Milhares de afegãos temendo a perseguição pelo Talibã permanecem esperando do lado de fora do aeroporto de Cabul ou se abrigando em suas casas, esperando serem evacuados do Afeganistão. Mas o transporte aéreo especial para a retirada multinacional liderado pelos Estados Unidos está prestes a acabar. Apesar dos pedidos de outros líderes do G7, incluindo o Reino Unido e aliados europeus, e membros do Congresso dos EUA, o presidente Joe Biden afirmou que os EUA não estenderão sua presença militar no aeroporto além de 31 de agosto. Voos para afegãos que tentam desesperadamente fugir provavelmente terminarão ainda mais cedo, a medida que as operações deixam de transportar civis vulneráveis para reduzir a presença militar.
Embora Biden tenha mencionado possíveis planos de contingência, o foco atual é terminar o esforço de evacuação e permitir que funcionários dos EUA voltem para casa. Mesmo as pessoas que tiveram aprovação para viajar e estão em listas de evacuação podem ser deixadas para trás. Autoridades francesas disseram que, a menos que uma prorrogação seja negociada, suas operações de evacuação terão que parar na quinta-feira. Depois de receber um memorando do serviço de inteligência, congressistas norte-americanos disseram à imprensa que era improvável tirar todos os estadunidenses e aliados do país até 31 de agosto. A rápida tomada pelo Talibã prejudicou a capacidade de evacuar as dezenas de milhares de pessoas que pretendiam deixar o país. Muitas lutaram para passar pelos pontos de controle do Talibã ou transitar por entre as multidões no aeroporto, enquanto outras nunca foram incluídas nas listas de voos. Muitas das que estão em perigo e que estão fora de Cabul não conseguiram entrar na cidade, pois viajar pelo país continua perigoso devido aos pontos de controle.
Desde julho, o transporte aéreo multinacional evacuou dezenas de milhares de cidadãos de países estrangeiros, funcionários dos EUA e da OTAN e civis afegãos, mas muitos outros afegãos em perigo continuam esperando. Aqueles que precisam de resgate não são apenas pessoas que trabalharam diretamente para as forças dos EUA ou aliados, mas também defensores dos direitos humanos, ativistas dos direitos das mulheres, jornalistas, membros do judiciário, pessoas LGBTI+ e membros de algumas comunidades minoritárias, como os Hazara. Muitas dessas pessoas ainda podem ser evacuadas, especialmente aquelas que já receberam aprovação para viajar e cujos nomes estão nas listas de evacuação.
A evacuação precisa de mais tempo e os EUA precisam fazer mais para ajudar os afegãos em perigo que tentam fugir. Com certeza, isso não será fácil, especialmente depois que em 24 de agosto o porta-voz do Talibã, Zabihulla Mujahid, advertiu que os afegãos reunidos no aeroporto deveriam se dispersar e não mais tentar deixar o país. Os EUA e outros países devem negociar com o Talibã para manter esse caminho aberto por um pouco mais de tempo. O Talibã também precisa garantir uma passagem segura para aqueles que desejam viajar, agora e assim que as forças internacionais partirem.
O presidente Biden disse que os direitos humanos estão no centro de sua política externa. Os últimos dias sugerem o contrário. Os Estados Unidos deveriam se comprometer a evacuar o maior número possível de afegãos em situação de risco – e cumprir o que disse.