Carlos Reichenbach
Carlos Reichenbach | |
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Carlos Reichenbach em 2009, durante evento cultural em São Paulo | |
Nascimento | 14 de junho de 1945 Porto Alegre, RS |
Nacionalidade | brasileiro |
Morte | 14 de junho de 2012 (67 anos) São Paulo, SP |
Ocupação | Cineasta |
Atividade | 1967 – 2012 |
Outros prêmios | |
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Carlos Oscar Reichenbach Filho (Porto Alegre, 14 de junho de 1945 – São Paulo, 14 de junho de 2012) foi um roteirista, diretor de cinema e fotografia, professor, músico, fotógrafo, crítico, ator e ensaísta brasileiro.[1]
No cinema brasileiro, destacou-se como um dos principais diretores do foco de produção da chamada "Boca do Lixo" paulistana, onde realizou seus primeiros trabalhos como diretor e trabalhou, como fotógrafo, em filmes de colegas cineastas[2].
Escreveu e dirigiu mais de 20 filmes, entre longa-metragens, curtas e episódios em antologias[3], acumulando diversos prêmios no Brasil e no exterior. Dirigiu e fotografou mais de 200 filmes comerciais e institucionais entre 1971 e 1974.
Biografia
[editar | editar código-fonte]De origens teutônicas,[4] com um ano de idade passou a morar em São Paulo. Foi criado com uma educação literária e musical erudita, fornecida por seu pai, importante editor e industrial gráfico[5], que eventualmente viria a se refletir de modo particular em sua obra cinematográfica.
Cursou a Escola Superior de Cinema São Luiz, integrando a segunda turma da instituição. Ali, formou-se o núcleo duro que ajudou a desenvolver o chamado Cinema Marginal em São Paulo. Seu primeiro curta-metragem[6], Essa Rua Tão Augusta (1968), foi rodado como um trabalho para a São Luiz.
Reichenbach teve como mestres Roberto Santos, Anatol Rosenfeld, Paulo Emílio Salles Gomes, Mário Chamie, Décio Pignatari, e sobretudo, Luiz Sérgio Person, responsável pelo seu interesse em dirigir filmes.[7] Filme Demência (1986), de Reichenbach, é uma homenagem explícita ao São Paulo, Sociedade Anônima (1965), de Person[8].
Em paralelo às aulas na Escola de Cinema, frequentava assiduamente a Boca do Lixo, onde fervilhava a boemia entre os trabalhadores braçais da indústria cinematográfica e a juventude intelectual que aspirava firmar-se como cineasta. Nesse período, travou amizade com nomes ainda desconhecidos, mas que logo fariam história no cinema brasileiro, como Rogério Sganzerla e Ozualdo Candeias, que viriam a se tornar colegas geracionais[9].
Sob o sistema de produção da Boca do Lixo, realizou, com João Callegaro e Antônio Lima, seus primeiros filmes de longa-metragem: as antologias de episódios "As Libertinas" (1968) e "Audácia! — A Fúria dos Desejos" (1969).[10] O primeiro crédito solo de diretor veio com Corrida em Busca do Amor (1972), sucedido por Lillian M.: Confissões Amorosas / Relatório Confidencial (1974), longa de maior complexidade narrativa e estética que o consolidou como um dos jovens cineastas mais expressivos do grupo paulistano[11].
Após uma experiência conturbada com a direção de Capuzes Negros (1977), filme onde originalmente trabalharia apenas como técnico de iluminação[12], atingiu êxito com A Ilha dos Prazeres Proibidos, lançado no ano seguinte, onde já estão características que se tornariam tradicionais em seu cinema, como a alegoria à situação político-social do Brasil, as personagens militantes e intelectuais, a ironia fina, o erotismo elegante (que o diferenciava da maior parte dos expoentes da pornochanchada) e a mescla entre o erudito e o popular[13]. Trabalhos como Amor, Palavra Prostituta, Extremos do Prazer e O Império do Desejo compartilhariam esses aspectos temáticos. Entre outros elementos recorrentes em sua obra, está a participação, como ator, do poeta Orlando Parolini, amigo e influência primordial de Reichenbach[14].
Mesmo rodando numerosos trabalhos como diretor, seguiu trabalhando como operador de câmera e diretor de fotografia em filmes comandados por colegas da Boca do Lixo, como Jairo Ferreira, Alfredo Sterheim e Jean Garrett, que considerava Reichenbach seu fotógrafo favorito[15]. Não raro, também dava conta, parcial ou totalmente, da fotografia em seus próprios projetos autorais, onde por vezes também se encarregava da composição e execução da trilha sonora[16].
Foi responsável por um dos poucos longa-metragens brasileiros completados e lançados em circuito comercial do ano de 1993 com Alma Corsária, um de seus filmes mais pessoais[17], finalizado em um período de escassez do cinema nacional graças à extinção da Embrafilme, produtora e distribuidora de capital misto que dava conta da parcela majoritária dos filmes brasileiros a lograr lançamento comercial, pelo governo de Fernando Collor de Mello.[18]
Cinéfilo voraz, Reichenbach atuou como professor em cursos de cinema e mantinha blogs, como Reduto do Comodoro[19] e Olhos Livres[20], onde escrevia com regularidade sobre filmes antigos, lançamentos, música e festivais de cinema. Entre 2004 e 2012, organizou um cineclube intitulado "Sessão do Comodoro", no CineSESC da Rua Augusta[21], onde exibia cópias em DVD de filmes de seu acervo pessoal em sessões abertas para debate.
Dois de seus últimos filmes, Garotas do ABC (2003) e Falsa Loura (2007), foram adaptados de um projeto longamente planejado por Reichenbach, "ABC Clube Democrático" (ou "Sonhos de Vida, Vida de Sonhos"). Jamais realizada integralmente, por questões de viabilidade, a empreitada compreenderia quatro longa-metragens, interligados pela presença de um mesmo grupo de personagens, que discorressem sobre a vida pessoal e profissional de trabalhadoras da indústria têxtil no ABC Paulista. Os quatro roteiros originais foram publicados em livro por Reichenbach, em 2009[22].
Morte
[editar | editar código-fonte]Carlos morreu em 2012, aos 67 anos, vítima de parada cardiorrespiratória.[1] Seus últimos filmes foram recebidos com pouco entusiasmo pela crítica e pelas premiações da época[23][24], ganhando reconhecimento posterior à sua morte e reacendendo o interesse em sua obra pelas novas gerações de espectadores aficionados pelo cinema brasileiro.[25]
Filmografia
[editar | editar código-fonte]- 1967 - Esta Rua tão Augusta (curta-metragem)
- 1968 - As Libertinas (episódio: Alice)
- 1970 - Audácia! — A Fúria dos Desejos (episódio: A Badaladíssima dos Trópicos X os Picaretas do Sexo)
- 1972 - Corrida em Busca do Amor
- 1974 - Lilian M: Relatório Confidencial[26]
- 1977 - Sede de Amar (ou Capuzes Negros)
- 1978 - A Ilha dos Prazeres Proibidos
- 1980 - Sangue Corsário (curta-metragem)
- 1980 - Sonhos de Vida (curta-metragem)
- 1980 - Amor, Palavra Prostituta
- 1981 - O Paraíso Proibido
- 1981 - O Império do Desejo
- 1982 - As Safadas (episódio: A Rainha do Fliperama)
- 1984 - Extremos do Prazer
- 1985 - Filme Demência
- 1986 - Anjos do Arrabalde
- 1990 - City Life (episódio: Desordem em Progresso)
- 1993 - Alma Corsária
- 1994 - Olhar e Sensação (curta-metragem)
- 1999 - Dois Córregos
- 2003 - Equilíbrio & Graça (curta-metragem)
- 2003 - Garotas do ABC
- 2005 - Bens Confiscados
- 2007 - Falsa Loura[27]
Livros
[editar | editar código-fonte]- LYRA, Marcelo. Carlos Reichenbach: O Cinema Como Razão de Viver São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2004., ISBN 85-7060-237-5.
- REICHENBACH, Carlos. ABC Clube Democrático: 4 Roteiros de Carlos Reichenbach. São Paulo: ABCD Maior, 2009., ISBN 8561488026
Entrevistas
[editar | editar código-fonte]- Carlão: erudito e popular - homenagem a Carlos Reichenbach. YouTube Entrevista em Junho de 2011. Minissérie Boca do Lixo: a Bollywood brasileira, dirigida por Daniel Camargo.
- Entrevista SescTv. Homenagem a Carlos Reichenbach no YouTube.
- Carlos Reichenbach nos 10 Anos do Canal Brasil no YouTube.
- Carlos Reichenbach - Especial TV PUC-SP no YouTube. Gravado sob direção de Pedro Dantas em julho de 2005 durante o IV Festival Santa Maria Vídeo e Cinema, no interior do Rio Grande do Sul.
Referências
- ↑ a b «Morre aos 67 o cineasta Carlos Reichenbach». UOL. 14 de junho de 2012. Consultado em 14 de junho de 2012
- ↑ «Análise: Dez anos sem Carlos Reichenbach, e sua obra ainda é um eco do Brasil». Folha de S.Paulo. 24 de junho de 2022. Consultado em 17 de outubro de 2023
- ↑ «Carlos Reichenbach | Cinematographer, Actor, Director». IMDb (em inglês). Consultado em 17 de outubro de 2023
- ↑ «Carlos Reichenbach – lição das coisas». Revista Cult. Consultado em 26 de agosto de 2022
- ↑ «Carlos Reichenbach | Enciclopédia Itaú Cultural». 10 de abril de 2017. Consultado em 17 de outubro de 2023
- ↑ «Esta Rua tão Augusta». Doclisboa. Consultado em 17 de outubro de 2023
- ↑ «ZAZ - Biografia - Carlos Reichenbach». Consultado em 18 de junho de 2012
- ↑ «"Filme demência" de Carlos Reichenbach, com minha participação». Claudio Willer. 29 de maio de 2017. Consultado em 17 de outubro de 2023
- ↑ Jr, Jorge Cruz (16 de outubro de 2021). «O Bom Cinema (2021) | Crítica | 10º Olhar de Cinema». Apostila de Cinema. Consultado em 17 de outubro de 2023
- ↑ Centro Cultural Banco do Brasil/Cinemateca Brasileira. "Clássicos e raros do nosso cinema" (folheto de divulgação). Dezembro de 2007.
- ↑ Bernardo Oliveira (ed.). «Lilian M -- Relatório Confidencial». Contracampo. Consultado em 17 de outubro de 2023
- ↑ «Sede de amar». Doclisboa. Consultado em 17 de outubro de 2023
- ↑ Pace, Giulia Dela (30 de novembro de 2022). «A Ilha dos Prazeres Proibidos │ Crítica». Vertentes do Cinema. Consultado em 17 de outubro de 2023
- ↑ «O 'Poeta Maldito', na obra de Carlos Reichenbach». 25 de junho de 2023. Consultado em 17 de outubro de 2023
- ↑ «cinema de invenção: O fantástico Jean Garrett» (em inglês). Consultado em 17 de outubro de 2023
- ↑ Marcos Levy & Carlos Reichenbach - Lambada do Campo (Carlos Reichenbach) (em inglês), consultado em 17 de outubro de 2023
- ↑ Barzine, César (5 de abril de 2022). «Crítica | Alma Corsária». Plano Crítico. Consultado em 17 de outubro de 2023
- ↑ «Alma Corsária - Revista Interlúdio». www.revistainterludio.com.br. Consultado em 17 de outubro de 2023
- ↑ «60 FILMES NOTÁVEIS DO COMODORO». vício frenético. 20 de novembro de 2016. Consultado em 17 de outubro de 2023
- ↑ «OLHOS LIVRES - BÔNUS». olhoslivresbonus.blogspot.com. Consultado em 17 de outubro de 2023
- ↑ ghpcarneiro (15 de outubro de 2009). «A Sessão do Comodoro e a Cinefilia dos Extremos». Revista Zingu!. Consultado em 17 de outubro de 2023
- ↑ Reichenbach, Carlos. Abc Clube Democratico. [S.l.: s.n.]
- ↑ «contracampo :: revista de cinema». www.contracampo.com.br. Consultado em 17 de outubro de 2023
- ↑ Hessel, Marcelo (17 de abril de 2008). «Falsa Loura». Omelete. Consultado em 17 de outubro de 2023
- ↑ «Cinefilia brasileira – MAM Rio». Consultado em 17 de outubro de 2023
- ↑ «Lilian M: Confissões Amorosas (Relatório Confidencial)». Cinemateca Brasileira. Consultado em 2 de abril de 2013
- ↑ «Falsa Loura». AdoroCinema.com. Consultado em 27 de dezembro de 2013