Forte de São Filipe da Bertioga
Forte de São Filipe da Bertioga | |||||||||||||||||||||||||||
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São Vicente, c. 1624. O Forte da Bertioga está assinalado pela letra "G", ao fundo. | |||||||||||||||||||||||||||
Construção | (1552) | ||||||||||||||||||||||||||
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O Forte de São Filipe da Bertioga localizava-se na ponta da Baleia, no sopé do morro da Armação, extremo nordeste da ilha de Santo Amaro, atual município de Guarujá, no litoral do estado brasileiro de São Paulo.
História
[editar | editar código-fonte]Após o ataque indígena de c. 1548 à Casa-forte da Bertioga (STADEN, 1947:74), cuja estrutura foi reforçada (Fortim de São Tiago da Bertioga), os Tupinambás de Ubatuba passaram a evitar essa posição, o que levou à ereção de nova posição defensiva, na ilha fronteira de Santo Amaro. A Provisão-Régia de 18 de junho de 1552 determinou a fortificação do local "(...) por ser necessário defender o importante passo à entrada de Bertioga". Hans Staden narra-nos:
- "Como os inimigos agora percebessem que a povoação estava fortificada demais para que pudessem atacá-la, passaram-lhe ao pé uma noite, furtivamente, e chegaram [em canoas] através do canal entre a ilha e o continente até às proximidades de São Vicente. Aí fizeram prisioneiros a quantos puderam, pois os moradores de São Vicente não haviam cogitado de perigo algum, pensando estar abrigados por Bertioga fortificada. Tiveram que sofrer as conseqüências de tal suposição.
- Determinaram por isso construir bem em frente de Bertioga, na ilha de Santo Amaro, próximo ao mar, uma casa, destinando-lhe uma guarnição e peças de artilharia com tenção de impedir a passagem dos índios. Assim já haviam encetado a construção de uma fortaleza na ilha, mas não a tinham terminado porque, como me contaram, nenhum artilheiro português queria aí arriscar-se.
- Fui lá e examinei a situação do lugar. Quando os habitantes souberam que eu era alemão e que entendia um pouco do manejo de canhões, propuseram-me que me estabelecesse na casa da ilha e que os ajudasse na espreita do inimigo. Poriam aí alguma gente e me pagariam bem. Disseram também que se eu aceitasse isso saberia o Rei de Portugal agradecer-me, pois costumava ser um soberano generoso especialmente para com aqueles que o ajudavam e assistiam nas novas terras.
- Combinei com eles servir quatro meses na casa. Então devia chegar um encarregado do Rei com navios e construir um edifício de pedra seguro, que tinha de ser mais forte. E assim se fez.
- A maior parte do tempo passei eu na casa com dois outros homens. Tínhamos alguns canhões, estávamos porém em grande perigo e nunca seguros diante dos índios, pois a casa não era muito sólida. (...)
- Depois de alguns meses chegou o lugar-tenente do Rei [o governador-geral Tomé de Sousa (1549-1553), que visitou a capitania de São Vicente no início de 1553], pois a Câmara havia escrito a Sua Majestade com que insolência se portavam os inimigos que vinham do Norte, como era bonita a terra e que não seria avisado abandoná-la. (...) Ele inspecionou a região da Bertioga e também o lugar que a Câmara quisera fortificar. (...)
- Sobre isso [a prorrogação por dois anos do contrato de serviços de Staden, e sua futura recompensa pelo Rei] passou-me o lugar-tenente um contrato em nome do Rei, como o recebem os artilheiros reais, quando o solicitam.
- Construiu-se a fortaleza de pedra, pondo-se nela alguns canhões. O forte e estas peças me foram confiados; devia vigiá-los e manter boa guarda." (STADEN, 1974:76-77)
Infere-se do relato que existiram duas estruturas no local:
- a primeira, desde 1552, uma casa-forte artilhada, onde Staden serviu inicialmente por quatro meses, e
- a segunda, desde 1553, após a visita de Tomé de Sousa, uma fortificação artilhada (BARRETTO, 1958), confiada a Staden por um contrato assinado de dois anos.
Alguns autores atribuem a primeira estrutura ao fidalgo português Jorge Ferreira, que acompanharia Estácio de Sá (1510-1567) na segunda campanha contra os franceses na baía de Guanabara (1565-1667), participando da fundação da cidade do Rio de Janeiro (1565), e mais tarde dando combate aos corsários franceses no litoral do Cabo Frio (1572-1573), onde se radicaria com a família e escravos. Outra personalidade vicentina de destaque nesse mesmo evento foi o genovês José Adorno, que acompanhou o jesuíta padre José de Anchieta na luta na Guanabara, tendo contribuído com o envio de um reforço militar a Estácio de Sá, sob o comando do alemão Heliodoro Hessus, guarda-livros do seu Engenho São João, que lutou até à vitória decisiva em 20 de janeiro de 1567. Hessus, à testa desses homens, viria a perecer no assalto a um navio francês no Cabo Frio, a 8 de junho de 1568. José Adorno acompanhou o Capitão-mor Jerônimo Teixeira na Campanha do Cabo Frio em 1575 contra os Tupinambás, ganhando três sesmarias pelos serviços prestados: uma na Carioca, outra em Niterói, e a última no sertão (STADEN, 1974:78, 80).
Outros autores atribuem a construção do Forte de Pedra a Brás Cubas em seu segundo governo da Capitania, por ordem de Tomé de Sousa.
Em qualquer das hipóteses, a posição foi reforçada pelos portugueses em 1557, guarnecida por Pascoal Fernandes, Condestável das fortalezas e sítios da Bertioga, que residia no forte, isolado com a esposa e filhos (SANTOS, 1948). A estrutura encontra-se cartografada por Luís Teixeira (Mapa de São Vicente, c. 1573. in: Roteiro de todos os Sinais... Biblioteca Nacional da Ajuda, Lisboa).
Foi sucedido, a partir de 1765 no mesmo local, pelo Forte de São Luís da Armação.
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- BARRETO, Aníbal (Cel.). Fortificações no Brasil (Resumo Histórico). Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora, 1958. 368 p.
- GARRIDO, Carlos Miguez. Fortificações do Brasil. Separata do Vol. III dos Subsídios para a História Marítima do Brasil. Rio de Janeiro: Imprensa Naval, 1940.
- MORI, Victor Hugo; LEMOS, Carlos A. C.; ADLER, Homero F. de. Arquitetura Militar: um panorama histórico a partir do Porto de Santos. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 2003. 231p.
- SOUSA, Augusto Fausto de. Fortificações no Brazil. RIHGB. Rio de Janeiro: Tomo XLVIII, Parte II, 1885. p. 5-140.
- STADEN, Hans. Duas viagens ao Brasil. Belo Horizonte: Ed. Itatiaia; São Paulo: Ed. da Universidade de São Paulo, 1974. 218p. il.