Fausto de Figueiredo
Fausto de Figueiredo | |
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Estátua de Fausto Cardoso de Figueiredo, no Estoril | |
Conhecido(a) por | Ter desenvolvido a indústria do turismo na região do Estoril |
Nascimento | 17 de Setembro de 1880 Celorico da Beira, Baraçal |
Morte | 5 de abril de 1950 (69 anos) Estoril |
Nacionalidade | Portugal |
Cônjuge | Clotilde Ferreira do Amaral de Figueiredo |
Ocupação | Empresário |
Prémios | Grande-Oficial da Ordem Civil do Mérito Agrícola e Industrial Classe Industrial e Grã-Cruz da Ordem Civil do Mérito Agrícola e Industrial Classe Industrial |
Empregador(a) | Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses |
Cargo | Presidente do Conselho de Administração |
Fausto Cardoso de Figueiredo GOMAI • GCMAI (Celorico da Beira, Baraçal, 17 de Setembro de 1880 — Cascais, Estoril, ou Lisboa, 5/6 de Abril de 1950)[1][2] foi um empresário, capitalista, industrial hoteleiro e grande animador do turismo português.[3][4]
Biografia
[editar | editar código-fonte]Vida pessoal
[editar | editar código-fonte]Nasceu nos finais de 1880, na Freguesia de Baraçal, em Celorico da Beira,[5] filho de António Cardoso de Figueiredo, Professor, e de sua mulher Maria José de Almeida, daí naturais e aí casados.[6][4]
Casou em Lisboa, Lumiar ou Campo Grande, a 9 de Maio de 1910[4] com Clotilde Hermenegilda Ferreira do Amaral (Goa, Salsete, São Tomé, 13 de Abril de 1895 - Cascais, Estoril, 13 de Outubro de 1955), filha de José Ferreira do Amaral (Figueiró dos Vinhos, Campelo, 23 de Janeiro de 1842 - Lisboa, Lumiar, Janeiro de 1915) e de sua mulher Maria do Rosário da Silveira (Alenquer, Abrigada, 5 de Outubro de 1869 - 15 de Fevereiro de 1930), da qual teve, entre outros, Fausto José do Amaral de Figueiredo.[6]
Faleceu no dia 5 de Abril de 1950,[5] na sua Moradia "Pinhal Manso", no Estoril, cujo arruamento tem o seu nome, Avenida Fausto de Figueiredo.
Foi sepultado no Cemitério dos Prazeres, tendo o seu funeral sido concorrido por centenas de pessoas, incluindo vários funcionários da Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses e da Sociedade Estoril, e os Bombeiros Voluntários e o Ateneu Ferroviário do Barreiro; junto ao jazigo, discursaram, em sua honra, o General Raul Augusto Esteves, em nome dos Caminhos de Ferro Portugueses, e Guilherme Cardim, que representou a Sociedade Estoril.[5]
Formação e carreiras profissional e política
[editar | editar código-fonte]Veio para Lisboa ainda muito novo,[5] tendo concluído o curso de Farmácia diplomado com a Licenciatura na Escola Superior de Farmácia de Lisboa.[1][3] Exerceu, durante alguns anos, a profissão de Farmacêutico,[3][4] antes de se ter tornado administrador de empresas e industrial hoteleiro.[5][2] Mas o seu nome encontra-se, sobretudo, ligado ao desenvolvimento turístico do Estoril, de que foi o grande dinamizador.[4]
Mais tarde, ingressou no Conselho de Administração da Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses,[3] tendo chegado a ser Vice-Presidente e Presidente daquela organização;[5][1][2][4] nessa qualidade, e ao seu serviço, realizou diversas, largas e extensas viagens ao e pelo estrangeiro,[4] nelas adquirindo vastos conhecimentos sobre turismo, que o seu rasgado espírito de iniciativa lhe fez ambicionar introduzir em Portugal.[3] Apresentou a demissão do cargo de presidente em 16 de Agosto de 1949, por motivos de saúde, tendo a Companhia decidido nomeá-lo como presidente honorário.[7]
Após a Implantação da República Portuguesa, entre 21 de Março de 1911 e 3 de Junho de 1913, na qualidade de Vice-Presidente, foi Presidente em Exercício da Câmara Municipal de Cascais.[2][8][4]
Foi iniciado na Maçonaria em data desconhecida de 1913, na Loja Acácia, de Lisboa, afecta ao Grande Oriente Lusitano, com o nome simbólico de Adamastor.[1]
Foi, novamente, Presidente Efectivo da Câmara Municipal de Cascais[2] de 29 de Julho de 1913 a 31 de Dezembro de 1913 e de 16 de Junho de 1919 a 31 de Dezembro de 1922.[9][4]
Também exerceu as posições de Administrador e Presidente do Conselho de Administração da Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses da Beira Alta, região da qual era oriundo, e da Companhia de Cimentos Brancos (CIBRA), de administrador da Sociedade de Estudos Técnicos.[5][1][2][3][4]
Distinguiu-se pela grande obra de fomento turístico que realizou no Estoril, criando a Sociedade Estoril Plage e a Sociedade Estoril.[1] Desse modo, radicou-se nele a ideia e concebeu o projeto de fazer do Estoril uma estância turística de nível internacional e mundial,[3] expondo-o na Câmara dos Deputados. Mesmo diante da difícil conjuntura materializada pela Primeira Guerra Mundial, constituiu em 1915 a Sociedade Estoril para implementá-lo. Esta, no início de 1916, lançou a primeira pedra do Casino Estoril.
Adquiriu uma extensa propriedade, então conhecida pela Quinta do Vianinha, que pertencia a José Viana da Silva Carvalho, e começou a sua obra, cedendo terrenos para construções, financiando mesmo muitas destas.[3]
Uma coisa havia, porém, que se reconhecia indispensável para fazer do Estoril a fantasiada zona de turismo elegante: a electrificação da linha férrea que a servia.[4] Um contrato de arrendamento[4] feito com a C.P., proprietária dessa linha de Cascais, permitiu-lhe enveredar deliberadamente pela efetivação do seu sonho, a qual não foi isenta de dificuldades.[3] Em 1918, a Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses concedeu à referida sociedade a exploração e electrificação da Linha de Cascais, obra que foi por si concluída em 1926.[10][1] Para comprometer nessa grande iniciativa os capitais indispensáveis, forçoso era que houvesse uma segura garantia de êxito, e essa residia, apenas, na regulamentação do jogo. Uma combinação ou acordo com a Empresa Exploradora dos Casinos do Monte Estoril, L.da, à frente da qual estava Guilherme Cardim, proporcionou-lhe ensejo de activar as suas diligências.[3]
Viria a ser irradiado da Maçonaria em 1922, por falta de pagamento das respectivas quotas.[1]
Em 1923 foi Provedor da Assistência Pública.[1][2][3][4]
Em Dezembro de 1927, a sua obtenção da concessão da regulamentação do jogo[4] permitiu o avanço num ritmo mais acelerado, fazendo do Estoril a primeira zona do turismo internacional no país.[3]
Fausto de Figueiredo, cercado por arquitectos franceses, e tendo já constituído a Sociedade Estoril Plage, enveredou pela transformação da região, instalando infraestruturas[4] e fazendo surgir, então, os dois hotéis, construindo o Hotel Palácio e o Hotel do Parque, o Tamariz, o Parque, o Casino, um campo de golfe,[4] courts de ténis,[4] o tiro aos pombos, etc,[4] e organizando, permanentemente, muitas outras manifestações desportivas de carácter internacional, elevando o Estoril à categoria de estância internacional. A empresa exploradora da linha férrea, por iniciativa de Fausto de Figueiredo, separou-se em Sociedade Estoril, independente da Sociedade Estoril Plage. Esta deu de arrendamento a exploração do jogo.[1][3]
Em 1928 foi inaugurada a Estação Ferroviária do Cais do Sodré e, em 30 de Agosto de 1930 foi inaugurado o que então era o mais importante hotel do país - o Hotel Palácio. Os primeiros hóspedes do Hotel foram o Príncipe Hirohito (futuro Imperador do Japão) e sua esposa em viagem de lua-de-mel.
Um ano mais tarde foi inaugurado o Casino Estoril, que viria a tornar-se um dos mais célebres da Europa.
A acção de Fausto de Figueiredo, atraiu ao Estoril monarcas e figuras públicas de renome mundial, que em virtude da Segunda Guerra Mundial foram forçados a exilar-se, optando por Portugal como país neutro, tornando a zona do Estoril uma das mais cosmopolitas do mundo, à época.
Como político, sucessivamente, Fausto de Figueiredo aderiu ao Franquismo e acompanhou e foi apoiante de João Franco, e, depois, ao Republicanismo Democrático,[1] e exerceu como Deputado do Partido Republicano Português,[4] com o qual colaborou, embora sem se filiar, após a Proclamação da República Portuguesa e durante a Primeira República Portuguesa,[2][3][4] tendo sido grande admirador de Afonso Costa; aderiu depois ao Estado Novo, durante o qual foi Procurador à Câmara Corporativa entre 1935 e 1949[4] em 1944,[3] em representação da indústria hoteleira e doutras entidades ligadas ao turismo.[5][1][2][4] A sua intervenção como Procurador foi escassa. Em 1936, relatou um Parecer sobre a Urbanização da Costa do Sol.[4] Durante a I Legislatura, de 1935-1938, fez parte da 14.ª Secção – Turismo, e subscreveu ou relatou um total de três Pareceres: 7/I – Urbanização da Costa do Sol, como Relator, 94/I – Despacho e registo de veículos automóveis e 100/I – Modificação da constituição do Conselho Superior de Viação. Durante a II Legislatura, de 1938-1942, fez parte da 11.ª Secção – Transportes e Turismo, e subscreveu ou relatou um total de dois Pareceres: 11/II – Navegação para as colónias e 26/II – Autorização ao Governo para criar um imposto sobre os lucros extraordinários de guerra. Durante a III Legislatura, de 1942-1945, fez parte da 11.ª Secção – Transportes e Turismo, e subscreveu ou relatou um total de dois Pareceres: 7/III – Distribuição dos lucros líquidos anuais das empresas de navegação e 23/III – Coordenação de transportes terrestres. Durante a IV Legislatura, de 1945-1949, fez parte da 11.ª Secção – Transportes e Turismo, e não subscreveu ou relatou qualquer Parecer.[2]
"Na política, Fausto de Figueiredo acompanhou João Franco em tempos de Monarquia, e, proclamada a República, esteve ao lado do Partido Republicano Português, sendo seu deputado ao Parlamento. No Estado Novo foi deputado à Câmara Corporativa. Foi vogal, também, do Conselho Superior para o Comércio Externo[2][4] e da Comissão de Propaganda do Ministério dos Negócios Estrangeiros."[3]
Escreveu: [4]
- Estoril. Estação Marítima, Climatérica, Termal e Desportiva, Lisboa, 1914[4]
- Organização do Turismo. Tese apresentada ao I Congresso Nacional de Turismo, 1935, Lisboa, 1936[4]
São suas as seguintes palavras: "A transformação do Estoril constitui, para mim, o maior sonho da minha vida e à sua realização me consagrei, julgando assim, prestar um serviço à minha Pátria."
Prémios, condecorações e homenagens
[editar | editar código-fonte]Foi Grande-Oficial da Ordem Civil do Mérito Agrícola e Industrial Classe Industrial a 5 de Outubro de 1928 e elevado a Grã-Cruz da Ordem Civil do Mérito Agrícola e Industrial Classe Industrial a 22 de Setembro de 1930.[11][3][4]
É mencionado como sendo, também, Comendador e Membro Vogal do Conselho da Ordem Militar de Nosso Senhor Jesus Cristo e Grande-Oficial da Antiga e Muito Nobre Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito.[3][4]
Em 1950, formou-se uma comissão para realizar obras de homenagem a Fausto de Figueiredo, nomeadamente um monumento e um mausoléu no Estoril.[12]
Referências
- ↑ a b c d e f g h i j k l António Henrique Rodrigo de Oliveira Marques. Dicionário de Maçonaria Portuguesa. [S.l.: s.n.] pp. Volume I. Colunas 583-4
- ↑ a b c d e f g h i j k «Fausto Cardoso de Figueiredo» (PDF). Consultado em 11 de Outubro de 2015
- ↑ a b c d e f g h i j k l m n o p q r Vários. Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira. [S.l.]: Editorial Enciclopédia, L.da. pp. Volume 11. 309
- ↑ a b c d e f g h i j k l m n o p q r s t u v w x y z aa ab ac Manuel Braga da Cruz e António Costa Pinto (2005). Dicionário Biográfico Parlamentar (1935-1974). Lisboa: co-edição Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa e Assembleia da República. pp. Vol. V. 629
- ↑ a b c d e f g h «In Memoriam: Fausto de Figueiredo» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. 63 (1496): 94, 95. 16 de Abril de 1950. Consultado em 26 de Abril de 2016
- ↑ a b "Sangue Velho Sangue Novo", Manuel de Mello Corrêa, Instituto Português de Heráldica, 1.ª Edição, Lisboa, 1988, Árv. 27
- ↑ «Conselho de Administração da C. P.» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. 62 (1483). 618 páginas. 1 de Outubro de 1949. Consultado em 26 de Abril de 2016
- ↑ «Título ainda não informado (favor adicionar)». Biblioteca Municipal de Cascais. Consultado em 31 de Agosto de 2015
- ↑ «Título ainda não informado (favor adicionar)». Biblioteca Municipal de Cascais. Consultado em 31 de Agosto de 2015
- ↑ AGUILAR, Manuel Busquets de (1 de Julho de 1967). «O Relatório da Sociedade Estoril Referente a 1966» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. 80 (1909). 133 páginas. Consultado em 26 de Abril de 2016
- ↑ «Cidadãos Nacionais Agraciados com Ordens Portuguesas». Resultado da busca de "Fausto Cardoso de Figueiredo". Presidência da República Portuguesa. Consultado em 1 de setembro de 2015
- ↑ «Fausto de Figueiredo». Gazeta dos Caminhos de Ferro. 63 (1909). 190 páginas. 1 de Julho de 1950
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Jornal O Século, 6 de Abril de 1950.
- Assento de Baptismo na Freguesia do Baraçal, a 14 de Novembro de 1880
- Anais da Assembleia Nacional e da Câmara Corporativa, 1942-1943, p. 246
- "Diário de Notícias", 6 de Abril de 1950, pp. 1 e 4
- Maria da Graça González Briz, A arquitectura do Estoril: da Quinta do Viana ao Parque do Estoril (1880-1930), "Arquivo de Cascais", N.º 8, 1989, pp. 51-74
- Raquel Henriques da Silva, Estoril, estação marítima, climática, thermal e sportiva - as etapas de um projecto (1914-1932), "Arquivo de Cascais", N.º 10, 1991, pp. 41-60
- Maria da Graça González Briz, A arquitectura modernista do Estoril (1930-1940), "Arquivo de Cascais", N.º 10, 1991, pp. 61-72
Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- Mortos em 1950
- Nascidos em 1880
- Homens
- Naturais de Celorico da Beira
- Farmacêuticos de Portugal
- Ferroviários de Portugal
- Empresários de Portugal
- Vice-presidentes da Câmara Municipal de Cascais
- Presidentes da Câmara Municipal de Cascais
- Maçons de Portugal
- Maçons do século XX
- Deputados da República Portuguesa
- Grandes-Oficiais da Ordem do Mérito Empresarial
- Grã-Cruzes da Ordem do Mérito Empresarial
- Procuradores da Câmara Corporativa de Portugal