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Zenão de Cítio

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Zenão de Cítio
Nascimento 333 a.C.
Cítio, Chipre
Morte 263 a.C. (70 anos)
Atenas
Ocupação filósofo
Magnum opus A República
Escola/tradição estoicismo
Principais interesses lógica, física e ética
Ideias notáveis estoicismo
logos
eudaimonia
cosmopolitismo
Phantasiai
catalepsia

Zenão de Cítio (em grego clássico: Ζήνων ὁ Κιτιεύς; romaniz.: Zēnōn ho Kitieŭs; Cítio, 333 a.C.Atenas, 263 a.C.) foi um filósofo helenístico da Grécia Antiga, fundador do estoicismo. Nasceu em Cítio (atual Lárnaca), na ilha de Chipre.[1] Lecionou em Atenas, onde fundou a escola filosófica estoica por volta de 300 a.C. Com base nas ideias dos cínicos, o estoicismo enfatizava a paz de espírito, conquistada através de uma vida plena de virtude, de acordo com as leis da natureza. O estoicismo floresceu como a filosofia predominante no mundo greco-romano até o advento do cristianismo.

Zenão era de origem fenícia.[2] A maioria dos detalhes que se sabem acerca da sua vida foram preservados por Diógenes Laércio na sua obra Vidas e Doutrinas dos Filósofos Ilustres. Diógenes relata a lenda segundo a qual Zenão seria um comerciante e que, após sobreviver a um naufrágio na costa da Ática, teria sido atraído por alguns escritos sobre Sócrates[3] a um local de compra de livros em Atenas, para onde se teria transferido por volta de 312 ou 311 a.C. Teria perguntado como poderia encontrar tal homem. Em resposta, o livreiro teria indicado Crates de Tebas, o mais famoso cínico vivo naquele tempo na Grécia.[4]

Zenão é descrito como tendo uma aparência desgastada e bronzeada,[5] levando uma vida simples e ascética.[6] Isto coincide com os ensinamentos do cinismo, que foram, pelo menos em parte, continuados na sua filosofia estoica.

Em Atenas, Zenão foi discípulo de Crates de Tebas e estudou os antigos filósofos (dentre estes, Heráclito de Éfeso, que muito o influenciou). Teve também influência da escola megárica, incluindo Estilpo,[7] e dos dialéticos Diodoro Cronos,[8] e Fílon.[9] Também é referido ter estudado filosofia platónica sob direcção de Xenócrates,[10] e Polemão.[11]

Zenão começou os seus ensinamentos nos pórticos cobertos da ágora de Atenas conhecidos como Pórtico Pintado, em 301 a.C. Os seus discípulos foram conhecidos inicialmente como zenonianos, mas, eventualmente, começaram a ser denominados estoicos, um nome previamente aplicado a poetas que se congregavam no Pórtico Pintado.[12]

Entre os admiradores de Zenão, encontrava-se Antígono II Gónatas da Macedónia,[13] que, sempre que vinha a Atenas, visitava Zenão. É referido que Zenão terá recusado um convite para visitar Antígono na Macedónia, apesar de a sua correspondência preservada por Laércio[14] ser uma invenção de um retórico posterior. Zenão teria enviado o seu amigo e discípulo Perseu de Cítio,[14] que viveu na casa de Zenão.[15] Entre outros discípulos de Zenão, encontravam-se Aristo de Cítio, Esfero e Cleantes de Assos, que sucedeu Zenão como escolarca (líder da academia) da escola estoica de Atenas.[16]

Seguindo as ideias da Academia platónica, Zenão propôs uma tripartição na filosofia: lógica (incluindo retórica, gramática e as teorias da percepção e pensamento), física (não apenas do ponto de vista de ciência, mas também a natureza divina do universo) e ética. A lógica fornece um critério de verdade. A física constitui um materialismo monista e panteísta. A ética regula as ações humanas, cujo objetivo é a conquista da felicidade. Esta deve ser perseguida "segundo a natureza".

A doutrina filosófica de Zenão de Cítio afirma que o ser humano atinge a plenitude e a felicidade quando abandona todas as paixões terrenas, contrariedades, aborrecimentos e desassossegos. Para Zenão, a única forma de viver sem essas contrariedades é viver em ataraxia ou apatheia, ou seja, abandonado ao destino, impassivamente, nada receando e nada esperando.

Apesar de compartilhar diversos conceitos básicos da filosofia de Epicuro de Samos, Zenão e o estoicismo em geral divergem do epicurismo por entender que a virtude, e não o prazer, constitui o bem supremo. Além disso, consideram que o princípio-chave do universo é a lei racional da natureza, e não e o movimento aleatório dos átomos.

Porque as ideias de Zenão foram trabalhadas posteriormente por Crísipo de Solis e outros estoicos, pode ser difícil determinar, em algumas temáticas, precisamente o que pensava, mas a sua visão geral pode ser resumida abaixo.

O universo, na visão de Zenão, é Deus:[17] uma entidade divina racional, onde todas as partes pertencem ao todo.[18] Neste sistema panteísta, ele incorpora a física de Heráclito; o universo contém fogo-artesão divino, que controla todas as coisas[19] e que, estando imerso em todo o universo, deve produzir todas as coisas[19]

Este fogo divino[19] ou éter,[20] é a base de toda a actividade no Universo,[21] operando em matéria anteriormente passiva, ela própria nem aumentando nem diminuindo.[22] A substância primária no universo vem do fogo, passa pelo estado de ar, e depois torna-se água: a parte mais concentrada torna-se terra e a menos concentrada torna-se ar novamente, rarefazendo-se de novo em fogo.[23] As almas individuais fazem parte do mesmo fogo, como a alma-mundo do universo.[24] Seguindo Heráclito, Zenão adoptou a visão de que o universo passou por ciclos regulares de formação e destruição.[25]

A natureza do universo é tal que realiza o que é certo e previne o que é oposto,[26] e é identificado como destino incondicional,[27] ao mesmo tempo permitindo o livre-arbítrio que lhe é atribuído.[19]

Zenão, retratado por um académico medieval na Crónica de Nuremberga

Como os cínicos, Zenão reconhecia um bem único e simples[28] que seria o único motivo a ser atingido.[29] "A felicidade é um fluxo de vida bom," disse Zenão,[30] e isto apenas pode ser atingido através do uso da razão correta coincidente com a razão universal (logos), que tudo governa. Um mau sentimento (pathos) "é um distúrbio da mente repugnante à razão e contra a natureza."[31] Esta essência a partir da qual as acções moralmente boas emergem é a virtude.[32] O verdadeiro bem pode apenas consistir em virtude.[33]

Nenhum dos escritos de Zenão sobreviveu, excepto citações fragmentárias preservadas por escritores posteriores. Os títulos de muitos delas são, no entanto, conhecidos:[34]

  • Escritos sobre ética:
    • Πολιτεία - República;
    • ἠθικά - Ética
    • περὶ τοῦ κατὰ φύσιν βίου - Sobre o de acordo com a natureza;
    • περὶ ὁρμῆς ἧ περὶ ἁνθρώρου φύσεως - Sobre o impulso, ou sobre a natureza dos humanos;
    • περὶ παθῶν - Sobre as paixões;
    • περὶ τοῦ καθήκοντος - Sobre o dever;
    • περὶ νόμου - Sobre a lei;
    • περὶ Έλληνικῆς παιδείας - Sobre a educação grega;
    • ἐρωτικὴ τέχνη - A arte do amor.
  • Escritos sobre física:
    • περὶ τοῦ ὅλου - Sobre o universo;
    • περὶ οὐσίας - Sobre o ser;
    • περὶ σημείων - Sobre os símbolos;
    • περὶ ὄψεως - Sobre a visão;
    • περὶ τοῦ λόγου - Sobre o logos.
  • Escritos sobre lógica:
    • διατριϐαί - Discursos;
    • περὶ λεξεως - Sobre o estilo verbal;
    • λύσεις, ἔλεγχοι - Soluções e refutações.
  • Outras obras:
    • περὶ ποιητικῆς ἀκροάσεως - Sobre leituras poéticas;
    • προϐλημάτων Όμηρικῶη πέντε - Problemas homéricos;
    • καθολικά - Assuntos gerais;
    • Άπομνημονεύματα Κράτητος - Reminiscências de Crates;
    • Πυθαγορικά - Doutrinas pitagóricas.

A mais famosa destas obras foi A República, escrita em imitação ou oposição a Platão. Apesar de não ter sobrevivido, mais é conhecido acerca desta sua obra do que sobre qualquer outra obra sua. Apresenta a visão de Zenão sobre a sociedade estoica ideal, construída sob princípios de igualdade.

Referências

  1. Hilton Japiassú, Danilo Marcondes (1993). 'Dicionário básico de filosofia, Zahar. p. 285. ISBN 978-85-378-0341-7.
  2. Nicola, U. Antologia ilustrada de filosofia: das origens à idade moderna. Tradução de Maria Margherita de Luca. São Paulo. Globo. 2005. p. 111.
  3. Diógenes Laércio, vii. 2,28,31-32
  4. Diógenes Laércio, vii. 2-3
  5. Diógenes Laércio, vii. 1
  6. Diógenes Laércio, vii. 26-27
  7. Diógenes Laércio, vii. 2, 24
  8. Diógenes Laércio, vii. 16, 25
  9. Diógenes Laércio, vii. 16
  10. Diógenes Laércio, vii. 2; note que Xenócrates morreu entre 314/313 a.C.
  11. Diógenes Laércio, vii. 2, 25
  12. Diógenes Laércio, vii. 5
  13. Diógenes Laércio, vii. 6-9, 13-15, 36; Epicteto, Discursos, ii. 13. 14-15; Simplício, in Epictetus Enchiridion, 51; Eliano, Varia Historia, ix. 26
  14. a b Diógenes Laércio, vii. 6-9
  15. Diógenes Laércio, vii. 13, comp. 36
  16. Diogenes Laércio, vii. 37
  17. Diógenes Laércio, vii. 148.
  18. Sexto Empirírico, adv. Math. ix. 104, 101; Cícero, Sobre a Natureza dos Deuses, ii. 8.
  19. a b c d Cícero, Sobre a Natureza dos Deuses, ii. 22.
  20. Cícero, Acadêmica, ii. 41.
  21. Cícero, Sobre a Natureza dos Deuses, ii. 9, iii. 14.
  22. Diógenes Laércio, vii. 150.
  23. Diógenes Laércio, vii. 142, comp. 136.
  24. Cícero, Questões Tusculanas, i. 9, Sobre a Natureza dos Deuses, iii. 14; Diógenes Laércio, vii. 156.
  25. Estobeu, Ecl. Phys. i.
  26. Cicero, Sobre a Natureza dos Deuses, i. 14.
  27. Diógenes Laércio, vii. 88, 148, etc., 156.
  28. Cícero, Acadêmica, i. 16. 2.
  29. Cícero, de Finibus, iii. 6. 8; comp. Diógenes Laércio, vii. 100, etc.
  30. Estobeu, 2.77.
  31. Cícero, Questões Tusculanas, iv. 6.
  32. Cícero, Questões Tusculanas, iv. 15.
  33. Diógenes Laércio, vii. 102, 127.
  34. Diógenes Laércio, vii. 4.
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