"Torso" logo de início evoca uma sensação de voyeurismo, com a câmera passeando lentamente por uma cena que aparenta ser uma orgia, intercalando cortes que simulam a abertura e o fechamento de uma lente, enquanto uma música delicada toca ao fundo. É evidente desde o começo que o filme preza por uma certa sofisticação: embora pertença ao gênero suspense, a estética italiana imprime uma delicadeza característica. No universo do giallo, é comum o tratamento de oposições, como sutileza e brutalidade, amor e ódio, entre outros. A trama, embora absurdamente simples, é paradoxalmente notável em sua funcionalidade.

Assim como muitos outros filmes, especialmente os slashers que surgiriam posteriormente, temos aqui um misterioso assassino mascarado (com luvas pretas, claro; afinal, estamos em um giallo) aterrorizando a cidade ao assassinar jovens e indefesas universitárias. Semelhante a Jason Voorhees, nosso vilão também parece onipresente, pronto para atacar após ações consideradas imorais, como sexo e uso de drogas. No entanto, ao contrário de seu equivalente, o serial killer aqui não se contenta apenas em matar; ele também se aproveita das vítimas, explorando seus corpos antes de realizar esquartejamentos brutais. Os assassinatos são intensamente violentos, com sangue jorrando em abundância (incluindo desmembramentos feitos com uma serra).

O erotismo permeia quase todo o filme, com as personagens femininas frequentemente se despindo. Poucas vezes se viu vítimas tão lascivas quanto as deste filme, e todos os personagens masculinos parecem ser tarados em potencial. A mentalidade distorcida que impulsiona "Torso" se revela nos detalhes mais sutis: na forma pervertida como captura as curvas femininas, nos personagens que aparecem apenas para espiar o que não deveriam e que morrem em seguida, ou até mesmo nos personagens que se mostram sacanas em relação ao sexo oposto (ou não). O assassino nos observa, colocando-nos na posição de cúmplices.

É interessante notar a maneira como o assassino é retratado; sua forma, vestimenta e máscara cobrem sua identidade. Embora o uso da câmera subjetiva não seja constante para proporcionar a sensação de participar de um ritual perverso, a abordagem pessoal nas cenas de assassinato oferece um espetáculo de mistério e uma sensação de compartilhamento de uma doença – como no momento em que o homem toca o corpo de uma de suas vítimas e, em seguida, enfia os dedos nos olhos da morta (uma cena intercalada com a mesma abordagem em relação a uma boneca na abertura). Esse processo é seguido por um corte profundo na região do tórax, revelando a essência doentia do filme.

Os vinte minutos finais de "Torso" contribuem para sua fama de clássico, uma vez que envolve uma situação de perigo carregada de suspense e tensão angustiante. Para quem gosta de filmes de suspense/mistério e com forte doses de sensualidade e erotismo, "Torso" é fortemente recomendado.

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