O Carro Voador / 1913 |
- Tais Luso de Carvalho
Marc Chagall, judeu russo, nasceu em Vitebsk, hoje Bielo-Rússia, no ano de 1887. Na arte de Chagall, o contra-senso e o sonho constituem o centro de toda a sua obra.
Viveu a maior parte de sua vida na França, onde chegou em 1910, após uma estada em Petersburgo, onde achou impossível de viver.
'Nem a Rússia Imperial, nem a União Soviética precisam de mim. Sou um mistério, um estranho para eles. Talvez a Europa me ame, e com ela minha Rússia'.
Essa dupla personalidade moldaram sua obra. Estudou em São Petersburgo, Paris e Berlim.
Quando esteve em Paris, em 1910, e consequentemente no Louvre, teve a certeza de que nenhuma academia poderia lhe dar o que via em Paris: várias exposições, suas vitrines, seus museus... E foi em Paris que manteve contato com grandes nomes da vanguarda cultural da época de movimentos como o cubismo e o modernismo, respectivamente com Robert Delaunay e Apollinaire, escritor francês de quem era grande amigo e que ajudou a promover sua primeira exposição em 1914 na Galeria Sturm, em Berlim. Ele e outros escritores apreciavam a fantasia e as cores de Chagall.
Tomando conhecimento de tais movimentos, aproveitou alguns elementos, porém sem nunca perder sua individualidade. A passagem de Chagall pelo cubismo pode ser observada na obra 'Eu e a Aldeia'. O estilo romântico e simbólico de Chagall deixou uma rica obra pictórica sobre a tradição judaica, mística e sonhadora, que o impulsionava à infância, ao mundo inconsciente e ao mundo de seus sonhos. Sua marca é bem definida, cheia de fantasia, camponeses e animais, muitas vezes sobrepostas.
Nenhum vínculo o ligou aos círculos oficiais da pintura russa da época, nem aos movimentos de vanguarda liderados pelo objetivismo do pintor Malevitch. Nada abalou o otimismo de sua arte. Com isso, André Breton o viu como um dos precursores do surrealismo.
Com o início da Guerra, Chagall voltou à Vitebsk, onde encontra Bella que se tornou sua esposa em 1915. Esse encontro foi importante para o desenvolvimento da obra artística de Chagall. Novo tema aflora: o amor. Em seguida ocupou o cargo de diretor de Vitebsk Art School, após a Revolução Russa. Porém, logo deixou a academia por divergências de opinião com Kazimir Malevich, e tornou-se diretor do Teatro do Estado judeu em Moscou em 1919. Depois de realizar alguns trabalhos em Moscou, voltou à Paris em 1923 onde a 'fama' o esperava.
Considerado o maior pintor judeu do século XX, aceitou a encomenda para ilustrar a Bíblia na década de 1930, convidado pelo marchand francês Ambroise Vollard, porém, pelo fato de ainda não dominar a técnica totalmente, os que depreciavam sua arte aproveitaram-se da ocasião – como o pintor Georges Rouault – para destilar seu veneno nas rodas dos modernistas de Paris. Porém não foi o que aconteceu: essa sua ilustração foi um dos pontos altos de sua carreira.
Segundo Chagall, no entender dos cubistas, a pintura era uma superfície coberta com formas em determinada ordem; pra ele, a pintura era uma superfície coberta com representações das coisas, em que a lógica e a ilustração não tinham importância.
Chagall produziu muito, como pintor, ilustrador literário, como ceramista, também no mosaico, no desenho de vitrais, dentre elas a Catedral de Metz, a Sinagoga, e a Universidade Hebraica Hadassah Medical Center, em Jerusalém.
A partir de 1935 o clima de guerra e de perseguição aos judeus repercutiu em sua pintura, na qual os elementos dramáticos, sociais e religiosos passaram a tomar vulto. Seu belo trabalho 'crucificação branca - 1938' – mostra seu temor pelos acontecimentos do mundo. Conquistou a admiração de um seleto público na Alemanha, formado por galeristas, colecionadores e diretores de museus da República de Weimar. Em meio ao horror da Guerra e da Revolução russa, Chagall pintou 'Duplo Retrato com um Copo de Vinho, um extraordinário cântico de alegria e de amor.
Em 1941, como judeu vivendo numa Paris ocupada pelos nazistas, fugiu para os Estados Unidos com sua família. Voltou para a França em 1948 se estabelecendo em Riviera. Daí em diante viajava pelo mundo para executar encomendas importantes de obras públicas. Um Museu dedicado a Chagall foi aberto em Nice no ano de 1973.
Não lhe interessou os debates literários, o sectarismo; bastaram-lhe a pintura e Bella, sua esposa. A preocupação de Chagal era pintar quadros onde elementos literários e polêmicos eram postos à margem. Sua reputação internacional foi estabelecida após uma retrospectiva de sua obra no Museu de Arte Moderna de Nova York.
Marc Chagall nasceu em Vitebsk (RUS) em 1887 e morreu em Saint Paul de Vence (FR) em 1985 aos 97 anos.
SOBRE SEU CASAMENTO...
Foi em 1915 que Chagal casou-se com sua namorada de infância, Bella Rosefeld, filha de um rico comerciante. Bella lhe inspirou muitas de suas obras, mas morreu em 1944 enquanto viviam em Nova York. Sua lembrança continuou a inspirar Chagall. Muito deprimido nos anos que se seguiram chegou a ter um filho com virginia Haggard, mas nunca se casou com ela.
Eu e a Aldeia / 1911
O Espelho
Aldeia russa sob a Lua / 1916
Crucificação Branca / 1938
Paris através da Janela / 1913
Calvário / 1912
The Sabbath / 1910
O negociante de gado / 1912
A Guerra / 1964
Referências:
Grandes Artistas / ed. Sextante
Tudo sobre arte / ed Sextante
Arte Contemporânea / Abril cultural