Há algo hipnotizante em Wicked. Um mundo que gira em torno de duas bruxas – uma rosa, uma verde – ambas tão vibrantes e complementares que parecem existir só para refletir uma na outra. Glinda, toda em tons suaves, quase doces demais, desliza pela tela como se nunca tivesse conhecido o peso do mundo. E Elphaba, verde como a inveja que lhe é projetada, traz uma profundidade que arrasta o espectador para algo muito mais humano. Rosa e verde, cores opostas, mas inseparáveis, como o bem e o mal que o filme insiste em desconstruir.

Mas nem tudo sobre Wicked é tão claro quanto sua paleta de cores. Há um barulho – sempre há um barulho – sobre a dessaturação das cores. Alguns dizem que Oz perdeu seu brilho. Besteira. A beleza de Wicked está em sua capacidade de usar a luz e a sombra para dar forma ao mundo. Não é um Oz só de contos de fada; é um Oz mais vivo, mais sujo, mais sincero. Se as cores estão menos saturadas, é porque não estamos mais olhando através dos olhos ingênuos de Dorothy.

O palco para a sequência está construído. A primeira parte do filme é uma sinfonia visual e emocional. A amizade entre G(a)linda e Elphaba é o coração pulsante da narrativa. Não se trata de vilania contra heroísmo, mas de duas mulheres que escolhem caminhos diferentes e, no processo, se definem mutuamente. Glinda, presa ao desejo de agradar, é uma fachada brilhante escondendo camadas de insegurança. Elphaba, tão indesejada que é quase invisível, transforma sua marginalização em força. O rosa e o verde se fundem em algo quase doloroso de assistir: o começo de uma amizade que você sabe que será despedaçada.

As músicas, claro, são o motor da história. Longas, talvez um pouco demais. Sonoramente montadas sobre grandes clichês músicas, mas carregadas de peso e intenção. Cada nota parece construída para nos fazer sentir o conflito interno das personagens. “Defying Gravity” é um manifesto!

PS: assistido dublado com a família toda no cinema. A dublagem é excelente e as músicas excelentes. Minha filha sabia cantar duas músicas.