Xaruque Begue (Cocande)
Xaruque Begue Shahrukh Bek | |
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Cã de Cocande [nt 1] | |
Reinado | 1709–1721 |
Sucessor | Abdul Raim |
Nascimento | c. 1681 |
região do rio Volga ou vale de Fergana | |
Morte | 1721 (40 anos) |
vale de Fergana | |
Religião | islão sunita |
Xaruque Begue ou Xá Ruque Begue[nt 2] (em usbeque: Shohruxbiy), também conhecido modernamente como Xaruque Cã ou Xaruque II, e grafado Shahrukh Bek e Shahrukh Khan (c. 1681 — 1721), foi o fundador do estado independente que depois ficaria conhecido como Canato de Cocande, centrado no vale de Fergana, Ásia Central. Após tomar o poder, declarou-se independente do Canato de Bucara em 1709 e reinaria até à sua morte. Foi sucedido pelo seu filho mais velho, Abdul Raim.
Biografia
[editar | editar código-fonte]Segundo a genealogia oficial da dinastia de Cocande, que provavelmente tem pouco ou nada de verdadeira , Xaruque, era descendente de Babur, membro da dinastia timúrida, trineto de Tamerlão, descendente de Gêngis Cã e fundador do Império Mogol.[1] Esta história não é confirmada Babur no que escreveu sobre a sua família nem por qualquer dos seus biógrafos seus contemporâneos, pelo que o mais provável é que tenha sido inventada pelos governantes de Cocande para ligar a sua ascendência a Gêngis Cã e assim consolidar e legitimar o seu poder.[1]
Xaruque era da tribo dos mingues (ming, miñ ou minglar), que usualmente se considera um ramo da tribo dos manguitas (manghud ou manghit),[1] a que também pertencia a dinastia reinante em Bucara a partir de meados do século XVIII, quando tomaram o poder no Canato de Bucara e fundaram o Emirado de Bucara. Não têm qualquer relação com a Dinastia Ming da China. Possivelmente era um nobre manguita, mas alguns historiadores não dão como certo que Xaruque fosse sequer manguita e referem que ele e o seu clã imigraram da região do rio Volga para o vale de Fergana alguns anos antes de 1709.[3] Xaruque casou com uma filha de Iadigar Coja, o governador da cidade de Currão Serai (Khurram Serai), e foi viver para Curcã (Kurkan), a um par de dezenas de quilómetros a oeste de onde agora se situa Cocande. Curcã é provavelmente a Cuacanda (Khuakend) mencionada pelo geógrafo e cronista do século X ibne Haucal.[3]
Há pelo menos duas versões sobre a ascensão ao poder de Xaruque no vale Fergana. Segundo uma delas, relatada em 1880 por Henry Hoyle Howorth, ele conseguiu o poder assassinando o seu sogro e alargando posteriormente os territórios que eram dele.[3] Alguns historiadores modernos só mencionam outra versão, segundo a qual Xaruque se tornou governante no vale de Fergana na sequência duma revolta dos cojas (''khojas ou khwājas) contra o governo do Emirado de Bucara.[4] Apesar de nominalmente o vale de Fergana ser um território do Canato de Bucara, tanto quanto se sabe, o poder efetivo no vale de Fergana no início do século XVIII estava muito fragmentado e na mão de clãs de saídes ou cojas. Aparentemente, os líderes destes clãs foram nomeados governadores de várias cidades e adquiriram cada um deles um estatuto de independência.[3]
Os eventos ocorridos em 1709 são descritos por Mulá Alim Maquedum-Haji na sua obra Tarixi Turkestoni (História do Turquestão). Nela se relata que uma assembleia de anciãos e nobres de Jancate, Pilancã, Tufantipe, Partaque, Tepa-Curgã, Jainar e outras cidades elegeram o inteligente e generoso Xaruque Cã. Mal foi eleito, este pediu-lhes para encontrarem um local conveniente para construir um castelo. Os notáveis escolheram um local entre dois rios, onde foi construída uma cidadela, onde entronaram Xaruque.[1]
Embora Xaruque e os seus primeiros sucessores não tivessem reclamado para si o título de cã, o estado então fundado por ele era de facto independente, não se limitando à autonomia tutelada por Bucara que os cojas já tinham conseguido antes. Inicialmente, o território de Xaruque abrangia, além da capital Cocande, as cidades de Konibodom, Namangã, Marguilã, Isfara e as áreas vizinhas.[4] [nt 3]
Notas
- ↑ Na realidade, os governantes do estado fundado em 1709 só reclamaram o título de cã em 1805, pelo que antes disso, em rigor, não é completamente correto falar em canato.[1][2]
- ↑ Não confundir com Xaruque Mirza, também conhecido como Xaruque, Xaruque Begue e muitas outras variantes comuns ao governante de Cocande. Xaruque Mirza foi o filho e sucessor de Tamerlão à cabeça do Império Timúrida na primeira metade do século XV.
- ↑ Segundo algumas fontes,[quais?] Namangã, Marguilã e Isfara só foram conquistadas do Xaruque depois de se ter declarado independente.[carece de fontes]
Referências
- ↑ a b c d e Dubovitskii & Bababekov 2014, p. 77.
- ↑ Annanepesov & Bababekov 2003, p. 74
- ↑ a b c d Howorth 1880, p. 816.
- ↑ a b Annanepesov & Bababekov 2003, p. 73
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Annanepesov, M.; Bababekov, H. N. (2003), «The Khanates of Khiva and Kokand and the relation between the khanates and with other poeers», in: Adle, Chahryar; Habib, Irfan; Baipakov, Karl M., History of Civilizations of Central Asia: Development in contrast: from the sixteenth to the mid-nineteenth century, ISBN 9789231038761, UNESCO, consultado em 1 de novembro de 2020
- Dubovitskii, Victor; Bababekov, Khaydarbek (2014), «The Rise and Fall of the Kokand Khanate», in: Starr, S. Frederick, Ferghana Valley: The Heart of Central Asia, ISBN 9781317470663 (em inglês), Routledge, consultado em 1 de novembro de 2020
- Howorth, Henry Hoyle (1880), «Part II division II — The so-called tartars of Russia and Central Asia», History of the Mongols, from the 9th to the 19th Century (em inglês), Londres: Longmans, Green and Co, consultado em 23 de outubro de 2020