The Passion According to G.H.

The Passion According to G.H.

atualização: tô meio desesperada pra assistir esse filme de novo (não no cinema. a experiência de assistir isso aqui no cinema é muito desagradável. na minha casa mesmo, com pausas, paciência e paz de espírito). assim que vi o filme achei ele meio intragável e continuo achando, mas nunca consegui parar de pensar nele, nem na atuação da maria fernanda. de uma certa forma, por bem ou por mal (não se engane, é por mal mesmo), ele me marcou, sim. acho que desenvolvi até um certo afeto por essa coisa detestável? sejamos honestos, esse filme foi uma patifaria. enfim, modifiquei algumas (várias) coisas na minha review desde então. é isso, boa tarde.

não consigo ver sentido em vomitar ("vomitar" por não ter encontrado um termo melhor, mas acho até injusto usar essa palavra porque o texto não é necessariamente vomitado. enfim, da atuação vou falar depois) um texto denso e difícil como esse, sem dar tempo pra nenhum tipo de assimilação e processamento do que tá sendo dito. essa foi uma escolha, com certeza, e talvez a mais grave delas. nesse formato, funcionaria como um curta, talvez até funcionasse como um longa, mas com certeza um longa de menor duração. duas horas é um pouco inaceitável. e esse é um dos maiores problemas do filme pra mim: ele poderia funcionar muito bem com o conceito que tem (mas com menor duração), se a gente não tivesse a sensação de que o texto é ininterrupto.

sempre imaginei uma adaptação de clarice como algo com muitos silêncios. às vezes ela parava de falar e era um alívio tão grande, dava pra sentir as coisas. mas passava um tempinho e ela voltava a regurgitar palavras, uma atrás da outra, sem parar. no final eu não aguentava mais a voz dela. que coisa desesperadora.

vi pelo menos seis pessoas saírem da sala no meio do filme, duas delas durante um plano fechado da gosma branca saindo da barata. ri demais. mas a verdade é que no início, acredito que tenha sido durante a primeira meia hora, eu tava achando ótimo. tava adorando, de verdade, e se o filme tivesse conseguido segurar a minha atenção como naquele início, talvez eu tivesse saído de lá feliz. os momentos dela no quarto antes de encontrar a barata, circundando o armário e enfiando a cabeça dentro dele, foram bons demais. apesar dos pesares (e são muitos pesares), tava gostando da atuação da maria fernanda. mas depois da primeira hora percebi que eu não ouvia mais nada do que ela dizia. quando faltava meia hora pra acabar nem as imagens eram interessantes mais, e eu fiquei sentada sem ouvir nem ver nada direito. e o filme não acabava nunca, parecia que eu tava sendo mantida em cárcere, eu tive ódio do mundo, do universo, de tudo e de todos. o problema pra mim é que o filme se cansa à medida que avança. ele não se modifica de forma visível hora nenhuma: parece ter o mesmo ritmo, ela parece dar o texto com o mesmo tom, tudo é mais do mesmo o tempo inteiro. volto a dizer que duas horas de duração pra um filme nesse formato é meio inaceitável.

em condições normais (que não são as desse filme), eu sou muito apaixonada pela maria fernanda cândido rs. muita gente têm elogiado ela aqui. eu não vou fazer isso. mas enquanto eu não ache que o problema tenha sido que ela atuou mal necessariamente, pra mim fica bem claro que foi feita uma escolha ali, foi tomada uma decisão em relação à forma como ela devia interpretar o texto. e eu não consigo concordar ou gostar dessa decisão de jeito nenhum. achei forçadíssimo. parecia que, em vez de expressar a coisa em si, a subjetividade real da coisa, ela tava fazendo a representação superficial dessa subjetividade. não sei se isso fez sentido, mas não me parecia genuíno, como se ainda houvessem muitos graus de separação entre o que ela fazia e o âmago da coisa, como se ela ainda precisasse retirar muitas camadas de si mesma pra chegar na essência de tudo. não consigo explicar de uma forma que não seja abstrata, a única palavra que consigo pensar pra descrever o que eu sinto é artificial. extremamente artificial. o que me deixava frustrada, porque eu tinha a impressão de que seria facílimo retirar toda aquela artificialidade da interpretação dela e transformar em algo sincero, e que não fazê-lo tinha sido uma escolha estética. digo que isso me parece uma escolha e não apenas uma atuação ruim (seria um problema simples e evidente se fosse apenas uma atuação ruim), porque essa ideia de representar ideias superficialmente perpassa pelo filme inteiro. em certo momento, ela menciona algo sobre "bordado" (não me lembro a frase inteira) e é imediatamente mostrada uma cena em que a personagem está sentada no sofá bordando. mas, gente. é isso mesmo, produção?

enfim, voltando à atuação, o que é pior é que às vezes ela parecia uma caricatura, ficava meio patético. brega, breguíssima interpretação. sentia uma vergonha alheia enorme toda vez que ela falava o texto olhando pra câmera (esse tanto de close-up no rosto dela foi uma escolha particularmente infeliz pra mim). e eles tinham a intenção (bem-sucedida) de reproduzir a figura da clarice nela, no cabelo, no rosto e até na forma como ela brincava com os dedos quando segurava o cigarro. naturalmente já tenho um pouco de preguiça disso e fiquei confusíssima com a justaposição dessa mulher caricata, beirando o patético, com a figura reminiscente da clarice. tá certo isso, produção?

a fotografia é bonita (mesmo parecendo um comercial retrô de perfume), as cores são bonitas, gosto da trilha sorona (mesmo que talvez ela apenas contribua pra esse conceito artificial do filme), gosto de como as cenas dão um tranco às vezes. gosto da estética, mas também acho que talvez ela seja parte do problema. é complicado, mas não acho que o fato de o roteiro ser apenas o texto intocado da clarice seja um problema por si só. sou muito adepta dessa ideia, na verdade, e acredito que poderia dar certo, sim, se executado de outra maneira. qual maneira? não sei. mas a cineasta não sou eu.

no fim das contas, a questão pra mim é que foram feitas várias escolhas, e eu não nego que possam ter sido escolhas pensadas e analisadas com cuidado e um objetivo em mente, mas eu não consigo gostar da maioria delas. enfim, viva clarice. a clarice que eu posso apreciar com calma e cuidado, não essa coisa que eu mal consigo acompanhar.

e sei lá. acho chata a forma como tem gente respondendo às críticas ao filme com comentários de "se não gostou é porque não entende/conhece a obra de clarice". como se existisse somente uma forma de enxergar uma obra e um autor, de entendê-lo, de vizualizá-lo. não que eu saiba de muita coisa, mas que mania de querer se mostrar superior aos outros por coisas banais. esse filme é uma forma, mas não a única. não achei que isso precisasse ser dito.

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