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 Nota: "PIG" redireciona para esta página. Para o acrônimo referente a Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha, veja PIIGS. Para o plano inclinado de Salvador, veja Plano Inclinado Gonçalves.
Partido da Imprensa Golpista, charge de Carlos Latuff.

Partido da Imprensa Golpista (comumente abreviado para PIG ou PiG) é uma expressão usada por órgãos de imprensa e blogs políticos de suposta orientação de esquerda para se referir a órgãos de imprensa e jornalistas supostamente de direita.[1] Os veículos acusados de ser membros do PiG (Rede Globo, Veja, Folha de S.Paulo, O Estado de S. Paulo, Exame, Istoé[2], dentre outros)[nt 1] são considerados por estes tendenciosos e supostamente se utilizariam da grande mídia para propagar suas ideias e desestabilizar governos de orientação política contrária à sua.[4][5][6][7][8][9]

A expressão foi popularizada pelo jornalista Paulo Henrique Amorim em seu blog Conversa Afiada, mas, segundo ele, foi inspirada em um discurso do deputado petista Fernando Ferro.[10] Amorim, quando utiliza o termo, escreve com um i minúsculo, em alusão ao portal iG, do qual foi demitido em 18 de março de 2008, no que descreve como um processo de "limpeza ideológica". De acordo com ele, até políticos teriam passado a fazer parte do PIG: "O partido deixou de ser um instrumento de golpe para se tornar o próprio golpe. Com o discurso de jornalismo objetivo, fazem o trabalho não de imprensa que omite; mas que mente, deforma e frauda.[11]

O termo também é utilizado pelos jornalistas Luiz Carlos Azenha e Rodrigo Vianna em seus blogs, em referência a eventos ocorridos no Brasil e no exterior.[12][13] De maneira geral, hoje a expressão é bastante usada em parte dos sites e blogs de esquerda no Brasil.[14]

O próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva dá respaldo à ideia contida no termo quando reclama: "Quem faz oposição nesse país é determinado tipo de imprensa. Ahhh, como inventam coisa contra o Lula. Se eu dependesse deles para ter 80% de aprovação, teria zero."[15]

Definição e contextualização

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O termo é utilizado para se referir à qualidade do jornalismo praticado pelos grandes veículos de comunicação do Brasil, que seria, segundo seus criadores e utilizadores, demasiadamente conservador e que teria o intuito de prejudicar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e membros de seu governo de forma constante.

De acordo com Amorim, o termo PIG pode ser definido da seguinte forma:

Em nenhuma democracia séria do mundo jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político — o PiG, Partido da Imprensa Golpista[16]
— Paulo Henrique Amorim

Amorim afirma ainda que a imprensa brasileira seria golpista sempre que o presidente da república é de origem trabalhista, ao mesmo tempo a imprensa nunca publicaria absolutamente nada contra presidentes de origem não trabalhista. O PIG, segundo ele, teria sua origem com Carlos Lacerda, que ajudou a "matar Getúlio Vargas"; teria continuado travando sua luta contra Juscelino Kubitschek e João Goulart, até se aliar à ditadura militar; teria perseguido o governo Brizola; e agora conspiraria contra o governo Lula.[11]

O cientista político Wanderley Guilherme dos Santos declarou, em entrevista à revista Carta Capital em 2005: "A grande imprensa levou Getúlio ao suicídio com base em nada; quase impediu Juscelino de tomar posse, com base em nada; levou Jânio à renúncia, aproveitando-se da maluquice dele, com base em nada; a tentativa de impedir a posse de Goulart com base em nada." Na opinião de Santos o papel da imprensa livre é o de "tomar conta, sim. Desestabilizar, não. A estabilidade não pode depender de militar, nem da Igreja, nem da imprensa".[17][18]

A expressão também fez parte de um discurso do deputado federal pernambucano Fernando Ferro, do Partido dos Trabalhadores (PT), em que sugeriu que Arnaldo Jabor assumisse o cargo de presidente do PIG.[19]

Na opinião de Marcus Figueiredo, cientista político ligado ao Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (IUPERJ) os grandes jornais de circulação nacional do Brasil "adotam um híbrido entre dois modelos de pluralismo: formalmente, no discurso ético de autoqualificação diante dos leitores, procuram associar-se aos conceitos e rituais de objetividade do jornalismo americano, como é possível constatar nos slogans, diretrizes oficiais, manuais de redação, cursos de jornalismo. No entanto, na produção do impresso diário, o que vimos são diferenças no tratamento conferido aos candidatos, de amplificação de certos temas negativamente associados a Lula, contraposto à benevolência no tratamento de temas espinhosos relacionados aos seus adversários".[20]

O jornalista Maurício Dias, colunista de Carta Capital, expressa opinião semelhante ao dizer, traçando um paralelo entre a grande imprensa brasileira e a FOX News (acusada pela diretora de Comunicações da Casa Branca de operar "como um setor de comunicações do Partido Republicano") que a mídia brasileira é dirigida por uma única orientação: "o candidato do PT não pode vencer".[20]

Críticas semelhantes foram feitas pelo jornalista Mário Prata em entrevista ao Diário de Natal:

"A imprensa brasileira está podre. Os grandes jornais, as coisas que são consideradas grande imprensa no Brasil, como Folha de S.Paulo, Globo, Estadão, Jornal Nacional, Veja, para mim são piadas. Todos esses que eu citei têm ódio do Lula, é um ódio doentio, é uma coisa que me dá medo. Outro dia peguei o Estadão e tinha oito chamadas na capa falando mal do governo, algumas coisas que ocorreram há sete anos. Meu filho casou-se agora com uma repórter da editoria de política do Estadão, e o Serra ligou para ela antes do casamento. "Julia, eu soube que você vai se casar, mas você não vai ter lua de mel, né? Você não pode ter lua de mel agora." Por aí você vê como Serra está dentro do jornal."[21]

Em entrevista concedida ao portal Terra, Cláudio Lembo, vice-governador de São Paulo eleito pela coligação PSDB-DEM e governador desse estado entre março e dezembro de 2006 (após a renúncia de Geraldo Alckmin para concorrer à presidência), também criticou o engajamento político da imprensa no contexto da eleição presidencial brasileira de 2010:

"A mídia está engajada, tem um candidato que é o Serra e com isso se perdeu o equilíbrio, vem o desequilíbrio, é desse embate que nasce a intranquilidade... mas ela é transitória. Havendo só um grande vencedor no pleito, que é o movimento social, e estando a mídia engajada como que está... disso nasce essa intranquilidade."[22]

Em 30 de setembro de 2010 o periódico francês Courrier International publicou uma matéria sob o título "Une presse très remontée contre Lula", em que opina que o presidente Lula enfrentaria uma oposição por parte da imprensa liderada por quatro grupos: Folha de S.Paulo, Grupo Abril, O Globo e O Estado de S. Paulo.[23] No artigo, o autor Paul Jürgens chega a acusar o tom da oposição de caricatural.

Levantamento nos três jornais mais vendidos do Brasil, de 28/8 a 27/9.[24] Realizado por um portal de esquerda, estudo concluiu que: das 90 capas publicadas, 61 eram negativas para candidatura presidencial do PT, enquanto apenas 3 eram positivas.

O portal de orientação de esquerda Brasil de Fato realizou um levantamento sobre o comportamento dos três jornais de maior circulação no Brasil ante a campanha de Dilma Rousseff, candidata do PT para a Presidência da República em 2010.[24] O estudo foi feito a partir das manchetes de primeira página publicadas em 30 dias que antecederam a votação de primeiro turno, (entre os dias 28 de agosto e 27 de setembro). Constatou-se que a maior parte dos temas abordados foram ligados às eleições, com a grande maioria das manchetes adotando um enfoque desfavorável para a candidata do PT.

No período analisado, O Globo não teria publicado nenhuma manchete positiva à candidata do PT, contra 21 manchetes negativas. Foram ainda três neutras e seis tratando de outros assuntos, como Economia ou Internacional. Já a Folha de S.Paulo teria veiculado duas manchetes positivas à campanha petista ("Lula vai à TV e afirma que Serra partiu para baixaria", no dia 8, e "Desemprego é o menor, e renda é a maior em 8 anos", no dia 24). No entanto, foram dezoito manchetes negativas, além de uma neutra e nove sobre temas diversos. O Estado de S. Paulo, (único dos três a declarar, em editorial, apoio ao candidato José Serra), teria sido o campeão em negativas com relação a Dilma: foram 22 capas negativas em apenas um mês. O Estado trouxe uma manchete positiva à petista ("Inquérito da PF esvazia tese de crime político na receita", no dia 16), três neutras e quatro abordando outros assuntos.

Após relutar em aceitar a ideia de termos como o "PIG",[25] o jornalista Luís Nassif hoje defende que parte da mídia brasileira vem atuando, sim, de forma a alcançar o protagonismo político-partidário. Nassif enxerga essa atuação política mais incisiva como parte de uma tendência mundial, iniciada por Rupert Murdoch, fundador da emissora americana FOX News. O jornalista afirma que, no Brasil, esse movimento se manifestou num pacto entre quatro grandes grupos de mídia para fazer oposição ao governo trabalhista do PT. Para Nassif, são esses quatro conglomerados - Globo, Abril, Estadão e Folha – que vêm comandando a oposição política brasileira de 2005 até hoje.[25][26]

Ato "Em defesa da democracia e contra o golpismo midiático"

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Em 23 de setembro de 2010 representantes de partidos políticos e entidades de esquerda fizeram, em São Paulo, um ato intitulado "Em defesa da democracia e contra o golpismo midiático". Nessa ocasião, o presidente do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, Altamiro Borges, leu o documento "Pela ampla liberdade de expressão", em que defende a mídia alternativa e propõe solicitar a abertura dos contratos e contas de publicidade de grandes empresas de comunicação.

O presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo e secretário-geral da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), José Augusto Camargo, também leu uma nota, intitulada "Em defesa dos jornalistas, da ética e do direito à informação".

Distorcer, selecionar, divulgar opiniões como se fossem fatos não é exercer o jornalismo, mas, sim, manipular o noticiário cotidiano segundo interesses outros que não os de informar com veracidade. Se esses recursos são usados para influenciar ou determinar o resultado de uma eleição configura-se golpe com o objetivo de interferir na vontade popular. Não se trata aqui do uso da força, mas sim de técnicas de manipulação da opinião pública. Neste contexto, o uso do conceito “golpe midiático” é perfeitamente compreensível.
— José Augusto Camargo.[27]

Conforme a opinião daqueles que se utilizam do termo, seriam três as famílias que manipulariam a opinião pública, dominariam e condicionariam o noticiário de todo o país, através dos seus órgãos de imprensa: os Marinho (Organizações Globo), os Frias (Grupo Folha) e os Mesquita (Grupo Estado).[11] Estas três famílias controlam alguns dos principais órgãos da imprensa no Brasil, tais como os jornais O Globo, Folha de S.Paulo e O Estado de S. Paulo, e o portal UOL. Também são incluídos os Civita (Grupo Abril), que publicam a revista Veja. Paulo Henrique Amorim também limitou a esses quatro grupos a composição do "PIG" em entrevista à revista Imprensa em junho de 2011.[10]

Em artigo de março de 2010, o jornalista Gilberto Maringoni, colaborador da agência de esquerda Carta Maior, sugeriu que o Fórum Democracia e Liberdade de Expressão, promovido pelo Instituto Millenium, entidade brasileira que afirma defender o "Estado de Direito, liberdades individuais, responsabilidade individual, meritocracia, propriedade privada" como valores,[28] reuniria a imprensa golpista.[29]

A internet e o PIG

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Para o jornalista e escritor Fernando Soares Campos,[30] "sem a internet, dificilmente Lula teria sido eleito; se fosse, não assumiria; se assumisse, teria sido golpeado com muita facilidade. O PIG é forte, é Golias, mas a internet [está] assim de Davi!". Para Campos, a existência da Internet interferiria com o monopólio da informação por parte dos grandes grupos midiáticos, e essa interferência dificultaria os golpes.

Segundo o Observatório da Imprensa, a Internet teria criado dificuldades para a grande mídia brasileira dar o suposto golpe no Governo Lula[carece de fontes?], como ocorreu com Jango (presidente da República entre 1961 e 1964, quando começou a ditadura militar). Na atualidade, com múltiplos meios de comunicação — muitos baseados em livre troca de informações entre as pessoas — controle da informação teria se tornado mais complexo, devido à grande facilidade de se buscar informações de fontes diversas sobre o assunto.

O jornalista Luís Nassif afirma que existe um pacto entre quatro grandes grupos de mídia – Globo, Abril, Estadão e Folha – que tem comandado a oposição política brasileira desde 2005. Ele defende que o reverso desse movimento é o desabrochar da sociedade civil na Internet. Para Nassif, estruturas como blogs, ONGs, OSCIPs, sindicatos e movimentos sociais, estão entrando na rede e passando a disputar, com os grandes grupos midiáticos, pela audiência e pelas opiniões políticas.[26]

Os que apóiam o termo "mídia golpista" costumam relatar certos eventos que, segundo eles, confirmariam a forma tendenciosa com que os meios de comunicação brasileiros tratam os governos mais à esquerda. Seguem alguns desses exemplos.

Eleições de 1989

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A Rede Globo é acusada de ter ajudado a eleger o candidato a presidente Fernando Collor de Mello nas eleições de 1989, especialmente através da manipulação de trechos do último debate entre Collor e Lula. A edição polêmica foi apresentada no Jornal Nacional, na véspera da votação e num momento em que não poderia haver mais propaganda partidária na televisão. O filme Muito Além do Cidadão Kane mostrou partes da edição.[31][32] Em 2009 Fernando Collor admitiu que foi favorecido pela Globo na disputa.[33]

Eleições de 2006

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Houve várias críticas à forma como veículos da imprensa fizeram a cobertura das eleições.[34][35]

Luiz Carlos Azenha, que então trabalhava na Globo e era o repórter destacado para cobrir a campanha presidencial do candidato tucano Geraldo Alckmin, confirma que havia intenção de prejudicar o PT na cobertura. Nesse contexto, Azenha relata:

Ouvi, na redação de São Paulo, diretamente do então editor de economia do Jornal Nacional, Marco Aurélio Mello, que tinha sido determinado desde o Rio que as reportagens de economia deveriam ser "esquecidas" – tirar o pé, foi a frase — porque supostamente poderiam beneficiar a reeleição de Lula.[35]

Entre outros acontecimentos, Azenha ainda conta que teve uma reportagem potencialmente danosa para o então candidato a governador de São Paulo, José Serra, censurada pela Globo. "A reportagem dava conta de que Serra, enquanto ministro, tinha autorizado a maior parte das doações irregulares de ambulâncias a prefeituras", afirma.[36][37]

O evento mais comentado pelos críticos foi quando, na véspera da votação do primeiro turno, a Rede Globo e certos jornais impressos, como a Folha, o Estado, e O Globo deram enorme destaque à imagem do dinheiro que havia sido apreendido no contexto do Escândalo do Dossiê.[38][39][40]

Hoje, é sabido que o delegado da PF que havia comandado a operação convidou quatro jornalistas para uma conversa reservada e repassou os CDs com as fotos. A conversa foi inteiramente gravada e nela se pode ouvir os apelos do delegado para que as imagens fossem parar na edição do Jornal Nacional do mesmo dia, 29 de setembro.[38][40]

Argumenta-se que o uso político das fotos ficou ainda mais evidente pelo fato de todas as matérias omitirem a conversa com o delegado, (em que ele condiciona a divulgação das fotos para atingir a candidatura petista). Os jornais também difundiram a informação falsa de que as fotos teriam sido roubadas, quando, na verdade, tinham sido repassadas a eles pelo delegado.[38][40]

Destroços do Voo Gol 1907 - o Jornal Nacional não informou sobre a tragédia, mas focou toda a sua edição no "Escândalo do Dossiê".[38][40]

No caso da Rede Globo, ressalta-se que, na mesma noite em que exibiu as fotos (sem a contextualização de como foram obtidas), o Jornal Nacional se absteve de informar sobre a tragédia do Voo Gol 1907, em que morreram 154 passageiros no choque aéreo com o jato executivo Legacy, comandado por dois pilotos norte-americanos. Assim, ao mesmo tempo em que a notícia do desastre já repercutia no mundo inteiro, a edição ao vivo do jornal se dedicava somente a dar destaque à divulgação do escândalo político.[38][40]

Eleições de 2010

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Também houve várias críticas à cobertura da campanha presidencial de 2010. O próprio, então presidente, Lula afirmou que parte da imprensa estaria sendo parcial e se comportando como um partido político de oposição.[15] Seguem alguns exemplos.

Apesar de declarar-se "neutro",[41] o jornal Folha de S.Paulo teve sua cobertura criticada duramente, inclusive, por sua própria ombudsman, Suzana Singer. Segundo ela, o jornal estaria "se dedicando a revirar vida e obra" da candidata à presidência Dilma Roussef, do PT, e noticiando estas informações de forma parcial.[42] Comentou ainda a reação de leitores no Twitter, onde a hashtag #DilmaFactsByFolha - uma série de piadas e críticas à Folha de usuários da rede social - chegou ao primeiro lugar dentre os temas mais comentados.[42][43]

Em agosto de 2010, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) concedeu, ao Partido dos Trabalhadores, direito de resposta contra o semanário Veja. A decisão do TSE se deve à publicação da reportagem "Indio acertou no Alvo", sobre declarações do deputado Índio da Costa acerca de supostas ligações entre o PT e as FARC e o narcotráfico.[44] Para a maioria dos ministros do TSE, a revista não se limitou a reportar os fatos, mas reforçou o argumento do deputado, julgado como ofensivo ao partido pelo próprio tribunal.[45]

Por sua vez, o jornal Estado de S. Paulo foi o único veículo, entre os considerados "integrantes do PIG", que declarou abertamente apoio à candidatura oposicionista de José Serra. Em editorial, o jornal afirmou que Serra seria "o que tem melhor possibilidade de evitar um grande mal para o País". Também criticou Lula por ter afirmado que a imprensa brasileira estaria se comportando "como um partido político" e pelo que o jornal chamou de "escandalosa deterioração moral" de seu governo.[46]

Declarações e opiniões

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Declaração de Maria Judith Brito

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Em entrevista ao jornal O Globo a presidente da Associação Nacional de Jornais e executiva da Folha de S.Paulo, Maria Judith Brito, afirmou que o governo se incomoda com a imprensa, criticou fortemente o terceiro Programa Nacional de Direitos Humanos e fez a seguinte declaração:

A liberdade de imprensa é um bem maior que não deve ser limitado. A esse direito geral, o contraponto é sempre a questão da responsabilidade dos meios de comunicação. E, obviamente, esses meios de comunicação estão fazendo de fato a posição oposicionista deste país, já que a oposição está profundamente fragilizada. E esse papel de oposição, de investigação, sem dúvida nenhuma incomoda sobremaneira o governo.
— Maria Judith Brito, presidente da Associação Nacional de Jornais.[47]

A declaração de Maria Judith Brito foi bastante criticada por repórteres e intelectuais, bem como por autoridades ligadas ao governo. As críticas focaram no aparente reconhecimento de que a imprensa estaria, de fato, assumindo um papel de oposição. Em artigo publicado na Carta Maior, Jorge Furtado afirmou que a presidente da associação teria assumido que a grande imprensa do país "virou um partido político" e a criticou por não questionar a "moralidade de seus filiados [ao] assumirem a 'posição oposicionista deste país' enquanto, aos seus leitores, alegam praticar jornalismo"[48]. Luciano Martins Costa, do Observatório da Imprensa, fez crítica semelhante, afirmando que "o risco maior para a imprensa vem da própria imprensa, quando os jornais se associam para agir como um partido político".[49] O ministro Paulo Vannuchi, titular da Secretaria Especial dos Direitos Humanos, também criticou a declaração, afirmando que a imprensa "vem confundindo um papel que é dela — informar, cobrar e denunciar — com o papel do protagonismo partidário".[50] Washington Araújo, no Observatório da Imprensa, questiona: "será papel dos meios de comunicação substituir a ação dos partidos políticos no Brasil, seja de situação ou de oposição? (...) Em isso acontecendo... não estaremos às voltas com clássica usurpação de função típica de partido político? E não seria esta uma gigantesca deformação do rito democrático?".[51]

Opinião do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva

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No contexto da campanha eleitoral de 2010, o então presidente da república Luiz Inácio Lula da Silva havia tecido várias críticas à atuação de parte da imprensa brasileira que, segundo ele, estaria agindo como um partido político de oposição.

No dia 18 de setembro, logo após as primeiras declarações de Lula, a Associação Nacional de Jornais havia lançado nota que afirmava:[52] "É lamentável e preocupante que o Presidente da República se aproxime do final de seu segundo mandato manifestando desconhecimento em relação ao papel da imprensa nas sociedades democráticas."

Manifesto "Pela democracia e liberdade de imprensa"

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Poucos dias depois, em 22 de setembro de 2010, num ato em frente à faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), no Largo de São Francisco, juristas, artistas e intelectuais lançaram um documento que proclamava ser "um manifesto em defesa da democracia e da liberdade de imprensa e de expressão". A manifestação, iniciativa de intelectuais ligados à oposição, contou com a presença do ex-ministro do Supremo Tribunal Federal, Carlos Veloso, e de juristas como Miguel Reale Júnior, ex-ministro de FHC, e Hélio Bicudo.[53]

Hélio Bicudo fora vice-prefeito da cidade de São Paulo na gestão de Marta Suplicy, tendo se afastado do Partido dos Trabalhadores em 2005.[54] Foi ele quem leu, ao microfone, o texto do manifesto, que fala em riscos de autoritarismo:

É inconcebível que uma das mais importantes democracias do mundo seja assombrada por uma forma de autoritarismo hipócrita, que, na certeza da impunidade, já não se preocupa mais em valorizar a honestidade[55]

Há também crítica à ação de grupos acusados de atuar contra a imprensa:

"É aviltante que o governo estimule e financie a ação de grupos que pedem abertamente restrições à liberdade de imprensa, propondo mecanismos autoritários de submissão de jornalistas e de empresas de comunicação às determinações de um partido político e de seus interesses."

O ex-ministro da Justiça Miguel Reale Júnior disse que jornalistas estão sendo ameaçados:

Basta entrar nos sites do PT para ver as ameaças que estão sendo feitas a jornalistas, para saber qual o órgão de imprensa que tem que ser empastelado primeiro. Ou seja, há um clima de radicalização.[53]
Não existe mais liberdade de se denunciar aquilo que envergonha o país, que é a maracutaia dentro do Palácio do Planalto[56]

Na opinião dele, o ato que iria acontecer em 23 de setembro de 2010, promovido por centrais sindicais e pelo PT, de crítica à imprensa, é "um processo imensamente perigoso de radicalização". Reale Júnior afirmou:

Na medida em que ele passou a denunciar a imprensa, a dizer que não precisa de formador de opinião, a dizer que a opinião somos nós, esta é uma ideia substancialmente fascista. Ele com sua posição de presidente da República, sai de sua cadeira da presidência para ser insuflador contra a imprensa. Isto é perigoso[56]

Hélio Bicudo também disse que Lula é presidente em horário integral e criticou o presidente por supostamente usar seguranças da Presidência em comícios:

Ele tenta desmoralizar a imprensa, tenta desmoralizar todos que se opõe ao seu poder pessoal. Ele (Lula) tem opinião, mas não pode usar a máquina governamental para exercer essa opinião — disse Bicudo, para quem o Brasil está à beira do risco de um governo autoritário[57]

O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, afirmou em 22 de setembro de 2010, em entrevista, que há no país hoje "uma chantagem sobre a imprensa brasileira". Segundo ele, a liberdade de imprensa "é a condição para a existência da democracia".[58]

Em matéria na revista IstoÉ, os repórteres Octávio Costa e Sérgio Pardellas criticaram as acusações do ato e afirmaram que seria o manifesto, e não o presidente, que teria inclinação antidemocrática:

O que parece ter sido esquecido no manifesto oposicionista de tendências golpistas é que a democracia é exercida pelo voto. O temor de uma vaga autoritária por parte do governo é deslocado da realidade. Não reflete o momento que o Brasil vive. Não há sinais concretos de que o presidente Lula tenha atentado contra a liberdade de imprensa. Ele vem fazendo apenas críticas pontuais, direito que não pode ser negado a qualquer cidadão, muito menos ao presidente. De resto, desde a luta contra a ditadura, Lula mostrou-se defensor intransigente das liberdades democráticas.[59]

Considerando esse acirramento dos ânimos com a proximidade da votação em primeiro turno, Bresser Pereira (PSDB), ex-ministro nos governos de Fernando Henrique Cardoso e de José Sarney, afirmou que argumentos como o desse manifesto não tinham base na realidade.[60] Após o resultado das urnas, Bresser voltou ao tema. O cientista político afirmou que falar em riscos à democracia durante as eleições de 2010 foi atitude "profundamente antipolítica e antidemocrática":

Quando setores da sociedade e militantes partidários afirmaram que a candidata eleita representava uma ameaça para a democracia, para a Constituição e para a moralidade pública, estavam retomando uma prática política que caracterizou a UDN (União Democrática Nacional), o partido político moralista e golpista que derrubou Getulio Vargas em 1954.[61]

Em resposta ao manifesto supramencionado, foi também elaborado outro manifesto, intitulado "Carta ao Povo Brasileiro", assinado por juristas de renome como Celso Antônio Bandeira de Mello e Dalmo de Abreu Dallari, bem como por vários presidentes regionais da OAB. A carta afirma que o governo Lula vem preservando a democracia e também promovendo a consolidação dos valores democráticos. Quanto ao tema específico da liberdade de pensamento, o manifesto afirma:

Nos últimos anos, com vigor, a liberdade de manifestação de ideias fluiu no País. Não houve um ato sequer do governo que limitasse a expressão do pensamento em sua plenitude. Não se pode cunhar de autoritário um governo por fazer críticas a setores da imprensa ou a seus adversários, já que a própria crítica é direito de qualquer cidadão, inclusive do Presidente da República.[62]

Críticas ao termo

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Segundo os oponentes do termo, a imprensa apenas denunciaria irregularidades nas administrações públicas. J.R. Guzzo, colunista de Veja, questionou o termo "PIG", afirmando que quando a imprensa publica denúncias é acusada por governistas de "desestabilizar" o Brasil.[63] A revista, em editorial de agosto de 2004 criticando a tentativa de criação do Conselho Federal de Jornalismo (classificado pela publicação como um "ataque à liberdade de imprensa" por parte do Governo Lula),[64] escreveu que "a qualidade da imprensa deve ser sempre medida por seu grau de independência nas relações com os governos", que seriam "tanto melhores quanto mais [preservassem] a liberdade de seus críticos".[65]

Para o jornalista Pedro Doria, editor-chefe do jornal O Estado de S. Paulo, a manifestação de uma polaridade ideológica intolerante é incapaz de explicar a realidade social complexa.[66][67]

Por sua vez, Sergio Leo julga que a grande imprensa é excessivamente complexa para poder ser rotulada desta maneira, pois abarcaria opiniões e pautas muito variadas.[68]

Jânio de Freitas, em coluna na Folha de S.Paulo, afirma que "os meios de comunicação brasileiros nunca deixaram de ser parte ativa nos esforços de conduzir o eleitorado. Sua origem e sua tradição são de ligações políticas, como agentes de facções ou partidos, tanto de direita quanto de esquerda. Só em meado do século passado dá-se a primeira e derrotada tentativa, no Jornal do Brasil, de prática desconectada de segmentos políticos."[69]

Lúcio Flávio Pinto, um dos mais respeitados jornalistas independentes do Brasil escreveu no Jornal Pessoal e no Observatório da Imprensa uma matéria intitulada "O PIG é uma fantasia", em que declara que "mesmo jornais ruins devem ser lidos. Estimular ou induzir que sejam ignorados é desservir a democracia, a pretexto de fomentar a crítica e combater as elites. A sociedade está cada vez mais repleta de críticos, que não vacilam quando expressam opiniões ou emitem juízos definitivos, verdadeiras sentenças. Mas que não sabem explicar por que são contra. Principalmente por desconhecerem o conteúdo do que criticam ou rejeitam. São personagens patéticos de Oswald de Andrade: não leram e não gostaram".[70]

Notas e referências

Notas

  1. Jornais como Diario Clarín e Le Monde, e agências como Reuters e BBC[3]

Referências

  1. «50 anos de golpe midiático | Observatório da Imprensa – Você nunca mais vai ler jornal do mesmo jeito». Observatório da Imprensa. Consultado em 4 de março de 2016 
  2. Em meio a escândalos políticos, não sobra espaço para debater o país por Patrícia Campos Mello (2016) - " Associação Nacional de Jornais"
  3. Existe realmente o PIG (Partido da Imprensa Golpista)? por Revolta Brasil (2014)
  4. PARTIDO DA IMPRENSA GOLPISTA publicado pela "World Public Library"
  5. Entre PIG e JEGs, a imprensa pode ser NDA? publicado pelo "Brasil 24/7" (2012)
  6. Imprensa e poder: politização ou partidarização dos jornais brasileiros? por Eleonora de Magalhães Carvalho, publicado pela "Universidade Federal Fluminense" (2013)
  7. PARTIDO DA IMPRENSA GOLPISTA publicado pelo Project Gutenberg
  8. MINO CARTA Por que apoiamos Dilma. Carta Capital, 30 de setembro de 2010, Politica Acesso em 17/05/2013.
  9. PENSADORES DA LIBERDADE - Em torno de um conceito por Carlos Melo, Volume 1 pg 17-19 (2015)
  10. a b Igor Ribeiro e Flávio Costa (junho de 2011). «O amolador». Imprensa (número 268). São Paulo: Imprensa Editorial Ltda. pp. 26–31 
  11. a b c UCB. Paulo Henrique Amorim fala sobre “PIG” e jornalismo na Internet. Brasília: Oficina de Produção de Notícias, Curso de Comunicação Social, Universidade Católica de Brasília, 27 de outubro de 2009
  12. Rodrigo Vianna. «Imprensa golpista ontem e hoje: como enfrentar o PIG?». Consultado em 30 de janeiro de 2010 
  13. Azenha, Luiz Carlos (26 de abril de 2009). «O PIG apanha nas urnas. Desta vez no Equador». Vi o Mundo. Consultado em 29 de abril de 2009 
  14. «Folha.com - Poder - 'O PT pode ser salvo de si mesmo', diz sociólogo - 13/09/2010». www1.folha.uol.com.br. Consultado em 1 de fevereiro de 2016 
  15. a b Josias de Sousa (17 de setembro de 2010). «Lula sobre mínimo de Serra: 'Pensa que povo é tonto'». Folha Online. Consultado em 18 de setembro de 2010 
  16. Amorim, Paulo Henrique (28 de abril de 2009). «O PiG a caminho do túmulo». Conversa Afiada. Consultado em 29 de abril de 2009 
  17. «Um julgamento de exceção». O Cafezinho. Consultado em 1 de fevereiro de 2016 
  18. «A politização supervalorizada | Observatório da Imprensa – Você nunca mais vai ler jornal do mesmo jeito». Observatório da Imprensa. Consultado em 1 de fevereiro de 2016 
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