Saltar para o conteúdo

Família Guinle

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Família Guinle
França e Brasil
Estado: França e Brasil
País: França
Títulos: Família de empreiteiros, industriais e banqueiros
Presidente da Companhia Docas de Santos
Fundador e proprietário do Copacabana Palace
Fundador e presidente do Fluminense Football Club
Fundador e presidente da Companhia Siderúrgica Nacional
Fundador e presidente do Banco Boavista
Presidente do Banco do Brasil
Deputado estadual
Deputado federal
Cavaleiro da Ordem Soberana e Militar de Malta
Embaixador na Itália
Fundador: Eduardo Pallasim Guinle
Ano de fundação: Século XVII
Linhagem secundária: Guinle de Paula Machado
Sampaio Guinle
Castello Branco

Guinle é uma família de origem francesa documentada desde o século XVII em Bazet e arredores, onde foram membros da pequena burguesia. Um ramo transferido para o Brasil ganhou grande proeminência a partir do último quarto do século XIX, quando o seu patriarca, o empresário gaúcho Eduardo Pallasim Guinle, fundou ao lado de Francisco de Paula Ribeiro e Cândido Gaffrée a Companhia Docas de Santos, tornando-se riquíssimos. Entrando na elite carioca, vários descendentes se projetaram na política, no empresariado, nas artes e na sociedade. A família construiu o famoso hotel Copacabana Palace.

A família tem origem na vila de Bazet, um subúrbio de Tarbes, nos Altos Pirenéus franceses.[1] Estão nesta região pelo menos desde 1630, quando Domenge Mamnus, dito Guinle, tem obrigações com a Igreja de Saint-Saver-de-Rustan, a 13 km de Bazet. Em 1699 Bernard Guinle, de Bazet, estava sendo processado pelo médico Dofailla; em torno de 1706 Jacques era advogado; Pierre e Martin foram açougueiros; em torno de 1720 Pierre filho do açougueiro Pierre era advogado do Parlamento; em 1776 Jean, de Tostat (4 km), recebeu do mosteiro de Saint-Lézer metade dos direitos sobre os dízimos de Tostat, e Jean, de Bours (2 km) em 1779 recebeu um arrendamento de terras das Ursulinas.[2] Em 1789 um Guinle citado sem nome próprio era conselheiro e cônsul em Bours, participando da elaboração das petições do senescalado de Bigorre para os Estados Gerais.[3]

Jean-Pierre, nascido em Tarbes em 1806, foi brigadeiro chefe das cavalariças municipais, aposentado em 1867.[4] Um Guinle citado sem nome próprio foi notário em Tarbes em torno de 1860.[5] Outro Guinle foi oficial sanitário em Andrest (3 km), morto em 1852.[6] Romain foi agricultor e assessor administrativo municipal em Andrest, aposentado em 1911.[7] Alexandre (1884-1957), de Tarbes, foi músico e poeta,[8] recebeu da Academia Francesa o Prêmio de Poesia em 1931 e o Prêmio Auguste Capdeville pelo conjunto da obra em 1957.[9] Os Guinle de Sarniguet (3 km) e Pujo (6 km) na II Guerra Mundial auxiliaram a esconder judeus e abrigar aviadores norte-americanos caídos na campanha.[10] Disse Marcel Céroni que "esta família generosa e patriótica participou ativamente da Resistência".[11]

Os Guinle se aparentaram com a família Ducasse, nativa de Bazet. Antoine Guinle (1819-1854) casou com Jeanne Ducasse, gerando Dominique, Alexis e Marc.[12] Jeanne era irmã de François Ducasse, que foi diplomata em Montevidéu e pai de Isidore Ducasse (mais conhecido como Lautréamont), nascido em Montevidéu. Marc foi carpinteiro e avô de Marcel Guinle, secretário da prefeitura de Bazet.[13][14]

A linha brasileira inicia com Jean-Arnauld Guinle, nascido em Bazet, filho de Pierre Guinle e Jeanne Bragat, que em torno de 1840 decidiu emigrar para o Uruguai. Ao chegar encontrou Montevidéu em meio a turbulência militar, sendo aconselhado pelo representante consular francês Theodore Pichon a mudar-se para o Brasil ou a Argentina. Casou em 24 de novembro de 1843 com a francesa Josephine Désirée Bernardine Pallasim (ou Palassim), partindo imediatamente depois para Porto Alegre, onde nasceu em 1846 seu filho Eduardo Pallasim Guinle.[1]

Eduardo começou trabalhando como caixeiro viajante, e depois de conhecer Cândido Gaffrée, natural de Bagé, estabeleceu com ele uma parceria comercial. Eduardo casou em 1875 com Guilhermina Coutinho, e no mesmo ano, levando o sócio, se instalou no Rio de Janeiro, onde abriram um pequeno comércio na zona central da cidade. No Rio nasceriam os filhos de Eduardo: Eduardo (1878), Guilherme (1882), Carlos (1883), Arnaldo (1884), Octávio (1886), Celina (1887) e Heloísa (1890).[15]

Os dois sócios, tendo vencido em 1888 uma licitação para modernizar uma parte do Porto de Santos, conseguiram nos primeiros anos da República, e desta vez sem nova licitação, expandir a concessão de 866 metros para 4.720 metros, e prorrogar o período de vigência de 39 para 92 anos. Passaram então a receber a enorme receita resultante de um percentual do valor de toda a carga que usava o porto.[16]

Eduardo Guinle, falecido em 1912, deixou uma grande fortuna para seus descendentes.[17] Gaffrée, que morreu em 1919 sem deixar herdeiros, também deixou sua parte nas empresas aos sete filhos de Eduardo, que expandiram, na primeira metade do século XX, os negócios familiares para as áreas de produção e distribuição de energia elétrica, imobiliárias, indústria têxtil, bancos, construção civil e hotelaria.[17] Pertenceu à família — protagonista de alguns dos principais capítulos da história econômica do Brasil — o Copacabana Palace Hotel, o mais luxuoso hotel brasileiro da época, construído a pedido do então presidente do Brasil Epitácio Pessoa, que desejava um hotel de turismo na capital do país.[17][18]

A proximidade do poder na então capital federal, o Rio de Janeiro, favoreceu sobremaneira os negócios da família Guinle, que além de ter explorado por décadas o Porto de Santos, executou diversas obras públicas no país. A transferência da capital para Brasília causou a derrocada financeira do clã.[19][20][21]

Membros de destaque

[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b Bulcão, Clóvis. Os Guinle: a história de uma dinastia. Intrínseca, 2015, pp. 18-20
  2. Durier, Charles & Labrouche, Paul. Inventaire-sommaire des Archives départementales antérieures à 1790: Hautes-Pyrénées. Archives ecclésiastiques. Séries G et H. Archives départementales des Hautes-Pyrénées, 1892, pp. 35; 175; 188-189; 191; 217
  3. Balencie, Gaston. Départment des Hautes-Pyrénées: Cahiers de doléances de la sénéchaussée de Bigorre pour les États généraux de 1789. Lesbordes, 1925, pp. 194; 247
  4. "Décret Impériale du 17 janvier 1867". Bulletin des lois de la République française, 1867; XI (XXIX): 358
  5. Abadie, Joseph-Bernard. Les Hautes-Pyrénées au temps de Napoléon III: indicateur des Hautes-Pyrénées. Association G. Mauran, 1999, p. 317
  6. Tarbes et la Bigorre. Fédération des Sociétés académiques et savantes Languedoc, Pyrénées, Gascogne, 1979, p. 166
  7. "Pyrénées (Hautes)". Journal officiel de la République française, 1911, p. 5907
  8. Riviere, Jacques. The Ideal Reader: Proust, Freud, and the Reconstruction of European Culture. Routledge, 2017
  9. "Prix de l'Académie: Alexandre Guinle". Académie française
  10. Pottier, Francis. Le commando Hispano: Épisodes de la Résistance en Bigorre. Marrimpouey, 1975
  11. Céroni, Marcel. Le Corps franc Pommiès, Organisation de résistance de l'armée: La clandestinité. Editions du Grand Rond, 1980, p. 225
  12. Rocca, Pablo. "Enigmas para resolver: los últimos días de François Ducasse". In: Alea, 2019; 21 (1): 305-342
  13. Saillet, Maurice. Lautréamont: Obra completa. AKAL, 1988, p. 16
  14. Lefrère, Jacques. Le visage de Lautréamont: Isidore Ducasse à Tarbes et à Pau. Horay, 1977, p. 36
  15. Bulcão, pp. 11; 18-20
  16. a b Bulcão, Clóvis. Os Guinle, A História de Uma Dinastia. Editora Intrínseca, 2015, ISBN 978-85-8057-752-5
  17. a b c "Saudades do tempo da fartura". Jornal do Brasil, 15/09/2001
  18. IstoÉ Dinheiro: O Guinle que deu certo
  19. «A saga da família Guinle». Extra Online. Consultado em 18 de abril de 2020 
  20. «Morre o empresário Octávio Guinle, fundador do hotel Copacabana Palace». History. Consultado em 18 de abril de 2020 
  21. «Uma História em Três Séculos». Cia. Docas de Santos. Consultado em 18 de abril de 2020 
  22. «César Guinle Um dos melhores prefeitos que Nova Friburgo já teve». Jornal A Voz da Serra. 21 de setembro de 2014. Consultado em 10 de dezembro de 2017 
  23. Ancelmo Gois (19 de setembro de 2021). «Vá em paz: Tio da atriz Guilhermina Guinle, José Eduardo Guinle faleceu hoje em São Paulo». jornal O Globo. Consultado em 19 de setembro de 2021