Durmo. Se
sonho, ao despertar não sei
Que coisas
eu sonhei.
Durmo. Se
durmo sem sonhar, desperto
Para um
espaço aberto
Que não
conheço, pois que despertei
Para o que
inda não sei.
Melhor é nem
sonhar nem não sonhar
E nunca
despertar.
Fernando
Pessoa, in "Cancioneiro"
VAI
Um passo em frente e
E de repente
Um salto para trás
Tenho um passado
Um presente
Quero sempre mais
E a vida passa e passa o tempo sem esperar por nós
E nós ficamos tão sem tempo
Tão, somente, sós
Tenho o meu mundo
É bem pequeno
Fecho-me por lá
Sinto saudade
E, na verdade
Deixo-te ficar
Meu coração
Na tua mão
Que se quebra e cai
E vem o tempo
Que me diz
Segue a vida e vai
Vai, vai
Meu corpo frio
Carrega as flores
Que plantaste em mim
Casa vazia
Sem alegria
Desaba por fim
E a vida passa e passa o tempo sem esperar por nós
E nós ficamos tão sem tempo
Tão, somente, sós
Vai, vai, vai, vai
A noite cai
A vida vai
Meu corpo dói
Dor que corrói
A noite cai
Meu corpo doi
E a vida vai
Vai, vai, vai, vai