Arquitetura barroca em Portugal
Em Portugal, a arquitectura barroca durou cerca de dois séculos (finais do século XVII e século XVIII). Surge em Portugal num período difícil ao nível político, económico e social, situação que se fez sentir igualmente na cultura e arte. É tempo do domínio filipino, tendo-se, também, perdido algumas colónias e ainda as guerras da Restauração. É tempo ainda da pressão exercida pela Inquisição. Contudo, este período conturbado altera-se com os reinados de D. João V e D. José, pois aumentam as importações de ouro e diamantes, num período denominado de Absolutismo Régio.
Arquitectura religiosa
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O barroco inicia-se de forma fragmenta: motivos dispersos, de feição não-estrutural, decorativos, inseridos em edifícios já existentes.[a] É um período de experimentação de formas e das suas potencialidades, fenómeno minoritário que lentamente irá desalojar um maneirismo persistente e duradouro, até se transformar em discurso dominante. A planimetria longitudinal, sobrecarregada, senão absorvida pela decoração, assim era vista a arquitetura barroca, mas não se resumindo a isso, uma outra realidade domina o barroco produzido: a grande diversidade de plantas, propondo espaços diversificados e variados.[1]
A talha dourada seguira um percurso próprio, relacionando-se com a arquitetura com o propósito de dinamizar espaços internos estáticos e austeros já existentes, que se conservam, e cuja fisionomia é assim alterada. Os exemplos desta dinamização e ampliação espacial feita pela decoração multiplicam-se em número infinito por todo o território nacional. Um dos primeiros exemplos é a igreja do Convento de Nossa Senhora da Conceição dos Cardais (1681-1703), em Lisboa.[1]
Estas eram as características que marcavam os princípios austeros e rígidos da igreja e do poder régio. Neste período, encontramos arquitectos portugueses, nomeadamente João Antunes ou João Nunes Tinoco (igreja de Santa Engrácia, em Lisboa).
Com o Renascimento, surgem as plantas de forma circular, prolongando-se pelo Maneirismo. Assim, encontramos a igreja e claustro da Serra do Pilar, de Diogo de Castilho (século XVI/XVII).
- Igreja de S: Gonçalo, Amarante (1705);
- Igreja do Senhor da Pedra, Óbidos, (1740-47);
- Igreja do Senhor da Cruz, Barcelos.
Além destas igrejas, encontram-se um pouco por todo o país inúmeras capelas. Devido à duração do Maneirismo em Portugal, há zonas em que se passa do maneirismo para o Rococó, pelo que se encontram muitos edifícios de planta octogonal e hexagonal. É um momento em que se prevê já o chamado Barroco Pleno, em que encontramos, por um lado, plantas rectangulares de influência maneirista, por outro, os edifícios mais decorados. É tempo do terramoto de 1755, que destruiu inúmeros edifícios.
É nesta altura que o rei começa a mandar construir edifícios não só religiosos mas também civis., nomeadamente alterações no Paço da Ribeira. Foram feitas inúmeras encomendas de desenhos, livros, feitos por artistas estrangeiros. Esta arquitectura é, então, marcada por uma decoração essencialmente de talha dourada, nas paredes e retábulos e azulejaria, sentindo-se, também, uma certa sobriedade estrutural.
É assim que é definido o começo da arquitectura religiosa joanina. É um estilo que se desenvolve, maioritariamente, no Norte com Nicolau Nasoni (1691-1773), que interligou características do barroco italiano com o que se produzia em território português. Destacam-se, então, como exemplos no Porto:
- Igreja do Bom Jesus de Matosinhos;
- Igreja da Misericórdia;
- Paço Episcopal;
- Loggia da Sé;
- Igreja e Torre dos Clérigos.
No norte do país há dois centros:
- Porto, com influências espanholas e decoração exuberante, associadas às ideias vindas de Itália.
- Braga (tardo-barroco), em que a decoração típica do românico e manuelino se associam às ideias barrocas e chinesas, marcadas por uma decoração exótica. (Igreja de S. Vicente de Braga, Igreja de Santa Madalena.).
No sul também encontramos dois centros:
- Alto Alentejo, que nos apresenta um barroco mais neoclássico, simples e regular. Por exemplo, a Igreja de Nossa Senhora da Lapa em Vila Viçosa
- Lisboa, com o Convento de Mafra, cujas influências advêm da Alemanha.
Arquitectura palaciana
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Neste tipo de arquitectura, é de referir os palácios e solares, maioritariamente particulares. Inicialmente, regulares, ao estilo renascentista, depressa se transformam, adquirindo uma forma em «U», adornada com escadarias, jardins, fontes, ao estilo francês.
- Palácio Fronteira, em S. Domingos de Benfica, Lisboa;
- Solar de Mateus, Vila Real (Nasoni);
- Palácio do Freixo, Porto (Nasoni);
- Quinta da Prelada, Porto (Nasoni);
- Edifício da Câmara (André Soares);
- Casa do Raio (André Soares).
Urbanismo
[editar | editar código-fonte]O urbanismo, propriamente dito, inicia-se no nosso país com o Marquês de Pombal. Após a destruição provocada pelo terramoto de 1755, era necessária uma reconstrução rápida e económica. Assim, o Marquês de Pombal opta por Manuel da Maia, Eugénio dos Santos e Carlos Mardel para este projecto. O projecto deste grupo criou uma Lisboa funcional e dinâmica, com ruas paralelas e perpendiculares. Os edifícios respeitavam a mesma traça (altura igual, simetria). É o chamado estilo pombalino, com a severidade maneirista e a frieza do neopaladianismo adoçados pelos elementos decorativos do Barroco e Rococó. [carece de fontes]
Outra preocupação, que remonta ao tempo dos romanos, foi com o abastecimento de água às populações. Assim, foi construído o Aqueduto das Águas Livres, em Lisboa.
Notas
[editar | editar código-fonte]- ↑ D’Ors, Eugénio. O Barroco. Lisboa, Ed. Veja, 1990 (trad. do original espanhol de 1933). Em 1931, nos encontros de Pontigny, o flósofo espanhol apresentou a sua tese do Barroco como constante histórica, que não se restringe nem a um estilo, nem tão- pouco a uma época; pelo contrário, o Barroco refere-se a um género que se subdivide em diversos tipos, representativos de uma constante da Humanidade e das suas rea- lizações artísticas. O exemplo escolhido para justifcar a tese da transgressão cronológica do Barroco, foi a janela da Sala do Capítulo, comummente conhecida por janela manuelina, do Convento de Cristo em Tomar (século XVI). Para D’Ors, o classicismo e o barroquismo eram dois sistemas alternantes, dois eons, demonstrativos de um espírito que atravessa todas as épocas e raças. Assim, a Grécia era o arquétipo do Clássico e Portugal o arquétipo do Barroco, antecipando, deste modo, a arte manue- lina o despontar do Barroco no século XVIII. Sobre este assunto ver: Bazin, Germain. Histoire de l’Histoire de l’Art. Paris, Ed. Lbin Michael, 1986, págs. 196 y 588.
Referências
- ↑ a b António, Quadros. Arquitetura barroca em Portugal. [S.l.]: Biblioteca Breve - Série Artes Visuais. 215 páginas. ISBN 972-566-171-0