Inguar, o Viajado
Inguar, o Viajado | |
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As runas IKUARI, ou Inguar, na pedra rúnica Sö 281 | |
Nascimento | século XI Terra dos Suíones (Suídia) |
Morte | 1041 Possivelmente Geórgia |
Etnia | Suíones, um dos povos antepassados dos Suecos |
Progenitores | Mãe: Ragnilda Pai: Emundo |
Ocupação | Caudilho víquingue |
Inguar ou Igor, o Viajado[1] (em sueco: Ingvar Vittfarne; em nórdico antigo: Yngvarr ou Yngvarr víðförli; m. 1041) foi caudilho víquingue sueco da primeira metade do século XI que liderou um ataque mal-sucedido contra a Pérsia em 1036–1041. Suas inscrições afirmam que lançou expedições contra os bárbaros sarracenos e tentou alcançar o Oriente, a Índia e estabelecer relações comerciais.
Os rus' fizeram várias campanhas na área do mar Cáspio no século X. A Saga de Inguar, o Viajado descreve a última delas, ocorrida em 1041, adicionando lenda aos fatos históricos. Inguar lançou essa expedição da Suécia, viajando do Volga à Terra dos Sarracenos (Serclândia). Enquanto estiveram lá, os viquingues aparentemente lutaram na Batalha de Sasireti travada entre o Reino da Geórgia e o Império Bizantino em 1042.
Não menos de 26 pedras rúnicas de Inguar - 24 delas perto do lago Malar da Uplândia, na Suécia - mencionam guerreiros suecos que foram com Inguar na expedição às terras sarracenas, uma expedição que provavelmente almejada reabrir rotas comerciais depois que os búlgaros do Volga e os cazares não mais ofereciam obstáculos. Uma pedra rúnica de seu irmão indica que foi a leste por ouro, mas morreu na terra sarracena.
Etimologia
[editar | editar código-fonte]O nome Inguar, cuja variante comumente atestada nas fontes é Igor, é formado por Ing, uma variante para o nome do deus Freir, e var, que se traduz como guerreiro. Seu nome, portanto, significa "Guerreiro do deus Freir".[2] Este Inguar é distinguido dos homônimos pelo epíteto o Viajado (em nórdico antigo: víðförli; em sueco: vittfarne).[3]
Fontes
[editar | editar código-fonte]Não menos de 26 pedras rúnicas de Inguar – descobertas próximas ao lago Malar (a maioria na Sudermânia, algumas na Uplândia e uma na Vestmânia) na chamada Terra dos Suíones ou Suídia e no cabo de Vikbolandet da Gotalândia Oriental (duas delas) – citam aos guerreiros suecos que foram com Inguar em sua expedição às terras sarracenas[4][5] Além das pedras rúnicas, não há fontes suecas que citem-no. O testemunho escrito sobre sua vida advém das obras islandesas Saga de Inguar, o Viajado (século XII), Anais Reais (Annales regii), Anal do Homem de Leis (Lögmanns annáll) e Livro da Ilha Plana (Flateyjarbók). As três últimas talvez se basearem na compilação de Sturla Thordarson.[6][7][8]
Vida
[editar | editar código-fonte]Origens
[editar | editar código-fonte]Há três teorias quando a origem de Inguar. Segundo uma delas, defendida por Otto von Friesen e Elena Mel'nikova, a origem transmitida pela Saga está correta, implicando que Inguar era filho do varegue Emundo, que por sua vez era filho do chefe sueco Aqui e a filha do rei Érico, o Vitorioso (r. 970–995). Uma segunda teoria sugere que Inguar era filho de um príncipe sueco chamado Emundo, filho de Érico, o Vitorioso e irmão de Olavo, o Tesoureiro (r. 995–1022) A existência desse Emundo foi sugerida por Lauritz Weibull (1911) e J. Svennung (1966) e a teoria se fundamenta na idade das pedras rúnicas de Inguar, que segundo Elias Wessén e Sune Lindquist foram esculpidas no começo do século XI.[9]
Segundo a terceira teoria, proposta por F. Braun, e que está baseada nas pedras rúnicas U 513, U 540, Sö 179 e Sö 279, Inguar era filho do rei Emundo, o Velho (r. 1050–1060) e neto de Olavo, o Tesoureiro.[9] Emundo teve duas esposas, Tola e Raguenilda. A primeira poderia ser mãe do Haroldo da Sö 179, e Raguenilda teria sido mãe de Onundo, Érico, Ragnar e Haquino das runas U 513 e U 540. Onundo seria Anundo, que cresceu na Rússia de Quieve, Érico seria um dos dois pretendentes homônimos, Haquino seria Haquino, o Vermelho e Ragnar seria Inguar.[10]
A origem de Inguar, contudo, foi debatida tão cedo quanto entre os autores das sagas, como revela o possível autor da Saga, Oddr Snorrason:
“ | Sabemos que há alguns contadores de sagas que dizem que Inguar era filho de [rei] Anundo Filho de Olavo [m. 1060], pois acham que seria mais honrável para ele ser um filho de rei. E [dizem que] Anundo felizmente desistiria de todo seu reino se lhe fosse permitido barganhar pela vida de Inguar, pois todos os chefes da Suécia felizmente teriam-o [Inguar] como rei sobre eles.[11] | ” |
Expedição
[editar | editar código-fonte]Inguar conduziu em 1036-1041, durante o reinado de Anundo Jacó (r. 1022–1050), uma grande expedição viquingue à Terra Sarracena (Serclândia), na região do mar Cáspio.[12][13] Tal expedição provavelmente almejada reabrir rotas comerciais depois que os búlgaros do Volga e os cazares não mais ofereciam obstáculos. Uma pedra rúnica de seu irmão indica que foi a leste por ouro, mas morreu na terra sarracena.[5] Do ponto de vista político, a expedição marca o fim da Era Viquingue na Suécia. Do ponto de vista econômico, o período ainda se estende até às primeiras décadas do século seguinte, graças ao papel da ilha da Gotlândia, no mar Báltico.[14]
Cerca de 1036, partiu com 30 navios em direção a Oriente até chegar a Gardarícia (nome nórdico da Rússia de Quieve) para encontrar o grão-príncipe Jaroslau I (r. 1019–1054), tendo aí permanecido por três anos. Com uma grande curiosidade por saber onde o Volga acabava, levou os seus navios e uma força de uns 700 homens ao sul até chegar ao Cáspio, na região da Serclândia. Na viagem de retorno, Inguar morreu devido a uma epidemia contraída na região. Dos 30 navios, só um regressou à Suécia, 5 anos mais tarde.[12][15] É possível que os viquingues, enquanto perambulavam pelo Cáucaso, tenham participado na Batalha de Sasireti travada entre o Reino da Geórgia e o Império Bizantino em 1042.[5]
Referências
- ↑ Neves 2019.
- ↑ Historiska.
- ↑ Enciclopédia Nacional Sueca.
- ↑ SBL.
- ↑ a b c Logan 1992, p. 202.
- ↑ Pritsak 1981, p. 424.
- ↑ Ohlmarks 1995, p. 175.
- ↑ Netútgáfan 1997.
- ↑ a b Pritsak 1981, p. 425.
- ↑ Pritsak 1981, p. 430ff.
- ↑ Pritsak 1981, p. 426ff.
- ↑ a b Orrling 1995, p. 123.
- ↑ Weinreder 1991, p. 286.
- ↑ Lagerqvist 1997, p. 40.
- ↑ Harrison 2009, p. 99.
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- «Ingvar den vittfarne». Enciclopédia Nacional Sueca (em sueco). Gotemburgo: Universidade de Gotemburgo
- Harrison, Dick (2009). «Vikingatiden». Sveriges historia: 600-1350 (em sueco). Estocolm: Norstedt. ISBN 978-91-1-302377-9
- «Ingvar». Historiska
- Lagerqvist, Lars O. (1997). «Medeltid». Sveriges Regenter. Från forntid till nutid (em sueco). Estocolmo: Norstedts. 440 páginas. ISBN 91-1-963882-5
- Logan, Donald F. (1992). The Vikings in History 2nd ed. Londres e Nova Iorque: Routledge
- Neves, Gonçalo (2019). «O aportuguesamento, a partir do latim, de nomes escandinavos antigos». Ciberdúvidas
- «Yngvars Saga Víđförla» (em nórdico antigo). Netútgáfan. 1997
- Ohlmarks, Åke (1995). «Ingvar Vittfaren». Fornnordiskt lexikon (em sueco). Estocolmo: Tiden. 414 páginas. ISBN 91-550-4260-0
- Orrling, Karin (1995). «Ingvar den vittfarne». Vikingatidens ABC (em sueco). Estocolmo: Museu Histórico de Estocolmo. 184 páginas. ISBN 91-7192-984-3
- Pritsak, Omeljan (1981). The Origin of Rus'. Cambrígia: Instituto de Pesquisa Ucraniana de Harvard, Harvard University Press. ISBN 0-674-64465-4
- «Ingvar vittfarne». Svenskt biografiskt lexikon (Dicionário Biográfico Nacional Sueco)
- Weinreder, Ulf (1991). «Ingvar Vittfarne». Lexikon: fakta om myten kring vikingarna, presenterad med över 8500 uppslagsord! (em sueco). Gotemburgo: Universidade de Gotemburgo. 608 páginas. ISBN 91-631-7764-1