Missouri Botanical Garden. Consultado em 14 de fevereiro de 2013
- ↑ «Brugmansia en PlantList»
- ↑ California Plant Names: Latin and Greek Meanings and Derivations - A Dictionary of Botanical and Biographical Etymology, compiled by Michael L. Charters, 2003-2013
- ↑ Na sua dissertação doutoral intitulada A Taxonomic Revision of Brugmansia (Solanaceae) (1973), escrita no Departamento de Biologia da Universidade de Harvard sob a orientação do professor Richard Evans Schultes. Lockwood faleceu num acidente de automóvel ocorrido no México em 1975.
- ↑ Lockwood, T. E. (1973). «Generic Recognition of Brugmansia» (PDF). Botanical Museum Leaflets. 23: 273–283
- ↑ a b Hay, A.; Gottschalk, M.; Holguín, A. (2012). Huanduj: Brugmansia. [S.l.]: Royal Botanic Gardens Kew. ISBN 978-1-84246-477-9
- ↑ Lockwood, T. E. (1973). A taxonomic revision of Brugmansia (Solanaceae). [S.l.: s.n.] OCLC 38575671
- ↑ Schultes, R. E.; Bright, A. (1977). «A Native Drawing of an Hallucinogenic Plant From Colombia» (PDF). Cambridge, MA: Harvard University. Botanical Museum Leaflets. 25 (6)
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Forzza, R. C. & et al. 2010. 2010 Lista de espécies Flora do Brasil. http://floradobrasil.jbrj.gov.br/2010/.
- Stevens, W. D., C. Ulloa Ulloa, A. Pool & O. M. Montiel Jarquin. 2001. Flora de Nicaragua. Monogr. Syst. Bot. Missouri Bot. Gard. 85: i–xlii,.
- Hay, A., M. Gottschalk & A. Holguín (2012). Huanduj: Brugmansia English text, lots of diagrams and illustrations. ISBN 978-18-424-6477-9
- Gottschalk, Monika (2000). Engelstrompeten (German with English translation booklet). BLV Verlagsgesellschaft mbH. ISBN 978-3-405-15760-9
- Geit, Lars and Birgitta. Änglatrumpeter och spikklubbor Norwegian text but photo rich. Small coffee-table book. ISBN 978-91-534-2511-3