Bartolomeu Bueno da Silva
Bartolomeu Bueno da Silva | |
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Estátua de Bartolomeu no Parque Trianon, em São Paulo | |
Outros nomes | Anhanguera, o Moço Segundo Anhanguera Diabo velho |
Nascimento | 1672 Parnahyba, Capitania de São Vicente |
Morte | 1740 (68 anos) Vila Boa de Goiás, Capitania de São Vicente |
Progenitores | Mãe: Izabel Cardoso Pai: Bartolomeu Bueno |
Cônjuge | Joana de Gusmão Moreira (1694–?) |
Filho(a)(s) | Leonor Bueno da Silva Amadeu Bueno Baltazar de Godoy Bueno e Gusmão Joana de Gusmão Bartolomeu Bueno da Silva Escolástica Bueno de Gusmão Isabel Bueno da Silva Josefa Ribeiro de Gusmão Rosa Bueno de Gusmão Francisco Bueno da Silva |
Religião | Católica |
Bartolomeu Bueno da Silva, conhecido como segundo Anhanguera (transliteração para diabo velho), (Parnahyba, 1672 — Vila Boa de Goiás, 19 de setembro de 1740) foi um bandeirante paulista.[1] Com 12 anos, passou a acompanhar o pai, também chamado Bartolomeu Bueno da Silva nas expedições no interior da Capitania de São Vicente, correspondende ao atual território de Goiás, mas, com a descoberta de ouro em Minas Gerais, estabeleceu-se em Sabará e, mais tarde, em São João do Paraíso e Pitangui, onde foi nomeado assistente do distrito.
Em 1720, volta a Santana de Parnaíba e redige uma apresentação a D. João V de Portugal pedindo licença para retornar a Goiás, onde seu pai encontrara ouro. Em troca, pedia o direito de cobrar taxas sobre as passagens de rios no caminho para as minas goianas. A oferta é aceita e, então, a expedição é organizada. Em 1722, parte de São Paulo com a intenção de percorrer novamente os sertões que visitara quarenta anos antes com o pai. Durante quase três anos, e com muitas dificuldades, explorou os sertões goianos em busca da lendária Serra dos Martírios.[2] Finalmente, com mais de 50 anos, encontrou ouro no rio Vermelho.
Foi nomeado capitão-mor das minas por D. João V em 1726 e, mais tarde, coronel das ordenanças e capitão-mor de Vila Boa[3]; fundou o Arraial de Santana, que torna-se Vila Boa de Goiás em 1736 (embora algumas fontes apontem a transformação para o ano de 1739[4][5], justificando que o ano de 1736 corresponda apenas ao ano de emissão da ordem-régia), atualmente cidade de Goiás, mais conhecida como Goiás Velho.
Cora Coralina descreve a chegada do segundo Anhanguera:
"Mesmo na frente da casa velha, do lado de lá do rio, há mais de duzentos anos, caminhando para trezentos, tomou chegada a Bandeira dos “Polistas”. Porto da Lapa foi chamado o lugar onde desembarcou no dia 26 de julho de 1728 a gente do Anhanguera. Desembarcou e logo trataram todos de levantar a igreja da Lapa em honra e glória da Nossa Senhora dos Caminheiros que, depois de passadas e erradas sem conta pelo grosso do sertão, os trazia, afinal, no roteiro certo da tribo Goiá.”[6]
Ascendência
[editar | editar código-fonte]Bartolomeu Bueno da Silva (pai) era filho de Francisco Bueno, morto em conflito com jesuítas no Rio Grande do Sul e de Filipa Vaz. Casou-se com Isabel Cardoso e teve nove filhos, dentre os quais estava Bartolomeu Bueno da Silva, o Moço.[2]
A família de Cora Coralina, poetisa e contista brasileira nascida em Goiás, relacionava-se à dos Bueno. Sua tataravó era nora do Anhanguera[2], como conta em um trecho de seu livro:
"aquela mesma que na velhice, viuvez e pobreza, teve de repor com seus lavrados e de suas filhas, certa arrouba de ouro, pedida pelo velho Bandeirante e de cuja dádiva antecipada discordou o Rei de Portugal. História feia e mesquinha que deslustra a generosidade de um soberano e que o cronista custa a recordar.”[6]
Últimos anos
[editar | editar código-fonte]Como maneira de diminuir o poder do Anhanguera e apaziguar as disputas pelo controle das minas, o Conde de Sarzedas, então governador de São Paulo, divide as minas em dois distritos: Santana e Meia-Ponte. Assim, o bandeirante perde sua influência como ouvidor-mor do estado, passando ao cargo de capitão-mor.[3]
Foi acusado de sonegação de impostos em 1733; começou a perder prestígio junto à coroa e sua autoridade foi progressivamente sendo limitada pelos delegados do rei. Perde também seu direito de passagem. A persistência das lutas internas e as suspeitas de contrabando levaram ao estabelecimento de uma ouvidoria e à criação da capitania de Goiás. Morreu em 1740, pobre e destituído de poder, reduzido a um cargo decorativo, em Vila Boa de Goiás.[7]
Cora Coralina relata que:
“Bartolomeu Bueno da Silva, o Moço, que propiciou substancial aumento de riqueza à Coroa de Portugal, gastando na descoberta das minas toda a fortuna que havia herdado dos pais, faleceu pobre na Vila de Goiás em 1740, mesmo porque a promessa de conceder-lhe uma arroba de ouro das rendas obtidas com a extração do metal não foi cumprida, ordenando-se, isso sim, a restituição da quantia já recebida, com o seqüestro dos bens do beneficiado se não fosse efetuada.”[2]
A corrida pelo ouro foi o estopim para a cobiça e para os sonegamentos fiscais, que vinham acompanhados de delações. Portanto, ficara mais fácil ser pego sonegando impostos.[2]
Contexto histórico
[editar | editar código-fonte]A exploração bandeirante inicia-se no Brasil a partir do século XVI, na Capitania de São Vicente, com a penetração dos exploradores no sertão em busca de riquezas naturais e mineiras, tal qual o ouro e a prata. Durante a década de 1660, Bartolomeu Bueno da Silva (pai), desponta como o primeiro Anhanguera.
No ano de 1682, o primeiro Anhanguera parte da Capitania de São Vicente (atual São Paulo) em direção ao rio Araguaia, atravessando o território correspondente ao atual estado de Goiás. O apelido provém de um episódio advindo desta expedição. Acredita-se que, ao retornar do Araguaia, Bartolomeu Bueno da Silva (pai) encontrou-se com índios da tribo Goyá (ou Goiá, Goyazes). Ao avistar as índias ricamente adornadas com chapas de ouro, colocou fogo em uma tigela e ordenou que os indígenas lhe indicassem a procedência do metal, ameaçando atear fogo nos rios e nas fontes. Daí, fora denominado Anhanguera (em tupi, añã'gwea, ou seja, diabo velho, alma velha).[7]
Acredita-se que, ainda menino, Bartolomeu Bueno da Silva (filho) já acompanhava o pai em suas explorações.[7]
A terceira década do século XVIII foi um período em que a economia mineradora efervescia. As Minas Gerais geravam lucros ao passo em que centros que destacavam-se na extração aurífera despontavam durante o reinado de D. João V em Portugal, que é considerado o período de maior ostentação da história da corte portuguesa.[8]
A metrópole agia de maneira conjunta com os sertanistas para proporcionar o descobrimento de ouro no país. Essa relação harmônica pode ser exemplificada no documento redigido por Rodrigo César de Menezes e entregue ao segundo Anhanguera, o qual estabelecia os termos de um contrato entre o bandeirante e a metrópole e demonstrava a existência de uma ação conjunta entre ela e os paulistas.[8]
"Porquanto Sua Majestade, que Deus guarde, foi servido ordenar-me por carta de 14 de fevereiro do ano passado de 1721, assinada pela sua mão real, ajustasse com o Capitão Bartolomeu Bueno da Silva o prêmio que se lhe havia de dar, no caso em que descobrisse nos sertões desta capitania minas de ouro e prata, e outros haveres, e que lhe desse regimento quando entrasse em tropa a fazer descobrimento nos ditos sertões, e em cumprimento da ordem do dito Senhor, lhe mandei dar o presente regimento, que há de guardar inviolavelmente o dito Capitão Bartolomeu Bueno da Silva."[9]
As casas dos bandeirantes assemelhavam-se a fortalezas. Eram feitas de paredões de pedra, tanto nos muros externos quanto nas divisões dos cômodos internos. As construções diferenciavam-se das casas comuns das vilas de São Paulo e Minas Gerais, cuja matéria-prima era a taipa socada. A estrutura das casas contava com troncos de aroeira e erguiam-se paredes de granito, que tornavam a residência indestrutível mesmo com a ação do tempo.[2]
Expedições
[editar | editar código-fonte]- Serra dos Martírios: alega-se que, na infância, Bartolomeu Bueno da Silva (filho) foi um dos únicos a avistar a mitológica Serra dos Martírios e os Araés, em 1673. Junto dele, estava Antonio Pires de Campos, filho do bandeirante Manuel de Campos Bicudo.
- Rio Araguaia: acompanha o pai em expedição partindo de São Paulo em direção aos sertões do Planalto Central, atravessando o território que hoje é correspondente ao estado de Goiás e seguiu até o rio Araguaia. Lá, deparam-se com o povo Goyá. Pai e filho retornam a Santana de Parnaíba com milhares de índios apreendidos, sem explorar as minas da região mas certos da presença do ouro nas terras.[2]
- Campinas (Caminho dos Goiases): em 1722, parte de São Paulo acompanhado de uma tropa de 152 homens armados, 2 religiosos e 39 cavalos. A vereda dura cinco dias, até que estabelecem-se em uma parada estratégica, que, 23 anos depois, seria nomeada Campinas (o caminho para a atual cidade fora aberto no ano de 1725)[10]. Mais tarde, a extensão percorrida pelos Goiases, de 102 quilômetros, transformou-se na primeira macrometrópole do Hemisfério Sul, contando com mais de 22 milhões de habitantes.[11][10]
- Arraial de Santana: posteriormente passou a se chamar Vila Boa de Goiás. A influência bandeirante na região, sobretudo devido ao ouro, foi responsável pelo processo de urbanização do sertão. A cidade tornou-se o maior centro econômico e político do estado, passando a ser a capital da província.[12] Existe controvérsia acerca do ano de sua fundação, com fontes indicando se tratar do ano de 1727[13]e outras, do ano de 1725[7][2].
Os Goyá (ou Goyazes)
[editar | editar código-fonte]A tribo Goyá (ou Goiá, Goyazes) era originária da região Centro-Oeste, estabelecendo-se especificamente no chamado Mato Grosso goiano, região escolhida pelo segundo Anhanguera para a fundação do Arraial de Santana, precisamente na nascente do rio Vermelho e na Serra Dourada. Seu nome inspirou o do estado de Goiás. Foram dizimados repentinamente após a chegada da comitiva bandeirante de Bartolomeu Bueno da Silva (filho) devido aos conflitos com os sertanistas, sem deixar vestígios nem mesmo linguísticos ou arqueológicos.[14][15]
Também acredita-se que uma das razões para o desaparecimento dos Goyazes seja a miscigenação com os portugueses, o que originou a população goiana nos séculos XVIII e XIX.
Acredita-se que o nome Goyá tenha sido dado erroneamente por Bartolomeu Bueno da Silva (filho) aos índios kayapó (ou caiapó). A hipótese sustenta-se pela crença dos bandeirantes paulistas de que as margens do rio Grande abrigavam uma tribo denominada Guayana, de origem tupi. Também acredita-se que tenham perecido devido aos surtos de cólera.[14]
Portanto, com base nessa hipótese a anedota do surgimento do apelido Anhanguera, concedido a Bartolomeu Bueno da Silva (pai), teria se dado na divisa de São Paulo e Minas Gerais, e não no rio Vermelho.[14]
Os Goyazes habitavam anteriormente a região do rio Orinoco, no período anterior ao descobrimento. Após a invasão de outra tribo, os Caraíbas, grande parte do grupo étnico fugiu pelo rio Amazonas para a região onde hoje fica o estado de Goiás. Em Raízes do Brasil, Sergio Buarque de Holanda faz uma breve alusão aos Goyazes, indicando a crença de que as partes centrais da América do Sul eram habitadas por povos pigmeus, ou seja, os Goyá.
Homenagens
[editar | editar código-fonte]- A Rodovia Anhanguera, em São Paulo, com 453 quilômetros de extensão, é assim denominada em sua homenagem;
- A Avenida Anhanguera, uma das mais importantes vias da capital de Goiás, Goiânia;
- Monumento ao Bandeirante, em Goiânia;
- Anhanguera, município brasileiro do estado de Goiás;
- Rede Anhanguera, conjunto de emissoras afiliadas da rede Globo, presentes em Goiás e Tocantins.
- Anhanguera, distrito localizado no município de São Paulo e pertencente à Subprefeitura de Perus.
- Faculdades Anhanguera, centro universitário e rede educacional.
- ETEC Bartolomeu Bueno da Silva, localizada em Santana de Parnaíba.
- Rua Bartolomeu Bueno da Silva, no município de Guarulhos.
- O Parque Anhanguera, situado no extremo noroeste da capital de São Paulo e no bairro de Perus.
Além de várias praças, ruas e avenidas em cidades do interior de Goiás e Tocantins.
Referências
- ↑ Só história. Disponível em http://www.sohistoria.com.br/biografias/bartolomeu/. Acesso em 27 de setembro de 2015
- ↑ a b c d e f g h Cora Coralina: as bandeiras e os cristãos-novos. FREIDENSON, Marilia Levi. Arquivo Maraavi: Revista Digital de Estudos Judaicos da UFMG, 2016.
- ↑ a b SERTÃO E CULTURA SERTANEJA NA CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE DO BRASIL CENTRAL. ALVES, Hélio Barbosa Feliciano.
- ↑ «História de Goiás». InfoEscola
- ↑ A RELIGIOSIDADE, OS RISOS E SUAS FORMAS EM VILA BOA DE GOIÁS. MACHADO, Dr. Humberto César; MORAIS, Dra. Cristina de Cássia P.; LIMA, Esp. Mara Cristina Machado. Faculdade Alfredo Nasser.
- ↑ a b Meu livro de cordel, edição 18. CORALINA, Cora. Global Editora, 2013.
- ↑ a b c d Autor Da Página 3 Pedagogia & Comunicação. «Bartolomeu Bueno da Silva (pai e filho)». UOL Educação. Consultado em 13 de novembro de 2017
- ↑ a b Ação metropolitana e sertanistas na incorporação das minas de Cuiabá e Goiás à capitania de São Paulo durante o governo de Rodrigo César de Menezes (1721 – 1728). FERNANDES, Luis Henrique Menezes. Revista de História Regional, 2010.
- ↑ Documentos Interessantes para a História e Costumes de São Paulo, v. XII. São Paulo: Escola Typographica Salesiana, 1901, p. 53.
- ↑ a b SENSORIAMENTO REMOTO DA TRILHA DO ANHANGUERA: MAPEANDO O PERCURSO DE UM PIONEIRO NO BRASIL DO SÉCULO XVIII. MARTINI, P.R., INPE - Divisão de sensoriamento.
- ↑ Noblat, Ricardo. «A primeira macrometrópole do hemisfério sul». Ricardo Noblat
- ↑ A UTILIZAÇÃO DE MAPAS MENTAIS NA PERCEPÇÃO DA PAISAGEM CULTURAL DA CIDADE DE GOIÁS/GO. FILHO, Fernando Silva Magalhães; DE OLIVEIRA, Ivanilton José. Revista de Cultura e Turismo, 2013.
- ↑ Contribuição ao entendimento do fenômeno das enchentes do Rio Vermelho na cidade de Goiás, GO. CAVALCANTI, Marcelo Antunes; LOPES, Luciana Maria; DE PONTES, Marlon NEMAYER CELESTINO. Universidade Federal de Goiás, 2008.
- ↑ a b c OS ÍNDIOS “GOYÁ”, Os Fantasmas E Nós. QUINTELA, Antón Corbacho. Revista UFG, 2006.
- ↑ O TOPÔNIMO “GOYAZ”. QUINTELA, Antón Corbacho. Revista UFG, 2003.