Cronologia da abolição da escravidão e servidão
Esta é uma cronologia da abolição da escravidão e servidão.
A escravidão é sistema ou prática social em que os princípios do direito de propriedade aplicam-se a determinados indivíduos, permitindo sua posse e comercialização[1]
Ao decorrer da historia da humanidade, a escravidão esteve presente em vários países[2] e vitimou vários grupos humanos negros, brancos, amarelos, judeus etc.,[3] aqui estão os países que aboliram sua escravidão em ordem cronológica,[4] a maioria dos países descartaram esta prática social, porém, ainda existem países que a utilizam em parâmetros legais.
Estimativas indicam que cerca de 50 milhões[5] de pessoas no mundo vivem sob escravidão moderna, conforme dados de 2021 da Organização Internacional do Trabalho. São 28 milhões de pessoas vítimas do trabalho forçado e 22 milhões presas em casamentos forçados. Apenas entre os anos de 2016 a 2021 o número total aumentou em 10 milhões.
O abolicionismo foi uma das principais causas para o processo de abolição maciça da escravidão em determinadas sociedades, contudo, diversos fatores incidem sobre a abolição desta prática; dentre elas, guerras civis (como ocorreu nos EUA, na Guerra de Secessão, guerra importantíssima que determinou o fim da escravidão no sul do país),[6] decretos do governo e processos históricos e políticos.
Embora praticamente todas as nações do mundo já tenham abolido a escravidão - à excepção da Coreia do Norte (10,4% de escravizados legalmente[7], totalizando 2,6 milhões), e alguns estados não reconhecidos, como o EIIS -, ainda há noutros países a persistência ilegal em manter essa prática, devido à inacção ou mesmo cumplicidade do poder estatal. Em particular na Euritreia, onde uns estimados 9% (320 mil) são escravos, e Mauritânia (3,2% - 149 mil). Mas é também notável em países como a Índia (0,8% - 11 milhões), China (0,4% - 5,8 milhões), e a Rússia (1,3% - 1,9 milhões).[8] Em decorrência deste facto, foi criada uma classificação anual do índice global de escravidão.
Antiguidade
[editar | editar código-fonte]Data | Jurisdição | Detalhes |
---|---|---|
Início do século VI a.C. | Pólis de Atenas | O legislador ateniense Sólon decreta a abolição da escravidão por dívida e liberta todos os cidadãos atenienses que até então estavam escravizados.[9][10] |
326 a.C. | República Romana | Lex Poetelia Papiria decreta a abolição da servidão por dívida |
Século III a.C. | Império Máuria | Ashoka decreta a abolição do tráfico de escravos e encoraja o bom tratamento dos escravos no império sob seu domínio.[11] |
221–206 a.C. | Dinastia Qin | Medidas adotadas para eliminar a aristocracia latifundiária incluíram a abolição da escravidão e o estabelecimento do campesinato livre que deveria pagar taxas e trabalhar para o Estado. Desencorajaram a servidão.[12] A dinastia foi deposta em 206 a.C. e muitas de suas leis foram revogadas. |
9–12 d.C. | Dinastia Xin | Wang Mang, primeiro e único imperador da Dinastia Xin, usurpou o trono chinês e instituiu uma série de ousadas reformas, incluindo a abolição da escravidão e reforma agrária radical[13][14] |
Eras moderna e contemporânea
[editar | editar código-fonte]Ano | País | Grupo libertado | Notas |
---|---|---|---|
1570 | Portugal | Ameríndios | O rei Sebastião de Portugal decreta a abolição da escravidão de ameríndios sob o domínio português permitindo a servidão apenas daqueles hostis à presença portuguesa. Esta medida foi influenciada de forma decisiva pela Companhia de Jesus (jesuítas). [15][16] |
1590 | Japão | Japoneses | Ocorreu após o fim do Período Sengoku, a escravidão é abolida. |
1595 | Portugal | Chineses | Tráfego de escravos chineses abolido[17] |
1624 | Portugal | Proibida a escravidão de chineses.[18] | |
1723 | Rússia | Brancos | Pedro, o Grande, converte todos os escravos em servos domésticos, tornando a escravidão ilegal na Rússia. |
1761 | Portugal | Negros e Indianos |
O Marquês de Pombal (reinado de D. José I) decreta o fim da importação de escravos das colônias para a metrópole, fomentando ao invés o comércio de escravos africanos para o Brasil.[19][20][21][22] [23] |
Portugal (Metrópole e Índia) | Indianos | Abolida a escravidão de indianos por determinação do Marquês de Pombal durante o reinado de D. José I[24] | |
1773 | Portugal | Um decreto do Marquês de Pombal, assinado pelo rei Dom José I, emancipa escravos de quarta geração e todas as crianças nascidas de uma mãe escravizada após a publicação do decreto.[25][26] | |
1792 | Dinamarca | Negros | Lei de Abolição |
1794 | Haiti (Na época colônia francesa) |
Negros | Abolida no processo da Revolução Haitiana. |
1804 | Império do Haiti | Haitianos | Abolida no processo de Independência do Haiti. |
1801-1815 | Estados Unidos | Brancos (ver: Escravidão branca) |
Guerras Berberes (primeiros conflitos militares travados pelas Forças Armadas dos Estados Unidos no exterior) travadas pelos EUA contra os Piratas da Barbária que atacavam navios ocidentais, exigiam resgates, tributos e escravizavam os aprisionados. |
1820 | Espanha
(Metrópole) |
Negros | Abolida pelo rei Fernando VII[27] |
1821 | Holanda | Negros | |
1822 | República Dominicana (Na época uma colônia espanhola) |
Negros | |
1823 | Chile | Afro-chilenos | Lei da Abolição da Escravidão Chilena |
1824 | Honduras El Salvador Nicarágua Costa Rica Guatemala (a então Federação Centro Americana) |
Negros | |
1826 | Bolívia | Negros | |
1829 | México | Afro-mexicanos | Abolida por Vincente Gerrero. |
1833 | Reino Unido (o então Império Britânico e em todas as suas colônias) |
Africanos | Parlamento do Reino Unido |
1842 | Paraguai | Afro-paraguaios nascidos à partir dessa data | Promulgação da Lei do Ventre Livre por Carlos Antonio López [28] |
Uruguai | Africanos | ||
1848 | França (e em todas as suas colônias) | Negros | Proclamação da Segunda República Francesa |
1851 | Equador | Negros | |
Colômbia (a então República da Nova Granada) |
Afro-colombianos | ||
1853 | Argentina | Negros | |
1854 | Venezuela | Negros |
|
Peru | Negros Afro-peruanos |
||
Portugal (o então Reino de Portugal) |
Afro-portugueses |
[carece de fontes] | |
1861 | Rússia (o então Império Russo) |
Brancos | |
1863 | Império Colonial Holandês | Negros Povos ameríndios da Guiana |
|
1865 | Estados Unidos da América | Negros Afro-americanos |
Abolida através da décima terceira emenda por pressão de Abraham Lincoln. |
1869 | Portugal | O Rei Luis I determina a abolição da escravatura em todos os territórios portugueses incluindo no ultramar.[29] | |
1870 | Paraguai | Afro-paraguaios e povos ameríndios | O Conde d'Eu declara a escravidão ilegal no Paraguai no desfecho da Guerra do Paraguai[30] |
1873 | Zanzibar (o então Sultanato de Zanzibar) |
Negros | Declarada como ilegal pelo governo |
1874 | Gana (a então Costa do Ouro) |
Negros | Abolida por ordens do Império Britânico. |
1876 | Turquia (O Então Império Otomano) |
Negros Turcos (minoria) |
|
1886 | Cuba colonial | Negros Afro-cubanos |
|
1888 | Império do Brasil | Negros Povos ameríndios Afro-brasileiros |
Abolida por decisão monocrática de Isabel do Brasil, Princesa Regente do Império e sancionada pelo Senado |
1890 | Tunísia | Berberes | Declarada ilegal |
1894 | Gâmbia (Colônia) | Aku Mandês Mandingas |
Abolida pelos britânicos |
1897 | Madagascar | Malgaxes | a ilha é anexada à França e o governo francês decreta a escravidão ilegal |
1906 | China | Chineses | Decreto do país |
1928 | Serra Leoa | Negros | Reino Unido (apenas negros que não moravam em áreas urbanas, nativos) |
1936 | Nigéria | Reino Unido (o sul do país havia abolido a escravidão em 1901, porém no norte continuou até 1936) | |
1942 | Etiópia | Retirada de tropas italianas após a Ocupação italiana na Etiópia | |
1945 | Alemanha Nazi | Judeus Ciganos Homossexuais Negros prisioneiros de guerra |
Invasão por parte dos Estados Unidos e da União Soviética no final da Segunda Guerra Mundial. |
1956 | Marrocos | Negros | Fim do protetorado espanhol do Marrocos. |
1962 | Arábia Saudita | Árabes Negros |
O rei Saud declara a escravidão ilegal. |
1981 | Mauritânia | Mandês Reguibates Zenagas |
Pelo governo da Mauritânia. A escravidão neste país foi considerada ilegal em 1905, 1981 e 2007, continua a ser praticada e o governo daquele país persegue, prende e tortura os anti-esclavagistas.[31][32][33] |
Segundo dados do Global Slavery Index[34], o país com maior prevalência de escravidão é a Coréia do Norte, com 2.696.000 pessoas no total, o que representa um índice de prevalência de 104,6 (considerando uma população de 1.000 habitantes).
Referências
- ↑ «slavery | sociology». Encyclopædia Britannica (em inglês)
- ↑ «Qual foi o último país a abolir a escravidão? | Mundo Estranho». Consultado em 10 de setembro de 2016
- ↑ «Qual foi o primeiro país a abolir a escravidão? | Mundo Estranho». Consultado em 10 de setembro de 2016
- ↑ «A escravidão moderna: os 10 países que mais escravizam adultos e crianças - greenMe.com.br». www.greenme.com.br. Consultado em 10 de setembro de 2016
- ↑ OIT - Organização Internacional do Trabalho (12 de setembro de 2022). «Global Estimates of Modern Slavery: Forced Labour and Forced Marriage». Internacional Labor Organization. Consultado em 7 de janeiro de 2023. Cópia arquivada em 12 de setembro de 2022
- ↑ «A Brief Overview of the American Civil War | Civil War Trust». www.civilwar.org (em inglês). Consultado em 28 de junho de 2017
- ↑ «Democratic People's Republic of Korea (North Korea)». Antislavery in Domestic Legislation (em inglês). Consultado em 5 de setembro de 2024
- ↑ «Global Slavery Index (GSI)». Walk Free Foundation. 2023
- ↑ Athenaion Politeia 12.4, quoting Solon s:Athenian Constitution#12
- ↑ Garland, Robert (2008). Ancient Greece: Everyday Life in the Birthplace of Western Civilization. New York City, New York: Sterling. p. 13. ISBN 978-1-4549-0908-8
- ↑ Clarence-Smith, William. «Religions and the abolition of slavery – a comparative approach» (PDF). Consultado em 28 de agosto de 2013
- ↑ The Earth and Its Peoples: A Global History. [S.l.]: Cengage Learning. 2009. p. 165. ISBN 9780618992386
- ↑ Encyclopedia of Antislavery and Abolition. [S.l.]: Greenwood Publishing Group. 2011. p. 155. ISBN 9780313331435
- ↑ Encyclopedia of Slave Resistance and Rebellion. [S.l.]: Google Books. Consultado em 28 de agosto de 2013
- ↑ transcrição de Francisco Adolfo de Varnhagen. «Lei sobre a liberdade dos gentios, Évora, 20.03.1570» (PDF). Melhoramentos, 1975 (1857-60), tomo I, p. 345
- ↑ «Liberdade dos gentios». Arquivo Nacional . Consultado em 26 de outubro de 2021
- ↑ Maria Suzette Fernandes Dias (2007). Legacies of slavery: comparative perspectives. [S.l.]: Cambridge Scholars Publishing. p. 71. ISBN 1-84718-111-2. Consultado em 14 de julho de 2010
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- ↑ https://web.archive.org/web/20090414194052/http://news.bbc.co.uk/1/hi/world/africa/4091579.stm
- ↑ «The unspeakable truth about slavery in Mauritania». The Guardian. 8 de Junho de 2018
- ↑ «Mauritania: Growing repression of human rights defenders who denounce discrimination and slavery». www.amnesty.org (em inglês). 21 de Março de 2018
- ↑ «Global Slavery Index». Walk Free (em inglês). Consultado em 7 de janeiro de 2024