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Quinto Cecílio Metelo Crético

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 Nota: Para outros significados, veja Quinto Cecílio Metelo.
Quinto Cecílio Metelo Crético
Cônsul da República Romana
Consulado 69 a.C.
Nascimento 135 a.C.
Morte 55 a.C. (80 anos)
  Roma

Quinto Cecílio Metelo Caprário Crético (c.135 a.C.55 a.C.?; em latim: Quintus Caecilius Metellus Caprarius Creticus) foi um político da gente Cecília Metela da República Romana eleito cônsul em 69 a.C. com Quinto Hortênsio Hórtalo. Foi pretor em 74 a.C. e pontífice de 73 a.C. até à sua morte.

Os membros da gente Cecília Metela eram muito conservadores e a sua influência atingiu o seu apogeu a partir do século II a.C. O nome Metelo possivelmente significa "mercenário".[1] Segundo um dito atribuído a Névio, «os Metelos estão destinados a tornarem-se cônsules em Roma»,[2] o que parece ter-se concretizado: um irmão de Crético, o pai, avô, três tios, um bisavô e um trisavô foram cônsules.[1]

Mapa da região do Mar Egeu alguns anos antes da campanha de Metelo Crético em Creta, mostrando a ilha ao sul. À direita está a província romana da Ásia, ao norte da qual ficava o Reino do Ponto, de Mitrídates VI. À esquerda, a Grécia romana.

O avô de Crético foi Quinto Cecílio Metelo Macedónico, pretor em 148 a.C., e recebeu o comando da Macedónia. Ali derrotou Andrisco, o último rei da Macedónia, ato pelo qual recebeu um triunfo e o cognome Macedónico (em latim: Macedonicus). Foi censor em 131 a.C. e cônsul em 143 a.C.. Como aristocrata conservador que era, Macedónico opôs-se a Tibério Graco e Caio Graco. Todo os seus quatro filhos foram cônsules.[3]

O pai de Crético foi Caio Cecílio Metelo Caprário, o filho mais novo de Macedónico. Em 133 a.C. serviu sob as ordens de Cipião, o Africano em Numância, na Hispânia. Caprário foi pretor em 117 a.C., cônsul em 113 a.C. e combateu como procônsul na Trácia em 112 a.C.. Obteve um triunfo pela sua vitória na Trácia em 111 a.C. e foi censor em 102 a.C..[3]

Crético tinha dois irmãos e uma irmã. Um era Lúcio Cecílio Metelo, que foi pretor em 71 a.C. e governador da Sicília em 70 a.C.. Morreu em 68 a.C., quando era cônsul. O outro irmão era Marco Cecílio Metelo, que foi pretor e presidente do tribunal de extorsão em 69 a.C.. A irmã de Crético, Cecília Metela Crética, foi esposa de Caio Verres, governador da Sicília entre 73 e 71 a.C..[3]

Teve um filho, o tribuno da plebe Quinto Cecílio Metelo Crético. A filha de Crético, também chamada Cecília Metela, casou com Marco Licínio Crasso, filho do célebre Marco Crasso, um dos triúnviros do primeiro triunvirato. O Mausoléu de Cecília Metela ainda se ergue na Via Ápia.[carece de fontes?]

Guerra contra Creta

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Ver artigo principal: Terceira Guerra Mitridática

Segundo Constantino VII Porfirogénito, Creta apoiou Mitrídates VI, rei do Ponto, fornecendo-lhe mercenários no século I a.C. Mitrídates estava em guerra com os romanos a altura e Roma estava a ter grandes dificuldades nesse conflito. Os cretenses também apoiavam e eram aliados dos piratas do Mediterrâneo.[4] A pirataria era um gravíssimo problema no Mediterrâneo dessa época, pois colocavam em risco a navegação, com raptos, apresamento de navios, roubo de cereais destinados a Roma e ataques aos portos. Marco António Crético, pai do célebre Marco António, enviou legados a Creta para tentar convencer os cretenses a suspenderem o seu envolvimento com Mitrídates e com os piratas, mas os cretenses mandaram os enviados embora, o que provocou uma guerra.[4] Em troca de um tratado de paz, os romanos pediram a rendição de Lastenes, o comandante cretense, juntamente com a entrega de todos os romanos que eram prisioneiros dos cretenses, todos os seus navios piratas, 300 reféns e 400 talentos de prata, o que foi recusado pelos cretenses.[3]

Durante o seu consulado, foi concedido a Quinto Cecílio Metelo o comando proconsular contra Creta infestada de piratas, um cargo que o seu co-cônsul, Quinto Hortênsio Hórtalo, tinha recusado.[1] Metelo capturou várias cidades e fez grandes progressos antes da ilha apelar a Pompeu, o que aconteceu em 67 a.C., quando Pompeu obteve o mandato para eliminar a pirataria no Mediterrâneo, por conta da Lex Gabinia proposta pelo tribuno da plebe Aulo Gabínio. Os cretenses ofereceram-se para render-se a Pompeu, talvez acreditando que ele seria menos severo do que Metelo. Pompeu ignorou o comando de Metelo sobre a ilha, aceitou a rendição de Creta e ordenou a Metelo que abandonasse a ilha com as suas tropas, ordem que foi ignorada por Metelo. Quinto Metelo acabaria por derrotar os cretenses e tornar a ilha uma província romana.[4]

Devido à recusa em abandonar Creta, desobedecendo a Pompeu, este e os seus aliados impediram o seu triunfo pela vitória até 62 a.C..[4] Depois de celebrar o seu triunfo, Metelo recebeu o cognome de "Crético" (em latim: Creticus; lit. "cretense"). Em represália pela oposição ao seu triunfo, Metelo usou a sua influência para impedir a ratificação no Senado da proposta de Pompeu para reorganizar os territórios romanos no oriente, que só avançou em 60 a.C..[1] Metelo continuou um membro destacado da oposição a Pompeu até à sua morte em meados da década de 50 a.C..[5]

Mausoléu de Cecília Metela, na Via Ápia, o túmulo de Cecília Metela Crética, filha de Metelo Crético e esposa de Marco Licínio Crasso, filho do triúnviro Crasso.

Segundo a correspondência de Cícero para Ático, Crético foi enviado para a Gália como embaixador, com o objetivo de impedir que os estados gauleses se juntassem aos Éduos em 60 a.C. Foi acompanhado nessa missão por Lúcio Flaco e Lêntulo.[6]

Papel no julgamento de Verres

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No discurso de Cícero contra Caio Verres, proferido no final de 70 a.C., Cícero, o advogado de acusação em nome da província da Sicília, denunciou o acusado no tribunal de extorsão. Verres foi governador da Sicília entre 73 e 71 a.C. e os sicilianos acusaram-no de ser moralmente corrupto, de ter recebido subornos e de ter roubado 40 milhões de sestércios em dinheiro e bens da província. Acusaram-no também de ter matado cidadãos romanos sem julgamento, o que era proibido pela lei romana. Crético e Quinto Hortênsio Hórtalo, ambos eram amigos e aliados de Verres, seriam os cônsules no ano seguinte e Hórtalo foi o seu advogado de defesa. Marco Cecílio Metelo, um dos irmãos de Crético, seria presidente do tribunal de extorsão no ano seguinte, pelo que a defesa planeou adiar o julgamento até ao ano seguinte, quando Hórtalo e os dois irmãos Cecílio Metelo teriam capacidade para influenciar a decisão do tribunal.[7]

Quinto Cecílio Metelo contactou os sicilianos e disse-lhes que Verres não iria causar quaisquer danos devido ao poder que ele, a sua família e outros aliados de Verres iriam deter no ano seguinte. Devido a isto, Cícero apelida Quinto Cecílio de corrupto ao ponto de "atirar aos ventos o dever e a dignidade". Cícero vai mais longe e sugere por duas vezes ele ganhou o seu posto político devido a subornos de Verres e não devido ao seu mérito e tenta virar Quinto Cecílio contra Verres, afirmando que Verres tinha proclamado isso mesmo.[8][7]

Num discurso posterior — Post Reditum in Senatu ("nos senado depois do seu regresso") — Cícero, depois de ter estado exilado devido a ter executado cidadãos romanos sem julgamento durante a conjuração de Catilina, tinha regressado a Roma com a ajuda do cônsul Quinto Cecílio Metelo Céler, um parente de Crético. Nesse discurso Cícero elogia Céler pela sua nobreza e excelente disposição, e, embora diga que são seus inimigos, elogia igualmente os Metelo no seu conjunto por serem cidadãos exemplares.[9][10]

Outras menções literárias

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Na sua oitava sátira, Juvenal fala acerca da virtude por si só tornar uma pessoa realmente nobre, e não um nome de família herdado. O autor us a alguns nomes para ilustrar essa perspetiva, incluindo o de Quinto Cecílio Metelo.[11]

Árvore genealógica

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Cônsul da República Romana
Precedido por:
Cneu Pompeu Magno I

com Marco Licínio Crasso I

Quinto Cecílio Metelo Crético
69 a.C.

com Quinto Hortênsio Hórtalo

Sucedido por:
Lúcio Cecílio Metelo

com Quinto Márcio Rex


  1. a b c d Salazar 2003, p. 874-879.
  2. Grant 1960, p. 45.
  3. a b c d Broughton, T. Robert S. (1951). The Magistrates of the Roman Republic. Volume I, 509 B.C. - 100 B.C. (em inglês). I, número XV. Nova Iorque: The American Philological Association 
  4. a b c d Constantino VII, As Embaixadas
  5. Hornblower & Spawforth 1996, p. 269
  6. Cícero, Epistulae ad Atticum I 19.
  7. a b Cícero, In Verrem I 9
  8. Grant 1960, p. 47.
  9. Yonge 1856.
  10. Cícero, Post Reditum in Senatu
  11. Humphries 1958.
  • Broughton, T. Robert S. (1952). The Magistrates of the Roman Republic. Volume II, 99 B.C. – 31 B.C. (em inglês). Nova Iorque: The American Philological Association. 578 páginas 
  • Constantino VII Porfirogénito (Século X), «A Conquista de Creta», As Embaixadas, consultado em 24 de janeiro de 2014 
  • Grant, Michael (1960), Cicero: Selected Works (em inglês), Londres: Penguin Books 
  • Hornblower, Simon (1996), The Oxford Classical Dictionary, 3rd Edition, ISBN 9780199545568 (em inglês), Nova Iorque: Oxford University Press 
  • Humphries, Rolfe (1958), The Satires of Juvenal (em inglês), Bloomington: Indiana University Press, p. 102 
  • Salazar, Christine F. (2003), Brill's New Pauly: Encyclopedia of the Ancient World Vol. 2 (em inglês), Brill 
  • Watson, John Selby (1853), Eutropius: Abridgement of Roman History (em inglês), Londres: Henry G. Bohn 
  • Winstedt, E.O. (1912), Cicero: Letters to Atticus (em inglês), Cambridge: Harvard University Press, p. 83 
  • Yonge, C.D. (1856), Post Reditum in Senatu, Londres: Henry G. Bohn