Budismo na Índia
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O budismo nasceu nos arredores da antiga Mágada (atual Bihar) no nordeste indiano. A partir do seu local de nascimento, o budismo espalhou-se para outras partes do norte e para o centro da Índia.
O budismo primitivo
[editar | editar código-fonte]Nos quarenta e cinco anos seguintes após ter atingido a iluminação e criado sua doutrina, Sidarta Gautama, o Buda histórico, percorreu a planície do Ganges, na região central da Índia, ensinando as suas doutrinas a um grupo heterodoxo de pessoas.[1].
Sidarta morreu aos oitenta anos de idade, na cidade de Cussínara, no atual estado de Utar Pradexe, na Índia. Seu corpo foi cremado por seus amigos, sob a orientação de Ananda, seu discípulo favorito. As cinzas foram repartidas entre vários governantes, para serem veneradas como relíquias sagradas[1].
O Primeiro Concílio Budista ocorreu em Rajagria pouco tempo depois da morte de Buda, sob o patrocínio de Ajatasatru, imperador de Mágada, tendo sido presidido por um monge chamado Mahākāśyapa. O concílio tinha, como objetivo, registar os ensinamentos orais do Buda (sutra) e codificar as regras monásticas (vinaya). A Ananda, primo de Buda e seu discípulo, foi pedido que recitasse os discursos do Buda e outro discípulo, Upali, recitou as regras da vida monástica. A recitação do vinaya por Upali foi aceita como o Vinaya Pitaka e a recitação do darma por Ananda ficou estabelecida como o Sutta Pitaka. Estes dois elementos, constituem a base do Cânone Páli, referência de ortodoxia em toda a história do budismo.
O Segundo Concílio Budista foi convocado pelo rei Calasoca, tendo decorrido em Vaisali, na sequência de conflitos entre escolas tradicionais do budismo e um movimento de interpretação mais liberal conhecido como os Mahasamghikas. Para as escolas tradicionais, o Buda tinha sido um ser humano que alcançou o estado de iluminação, e este poderia ser facilmente alcançado pelos monges seguindo as regras monásticas. Para os Mahasamghikas, esta perspectiva era demasiado individualista e egoísta. Alternativamente, eles propuseram, como verdadeiro objetivo, o atingir do estado de budeidade. Tornaram-se, então, proponentes de regras monásticas menos rígidas, que pudessem apelar a um maior grupo de pessoas.
Budismo no Império Máuria
[editar | editar código-fonte]Durante o reinado do imperador máuria Asoca, que se converteu ao budismo e que governou uma área semelhante à da Índia contemporânea (com excepção do sul), essa religião consolidou-se. Após ter conquistado a região de Calinga pela força, Asoca decidiu que a partir de então governaria com base nos preceitos budistas. O imperador ordenou a construção de hospedarias para os viajantes e que fosse proporcionado tratamento médico não só aos humanos, mas também aos animais. O rei aboliu também a tortura e provavelmente a pena de morte. A caça, desporto tradicional dos reis, foi substituída pela peregrinação a locais budistas. Apesar de ter favorecido o budismo, Asoca revelou-se também tolerante para com o hinduísmo e o jainismo.
Asoca pretendeu também divulgar o budismo pelo mundo, como revelam os seus éditos. Segundo estes, foram enviados emissários com destino à Síria, Egito e Macedónia (embora não se saiba se chegaram aos seus destinos) e para o oriente, para um terra de nome Suvarnabhumi (Terra do Ouro) que não se conseguiu identificar com segurança.
O Terceiro Concílio Budista foi convocado por Asoca em Pataliputra (Patna) por volta de 250 a.C., tendo sido presidido pelo monge Mogaliputa. O objectivo do concílio era tentar reconciliar as diferentes escolas budistas, purificar o movimento budista de facções oportunistas atraídas pelo patrocínio real e estabelecer as viagens de missionários budistas para todo o mundo.
O Cânone Pali (Tipitaka; em sânscrito Tripitaka, "os três cestos"), que compreende textos de referência do budismo tradicional e que se considera ter sido transmitido pelo Buda, foi formalizado nesta ocasião. É composto pela doutrina (Sutra Pitaka), pela disciplina monástica (Vinaya Pitaka) e por um novo corpo de textos de carácter filosófico (Abhidharma Pitaka).
As tentativas de Asoca para purificar o budismo, acabaram por produzir uma rejeição de movimentos budistas emergentes. Após 250 a.C. a escola Sarvastivada (rejeitada pelo Terceiro Concílio, segundo a tradição Theravada) e a escola Dharmaguptaka tornaram-se influentes no noroeste da Índia e na Ásia Central até à época do Império Cuchana nos primeiros séculos da era comum. A escola Dharmaguptaka caracterizava-se por acreditar que o Buda era um ser que estava separado e acima da comunidade budista, enquanto que a escola Sarvastivadin acreditava que o passado, o presente e o futuro coexistiam ao mesmo tempo.
Perseguição das Dinastias Sunga e Kanva
[editar | editar código-fonte]O Império Máuria chegou ao fim em finais do século II a.C.. A Índia foi então dominada pelas dinastia locais dos Sunga (c.185-173 a.C.) e dos Kanva (c.73-25 a.C.), que perseguiram o budismo, embora este conseguisse prevalecer. Após ter deposto o rei Briadrata Máuria (último representante dos Máurias) o militar Pusiamitra Sunga conquistou o trono. Sunga era um brâmane ortodoxo que alegadamente era hostil ao budismo, o qual teria perseguido. Segundo relatos, ele teria destruído mosteiros e mandado matar monges. Em locais como Nalanda, Bodhgaya, Sarnath, e Mathura grande parte dos mosteiros budistas teriam sido convertidos em templos hindus.
O greco-budismo no Reino Indo-Grego
[editar | editar código-fonte]O rei greco-bactriano Demétrio I invadiu a Índia até Pataliputra em 180 a.C., tendo estabelecido um Reino Indo-Grego que duraria em partes do norte da Índia até o século I a.C..
O rei indo-greco Menandro I (rei entre 160-135 a.C.) teria se convertido ao budismo. As moedas deste rei apresentam a referência "Rei Salvador" em grego e por vezes desenhos da "roda do dharma". Após a sua morte, a honra de partilhar os seus restos mortais foi disputada pelas cidades que governou, tendo sido os seus restos colocados em stupas. Os sucessores de Menandro inscreveram a fórmula "Seguidor do Dharma" em várias moedas e retrataram-se realizando a mudra vitarka.
Budismo no Império Cuchana
[editar | editar código-fonte]Os reinos indo-gregos foram gradualmente aniquilados pela invasão dos citas no noroeste da Índia, e a culturas destes absorvida pelos citas e mais tarde pelos iuechis, fundadores do Império Cuchana (12 a.C.). Um dos mais importantes imperadores desta dinastia, Canisca I (r. 127–147), foi um grande proselitista do budismo.
Os cuchãs apoiaram o budismo e um Quarto Concílio Budista seria mesmo convocado pelo rei Canisca I por volta do ano 100 em Jalandar ou em Caxemira. Esta concílio está associado à emergência do budismo Mahayana e à separação deste da tradição Theravada, que não reconhece a validade do concílio, o qual denomina como "concílio dos monges heréticos".
Canisca teria juntado quinhentos monges em Caxemira, liderados por Vasumitra, para editar o Tripitaca.
Budismo no Império Gupta
[editar | editar código-fonte]Após o fim do império Cuchana, o budismo floresceria na Índia durante o Império Gupta (240-550). Os monarcas favorecem o budismo, e também o hinduísmo. Vários centros do saber Maiaana seriam criados, como Nalanda no nordeste da Índia, que se tornaria umas das universidades budistas mais importantes durante vários séculos, com mestres conhecidos como Nagarjuna. O estilo gupta de arte budista tornou-se influente à medida que a religião se difundiu do sudeste asiático à China.
Declínio do budismo na Índia
[editar | editar código-fonte]Em meados do século VI, o budismo indiano começou a entrar em decadência em consequência das invasões dos hunos brancos, oriundos da Ásia Central, que invadem o noroeste da Índia, provocando a destruição de inúmeros mosteiros budistas.
A partir de 750, houve um renascimento do budismo, quando a dinastia Pala governou no nordeste da Índia até ao século XII, apoiando os grandes centros monásticos budistas, entre os quais o de Nalanda.
Contudo, a partir do século XII, o budismo entra num declínio definitivo devido a vários factores. Entre estes, encontravam-se o revivalismo hindu, que se manifestou com figuras como Adi Shankara e pelas invasões dos muçulmanos dos séculos XII e XIII.
Um dos acontecimentos mais marcantes na decadência do budismo indiano ocorreu em 1193 com a destruição de Nalanda por povos túrquicos islâmicos liderados por Maomé Quilji. No final do século XII, após a conquista islâmica do baluarte budista de Bihar, os budistas deixaram de ser uma presença significativa na Índia. Para o desaparecimento do budismo também contribuiu o revivalismo hindu expresso através da escola Advaita Vedanta e no movimento Bhakti.
Budismo na Índia atualmente
[editar | editar código-fonte]Apesar de ter nascido na Índia, o budismo é hoje praticado em pontos isolados do país.
Embora o budismo tenha passado por uma verdadeira renovação a partir de 1959, ano em que o Dalai Lama escolhe o exílio, ele parece quase ausente da Índia, a ponto de termos, muitas vezes, de seguir turistas para localizar os lugares santos de antigamente. Nesse percurso, ao longo dos séculos, o budismo suscitou desvios, heresias e seitas.[2]
Referências
- ↑ a b GAUTAMA, S. A Doutrina de Buda. São Paulo: Martin Claret, 2003. p.21
- ↑ Índia: O livro - Budismo