Tragédia de Paraisópolis
Tragédia de Paraisópolis | |
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Vista parcial do bairro de Paraisópolis | |
Local | Paraisópolis, São Paulo, Brasil |
Data | 1 de dezembro de 2019 (UTC−3) |
Mortes | 9 |
Tragédia de Paraisópolis, também chamada de Massacre de Paraisópolis[1], foi um tumulto que provocou nove mortes, ocorrido na madrugada de 1 de dezembro de 2019 no bairro de Paraisópolis, na cidade de São Paulo. Em uma ação da Polícia Militar do Estado de São Paulo num baile funk, durante uma perseguição, ocorreu um tumulto que resultou na morte de nove jovens, com doze hospitalizados, sendo pisoteamento a suposta causa direta das mortes.[2] Entretanto, de acordo com familiares das vítimas e laudos preliminares, os corpos de algumas vítimas não apresentavam sinais físicos de pisoteamento, como roupas limpas, ausência de feridas ou sangue. Além disso, atestados de óbito registraram que quatro das vítimas morreram em decorrência de asfixia mecânica e trauma na medula.[3] Esse caso é o mais letal da cidade de São Paulo, segundo relatório do Centro de Antropologia e Arqueologia Forense (CAAF) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e do Núcleo Especializado de Cidadania e Direitos Humanos (NECDH) da Defensoria Pública.[4]
História
[editar | editar código-fonte]Jovens estavam reunidos no Baile da DZ7, realizado na esquina da rua Ernest Renan com a rua Rodolf Lutze, quando a Polícia Militar entrou no evento para dispersá-lo.[5] De acordo com moradores e frequentadores do baile, policiais teriam cercado as saídas das ruas e encurralado as vítimas em um beco.[2] Segundo a Polícia Militar, a ação foi em resposta a dois homens numa moto que teriam atirado contra policiais e, ainda efetuando disparos, teriam tentado se esconder na festa ocasionando tumulto, durante o qual os agentes teriam sido recebidos a "garrafadas, pedradas etc.". Ainda de acordo com a própria PM, foi feito uso de balas de borracha e "munições químicas para dispersão e segurança das equipes".[5]
Num vídeo que teria sido gravado após a dispersão do baile, policiais dão socos, tapas e pontapés em jovens já dominados. Em outro vídeo, policiais disparam balas de borracha contra as pessoas no lugar.[2] A Polícia Militar admitiu que "algumas imagens sugerem abuso, ação desproporcional" e que "o rigor vai responsabilizar quem cometeu algum excesso".[5]
O caso foi registrado no 89º Distrito Policial em Jardim Taboão. A Polícia Militar instaurou Inquérito Policial Militar,[5] que foi arquivado em fevereiro de 2020 após a Corregedoria da PM considerar as ações dos policiais lícitas. O inquérito indicou que não houve erro de procedimento dos 31 policiais que participaram da operação. O ouvidor da PM no momento da ação, Bendito Mariano, criticou a conclusão, afirmando que a operação não deveria ser considerada "normal" e que prejudicava a imagem da Polícia Militar.[6] Mariano havia deixado o cargo no dia anterior à apresentação das conclusões do inquérito, por decisão do governador João Doria.[7]
Em 2 de agosto de 2024, a Justiça de São Paulo começou a quinta audiência de instrução do caso. Ao todo, 17 testemunhas de defesa foram ouvidas pela Justiça.[8]
Vítimas fatais
[editar | editar código-fonte]Nome[2] | Idade | Ocupação | Residência |
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Bruno Gabriel dos Santos | 22 | – | Mogi das Cruzes |
Dennys Guilherme dos Santos Franca | 16 | – | – |
Eduardo Silva | 21 | ajudante de oficina | Carapicuíba |
Gabriel Rogério de Moraes | 20 | – | Mogi das Cruzes |
Gustavo Cruz Xavier | 14 | – | Capão Redondo |
Denys Henrique Quirino da Silva | 16 | estudante, limpeza de estofados | Pirituba |
Luara Victoria de Oliveira | 18 | – | Interlagos |
Marcos Paulo Oliveira dos Santos | 16 | estudante | Jaraguá |
Mateus dos Santos Costa | 23 | vendedor | Carapicuíba |
Repercussão
[editar | editar código-fonte]O presidente do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana do governo de São Paulo, Dimitri Sales, declarou que "A forma como a operação se deu, impedindo rotas de fuga, promovendo dispersão desordenada, sem que as pessoas pudessem fugir, sem ter espaço para fuga, isso tudo configura o ato de massacre. Não foi um mero acidente como se quer fazer crer".[1]
Desfecho
[editar | editar código-fonte]Em 28 de junho de 2024, a reportagem do jornal Folha de S.Paulo revelou que um dos 12 policiais militares réus no "Massacre de Paraisópolis", o sargento Gabriel Luís de Oliveira, que aparece no documentário do youtuber americano Gen Kimura, de abril do mesmo ano, dizendo em inglês que comemora as mortes de bandidos em confrontos com a Polícia Militar (PM) com "charuto e cerveja". A Secretaria da Segurança Pública (SSP) informou sobre o afastamento do agente.[9]
Referências
- ↑ a b Lopes, Nathan (2 de dezembro de 2019). «Órgão do governo de SP chama mortes em Paraisópolis de "massacre"». UOL. Consultado em 4 de dezembro de 2019
- ↑ a b c d Preite Sobrinho, Wanderley (2 de dezembro de 2019). «Quem são as 9 vítimas que morreram em Paraisópolis». UOL. Consultado em 4 de dezembro de 2019
- ↑ «Corregedoria investiga por que PMs fecharam rotas de fuga em Paraisópolis». noticias.uol.com.br. Consultado em 4 de dezembro de 2019
- ↑ Cíntia Acayaba e Kleber Tomaz (28 de junho de 2024). «'Massacre de Paraisópolis': Batalhão da PM responsável por ação que deixou 9 mortos é o mais letal da cidade de São Paulo nos últimos 10 anos, aponta relatório». G1. Consultado em 28 de junho de 2024
- ↑ a b c d Adorno, Luís; Bernardo, Barbosa; Costa, Flávio; Souza, Cleber (1 de dezembro de 2019). «Após ação da PM para dispersar baile, 9 morrem pisoteados em Paraisópolis». UOL. Consultado em 4 de dezembro de 2019
- ↑ Rogério Pagnan (7 de fevereiro de 2020). «PM de SP considera lícita a ação em Paraisópolis que terminou com 9 mortos». Folha de S. Paulo. Consultado em 8 de fevereiro de 2020
- ↑ Rogério Pagnan e Artur Rodrigues (6 de fevereiro de 2020). «Doria troca ouvidor da polícia no dia da divulgação de balanço de ações». Folha de S. Paulo. Consultado em 8 de fevereiro de 2020
- ↑ Kleber Tomaz (2 de agosto de 2024). «'Massacre de Paraisópolis': Justiça ouvirá testemunhas de defesa dos 12 PMs acusados de matar 9 jovens durante baile funk em 2019 em SP». G1. Consultado em 2 de agosto de 2024
- ↑ Kleber Tomaz e Renata Bitar (29 de junho de 2024). «PM que diz comemorar mortes de bandidos em vídeo de youtuber americano é réu por 9 homicídios no 'Massacre de Paraisópolis'». G1. Consultado em 29 de junho de 2024