Bem-te-vi
Bem-te-vi | |||||||||||||||
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Estado de conservação | |||||||||||||||
Pouco preocupante (IUCN 3.1) [1] | |||||||||||||||
Classificação científica | |||||||||||||||
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Nome binomial | |||||||||||||||
Pitangus sulphuratus (Linnaeus, 1766) | |||||||||||||||
Distribuição geográfica | |||||||||||||||
Distribuição do bem-te-vi
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Sinónimos | |||||||||||||||
Saurophagus sulphuratus Swainson, 1832 |
O Pitangus sulphuratus, comumente conhecido como bem-te-vi (português brasileiro) ou bem-te-vi-de-coroa (português europeu) [2] [3], é uma ave passeriforme da família dos tiranídeos de nome científico. A espécie é, ainda, conhecida pelos índios como pituã, pitaguá ou puintaguá. Outras apelações existentes são triste-vida, bentevi (esta grafia não é reconhecida pelo Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa),[4] bem-te-vi-verdadeiro, tiuí, teuí e tic-tiui.
Na Argentina, é conhecido como bichofeo, vinteveo e benteveo; na Bolívia, como frío; e, na Guiana Francesa, como quiquivi ou qu'est-ce qu'il dit.[5]
Os únicos representantes do género Pitangus eram o bem-te-vi e a espécie Pitangus lictor,[6] porém atualmente só uma espécie enquadra-se neste género, o próprio bem-te-vi. A espécie Pitangus lictor agora é sinonima da atual Philohydor lictor, o bem-te-vizinho.[7]
Medindo cerca de 23,5 centímetros, caracteriza-se principalmente pela coloração amarela viva no ventre e uma listra branca no alto da cabeça, além do canto que nomeia o animal. Considerado um dos pássaros mais populares do Brasil, é um dos primeiros a vocalizarem ao amanhecer.
Etimologia
[editar | editar código-fonte]Os nomes comuns "bem-te-vi"[2] e "triste-vida" são onomatopeias do canto da ave.
O nome «bem-te-vi-de-coroa»[3] foi escolhido pelo CBRO em 2015 e co-optado pelo Boletim da Língua Portuguesa nas Instituições Europeias para o português de Portugal, sendo que o aposto «de-coroa» foi acrescentado ao nome comum generalista «bem-te-vi», por molde a evitar confusões com outras espécies de bem-te-vis.[2]
O nome comum "pituã" é oriundo do tupi pita'wã.[8]
Quanto ao nome científico, Pitangus sulphuratus, o nome genérico provém do étimo pitangûagûasu ("pitauá grande"), forma pela qual os índios tupis chamavam a ave;[9] ao passo que o epíteto específico provém do latim sulphuratus ("semelhante a enxofre"),[10] pela cor amarela como enxofre do ventre da ave.
Morfologia
[editar | editar código-fonte]Constitui em uma ave de médio porte, medindo entre de 22 e 25 cm de comprimento para aproximadamente 60 gramas. Tem uma coloração parda no dorso; amarela viva na barriga; uma listra (sobrancelha) branca no alto da cabeça, acima dos olhos; cauda preta. O bico é preto, achatado, longo, resistente e um pouco encurvado. A garganta (zona logo abaixo do bico) é de cor branca. Não há dimorfismo sexual entre a espécie.
Ocorrência
[editar | editar código-fonte]É uma ave típica da América Latina, com uma distribuição geográfica que se estende predominantemente do sul do México à Argentina, uma área estimada em 16 000 000 quilômetros quadrados.[11] Entretanto, pode também ser encontrada no sul do Texas e na ilha de Trinidad. Foi introduzida nas Bermudas em 1957, importada de Trinidad,[12] e na década de 1970 em Tobago. Nas Bermudas, são a terceira espécie de ave mais comum, podendo atingir densidades populacionais de 8 a 10 pares por hectare.[13]
É um habitante bem conhecido em todas as regiões brasileiras, podendo ser encontrado em cidades, matas e ambientes aquáticos como lagoas e rios. Pode-se vê-lo facilmente cantando em fios de telefone, em telhados ou banhando-se nos tanques ou chafarizes das praças públicas. Como podemos ver, possui grande capacidade de adaptação.
É uma das aves mais populares no Brasil. Anda geralmente sozinho, mas pode ser visto em grupos de três ou quatro que se reúnem habitualmente em antenas de televisão.
Belize | Bermudas | Brasil | Costa Rica | El Salvador |
Guiana Francesa | Guiana | Nicarágua | Paraguai | Suriname |
Trinidad e Tobago | Uruguai | Venezuela |
Argentina | Bolívia | Colômbia | Equador | Honduras |
Guatemala | México | Panamá | Estados Unidos | Peru |
Canto
[editar | editar código-fonte]O seu canto trissilábico característico enuncia as sílabas BEM-te-VI, que dão o nome à espécie. Portanto, seu nome popular possui origem onomatopeica. Seu canto pode ser também bissilábico, emitindo um BI-HÍA ou ainda monossilábico, quando escutamos um TCHÍA.
Os cantos têm sonoridades diferentes consoante o local. É uma das razões de serem utilizados vários nomes comuns para esta espécie.
Reprodução
[editar | editar código-fonte]Constrói o ninho com pequenas ramas de vegetais em galhos de árvores geralmente bem cerradas. Pode, inclusive, utilizar, para construir o seu ninho, sobretudo em zonas urbanas, material de origem humana: papel, plástico e fios. Seu ninho tem uma forma fechada e esférica, com a entrada na parte lateral (diferentemente dos ninhos em forma de xícara, a entrada é pelo lado), medindo cerca de 25 centímetros de diâmetro. Geralmente, é construído no topo de árvores altas, na forquilha de um galho, mas é muito comum também vê-lo nas cavidades dos geradores de postes, podendo ficar entre 3 e 12 metros do solo.
Além de construir o ninho o casal divide as tarefas de cuidar da prole. Na época do acasalamento, próximo ao ninho, macho e fêmea cantam em dueto, batendo as asas ritmicamente.[14]
Põe cerca de três a quatro ovos cônicos e brancos com pintinhas pretas (lembrando ovos de codorna). Eles são brancos logo após a postura, mas após um tempo passam a ficar amarelados. Os ovos medem 31 x 21 milímetros e são incubados pelo casal. São cônicos com pintinhas pretas como os ovos de codorna, após a eclosão seu desenvolvimento é altricial (nasce quase sem penas com olhos fechados, não voa nem anda): [14]
- Época de reprodução: setembro a dezembro.
- Número de ovos: 2 a 4 ovos.
- Incubação:17 dias.
- Época de reprodução: setembro a dezembro.
São aves monogâmicas e quando da nidificação o território circundante ao ninho é defendido vigorosamente, podendo vir a ser agressivo com outros pássaros e até mesmo outros animais ao se sentir ameaçado. Por esta razão que faz parte da família dos tiranídeos (de tirano). É comum vê-los dando rasantes em aves de rapina (principalmente gaviões) que entram no seu território.
Alimentação
[editar | editar código-fonte]Possui uma variada alimentação. É insetívoro, podendo devorar centenas de insetos diariamente. Mas também come frutas (mamões, maçãs, laranjas, pitangas e muitas outras), flores de jardins, minhocas, pequenas cobras, lagartos, crustáceos, além de peixes e girinos de rios e lagos de pouca profundidade. Costuma comer parasitas (carrapatos) de bovinos e equinos. Atrapalha a apicultura por ser predador de abelhas. Apesar de ser mais comum vê-lo capturar insetos pousados em ramos, também é comum atacá-los durante o voo.
Em suma: é uma ave que está sempre descobrindo novas formas de alimento. Devido ao seu regime alimentar generalista, por vezes poderá ajudar a controlar pragas de insectos, como por exemplo, sabe-se que esta ave se alimenta de répteis do género Anolis. Estes répteis, por sua vez, alimentam-se de escaravelhos predadores de insectos. A ave, ao fazer diminuir o número de répteis, fará com que sobrevivam mais escaravelhos, que aumentando o seu número, poderão controlar (diminuir) o número das suas presas (neste caso, insectos, que poderão em certas circunstâncias serem consideradas pragas, prejudicando as actividades humanas).[13]
Como é uma ave de hábitos que se adaptam muito rapidamente, pode, também, se alimentar da ração de cachorros, gatos e outros animais de estimação. Se alimenta de ovos de jacaré.
Ecologia
[editar | editar código-fonte]Tem um importante papel na dispersão de sementes. Em áreas de cerrado do estado de São Paulo, é uma das aves mais importantes na dispersão de sementes da espécie Ocotea pulchella Mart.[15]
Em certas regiões, poderá ser migratória.
Segundo a "Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas" da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais, esta ave tem um estado de conservação de "seguro" ou "pouco preocupante" (least concern).[1] A população mundial está estimada entre 5 000 000 e 50 000 000 indivíduos (Rich et al. 2003).
Subespécies
[editar | editar código-fonte]Segundo a Avibase - The World Bird Database as subespécies são:
- Pitangus sulphuratus argentinus
- Pitangus sulphuratus bolivianus
- Pitangus sulphuratus caucensis
- Pitangus sulphuratus derbianus
- Pitangus sulphuratus guatimalensis
- Pitangus sulphuratus maximiliani
- Pitangus sulphuratus rufipennis
- Pitangus sulphuratus sulphuratus
- Pitangus sulphuratus texanus
- Pitangus sulphuratus trinitatis
Denominações noutras línguas
[editar | editar código-fonte]- Alemão: Schwefeltyrann ou Schwefelmaskentyrann
- Checo: tyran bentevi
- Dinamarquês: Kiskadie
- Espanhol: Bienteveo Común / Cristofué
- Finlandês: naamioväijy
- Francês: Tyran quiquivi
- Inglês: Great Kiskadee
- Italiano: Pitango solforato
- Japonês: キバラオオタイランチョウ (kibaraootairanchou)
- Neerlandês: Grote Kiskadie (Holanda, Bélgica) ou Grietjebie (Suriname)
- Polaco: bentewi wielki
- Português: Bem-te-vi
- Russo: Большой кискад
- Sueco: Större kiskadi
Notas e referências
- ↑ a b «IUCN red list Pitangus sulphuratus». Lista vermelha da IUCN. Consultado em 19 de abril de 2022
- ↑ a b c Paixão, Paulo (2021). Os Nomes Portugueses das Aves de Todo o Mundo (PDF). Bruxelas, Bélgica: A Folha — Boletim da língua portuguesa nas instituições europeias. p. 210. 334 páginas. ISBN 978-989-33-2134-8. ISSN 1830-7809
- ↑ a b S.A, Infopédia- Dicionário da Língua Portuguesa. «bem-te-vi-de-coroa». Infopédia Dicionário da Língua Portuguesa. Consultado em 14 de agosto de 2023
- ↑ Sistema de Normalização de Documentos da UnB
- ↑ (em francês) Armand Massé (1878-1884), Journal, Volume 2, publicado como De la Vendée aux Caraïbes, Armand Massé, Dominique Rézeau, 1995, L'Harmattan, p. 364.
- ↑ BirdLife Internacional
- ↑ FRISH, JOHAN DALGAS e FRISH, CHRISTIAN DALGAS. Aves Brasileiras e Plantas que as Atraem. 3ª ed. São Paulo, SP. 2005.
- ↑ FERREIRA, A. B. H. Novo dicionário da língua portuguesa. 2ª edição. Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 1986. p. 1 342.
- ↑ NAVARRO, E. A. Dicionário de tupi antigo: a língua indígena clássica do Brasil. São Paulo. Global. 2013. p. 389.
- ↑ Google tradutor. Disponível em https://translate.google.com.br/#la/pt/sulphuratus. Acesso em 7 de novembro de 2014.
- ↑ a b IUCN Red List of Threatened Species: Pitangus sulphuratus
- ↑ Bermuda's Fauna
- ↑ a b Hsiao, A. 2001. "Pitangus sulphuratus" (On-line), Animal Diversity Web. Acesso a 17 de julho de 2006 em http://animaldiversity.ummz.umich.edu/site/accounts/information/Pitangus_sulphuratus.html.
- ↑ a b http://www.ibb.unesp.br/Museu_Escola/Ensino_Fundamental/Animais_JD_Botanico/aves/aves_biologia_geral_ninhos.htm
- ↑ FRANCISCO, MERCIVAL R. and GALETTI, MAURO. Birds as potential seed dispersers of Ocotea pulchella Mart. (Lauraceae) in a cerrado area from southeastern Brazil. Rev. bras. Bot. [online]. Mar. 2002, vol.25, no.1 [acesso em 17 de julho de 2006], p.11-17. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-84042002000100003&lng=en&nrm=iso>. ISSN 0100-8404.