Câmara Apostólica
Câmara Apostólica ![]() Camera Apostolica
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Dicastério | |
Brasão da Câmara Apostólica | |
Informações Gerais | |
Competência | Administração dos bens temporais da Santa Sé, especialmente durante a sede vacante |
Ereção canônica | Século XI |
Supressão | 5 de junho de 2022 |
Sucessores | Camerlengo, Conselho para a Economia |
Organismos relacionados | Cúria Romana, Colégio dos Cardeais |
Liderança | |
Camerlengo: Kevin Joseph Farrell, Camerlengo | |
Vice-responsável | Ilson de Jesus Montanari, Vice-Camerlengo |
Outros cargos | Tesoureiro Geral, Auditor Geral, Chierici della Camera |
Membros notáveis | Prelados e chierici da Cúria Romana |
Eméritos | Tarcisio Bertone |
Localização | |
Sede | Palazzi Vaticani, 00120 Cidade do Vaticano |
Coordenadas | 41° 54′ 10″ N, 12° 27′ 12″ L |
Sítio oficial | |
Dados em Catholic-Hierarchy.org |
A Câmara Apostólica (em latim: Camera Apostolica, em italiano: Camera Apostolica) foi um dicastério da Cúria Romana responsável pela administração dos bens temporais da Santa Sé, com funções principais durante a sede vacante, conforme estipulado pela legislação eclesiástica.[1][2] Criada no século XI, foi um dos órgãos financeiros mais importantes do Estado Pontifício até 1870 e continuou com funções cerimoniais até sua supressão em 5 de junho de 2022, com a entrada em vigor da constituição apostólica Praedicate Evangelium de Papa Francisco.[3] Suas funções foram absorvidas pelo Camerlengo, Vice-Camerlengo, coordenador do Conselho para a Economia e dois assistentes.
História
[editar | editar código-fonte]A Câmara Apostólica surgiu no século XI como o principal órgão financeiro da administração pontifícia, gerindo rendas do Patrimonium Petri, tributos de igrejas e mosteiros subordinados à Santa Sé e outras fontes de receita.[4] O termo "camerlengo" (do latim camerarius) designava o tesoureiro responsável, cuja função foi formalizada em 1192 por Cêncio, futuro Papa Honório III, com o Liber Censuum Romanae Ecclesiae, um inventário das fontes de renda pontifícia.[5]
No século XIII, a Câmara expandiu suas atribuições com a coleta de taxas para cruzadas, servitia communia de bispos e abades, decimas e subsídios extraordinários, empregando agentes conhecidos como collectores.[6] Até 1870, foi essencial no governo do Estado Pontifício, funcionando como tribunal financeiro supremo e administrando justiça.[7] Após a perda do poder temporal com a Tomada de Roma, suas funções financeiras tornaram-se nominais, limitando-se a papéis cerimoniais durante a sede vacante.
Reformas significativas incluíram:
- 1590: A bula In conferendis precipuis de Papa Sisto V definiu as atribuições do tesoureiro geral.[8]
- 1742–1746: Papa Bento XIV separou as competências do Camerlengo e do tesoureiro, criando a computisteria geral para unificar o orçamento.
- 1847–1848: Papa Pio IX transferiu funções judiciais do tesoureiro e transformou o cargo em ministro das Finanças.[9]
A Câmara foi formalmente suprimida em 2022, com suas funções remanescentes transferidas para o Camerlengo e o Conselho para a Economia.[3]
Funções
[editar | editar código-fonte]As principais funções da Câmara Apostólica, especialmente durante a sede vacante, incluíam:[1][2]
- Administração temporal: Gerir os bens e direitos temporais da Santa Sé, com o Camerlengo supervisionando as operações e obtendo aprovação do Colégio dos Cardeais para questões graves.
- Constatação do falecimento: Assistir o Camerlengo na verificação oficial da morte do Papa, redigindo a acta autenticada.[10]
- Gestão durante o conclave: Atender às necessidades dos cardeais e administrar os Palazzi Vaticani.
- Relatórios financeiros: Solicitar balanços da Prefeitura dos Assuntos Econômicos da Santa Sé e relatórios de outras administrações.
Historicamente, a Câmara também:
- Tribunal financeiro: Atuava como corte suprema para disputas administrativas no Estado Pontifício até 1870.[11]
- Gestão de rendas: Controlava tributos, como o Obolo de São Pedro, e rendas do Patrimonium Petri.[4]
Componentes
[editar | editar código-fonte]Os principais componentes da Câmara Apostólica eram:
- Camerlengo: Cardeal responsável por reger a Santa Sé durante a sede vacante, com autoridade parcial sobre a administração papal.[1]
- Vice-Camerlengo: Prelado que, até 1870, atuava como Governador de Roma, mantendo a ordem pública.[12]
- Auditor Camerae: Juiz supremo em questões financeiras até 1870, presidindo a corte suprema para decisões importantes.[4]
- Tesoureiro Geral: Controlava as rendas do Estado Pontifício e os tributos papais.
- Chierici della Camera: Colégio de sete prelados que geriam propriedades, consultavam em questões administrativas e atuavam como tribunal.[13]
Os chierici também participavam de cortejos papais e, durante a sede vacante, elaboravam inventários e dirigiam a política interna e externa.[4]
Cronologia
[editar | editar código-fonte]Camerlenghi da Santa Igreja Romana
[editar | editar código-fonte]Ver também
Tesoureiros Gerais (Seleção)
[editar | editar código-fonte]- Alessandro Farnese (1492–1493)
- Francesco Borgia (1493–1500)
- Adriano Castellesi (1500–1502)
- Francesco Alidosi (1504–1505)
- Bernardo Dovizi da Bibbiena (1513)
- Ferdinando Ponzetti (1513–1517)
- Bartolomeo Cesi (1589–1596)
- Tiberio Cerasi (1596–1601)
- Luigi Capponi (1605–1608)
- Costanzo Patrizi (1615–1624)
- Stefano Durazzo (1627–1634)
- Giovanni Battista Mesmer (1743–1747)
- Giacomo Antonelli (1845–1847)
- Carlo Luigi Morichini (1847–1848, tornou-se Ministro das Finanças)
Auditores Gerais (Seleção)
[editar | editar código-fonte]- Alessandro Riario (1565–1578)
- Girolamo Mattei (1579–1586)
- Marcello Lante (1597–1606)
- Giovanni Domenico Spinola (1610–1626)
- Niccolò Acciaiuoli (1657–1669)
- Giuseppe Sciacca (2013–2020, cargo suprimido)
Ver também
[editar | editar código-fonte]Referências
[editar | editar código-fonte]- ↑ a b c João Paulo II (28 de junho de 1988). «Pastor Bonus» (171). Consultado em 18 de maio de 2025
- ↑ a b João Paulo II (22 de fevereiro de 1996). «Universi Dominici Gregis» (17, 28). Consultado em 18 de maio de 2025
- ↑ a b «Praedicate Evangelium entra em vigor: a reforma da Cúria Romana». Vatican News. 5 de junho de 2022. Consultado em 18 de maio de 2025
- ↑ a b c d «Camera Apostolica - Note storiche». Santa Sé. Consultado em 18 de maio de 2025
- ↑ Edoardo Ruffini Avondo (1930). «CAMERLENGO o Camerario»
- ↑ Agostino Paravicini Bagliani (22 de novembro de 2014). «Quando nel tempio si vendevano le indulgenze». Consultado em 18 de maio de 2025
- ↑ Maria Grazia Pastura Ruggiero (1984). La reverenda Camera Apostolica e i suoi archivi. [S.l.]: Archivio di Stato
- ↑ Massimo Carlo Giannini. Note sui tesorieri generali della Camera apostolica e sulle loro carriere tra XVI e XVII secolo. [S.l.: s.n.] Consultado em 18 de maio de 2025
- ↑ Papa Pio IX (12 de junho de 1847). «Motu Proprio»
- ↑ L'Osservatore Romano (2 de março de 2013). «Atividades da Câmara Apostólica». p. 8
- ↑ Francesco Antonio Vitale. Memorie istoriche de' tesorieri generali pontificj dal pontificato di Giovanni XXII fino a' nostri tempi. [S.l.: s.n.] Consultado em 18 de maio de 2025
- ↑ Gaetano Moroni. Dizionario di erudizione storico-ecclesiastica. [S.l.: s.n.] pp. 5–48. Consultado em 18 de maio de 2025
- ↑ Catholic Encyclopedia (1907). 1. [S.l.: s.n.] Em falta ou vazio
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(ajuda)
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Maria Grazia Pastura Ruggiero (1984). La reverenda Camera Apostolica e i suoi archivi. [S.l.]: Archivio di Stato
- Catholic Encyclopedia (1907). 1. [S.l.: s.n.] Em falta ou vazio
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(ajuda) - Massimo Carlo Giannini. Note sui tesorieri generali della Camera apostolica e sulle loro carriere tra XVI e XVII secolo. [S.l.: s.n.] Consultado em 18 de maio de 2025
- Francesco Antonio Vitale. Memorie istoriche de' tesorieri generali pontificj dal pontificato di Giovanni XXII fino a' nostri tempi. [S.l.: s.n.] Consultado em 18 de maio de 2025
Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- «Camera Apostolica - Note storiche». Santa Sé. Consultado em 18 de maio de 2025
- Cheney, David M. «diocese» (em inglês). Catholic-Hierarchy.org