Forte de São João Batista de Ternate
Tipo | |
---|---|
Estatuto patrimonial |
Localização |
---|
Coordenadas |
---|
O Forte de São João Baptista de Ternate, também conhecida como Fortaleza de Ternate ou Fortaleza de Maluco, localizava-se na ilha de Ternate, no arquipélago das Molucas, na atual Indonésia.
Primeira fortificação europeia na região, destinava-se a servir como feitoria, apoiando o comércio de especiarias nas ilhas do arquipélago. Mesmo periférica ao Estado Português da Índia, foi o principal entreposto comercial português no Oceano Pacífico, no século XVI.
História
[editar | editar código-fonte]Antecedentes
[editar | editar código-fonte]A primeira expedição portuguesa às Molucas, sob o comando de António Abreu, partiu de Malaca em 1511, tendo alcançado Amboina e as ilhas Banda em 1512. Os primeiros europeus a chegar a Ternate foram os sobreviventes da expedição de Francisco Serrão que, também tendo partido Malaca em 1511, teve a sua nau capitânia, a Sabaia, encalhada em um recife próximo à ilha Lucopino (Nusa Penju), de onde terão passado a Amboina. O sultão de Ternate, Abu Lais, tendo notícia do incidente, e entrevendo uma oportunidade de aliar-se com uma poderosa nação estrangeira, trouxe os tripulantes para Ternate em 1512, acolhendo Serrão como seu conselheiro pessoal.
A partir de 1513, os portugueses passaram a enviar uma frota anual de comércio às chamadas "Ilhas das Especiarias". A primeira, sob o comando do capitão António de Miranda de Azevedo, instalou duas pequenas feitorias, uma em Ternate e outra em Batjan.
A fortificação de Ternate
[editar | editar código-fonte]Uma armada de nove navios, sob o comando de Jorge de Brito (irmão do 2.º capitão do Ceilão português, Lopo de Brito),[1][2] partiu de Lisboa em 1520, com a missão específica de construir uma fortaleza na ilha de Ternate, primeira iniciativa da Coroa Portuguesa destinada ao estabelecimento efectivo e permanente na região. Jorge de Brito pereceu em combate em Achém, tendo o seu irmão, António de Brito, assumido a empreitada, principiando a construção da Fortaleza de São João Batista em 24 de Junho de 1522. A fortaleza tinha a função de feitoria, com Regimento próprio, de vez que D. Manuel I (1495-1521), dali desejava assegurar o controle do fluxo do cravo e demais especiarias, frente à ameaça representada por Castela, especialmente após a viagem de circum-navegação de Fernão de Magalhães (1519-1522). A existência de um bom porto em Ternate, que a vizinha ilha de Tidore não possuía, foi o factor decisivo para a escolha do local para a fortaleza, que distava uma légua de Talangame, porto de águas profundas capaz de servir de ancoradouro às naus vindas da Índia. A fortaleza assentava sobre um recife alto, junto do qual existia um poço de água potável, onde navios de pequeno porte podiam encontrar abrigo seguro e fazer aguada.
Inicialmente uma simples tranqueira em material perecível, a fortaleza, que em 1525 ainda se encontrava inacabada, foi reconstruída em pedra com uma pequena torre de dois pavimentos, depois elevada para três, em que apenas os cunhais eram em cantaria. A fortificação apresentava planta quadrangular, com muros de 24 a 27 braças de comprimento com 12 de espessura na base e 8 no topo. Segundo o cronista António Galvão, que foi capitão de Ternate, a parte da muralha voltada para terra oferecia fraca defesa por ser demasiado baixa, apesar de, com os seus 25 palmos, exceder em altura a de Malaca. Efectivamente, a fortaleza, ou "castelo", como também lhe chama Gabriel Rebelo, foi projectada tendo em vista a ameaça das armadas castelhanas e seus aliados de Tidore e Jailolo. Apesar de inatingível pela artilharia dos navios, descurou-se a possibilidade de um ataque pela retaguarda por parte dos naturais da própria ilha.
As relações entre ambos os povos foram tensas desde o início. Um entreposto comercial avançado tão distante da Europa, de forma geral só atraía os aventureiros mais ambiciosos ou desesperados, de tal modo que o comportamento geralmente sofrível dos europeus, combinado com as débeis tentativas de cristianização mantiveram as relações tensas com os muçulmanos de Ternate.[3]
Por esta razão, os habitantes locais não colaboraram na construção da fortaleza, suportando os soldados portugueses todo o trabalho braçal.
Quando a expedição espanhola sob o comando de García Jofre de Loaísa chegou às Molucas em 1526, erguendo um forte na ilha vizinha de Tidore, Portugal atacou-a a partir deste forte em Ternate.
O engenheiro militar e superintendente das obras das fortificações portuguesas no Oriente, Fernão de Sousa, esteve nas Molucas durante o governo do capitão D. Jorge de Castro (1539-1544), sendo possívelmente responsável pela construção do primeiro dos dois baluartes que se acrescentaram nos ângulos da fortaleza voltados para o mar. Estes baluartes encontravam-se arruinados já em 1570, devido às contínuas escaramuças dos portugueses com os habitantes da ilha. Os quartéis da tropa e os armazéns eram cobertos por fibra de palmeira, sendo o soberano de Jailolo obrigado ao tributo anual de três mil "olas" (folhas de palmeira nativa utilizadas para escrita), o que raramente fez. A povoação portuguesa, junto aos muros da Fortaleza, possuía uma paliçada de madeira para defendê-la.
Após o assassinato do sultão Hairun pelos Portugueses, os habitantes de Ternate expulsaram-nos em 1575, após um longo cerco de cinco anos a este forte. Amboina converteu-se, a partir de então, no novo centro de actividades Portuguesas nas Molucas. O poder europeu na região era débil e Ternate tornou-se uma potência regional em expansão, ferozmente islâmica e antiportuguesa sob os reinados do sultão Baab Ullah (r. 1570-1583) e seu filho, o sultão Said.[4]
O domínio Neerlandês
[editar | editar código-fonte]Ocupada por neerlandeses, no contexto da Dinastia Filipina a fortaleza foi reconquistada em 1606 por uma armada luso-espanhola, tendo o sultão de Ternate e a sua corte sido deportados para Manila, nas Filipinas.
No ano seguinte, os neerlandeses retornaram a Ternate, onde, com o auxílio dos habitantes, ergueram um forte em Malaio. A ilha passou a ser dividida entre as duas potências europeias: os espanhóis aliados a Tidore e os neerlandeses, a Ternate.
Para os governantes de Ternate, a presença neerlandesa foi especialmente bem-vinda, uma vez que lhes proporcionou vantagens militares diante de Tidore e dos espanhóis. Nomeadamente sob o governo do sultão Hamzah (r. 1627-1648), Ternate expandiu o seu território e reforçou o seu controlo sobre a periferia. A influência neerlandesa em seu reinado foi limitada, embora Hamzah e seu filho e sucessor, o sultão Mandar Syah (r. 1648-1675) tenham feito concessões à Companhia Neerlandesa das Índias Orientais (VOC) em troca pelo auxílio no controle de rebeliões locais. Os espanhóis permaneceram em Ternate e Tidore até 1663, quando foram definitivamente expulsos pelos neerlandeses.
No século XVIII Ternate foi a sede de um governador da VOC, que tentava controlar todo o comércio de especiarias ao norte das Molucas. Este comércio, até ao século XIX, declinou substancialmente, razão pela qual a região tornou-se cada vez menos central para o império colonial neerlandês. Entretanto, os neerlandeses mantiveram a sua presença estratégica na região, de modo a evitar que outras potências coloniais o ocupassem.
Notas
- ↑ Frade, Florbela Veiga (1999). «A Presença Portuguesa nas Ilhas de Maluco. 1511-1605». Universidade de Lisboa. Faculdade de Letras. Departamento de História. Mestrado em História (História dos Descobrimentos e da Expansão Portuguesa). CAP. IV - 6. A Expedição dos irmãos Brito (1521). pp. 93-101. Consultado em 18 de outubro de 2024
- ↑ Morais, Cristovão Alão de (1673). Pedatura lusitana (nobiliário de famílias de Portugal). Tomo Quarto, Volume Primeiro. Título Britos ... Porto: Livraria Fernando Machado. pp. 236–239. Consultado em 17 de outubro de 2024.
João de Brito casou 2.ª vez com D. Brites de Lima e houve ... Jorge de Brito q. morreo na Índia com Dõ Garcia de Noronha ... Lopo de Brito capitão de Ceilão ... António de Brito, foi capitão de Cochim e depois da MIna, onde morreo
- ↑ Ricklefs, M. C. (1993). A History of Modern Indonesia Since c.1300, 2nd Edition. London: MacMillan. p. 24. ISBN 0-333-57689-6
- ↑ Ricklefs, M. C. (1993). A History of Modern Indonesia Since c.1300, 2nd Edition. London: MacMillan. p. 25. ISBN 0-333-57689-6