Chamar uma pá de pá
Esta página ou se(c)ção precisa ser formatada para o padrão wiki. (Agosto de 2013) |
"Chamar uma pá de pá" (do inglês, To call a spade a spade) é uma expressão anglófona que significa falar clara e diretamente sobre um assunto considerado delicado ou embaraçoso, chamando as coisas pelos seus próprios nomes e falando francamente, sem meias palavras, mesmo que isto seja inconveniente ou desagradável. Segundo o Brewer’s Dictionary of Phrase and Fable (1913) a expressão tem o sentido de ser franco e claro, até ao ponto de ser rude.[1]
Origens e usos
[editar | editar código-fonte]A mais antiga fonte dessa expressão é a Apophthegmata Laconica (178b), parte da Moralia de Plutarco (46 - 126 d.C.). Ali está registrada a sentença την σκαφην σκαφην λεγοντας (translit. ten skafen skafen legontas, que, em português, significa "chamar a tigela de tigela" ou "o pão de pão" [2] Dessa expressão existe uma variante, que Luciano de Samósata (ca. 125 - ca.180) refere como sendo oriunda do teatro cômico, atribuída a Menandro ou a Aristófanes. Em Quomodo Historia conscribenda sit ("Como se deve escrever a História"), livro 59 § 41-42, escreve, Luciano, assumidamente inspirado em Tucídides, escreve: τα συκα συκα, την σκαφην δε σκαφην ονομασων (translit. ta suka suka, ten skafen de skafen onomason : "chama os figos de figos e o pão de pão" [3][4] ou "chama os figos de figos e a taça de taça" (ou "a tigela de tigela") [5] Mas há outras traduções possíveis para a expressão, pois a palavra grega σκαφην (translit. skafen) comporta vários significados.[6]
Na Apophthegmatum opus, a tradução latina da obra de Plutarco feita por Erasmo de Roterdão, no século XV, a palavra grega σκαφην (skafen) foi traduzida erroneamente como lỉgṏ, "picareta" . A frase foi introduzida no inglês em 1542, através da tradução dos Apophthegmesde Erasmus, feita por Nicolas Udall, na qual a palavra lỉgṏ aparece traduzida como "pá":
- Filipe respondeu, que os macedônios não faziam rodeios para falar, sendo completamente grosseiros, diretos e rústicos, já que não viam outra maneira de chamar uma pá senão de pá.[7]
Oscar Wilde, em seu romance O Retrato de Dorian Gray (cap. XVII), deprecia o realismo na literatura através das palavras de Lorde Henry:
"O homem que chamasse uma pá de pá deveria ser obrigado a usar uma."[8]
A expressão também aparece na peça de Wilde A importância de ser sério, quando Cecily declara:
- "Quando vejo uma pá, chamo-a de pá".
Ao que Gwendolen responde:
- "Fico feliz em dizer que nunca vi uma pá. É óbvio que nossas esferas sociais são completamente diferentes." [9]
Contemporaneamente, nos Estados Unidos, essa expressão idiomática é evitada já que o termo spade é considerado como insulto étnico aos negros, registrado em 1928. [10]. No Reino Unido, usa-se como equivalente a forma, mais enfática, "to call a spade a bloody shovel," expressão atestada desde 1919, segundo registra The Oxford English Dictionary.
Em outras línguas
[editar | editar código-fonte]A expressão tem equivalentes em várias outras línguas, dentre as quais:
- português - "pão, pão, queijo, queijo", "dar nome aos bois" ou "chamar as coisas pelo nome".
- italiano - dire pane al pane e vino al vino ("chamar pão de pão e vinho de vinho")
- francês - appeler un chat un chat ("chamar um gato de gato") [11]
- espanhol - llamar al pan, pan y al vino, vino (chamar pão de pão e vinho de vinho")
- alemão - das Kind beim Namen nennen ("chamar a criança pelo nome" )
- islandês - að segja hlutina eins og þeir eru ("dizer as coisas como elas são")
- dinamarquês - at sige tingene, som de er ("dizer as coisas como elas são")
Notas e referências
- ↑ To be outspoken, blunt, even to the point of rudeness; to call things by their proper names without any "beating about the bush".
- ↑ Segundo a tradução italiana adotada por Luigi Settembrini no texto de Luciano de Samósata.
- ↑ Luciano de Samósata. "Um código de ética para o historiador" , da obra Como se deve escrever a história, livro 59 § 41-42. (em italiano)
- ↑ Opere di Luciano. Trad. Luigi Settembrini. Firenze:Felice Le Monnier, 1862. Também disponível em PDF no site Domínio Público.
- ↑ Conforme Dizionario dei Modi di Dire, Hoepli Editore. "Chiamare la gatta gatta e non micia".
- ↑ Frei Jacintho de São Miguel, Frei Manoel de Santo Antônio e o Padre Custódio de Oliveira traduzem skafen como "prato", "escudela" ou "batel", respectivamente. Ver Como se devem verter os antigos: Luciano e o século XVIII português, por Jacyntho Lins Brandão. Nuntius Antiquus, Belo Horizonte, Universidade Federal de Minas Gerais, nº 1, junho de 2008, p.17.
- ↑ Philippus aunswered, that the Macedonians wer feloes of no fyne witte in their termes but altogether grosse, clubbyshe, and rusticall, as they whiche had not the witte to calle a spade by any other name then a spade.
- ↑ The man who could call a spade a spade should be compelled to use one.
- ↑ CECILY: When I see a spade I call it a spade. GWENDOLEN: I am glad to say I have never seen a spade. It is obvious that our social spheres have been widely different.
- ↑ Quinion, Michael (2004). Port Out, Starboard Home: And Other Language Myths. [S.l.]: Penguin Books Ltd. pp. 60–62. ISBN 0140515348
- ↑ A expressão empregada por Boileau ( J'appelle un chat un chat, et Rolet un fripon; em português: "Eu chamo gato de gato e Rolet de ladrão." ), nas Sátiras (1668-1716), "Sátira I. Mais recentemente, usada por Sartre em Qu’est-ce que la littérature ?, de 1947: La fonction d’un écrivain est d’appeler un chat un chat. Si les mots sont malades, c’est à nous de les guérir. Au lieu de cela, beaucoup vivent de cette maladie; em português: "A função de um escritor é chamar um gato de gato. Se as palavras estão doentes, cabe a nós curá-las. Em vez disso, muitos vivem dessa doença."
Ver também
[editar | editar código-fonte]Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- «"Call a spade a spade" - GoEnglish.com» (em inglês)