domingo, 2 de março de 2025

30 atividades para ficar longe das redes sociais

domingo, março 02, 2025 0


Sou uma pessoa que gosta de listas. Sendo assim, elaborei uma com 30 atividades que gosto de fazer quando não quero passar muito tempo no celular (ou quero usar o tempo de tela para algo mais útil do que ficar rolando as redes sociais) e que ou são gratuitas ou são de baixo custo. A lista vai desde itens mais criativos até os mais burocráticos. Muitos deles é possível fazer tanto só quanto acompanhado.
Sendo assim, só vem comigo, porque é sucesso! hehehe

  1. Dormir: há pessoas que acham que dormir é sinônimo de perder tempo. Pra mim, dormir é prazeroso. Nada como acordar sem despertador, porque o corpo se sente, de fato, descansado. (Fora os inúmeros estudos científicos que falam sobre a qualidade do sono e como dormir nos ajuda a reter informações e a tomar melhores decisões.)
  2. Ler: se você for como eu, tem uma série de livros não lidos (ou que começou, mas não terminou) na sua estante. Que tal dar um jeito nisso?
  3. Escrever: escrever para mim é trabalho (blog, newsletter, artigos e livros), mas também é prazer e autocuidado (escrita no diário). Então, organizar as ideias no papel é de extrema importância para a minha saúde mental, de modo que não fico sem as minhas páginas matinais.
  4. Experimentar uma aula de algo diferente: no YouTube há aulas para tudo, desde as mais intelectuais, como postamos no Projeto Escrita Criativa, até as mais ativas (dança, yoga, pilates), passando pelas artísticas e artesanais (aquarela, cerâmica, tricô, crochê, origami) e funcionais (como usar uma ferramenta específica, como consertar algo). 
  5. Se matricular em um curso novo: sabe aquele curso (graduação, pós, curso livre, de idiomas etc.) que a gente sempre fica enrolando? Esse é um bom jeito de usar a tela: se matriculando de vez. 
  6. Cuidar das plantas: sempre tem aquela planta que precisa de mais terra no vaso, de um vaso maior ou que dá para fazer muda. 
  7. Manutenção da casa: gosto de fazer uma ronda pela casa para observar o que precisa de manutenção, o que pode ser trocado, arrumado ou precisa ser substituído. Também consigo pensar em novos itens de decoração, na mudança de móveis de lugar ou em coisas que precisam de limpeza (as janelas, por exemplo) ou de uma repaginada (como pintura nas paredes).
  8. Trocar/doar/vender/reciclar/jogar fora: adoro passar pelos armários de tempos em tempos vendo o que eu ainda quero, o que não quero e qual é o destino para roupas, sapatos, livros, itens de cozinha. 
  9. Revisar a dispensa e a geladeira: na mesma linha, gosto de dar uma olhada de tempos em tempos o que tem na dispensa/geladeira e conferir as datas de vencimento. O que está mais próximo de vencer pode se transformar em uma receita.
  10. Cozinhar: nem que seja uma coisa super simples como fazer pipoca, bater um bolinho ou fazer brigadeiro de colher. Claro que pratos mais elaborados são bem-vindos também.
  11. Brincar com crianças e pets: aqui não tenho crianças, mas tenho Poesia e Camomila. Brincamos muito nós três (elas gostam de correr atrás de mim, e eu, atrás delas. Também jogamos com bolinhas.)
  12. Sair para caminhar: gosto de andar porque, mais do que movimentar o corpo, me ajuda a organizar a cabeça. Às vezes, aproveito para observar as pessoas (e escrever sobre elas depois) ou tomar um sorvete (refresco para as ondas de calor).
  13. Separar fotos para imprimir: o grande problema da nossa geração é tirar um monte de fotos e nunca mais voltar nelas porque o arquivo se perdeu em algum HD/nuvem da vida. Que tal separar alguns desses cliques e mandar imprimir? Eles podem virar quadros pela casa ou um belo álbum.
  14. Escrever carta ou cartão postal: nada como desacelerar enviando uma carta ou um cartão postal (seja para um amigo querido, seja em um projeto como o Postcrossing).
  15. Fazer um presente para alguém: assar um pão/bolo, fazer uma geleia, tricotar uma peça, fazer uma decoração de cerâmica ou de origami, desenhar/ilustrar, pintar um quadro ou um marcador de páginas ou criar qualquer outra coisa que você saiba e presentear alguém muito querido é sempre um gesto de profundo carinho.
  16. Ir ao cinema, ao teatro ao museu ou a um show: o contato com a arte sempre inspira e provoca a nossa cabeça para pensar a partir de outros pontos de vista. Recomendo.
  17. Convidar um amigo ou ir sozinho a uma cafeteria: nada como uma tarde comendo coisinhas gostosas.
  18. Ir a um parque e ficar sem fazer nada: estender uma canga na grama, deitar e sentir. Sem pressa, contemplar a vida. Contato com a natureza é importante e, de novo, há inúmeros estudos que comprovam isso.
  19. Visitar uma unidade do SESC: se na sua cidade tiver algum SESC, recomendo. Sempre tem alguma atividade legal acontecendo (exposição, show, curso, palestra) e a comedoria tem comida boa, de qualidade, por um preço muito baratinho.
  20. Visitar uma biblioteca pública: aqui em São Paulo há várias bibliotecas públicas com livros novos e acervos maravilhosos. É um jeito de ler o que está saindo no mercado editorial respeitando os direitos autorais, sem gastar dinheiro.
  21. Ir a um lugar que você sempre quis e nunca foi: não sei vocês, mas eu tenho uma pequena lista de lugares que eu gostaria de conhecer (aqui em SP mesmo) e que ainda não conheço. Tirar a ideia do papel pode ser um jeito de se entreter sem telas.
  22. Usar a câmera analógica ou digital, sem internet, para fazer registros: aqui eu tenho uma câmera de filme, uma intax, uma sony cybershot e uma nikon. Elas são ótimas para registrar acontecimentos quando não quero usar o celular. 
  23. Fazer listas: tirar da cabeça é um dos jeitos de se organizar para fazer acontecer. Lista é uma das ferramentas que ajuda nisso. Algumas sugestões: lista do que quero fazer antes de morrer; lista do que quero estudar; lista de lugares para conhecer na minha cidade; lista de viagens que quero fazer; lista de livros/filmes/séries para ler/assistir; lista de projetos que quero desenvolver; listas de possíveis presentes de aniversários/natal; listas de músicas para ouvir em uma determinada situação (as famosas playlists).
  24. Pesquisar preços: sabe aquele item caro que você quer comprar em uma época de promoções (dia do consumidor, Black Friday, Cyber Monday etc.)? Então, faça uma pesquisa de preços fora dessa época. Assim, quando as lojas ofertarem a promoção, você saberá se é uma promo de verdade ou não.
  25. Fazer balanços e anotar próximas ações: como anda a sua saúde? É preciso fazer alguma coisa, marcar algum médico ou exame? Como anda a sua finança? É preciso conter gastos, você quer aplicar dinheiro? Você precisa aprender alguma coisa sobre esse assunto? Como está o seu trabalho? Você está satisfeito ou já chegou o momento de pedir aumento salarial? Como fazer isso?
  26. Pesquisar sobre algum problema que te incomoda: sabe quando a gente tem dúvida se o que está acontecendo no trabalho é legal ou não? Talvez seja o momento de pesquisar o que a legislação diz sobre isso. Ou quando a gente quer falar algo muito difícil com alguém? Pode ser útil entender o que a psicologia diz sobre conversas difíceis e respeitosas, por exemplo.
  27. Orçar e planejar: entender quais são as etapas, quais são as melhores épocas para determinadas ações, quanto tempo, dinheiro e energia você tem, se vai precisar ou quer algum parceiro envolvido, com quem entrar em contato etc. etc. etc. Em resumo, dar vida ao seu sonho.
  28. Resgatar algo que você gostava muito de fazer e parou: tocar bateria (o qualquer outro instrumento), andar de patins, jogar videogame, comer comida da vó (bolinho de chuva!!!), desenhar, pintar a rua pra Copa do Mundo (ou pro Oscar da Fernanda Torres!), ligar para um amigo de infância que a vida afastou, ouvir a música de adolescência e dançar sozinho pela casa.
  29. Fazer um spa day: o que eu gosto nesse dia: trocar roupa de cama, fazer as unhas, hidratar a pele e o cabelo, lavar o cabelo e tomar um banho demorado no escuro, beber bastante água e um chazinho, colocar uma música suave para tocar, meditar, tirar cartas dos meus tarôs e oráculos, escrever, olhar o céu mudando de cor com o pôr do sol, comer algo que me abraça, às vezes, planejar algo que eu esteja procrastinando, dormir. Pra mim, o grande lance do spa day é me sentir bem e tranquila.
  30. Visitar alguém querido: sabe aquela vizinha que é praticamente uma vó, aquele amigo que sempre fica no "vamos marcar", aquela tia que sempre foi querida? Então, por que não fazer uma visitinha? 

Essas são 30 coisas que eu gosto de fazer quando quero ficar longe das redes sociais. E você, o que você gosta de fazer? Me conte nos comentários! 
_____________________________________________________________
Gostou deste post?
Então considere se inscrever na Newsletter para receber boletins mensais 
ou me acompanhar nas redes sociais: 

domingo, 23 de fevereiro de 2025

{Resenha} Um paraíso portátil, de Roger Robinson

domingo, fevereiro 23, 2025 2


Um livro de poesia que fisga o leitor pela potência das imagens apresentadas, imagens estas que nos fazem sentir as dores, as angústias, as influências e os momentos de gratidão presentes em cada verso. Em Um Paraíso Portátil, Roger Robinson traça uma ponte entre o passado e o presente da vivência negra experienciada por ele e por quem vive ao seu redor, em sua comunidade britânica.

Roger Robison é um artista multifacetado: poeta, músico, performer, cofundador de um coletivo de escritores, com a experiência farta de quem flana pelo mundo. Nascido na Inglaterra e atualmente vivendo em Londres, Robinson tem e honra a sua vida caribenha (viveu parte da infância e da adolescência em Trinidade e Tobago). Sendo assim, essa ponte que ele traça entre o passado e o presente é configurada de diversos modos, todos eles muito sensíveis, seja com o eu lírico do poeta assumindo a primeira pessoa, seja ele servindo de testemunha e se colocando no lugar das pessoas cuja a vivência é por ele observada. 

Poema "O vermelho escuro do seu sangue", de Roger Robinson, presente nas páginas 52 e 53 de Um Paraíso Portátil
(Clique na imagem para ampliá-la.)


A obra, vencedora do Prêmio T.S. Elliot (2019), é estruturada em 5 partes. A primeira é inteira dedicada à violência sofrida pela comunidade negra britânica durante o grave incêndio da Grenfell Tower (ocorrido em junho de 2017), que matou 72 pessoas. Aqui, o eu lírico mergulha no ocorrido, se colocando tanto no lugar de quem sucumbiu, quanto de quem sobreviveu e teve que lidar com o descaso da falta de resposta e de responsabilização dos culpados. A segunda parte segue trazendo o impacto da primeira e relacionando-a com a das pessoas que foram forçosamente levadas à Inglaterra na época da escravização. Ali passado e presente se cruzam quando o poeta empresta a sua voz aos anônimos e silenciados pela sociedade e pelo governo britânico. Além disso, mais uma vez, o poeta coloca o mal-estar na mesa, provando que, infelizmente, ele é universal ao se inspirar no caso do americano George Floyd e escrever um poema sobre a violência onipresente que é direcionada ao corpo negro. Os poemas da terceira parte resgatam as denúncias das anteriores para denunciar a postura dos que têm "outro" (não branco e não britânico) como "ilegal". O poeta faz uso da primeira pessoa (singular e plural) para apontar como os imigrantes sofrem abusos tendo como ponto de partida a exclusão social apenas por conta do espaço geográfico de origem, como se ter nascido em outro lugar que não a Inglaterra já fosse um atestado que permite que britânicos brancos sejam violentos com imigrantes negros e seus descendentes — ignorando completamente o histórico das relações coloniais e pós-coloniais. A quarta parte da obra reforça tudo isso trazendo referências sonoras e visuais ao livro, mostrando ao leitor uma riqueza de repertório que não é apenas do poeta, mas de toda comunidade a que ele pertence. Riqueza esta que é exposta e reiterada diversas vezes numa cidade que faz de tudo para ocultá-la. Por fim, a última parte traz a experiência de paternidade pessoal do poeta, cujo filho prematuro quase não sobrevive ao parto. Contrariando o estereótipo do homem negro que abandona os filhos, o eu poético não só é presente, mas também sofre o drama de ver o bebê lutando pela própria vida. A resistência negra mostrada nas outras partes da obra aqui se torna frágil e incerta, na figura do neném prematuro assombrado pela morte, ao mesmo tempo que é forte e ancestral, na imagem invocada da avó que aparece no último poema do livro e que, mais uma vez, reforça a imagem de passado e futuro que sustenta a voz de toda uma comunidade que segue (e que continuará seguindo) resistindo.

É interessante notar como Robinson trabalha todo o conteúdo apresentado acima fazendo uso tanto de estruturas mais formais, a exemplo do uso de dísticos (estrofes de dois versos) e tercetos (estrofes de três versos, como de outras formas mais contemporâneas como versos formatados em um único parágrafo. Esta é outro modo — agora na forma — de unir o passado (mais formal) e o presente (de versos branco, livres e mais pós-modernos). Isso traz ritmo não só a cada poema, mas também à leitura do conjunto da obra.

A versão brasileira do livro também conta com um texto de apresentação em prosa repleto de lírica e extremamente competente escrito por Prisca Agustoni. A orelha foi escrita por André Capilé. Já a tradução ficou por conta do Victor Pedrosa Paixão. A publicação foi feita em coedição das Editoras Incompleta e Jabuticaba.

Ler Um Paraíso Portátil é, ao mesmo tempo, dolorido e esperançoso. Dolorido porque nos deparamos de novo com as dores dos nossos irmãos. Esperançoso, justamente por nos dar um abraço que nos diz que o nosso paraíso não é feito só de luta e resistência, mas também do senso de irmandade que não se abandona.


Capa. (Fonte: Editora Incompleta)



Livro: Um paraíso portátil
Título original:
Autor: Roger Robinson
Tradução: Victor Pedrosa Paixão
Páginas: 103
Editora: Incompleta e Jabuticaba
Apresentação/Sinopse: Este livro – um desolado carrossel fantasmagórico de vidas penduradas por um fio, em busca de um lugar para chamar de ‘lar’ – faz do limiar entre o que é o ‘paraíso’ e o ‘inferno’ (e as representações cristalizadas que deles se construíram ao longo dos séculos) um ponto de partida para uma nova realidade”. As palavras de Prisca Agustoni na apresentação evidenciam, ao mesmo tempo, a estrutura de Um Paraíso Portátil e o seu centro: ao longo das cinco partes nas quais se distribuem, os poemas de Roger Robinson compõem um arranjo de vozes e formas diversas para expor as violências colonial e étnico-racial em suas mais variadas manifestações. Britânico de origem caribenha, o autor se vale da dub poetry; da citação de “vozes amigas” como Coltrane, Fela Kuti e Bob Marley; de trechos mais confessionais e prosaicos; de certa inspiração cinematográfica; de humor e de causticidade. Mas há algo além de que Robinson não se esquece nessa busca pela elaboração de lutos e traumas: um conselho de sua avó, em que o autor se agarra para seguir acenando rumo a alguma cura possível, um remédio coletivo ou particular. Publicado originalmente no Reino Unido em 2019 (Peepal Tree Press), A Portable Paradise venceu o T.S. Eliot Prize do mesmo ano. A obra chega ao Brasil numa coedição entre as editoras Incompleta e Jabuticaba, com tradução de Victor Pedrosa Paixão. Os escritores, pesquisadores e tradutores Prisca Agustoni e André Capilé assinam a apresentação e a orelha do livro.

_____________________________________________________________
Gostou deste post?
Então considere se inscrever na Newsletter para receber boletins mensais 
ou me acompanhar nas redes sociais: 

domingo, 16 de fevereiro de 2025

Essência

domingo, fevereiro 16, 2025 3


Não sei se veria os seus olhos ou se sentiria a sua mão sobre a minha cintura.
É noite.
Mar ou floresta?
Qualquer caminho que nos leve ao desconhecido serve.
Amor e desamor são dois lados da mesma moeda.
Estou com você.
Estou sozinha.
Nos dois casos, sempre estive.
Queria ter sonhos bons com fadas e unicórnios que me levassem a uma Terra sem Fim.
Queria tanto.
(Meu coração sempre transborda.)
Não sei se veria os seus olhos ou se sentiria o hálito do seu sorriso próximo ao meu.
Seus cachorros se dariam bem com as minhas gatas?
Sonho acordada, porque dormir me leva ao nada.
Sonhar é um verbo infinito, a reticência do seu corpo que me aquece.
Faz frio. Muito frio.
A distância é um átimo que nos afasta.
Será que você existe?
Ainda não sei se é você que procuro ou se é a minha essência.
É possível renascer várias vezes?
(Morrer eu sei que é.)
Nossa cozinha ganha cheiro de café passado na hora.
Nossos risos se misturam aos nossos fluidos.
O tempo não existe.
Sol e chuva se equilibram ao som da vitrola que ecoa,
O som da nossa dança preferida forma um arco-íris.
Não sei se sonhar acordada é ler Drummond ou qualquer poeta desconhecido.
Clarice me encara oblíqua como se dissesse “não desista!”.
As folhas das árvores despencam com o vento,
Elas me abraçam enquanto sorrio.
Faz frio. Ar sem água.
As árvores estão secas. Eu, também.
Penso demais e não saio do lugar.
Penso demais e mato os meus sonhos.
Penso em você e em como poderíamos nos encaixar:
Juntos e perfeitos, trocando a existência da vida.
Você, cheio de verso.
Eu, Hécate, poesia.
_____________________________________________________________
Gostou deste post?
Então considere se inscrever na Newsletter para receber boletins mensais 
ou me acompanhar nas redes sociais: 

domingo, 9 de fevereiro de 2025

Maresia

domingo, fevereiro 09, 2025 3


“Estou sendo atropelada por uma onda de amor”, me ouvi dizendo a uma amiga mais próxima. Há tempos — anos, sem exagero algum —, não me sentia assim. Bytes que vêm e vão também é troca? Faço pontes entre o meu cantinho e lugares remotos. Assim celebro as pequenas conquistas diárias. O tempo passa de modo distinto, e eu fico pensando quantos anos cabem nesse intervalo que chamo de temporada 2020-2021. Muitas pessoas vieram — algumas delas parecem estar aqui desde sempre — e outras se foram. Aprender a me respeitar é mais que preciso, é questão de sobrevivência.

Leio poesia como quem respira. Cada verso agita as moléculas do meu corpo, reverberando vida. “Deu para ver na sua pele o quanto você parecia feliz por estar ali”, foi o que a minha amiga respondeu. Cada vez mais eu penso sobre o ser inteira. Em um mundo que acelera tudo em nome da produtividade, quero estar lenta, entregue e completa nas minhas relações com os outros.

Escrevo. Solto pensamentos nas páginas do meu diário sem pensar muito o que vou fazer com eles. É preciso fazer algo?! Escrevo, faço polaroides, brinco com as gatas, observo o céu. Será que voltarei a compartilhar silêncios amorosos com quem me quer bem?

A roda da fortuna está girando. Tenho sorte de receber avisos amorosos de oráculos, anjos e pessoas que me querem bem — Deus tem ótimos mensageiros. Tenho sorte por receber amor de onde menos espero. É claro que há decepções pelo caminho, que há dores pelo caminho, que há genocidas pelo caminho. Nada é cem por cento flor, mas continuo plantando e lutando. Uma hora a semente germina.

Há tempos não punha os pés fora de casa. Não sabia que agora dá para pagar o metrô com aplicativo do celular ou que finalmente arrumaram o poste e a minha rua está melhor iluminada à noite. Há tempos não saía, mas fui brindada com uma chuva de folhas das árvores sobre a minha cabeça — elas me deram o melhor de si. O amor vem de todos os lados ou sou eu que sempre me transbordo demais?

Os últimos trinta dias foram tão intensos quanto um passeio pela maior montanha-russa do mundo. Isso, de algum modo, me deixa de ressaca — uma ressaca boa, de quem tem histórias para contar. Vou com as ondas, sacolejando de um lado a outro, tentando tirar o melhor de cada experiência. A natureza também sou eu.

Converso sobre a previsão do tempo com quem sente mais frio que eu. Passo café no meio da tarde. Mergulho em sonhos com Netuno. Tenho conversas profundas sobre sentimentos piegas. Reflito sobre o que quero deixar de legado. Coleto os pequenos acontecimentos e os coloco na prateleira da vida. O tempo, por sua vez, brinca de se arrastar e correr num piscar, enquanto eu ouço os lendários entoando clássicos do rock no player do meu computador. Me rendo a uma atmosfera de esperança que me circunda, me empurrando em direção ao futuro — seja ele qual for.

Talvez eu esteja quebrando a promessa de enviar uma crônica por mês. Não sei se o que escrevo pode ser considerado crônica (no sentido Rubem Braga de ser), mas sigo. Sigo, porque tenho sede de me interligar com quem me lê. Sigo, porque quero me conectar ao mundo como fazem os bytes do meu computador. Sei que minha sede profunda nunca acabará. Ela me faz ser e estar aqui. Completa. Inteira. Sempre.

E você? Você também está me lendo por inteiro?

Olho para as minhas inconsciências. Elas são mapas para eu não me perder.

Este texto foi enviado na minha newsletter em 30 de maio de 2021. Para receber outras crônicas como esta em seu e-mail, inscreva-se
_____________________________________________________________
Gostou deste post?
Então considere se inscrever na Newsletter para receber boletins mensais 
ou me acompanhar nas redes sociais: 

domingo, 2 de fevereiro de 2025

{Resenha} Quarto de despejo: diário de uma favelada, de Carolina Maria de Jesus

domingo, fevereiro 02, 2025 2


O dia a dia da favela e a luta por sobrevivência são os objetos de observação, vivência e registro de Carolina Maria de Jesus em Quarto de Despejo: diário de uma favelada. O livro, escrito em formato de diário, registra desde os acontecimentos mais corriqueiros de sua autora, até fatos históricos (e como eles interferem na vida dos moradores da extinta favela do Canindé, na Zona Norte de São Paulo).

As entradas vão de 1955 a 1960 e apresentam com muita honestidade as mazelas e a solidariedade existente nesta região tão precária e periférica. Carolina, mãe de dois meninos (João e José Carlos) e de uma menina (Vera Eunice), se desdobra numa rotina pesada de catadora de papel, ferro e estopa, para alimentar a si e aos filhos — nem sempre com sucesso — e para criá-los da melhor maneira possível dentro de uma comunidade insalubre.

Fora de seu barraco de madeira e papelão há brigas por motivos torpes, fofoca, sexo e prostituição, violência entre adultos, contra mulheres e crianças, alcoolismo, meninos e meninas morrendo por causa da desnutrição. A autora, por vezes separa brigas, protege mulheres e crianças, vai atrás da polícia, se indigna com o tratamento que a vizinhança dirige aos filhos dela e aos dos outros e com a displicência dos políticos que aparecem na favela apenas em época de eleição.

Dentro do barraco há a falta de estrutura (água encanada, esgoto, energia elétrica), de comida, de roupas e calçados, de itens de higiene e limpeza. Sobram apenas as pulgas e a falta de privacidade, ainda que Carolina prezasse muito por se separar de todo o caos.

Embora a rotina seja muito similar todos os dias — acordar, pegar água, fazer café, alimentar os filhos, catar papel, escrever —, é justamente nas pequenas nuances que Quarto de Despejo ganha forma e força: seja na reflexão de sua autora sobre o governo, seja na lupa que ela coloca na favela ao apresentar os dias sem comida, o diálogo com os vizinhos, a generosidade na partilha do pouco, a gangorra entre desespero e esperança em dias melhores.

Como professora de escrita literária, me encontro com muitas mulheres que têm medo de dizer que são escritoras — a insegurança de uma possível falta de perfeição textual está sempre à espreita. Ver como a Carolina Maria de Jesus se vê como escritora desde sempre e como a comunidade a reconhece como tal, apesar das adversidades vivas por todos é acalentador e exemplo. As pessoas ao seu redor a viam como escritora, porque ela sempre se apresentou assim. E muitas delas tinham medo de ter seus nomes divulgados no diário, a exemplo do pai de Vera Eunice que, mesmo atrasando a pensão da filha, teve o pedido atendido.

Como uma criança que cresceu entre o fim dos anos 1980 e ao longo dos anos 1990, ouvi muito do registrado na obra: o medo infantil de não ser uma criança comportada e ir parar no Juizado (de Menores); o medo do adulto negro e periférico de andar sem documento e ser tido como vagabundo, bandido; a necessidade do negro estar sempre extremamente arrumado para não ser desrespeitado gratuitamente; a morte por desnutrição; a truculência policial (que muitas vezes escolhe o tratamento dado às pessoas de acordo com o bairro em que ela está ou reside*).

Algumas dessas coisas perduram até hoje, o que só reforça que mais do que um simples diário, Quarto de Despejo é um retrato fiel do Brasil.

capa.


Livro: Quarto de Despejo: diário de uma favelada
Autora: Carolina Maria de Jesus
Editora: Ática
Páginas: 200
Apresentação/sinopse: O diário da catadora de papel Carolina Maria de Jesus deu origem à este livro, que relata o cotidiano triste e cruel da vida na favela. A linguagem simples, mas contundente, comove o leitor pelo realismo e pelo olhar sensível na hora de contar o que viu, viveu e sentiu nos anos em que morou na comunidade do Canindé, em São Paulo, com três filhos.

*Leia reportagem sobre isso, aqui e aqui.
_____________________________________________________________
Gostou deste post?
Então considere se inscrever na Newsletter para receber boletins mensais 
ou me acompanhar nas redes sociais: 

domingo, 26 de janeiro de 2025

{Fotografia} Pausa para respirar #7

domingo, janeiro 26, 2025 6


Uma das coisas mais legais de 2024 foi poder ter ido à praia. Este passeio abriu as comemorações do meu aniversário, em setembro. Foi bacana, porque fui com os meus pais, e a gente se divertiu muito, apesar de ter sido um bate e volta.

A princípio, iríamos a Santos, mas no meio do caminho mudamos de ideia e fomos parar na Riviera de São Lourenço. Como descemos a serra num dia de semana, a praia estava MUITO tranquila. Além disso, embora na capital o sol estivesse reinando, no litoral estava nublado. Viajamos naquela semana em que o interior estava sofrendo com as queimadas, então até a fumaça tinha descido a serra. 

Apesar dessas adversidades, não deixei de me divertir. Eu AMO ir à praia, mas quase nunca tenho a oportunidade de fazer isso. Sendo assim, agarrei com unhas e dentes e me joguei no mar, mesmo com a água estando fria. Parecia uma criança e, se esse papo de criança interior for verdadeiro, a minha foi bem feliz!

Abaixo alguns dos registros feitos com a boa e velha cybershot. 😉

Uma conchinha fofinha 😍



Já diria Diogo Nogueira: 🎶Pé na areia, a caipirinha, água de coco, a cervejinha
Pé na areia, água de coco, beira do mar🎵


Pessoas ao longe. 


Uma ilha. ⛵

Nós respeitamos o mar, e o mar nos respeita. 😉


Por fim, a famigerada selfie — esta, feita com o celular:

Solar, salgar



Veja também: outras edições do Pausa para Respirar:
01 ⏯️ 02 ⏯️ 03 ⏯️ 04 ⏯️ 05 ⏯️06 ⏯️


_____________________________________________________________
Gostou deste post?
Então considere se inscrever na Newsletter para receber boletins mensais 
ou me acompanhar nas redes sociais: 

domingo, 19 de janeiro de 2025

{Resenha} Canção para ninar menino grande, de Conceição Evaristo

domingo, janeiro 19, 2025 6



Canção para ninar menino grande, de Conceição Evaristo, é um livro que contém muitas camadas, aquela leitura que a cada vez que a revisitamos descobrimos mais e mais coisas tanto sobre as personagens, quanto sobre nós mesmos.

A obra nos apresenta a história de Fio Jasmim, um homem negro, que trabalha em uma ferrovia, e de todas as mulheres que passaram por sua vida: desde a oficial — com quem casou e teve os ditos “filhos oficiais” — a todas as outras que conheceu em suas viagens a trabalho.

Dito assim, pode parecer que Fio Jasmim é apenas mais um homem qualquer; mas, ao adentrarmos na narrativa, a autora nos leva a refletir sobre o racismo estrutural, sobre a masculinidade frágil, sobre a coragem e determinação de algumas dessas mulheres e sobre a pressão sofrida por todas elas, a que algumas sucumbiram. Tudo isso, narrado a partir de uma força poética que já é tão característica da literatura de Evaristo.

A obra coloca uma lente na masculinidade tóxica vivida por homens em geral e mais ainda, na que é vivida pelos homens negros. Homens estes que são cobrados de uma virilidade sempre pronta, em riste e forte, e sem o direito a sensibilidade alguma. Ao ler o livro de Conceição Evaristo, observamos o outro lado, o efeito — muitas vezes geracional, já que Jasmim aprendeu o que sabia com os homens mais velhos que o rodeiam — do estereótipo do malandro aproveitador que é tido como uma máquina de obter e dar prazer e que abandona uma mulher grávida a cada estação por onde passa.

O legado, como dito e muito bem-marcado pela autora, é geracional: assim como há os efeitos do estereótipo do homem negro, há também uma lente para a mulher negra — seja ela tida como “de família” ou “da vida” — qual é o espaço que essa mulher ocupa na sociedade? Se jovem e bonita tem seu corpo sexualizado; se mais velha ou mãe, muitas vezes assume o lugar de “lutadora que cria os filhos sozinha”, geração após geração.

No livro, Conceição Evaristo maneja não só (um dos muitos modos de) ser negro no Brasil, mas também como essa relação de homem que sempre é forte, conquistador e viril impacta diretamente na vida das mulheres e dos filhos que elas eventualmente têm. De como, para o homem ser o garanhão é um sinônimo de virtude; quanto para as diferentes mulheres (negras ou não), estar como alguém como Fio Jasmim é cair em desgraça.

Por meio das mulheres que amaram Fio Jasmim; nós, leitores, passamos a compreender a ferida estrutural da nossa sociedade, que descende — em grandíssima parte — de pessoas como ele e seus amores. Conceição Evaristo, por meio de sua escrevivência, coloca o dedo na ferida e brada um “precisamos falar, sim, sobre isso, sim”, afinal, ainda hoje dados estatísticos comprovam que o número de mães que criam seus filhos sozinhas no Brasil ainda é alto*.

Há um vazio existencial enorme para praticamente todos os personagens do livro. O vazio provocado pela estrutura social que educa pela lente do racismo (há príncipes negros na escola?) e do machismo desde a infância e que a objetificação dos corpos não consegue preencher. Homens como Fio Jasmim têm que se provar o suficiente o tempo todo, para que se sinta existente e aceito na sociedade — mesmo que ele nem esteja com tanta vontade assim de sexo (como sair da cidade sem ter transado como alguém?).

O corpo como moeda de troca para preenchimento de um vazio. O vazio causado por uma sociedade egocêntrica que não questiona o sentimento alheio. O poder de decisão, de resignação, de curiosidade, de pulsão de vida e morte. A história dos nossos e das nossas ancestrais. Questionamentos. Poder de estagnação e igualmente, de mudança. É possível encontrar tudo isso em Canção para ninar menino grande, de Conceição Evaristo. Que sorte a nossa, ter uma autora como ela no nosso cânone. Que sorte a nossa!

Capa (divulgação da editora).



Livro: Canção para ninar menino grande
Autora: Conceição Evaristo
Editora: Pallas
Páginas: 136
Apresentação/sinopse: Trata-se de um mosaico afetuoso de experiências negras, um canto amoroso e dolorido. Na figura do personagem Fio Jasmim, Conceição discute com maestria as contradições e complexidades em torno da masculinidade de homens negros e os efeitos nas relações com as mulheres negras. O livro é um mergulho na poética da escrevivência e ao mesmo tempo um tributo ao amor sob uma ótica poucas vezes vista na literatura brasileira.

*Segundo reportagem da Agência Brasil (leia aqui), em 2022, havia mais de 11 milhões de mães solo no Brasil. 
_____________________________________________________________
Gostou deste post?
Então considere se inscrever na Newsletter para receber boletins mensais 
ou me acompanhar nas redes sociais: 

domingo, 12 de janeiro de 2025

7 hábitos que eu implementei em 2024 e que manterei em 2025

domingo, janeiro 12, 2025 14


No post de hoje, trago sete hábitos saudáveis que implementei em 2024 e que quero levá-los para 2025. Todos eles me auxiliam na minha rotina e tornam a minha vida mais fácil de ser vivida, em meio à correria do dia a dia.

1. Ter uma garrafa grande de água

Isso foi um divisor de águas na minha rotina. Comprei a garrafa de água mais simples que achei na Daiso, mas que era a maior que tinha na loja naquele dia. O que eu buscava? Um litro ou mais.

Encontrei uma que comporta 1,1 litro de água e, embora ela não seja a melhor do mundo em termos de se manter fechada (se eu a colocar na bolsa e ela virar, vai molhar tudo), ficou muito mais fácil para eu controlar o quanto bebi de água por dia. (Nos dias de onda de calor, cheguei a beber 4 delas.)

O meu corpo todo passou a responder melhor, minha pele ficou tão bonita que as pessoas ao meu redor repararam e vieram me perguntar o que eu ando fazendo, quando tudo o que fiz de diferente foi beber mais água.

2. Comprar chás de diferentes sabores

Embora eu AME café, eu gosto muito de resolver a minha vida com chá. Comi algo que não caiu bem? Tomo chá. A barriga ficou inchada? Tomo chá. Estou ansiosa ou tensa? Tomo chá. Quero dar um quentinho no coração? Tomo chá. Preciso me concentrar? Tomo chá. Está muito calor? Chá gelado com limão. Enfim, você entendeu, não é? 

Ter um chá para cada ocasião tem sido muito, muito gostoso porque me dá uma sensação de aconchego, de que estou cuidando de mim mesma ao longo do dia.

3. Criar estações ao organizar os meus itens

Eu sempre fui uma pessoa organizada, mas vez ou outra tinha itens diferentes em lugares diferentes. Seja porque me esquecia onde era o lugar original, seja porque o lugar original não era funcional e me dava preguiça de guardá-los lá. Entretanto, resolvi mudar isso. Fui criando o que chamo de "estações" e armazenando tudo junto. Dois grandes exemplos: tudo o que envolve papelaria, todas as coisas das gatas. 

Isso facilita tanto para mim, quanto para se alguém da minha família precisar de alguma coisa. Quando isso acontece basta responder que está na estação tal, que a pessoa acha.

4. Me organizar de acordo com as estações do ano

Apesar de noturna, eu sou uma pessoa muito solar e funciono melhor na primavera e no verão, do que no outono e no inverno. Sendo assim, eu quebro o meu planejamento de acordo com as estações do ano. Eu sei que no inverno eu tenho mais dificuldade de sair de casa, que preciso dormir mais, que no verão tenho mais energia. Então, planejo os projetos que demandam mais energia de janeiro a março e de setembro a dezembro, por exemplo. 

5. Ter um hobby para espairecer 

Sabe aquele hobby que você faz porque gosta, não porque quer ser bom naquilo, e que usa para espairecer depois de um dia cansativo? Pois bem, os meus são o tricô e a aquarela. O tricô, com mais frequência. Amo ter algo meu que não é para fazer dinheiro, que faço porque gosto, no meu tempo, sem pressão.


6. Ouvir pelo menos 10 minutos em língua estrangeira todos os dias

Uma coisa que eu gosto de fazer é ouvir as línguas estrangeiras que falo (inglês e espanhol) todos os dias. Normalmente, faço isso usando o YouTube, seja vendo vlogs, seja assistindo aos programas de notícias. Tem sido legal não só pelo exercício em si, mas também porque posso variar nos sotaques, aprender palavras novas (algumas, que eu nem sei como seriam em português) e ver como os outros países têm visões diferentes sobre determinados temas (normalmente relacionados à política e à economia).

7. Manter a caixa de entrada do e-mail zerada

Há alguns anos eu zerei todas as minhas caixas de entrada. Lembro-me que levei alguns dias nessa tarefa de arquivar o que era preciso e de jogar fora o que não era. Hoje, o combinado que tenho comigo é: tudo o que está na minha caixa de entrada está pendente por algum motivo. Quando resolvo, já faço esse redirecionamento de guardar ou excluir. 

Zerar a caixa de entrada é algo que dá trabalho, mas que vale a pena. Além de manter o digital em ordem, depois que se pega o jeito, o mental também fica muito mais organizado sem tanta informação desnecessária à mostra. Recomendo demais!


E você?

Conte pra mim: quais são os hábitos que você tem que tornam a sua vida mais fácil de ser vivida? Há algum hábito de que você não abre mão? Me conta nos comentários quais são as suas dicas que facilitam o seu dia a dia e se você gostou de alguma das que dei aqui. 😉

_____________________________________________________________
Gostou deste post?
Então considere se inscrever na Newsletter para receber boletins mensais 
ou me acompanhar nas redes sociais: 

domingo, 29 de dezembro de 2024

O limbo e uma dose de esperança

domingo, dezembro 29, 2024 4
Foto de Ch Photography na Unsplash.


Escrevo este texto em 25 de dezembro, também conhecido como Natal. Desde pequena, me pergunto se a gente comemora o aniversário de Jesus — e, por consequência, todos os outros — do modo correto. Minha cabeça de virginiana que é analítica, mas que não sabe lidar com a exatidão matemática, se questiona se o certo não seria usar o fuso horário de Belém e fazer as contas. Afinal, 25 de dezembro em Belém pode ser 26 na Austrália e 24 no Chile, não pode? (Não sei, nunca fiz as contas.)

Estava vendo um reel que mostrava uma moça islandesa. Na Islândia, a comemoração começa às 6 da tarde do dia 24 de dezembro, mas os presentes começam a chegar 13 dias antes, trazidos por 13 papais Noel (ou Noéis?) diferentes. Segundo ela, alguns deles são assustadores. Todos são irmãos e filhos de uma bruxa. Assim como acontece com o Papai Noel universal, eles só presenteiam as crianças comportadas (as que não se comportam são devoradas pela bruxa).

Minha mãe conta que ela deixava o sapatinho na janela durante a época de Natal e que uma tia — irmã do meu avô — costumava deixar presentes para ela e para os meus tios em nome do bom velhinho. O medo da minha mãe era receber um pedaço de carvão, como “punição” por não ter sido uma boa menina. Li na Deutsche Welle que essa é uma das tradições italianas, que lá, “a bruxa Befana leva doces para as crianças boas. As que foram ‘malvadas’ recebem um pedaço de ‘carvão’ feito de açúcar.” — não sei como a história do carvão foi chegar na Zona da Mata pernambucana, mas aí está uma tradição que se repete.

Este ano ganhei um único presente de Natal. Biscoitos de gengibre numa caixa bonitona que veio da minha irmã do coração. Ela sabe o quanto amo o Natal, embora as pessoas ao meu redor não gostem muito da data. O presente, me emocionou. Já eu, comprei alguns que quero entregar pessoalmente, conforme for encontrando os queridos por aí.

for encontrando”. Acho que o gerúndio é o motivo de eu ter começado a escrever este texto. Gosto de desacelerar em dezembro e dessa espécie de limbo nostálgico para onde ele me transporta. É uma coisa entre dois mundos. Apesar de estar aqui, olho para trás, numa tentativa de saber se saí ou não do lugar; olho para frente, numa tentativa de viver uma vida ainda mais harmoniosa comigo mesma. É um limbo e uma dose de esperança, ainda que a palavra “limbo” me remeta a um espaço meio de areia movediça.

2024 foi um ano atípico. De um lado, vi muita gente que eu amo perdendo pessoas queridas ou vivendo um luto de anos anteriores, vi muita gente ficando doente — eu mesma, inclusive, passei meu aniversário bem ruim. Além de toda pobreza e fome e guerras no mundo, das tragédias climáticas, como a que assolou o Rio Grande do Sul no início do ano e do racismo, houve todos os problemas da vida pessoal e familiar pelos quais muita gente também passa. A sensação que me dá é que se a gente ficar olhando muito pra tudo o que vê nas notícias e ao redor, que a gente será engolido pelo limbo movediço.

Mas há esperança. Sempre há. Se de um lado houve tantas dores, do outro, ganhei novas alunas, trabalhei no meu terceiro livro, reativei meu canal no YouTube, voltei à newsletter, publiquei meu primeiro livro traduzido para o espanhol, consegui me colocar alguns pontos finais em relacionamentos que eram tóxicos, me curei de muita coisa, me diverti nos inúmeros shows que fui. Ter contato com a arte me alimenta: sempre há o lado meio cheio do copo.

2025 vem aí, “um ano novo que traz consigo 365 páginas de possibilidades”. Alguns clichês não são clichês à toa. Há algo na sabedoria popular que nos dá um alento, um fôlego. Que 2025 seja isso: um sopro de vida para o nosso espírito realizar os nossos desejos mais profundos sem medo, vergonha ou culpa. Que, planejando ou não, nós cheguemos naquele espaço em que nos sentimos verdadeiramente acolhidos. Que tenhamos a coragem de atravessar o que tivermos que atravessar e que todos os caminhos nos levem na direção de casa. 😊


Este texto foi enviado em primeira mão na minha newsletter de presente de Natal. Para receber este e outros textos, inscreva-se aqui.

Boas festas! 
_____________________________________________________________
Gostou deste post?
Então considere se inscrever na Newsletter para receber boletins mensais 
ou me acompanhar nas redes sociais: 

domingo, 15 de dezembro de 2024

{TAG} Natal Brasileiro #AcabouoPapel

domingo, dezembro 15, 2024 14


Oi, pessoal!
Quem me conhece sabe que eu AMO o Natal. Amo o clima, amo as cores, amo tudo relacionado. Por isso, quando entrei no Canto Cultzíneo e vi a Tag que Nana respondeu, eu sabia que tinha que responder também. 😊

A Nana contou no blog dela que a tag Natal Brasileiro #AcabouoPapel nasceu no Canal da Bell Lopes, o Brincando de Escritora — que eu também amo demais.

🎅🎄🎅
Lembrando que, caso queiram, vocês podem comprar os livros citados nesta TAG (e tantos outros!) na loja de afiliados do Projeto Escrita Criativa na Amazon, clicando aqui.
Apesar de não mudar o valor para vocês, o Projeto recebe uma pequena comissão. O seu apoio é muito importante para a continuidade do trabalho que eu desenvolvo com as meninas por lá.
🎅🎄🎅

Amigo secreto:

Um livro que deve virar um presente.


Pode começar a TAG fazendo uma propaganda? Eu recomendaria dar os meus livros de presente (aliás, vocês podem comprá-los aqui). Acho que poesia é sempre uma boa recomendação de presentes, sejam eles de Natal ou não.

Inimigo oculto:

Um livro que você NUNCA daria de presente de amigo secreto:



Nem este, nem nenhum outro livro do Lobato. Aqui não apoio o trabalho de um autor que tem vários problemas relacionados ao racismo.


Panetone:

Um livro que você já tentou dar várias chances, mas não funcionou para você:



Ai, gente, juro que eu tentei ler mais de uma vez e não rolou. Eu entendo o porquê de a crítica aclamá-lo (realmente é muito bem-escrito), entretanto, a história não me pega.

PS: Não entendi por que essa categoria se chama panetone, já que panetone é sempre TÃO gostoso.

Papai Noel:

Um livro que você ganhou de presente:


Eu já ganhei três ou quatro livros da Livia Brazil (Obrigada, Liv! 💚). Este foi o último, ela me deu de aniversário no ano passado, porque sabe o quanto o meu amor pelo Matthew é gigante. 💜

PS²: Vocês podem conhecer mais do trabalho da Livia aqui.

Ceia em Família:

Um livro com uma família que você adoraria se convidar para uma festa natalina:



Serve uma família que existe de verdade? Estou lendo a biografia do Bono e amando cada linha, cada segundo. Superpassaria o Natal com ele e com a Ali. (Alô, Bono! Me convida, por favor?! hahahaha)


Especial de fim de ano:

Muitas pessoas não gostam deste livro. Ao longo da leitura, descobri o porquê:


Há livros que eu sei que são bem-escritos, mas que eu simplesmente não gosto (como foi o caso do da Ferrante acima). Entretanto, há livros que eu não gosto porque a escrita é ruim. É o caso de 50 tons de cinza. Me lembro que faltavam 40 páginas e eu estava pior do que a Phoebe gritando "my eyes, my eys", porque além de toda a problemática que o assunto traz (romantizar a violência, eu, hem?!), ainda tinha o fator escrita ruim. 




🎄🎅🎄


E vocês? Quais seriam as suas respostas? Me contem nos comentários! 
_____________________________________________________________
Gostou deste post?
Então considere se inscrever na Newsletter para receber boletins mensais 
ou me acompanhar nas redes sociais: 

domingo, 8 de dezembro de 2024

{Resenha} O ato criativo: uma forma de ser, de Rick Rubin

domingo, dezembro 08, 2024 4


Quando a editora Sextante lançou O ato criativo: uma forma de ser, de Rick Rubin, a internet não falava em outra coisa. Eu não sou muito de ler os livros que estão no hype, mas aproveitei uma visita à livraria Martins Fontes para comprar um exemplar e ver se era tudo isso que todo mundo andava dizendo.

O livro é bom, sem dúvida. Penso que é uma excelente porta de entrada para quem nunca leu nada sobre viver uma vida autoral e criativa. Também acredito que pode inspirar quem se vê em uma fase mais dura, de bloqueio criativo. Entretanto, se você for um leitor como eu, que já leu dezenas de livros sobre criatividade e que vê na arte uma forma de devoção, talvez este livro seja mais do mesmo. Embora Rubin seja muito didático e objetivo, ele não me trouxe nenhum conhecimento novo sobre o assunto. Em algumas passagens, inclusive, achei que há outros autores que apresentam determinados pontos de vista de formas melhores do que as dele.

Quando você segura uma peça central do quebra-cabeça e fita a mesa vazia, é difícil saber onde colocá-la. Se o quebra-cabeça estiver completo exceto por essa única peça, você saberá exatamente qual é o lugar reservado a ela. Em geral, o mesmo acontece com a arte. Quanto mais da obra pudermos conhecer, mais fácil será localizar com elegância e clareza os detalhes finais. (Rick Rubin, O ato criativo, página 127)
Início do capítulo sobre sucesso. Página 160, de O ato criativo, de Rick Rubin

Rubin é um produtor musical de sucesso e traz a sua experiência para o livro. Por mais que ele tente falar de outras áreas artísticas (como a escrita, a fotografia etc.), ele ainda se prende mais ao ramo dele de trabalho. Tanto nesse sentido mais prático, quanto no sentido mais espiritual a que ele se refere da criatividade, penso que os livros da Julia Cameron (também publicados no Brasil pela editora Sextante) aprofundam mais esses pontos.

Entre em sintonia com esses sentimentos durante o trabalho criativo. Procure as reações internas. De todas as experiências que surgem no decorrer do processo, tocar o êxtase e permitir que ele guie nossas mãos é a mais profunda e preciosa de todas elas. (Rick Rubin, O ato criativo, página 169)

Talvez esta sensação que senti de falta de aprofundamento de alguns pontos seja fruto da tentativa de cobrir os assuntos mais importantes da vida criativa. Quando olha-se o "Sumário", tem-se uma ideia dos assuntos abordados em cada um dos capítulos que vão desde entrar em sintonia com a fonte, passando por plantar e colher frutos da semente criativa. Ele ainda passa por pontos como o olhar para dentro e o subconsciente, a importância da paciência, o equilíbrio entre o romper com a mesmice, a espontaneidade, ter regras e ser constante, o não competir, o trabalho em equipe, a adaptação, a sinceridade, a harmonia, dentre outros. Entendo que se ele resolvesse aprofundar de fato cada um desses pontos, o livro seria imenso.

Sumário de O ato criativo, de Rick Rubin.

Todas as coisas vivas estão interconectadas e dependem umas das outras para sobreviver. A obra de arte não é diferente. Ela gera entusiasmo em você. Exige sua atenção. E sua atenção é exatamente o necessário para que ela cresça. É uma relação harmônica de dependência mútua. O criador e a criação recorrem um ao outro para prosperar. A vocação do artista é seguir o entusiasmo. Onde há entusiasmo há energia. E onde há energia há luz. (Rick Rubin, O ato criativo, páginas 245-246)

Como disse no princípio, não é um livro ruim, apenas não me entregou toda a expectativa que o buzz da internet criou antes da minha leitura. Se você nunca leu nada sobre criatividade ou quer relembrar algo sobre o assunto, este O ato criativo pode ser um bom ponto de partida.

Capa.


Livro: O ato criativo: uma forma de ser
Título original: The creative act: a way of being
Autor: Rick Rubin
Tradução: Beatriz Medina
Editora: Sextante
Páginas: 288
Apresentação/Sinopse: O lendário produtor musical Rick Rubin é um mestre em ajudar artistas dos mais variados gêneros a se conectarem com a fonte de sua criatividade para descobrir quem são de verdade e o que de melhor têm a oferecer ao mundo.
Ao longo de anos estimulando as pessoas a transcenderem suas limitações e resgatarem esse estado puro de inocência e inspiração dentro de si, Rubin compreendeu que ser artista não tem a ver com criar obras de arte; tem a ver, sim, com uma maneira peculiar de estar no mundo e de se relacionar com ele.
Este livro é uma generosa reflexão que ilumina o caminho do artista e nos convida a seguir por essa estrada – pois a arte e a criatividade estão à disposição de cada um de nós, como um direito de nascença.
“Não importa se estamos produzindo arte formal ou não; todos nós vivemos como artistas. Pelo mero fato de estarmos vivos já podemos nos considerar participantes ativos do processo contínuo de criação. Viver como artista é um modo de estar no mundo. É uma prática de atenção.” – Rick Rubin

_____________________________________________________________
Gostou deste post?
Então considere se inscrever na Newsletter para receber boletins mensais 
ou me acompanhar nas redes sociais: 
Algumas Observações | Ano 18 | Textos por Fernanda Rodrigues. Tecnologia do Blogger.