Esfera privada
A esfera privada é o oposto e o complemento da esfera pública. A esfera privada é um setor determinado da vida em sociedade na qual um indivíduo goza de certo grau de autoridade, livre de intervenções governamentais ou de outras instituições. Exemplos da esfera privada são a família e o lar e escola
. Martin Heidegger afirma que é somente na esfera privada que alguém pode ser autenticamente si mesmo.
Na teoria da esfera pública, no modelo burguês, a esfera privada é aquele domínio da vida de alguém no qual se trabalha para si mesmo. Neste domínio, as pessoas trabalham, trocam bens e sustentam as suas famílias; é portanto, neste sentido, separado do restante da sociedade.[1]
Predefinição:Esfera privada Grega
A esfera privada grega era considerada a esfera da casa (oikos)[2], da família e daquilo que é próprio (idion)[2] ao homem. Tratava-se de um ambiente repleto de violência em que a autoridade máxima pertencia ao chefe da família. O chefe exercia o poder despótico sobre seus subordinados: sua mulher, filhos e escravos. Nesta esfera não era permitido qualquer tipo de discussão livre e racional. A razão de conexão entre o chefe da casa e seus subordinados eram apenas relacionadas às necessidades e carências biológicas de ambos como, por exemplo, alimentação, moradia e segurança. Assim, o motor do lar era a cessão da liberdade dos subordinados ao chefe em troca de proteção, asilo e sustento. A mulher era objetificada por seu possuidor, possuía apenas a função de procriação e cuidado dos filhos. Os escravos, por sua vez, auxiliavam o chefe da família nas atividades domésticas que geralmente envolviam força física. Na esfera privada a desigualdade era condição de existência: o chefe da família comandava e os outros membros da família obedeciam. Não haviam quaisquer limitações jurídicas sobre o comportamento e autoridade do possuidor, pois assim seria assegurado a ele a ordem doméstica e da mesma forma o poder total sobre vida e morte. Inserido na esfera privada, o homem encontrava-se privado da mais importante das capacidades, a ação política. O homem só era inteiramente humano se ultrapassasse o domínio instintivo e natural da vida privada.
A esfera privada grega relaciona-se também a noção de privativo, conforme afirma Hanna Arendt[2] (1997) a redução da vida à condição de privatividade significa delimitar o espaço de convívio e atuação social dos indivíduos. A consequência moderna dessa ideia de privaticidade, segundo Arendt (1997), é o surgimento de uma sociedade de massas formada por seres humanos não somente privados de seu lugar no mundo, mas também do espaço de seu lar.
Predefinição:Esfera Privada Moderna
A esfera privada moderna nasce a partir da mudança estrutural da esfera pública[3] em que Estado e sociedade passam a interpenetrar-se. Por um lado a esfera íntima passa a cuidar de atividades designadas para formação social antes responsabilidade da esfera pública enquanto, por outro lado, a esfera privada representada pela estrutura familiar já não é mais é responsável por si, já que o Estado passa a ser provedor de garantias sociais. Dessa forma, a família, como reitera Habermas[3], tornou-se desprivatizada através de garantias públicas, contudo a esfera íntima passou a ser desenhada mantendo distância da comunidade, fato que gerou um esvaziamento da esfera privada, impactando até mesmo nas construções de casas e cidades em que o isolamento pode ser notado.
A mudança estrutural[3] da Esfera privada nos tempos modernos indica também a decadência da esfera literária antes existente, visto que com o surgimento de novas mídias o consumo de uma comunicação de massa foi possibilitado tornando o público, anteriormente tido como pensador de cultura, apenas consumidor de cultura. Essa esfera pública de consumismo cultural passou a vigorar, a serviço da propaganda econômica e política.
Referências
- ↑ Habermas, Jurgen; Thomas Burger (tradução), Frederic Lawrence (Ass.) (1989). MIT Press, ed. The Structural Transformation of the Public Sphere: An Inquiry into a Category of Bourgeois Society (em inglês). Massachusetts: [s.n.] ISBN 0-262-58108-6
- ↑ a b c Arendt, Hanna (1997). A Condição Humana. [S.l.: s.n.]
- ↑ a b c Habermas, Jurgen (2003). Mudança estrutural da esfera pública: investigações quanto a uma categoria da sociedade burguesa. [S.l.: s.n.]
Ver também
[editar | editar código-fonte]Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- CARVALHO, Lucas Correia. Esfera pública e esfera privada: uma comparação entre Hannah Arendt e Jürgen Habermas. Revista Habitus: revista eletrônica dos alunos de graduação em Ciências Sociais - IFCS/UFRJ, Rio de Janeiro, v. 6, n. 1, p. 38-52, dez. 2008. Semestral. Disponível em: <www.habitus.ifcs.ufrj.br>. Acesso em: 27 dez 2009.
- Cornelius Castoriadi. La democracia como procedimiento y como régimen (em castelhano)
- Marta Olivé. Científics i polítics. Una conversa entorn la veritat, la contingència i la democracia (em catalão)
- Stefano Rodotà. Democracia y protección de datos[ligação inativa] (em castelhano)