Isaac Alexandre’s review published on Letterboxd:
“A melhor maneira de unir as pessoas é dar a elas um grande inimigo.”
A crítica sutil funciona até certo ponto, mas parece se perder quando o filme tenta equilibrar seu lado teatral com as exigências de um grande blockbuster. Talvez essa tensão encontre melhor resolução no segundo capítulo. Apesar de sua longa duração, o filme consegue sustentar o interesse ao contar sua história através das músicas, que carregam muito do peso emocional e narrativo. Ainda assim, confesso que esperava mais das escolhas estéticas: as cores lavadas não chegam perto do impacto que poderiam ter. Não que sejam um desastre – estão, de fato, muito acima daquela cena horrorosa que vazou da cantoria na biblioteca – mas ficam aquém das saturações que poderiam explorar melhor a fantasia e o exagero do universo.
Jon M. Chu, no entanto, sabe o que está fazendo. Ele abraça a origem teatral da obra como virtude, sem tentar moldá-la para caber em um formato mais “domesticado”. Há espaço para as músicas respirarem, para o tom cômico brilhar, para a teatralidade ser não apenas um detalhe, mas uma força motriz. Essa decisão é acertada e corajosa, mas, infelizmente, não suficiente para garantir um filme impecável – e ele parece ciente disso.
A resposta para criar uma narrativa interessante, então, está na dinâmica entre Glinda e Elphaba. Ariana Grande surpreende com um timing cômico afiado e uma caracterização que vai além do estereótipo da patricinha loira e superficial. No entanto, é Cynthia Erivo quem domina completamente o filme. Sua performance é carregada de uma intensidade e grandeza que a consolidam como o verdadeiro coração da história e estrela. Ela traz profundidade e humanidade a Elphaba, fazendo de sua jornada algo impossível de ignorar.
Só não alcança o voo perfeito ao insistir em justificar de forma didática a ida a Oz, alongando sua narrativa desnecessariamente. As extensas 2h40 acabam carregando mais do que um roteiro simples consegue suportar, tornando a experiência um pouco arrastada em certos momentos.
Ainda assim, é impossível não reconhecer o mérito de Chu ao transformar essa fábula antifascista em algo ao mesmo tempo grandioso e íntimo, sem perder a consciência de sua mensagem. Nem todos os heróis são como nos contos de fadas – e, às vezes, é muito mais divertido ser um pouco Wicked.
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