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Ética da reciprocidade

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A ética da reciprocidade, também chamada de regra de ouro ou regra áurea, é uma máxima moral[1] ou princípio moral[2] que pode ser expressa como uma injunção positiva ou negativa:

  • Cada um deve tratar os outros como gostaria que ele próprio fosse tratado (forma positiva ou directiva);[1]
  • Cada um não deve tratar os outros da forma que não gostaria que ele próprio fosse tratado (forma negativa ou proibitiva, ou ainda regra de prata).[1]

Em ambas as formas, serve como uma directiva para tratar os outros como a si próprio. A Regra de Ouro difere da máxima da reciprocidade, sendo, por isso, um compromisso moral unilateral com vista ao bem-estar dos outros, sem expectativas de nada em troca.[3]

No entanto, muitos autores cristãos vinculam a forma negativa da regra de ouro como uma consequência da visão contratualista de uma sociedade hobbesiana, na qual cada pessoa se considera primeira e majoritariamente como um indivíduo que transborda direitos/desejos, mas que não tem nenhuma responsabilidade fundamental para com ninguém. Segundo este ponto de vista, em sua forma invertida, há um esvaziamento moral em seu sentido, uma vez que a finalidade da regra de ouro passa ser apenas a proteção  direitos/desejos individuais e simultaneamente reduzir o conflito com os outros indivíduos. A regra, portanto, em sua versão invertida, abandona o seu compromisso moral com o bem-estar dos outros focando apenas na busca do bem próprio.

O conceito ocorre, sob alguma forma, em quase todas as religiões[4][5] e tradições éticas.[6] Também pode ser explicada sob a perspectiva da psicologia, da filosofia, da sociologia e da economia. Psicologicamente, envolve o desenvolvimento de empatia com os demais. Filosoficamente, envolve uma pessoa perceber seu próximo também como um "eu".[7] Sociologicamente, "ama o próximo como a ti mesmo" é aplicável entre indivíduos, entre grupos e também entre indivíduos e grupos. Em economia, Richard Swift, em referência a ideias de David Graeber, sugere que "sem algum tipo de reciprocidade, a sociedade não poderia mais existir".[8]

Exemplos de referência à Regra Áurea nas religiões mais antigas

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No zoroastrismo (cerca de 660 - 583 a.C.)

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Um caráter só é bom quando não faz a outros aquilo que não é bom para ele mesmo. − Dadistan-i-Dinik 94:5

No budismo (cerca de 563 - 483 a.C.)

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Não atormentes o próximo com aquilo que te aflige.Udana-Varga 5:18

No confucionismo (cerca de 551 - 479 a.C.)

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Não façais aos outros aquilo que não quereis que vos façam.Analectos de Confúcio, 12.2 e 15.24

No hinduísmo (cerca de 300 a.C.)

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Esta é a suma do dever: não faças aos demais aquilo que, se a ti for feito, te causará dor.Mahabharata (5:15:17)

No judaísmo (cerca de 200 d.C.)

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O que é odioso para ti, não o faças ao próximo. Esta é a lei toda, o resto é comentário.Talmude, Shabbat 31ª

No islamismo (cerca de 570 - 632 d.C.)

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Nenhum de nós é crente até que deseje para seu irmão aquilo que deseja para si mesmo.Suna

No cristianismo (cerca de 30 d.C.)

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Portanto, tudo que quereis que os homens vos façam, fazei-o também a eles.Jesus, no Sermão da Montanha,Mateus 7:12[9]

Referências

  1. a b c Antony Flew, ed. (1979). «golden rule». A Dictionary of Philosophy. London: Pan Books in association with The MacMillan Press. p. 134. ISBN 0-330-48730-2  Este dicionário de filosofia contém a seguinte citação exacta na entrada sobre a "regra de ouro": "A máxima 'Trata os outros como gostarias que te tratassem'. Várias expressões desta regra moral fundamental podem ser encontradas nas doutrinas da maioria das religiões e credos através dos tempos, testemunhando a sua aplicabilidade universal." (fim de citação)
  2. Walter Terence Stace argumentou que a regra de ouro seria mais do que um código de conduta. Ao invés, postulava que, "expressa a essência de uma moralidade universal." A justificação para esta crucial diferença ocupa grande parte do seu livro The Concept of Morals (1937): – Stace, Walter T. (1937). The Concept of Morals. New York: The MacMillan Company (reprinted 1975 by permission of MacMillan Publishing Co. Inc.); (also reprinted by Peter Smith Publisher Inc, January 1990). p. 136. ISBN 0-8446-2990-1  (above quote found p. 136, ch. 6)
  3. The moral primacy of basic respect
  4. W.A. Spooner, "The Golden Rule," in James Hastings, ed. Encyclopedia of Religion and Ethics, Vol. 6 (New York: Charles Scribner's Sons, 1914) pp. 310–12, quoted in Rushworth M. Kidder, How Good People Make Tough Choices: Resolving the Dilemmas of Ethical Living, Harper, New York, 2003. ISBN 0-688-17590-2. p. 159. Simon Blackburn também nota a conexão entre Confúcio e a regra de ouroSimon, Blackburn (2001). Ethics: A Very Short Introduction. Oxford: Oxford University Press. p. 101. ISBN 978-0-19-280442-6 
  5. Esptein, Greg M. (2010). Good Without God: What a Billion Nonreligious People Do Believe. New York: HarperCollins. p. 115. ISBN 978-0-06-167011-4 
  6. Simon, Blackburn (2001). Ethics: A Very Short Introduction. Oxford: Oxford University Press. p. 101. ISBN 978-0-19-280442-6 
  7. Wattles, Jeffrey (1996). The Golden Rule. [S.l.]: Oxford University Press 
  8. Swift, Richard (julho de 2015). «Pathways & possibilites». New Internationalist. 484 (July/August 2015) 
  9. A nota de rodapé referente à Lucas 6:27–38 na Bíblia do Peregrino, observa a existência de trechos na Bíblia, nos quais:
    1. se condena fazer o mal a outrem sem razão: Salmos 35:7;
    2. se condena com maior gravidade fazer o mal a quem fez o bem: Salmos 35:12, Salmos 38:21, Provérbios 17:13 e Jeremias 18:20;
    3. se exalta fazer o bem sem razão: Êxodo 23:4–5;
    4. não vê mérito em pagar o bem com o bem: Lucas 6:32–34 e I Pedro 2:19–23;
    5. exalta especialmente àqueles que pagam o mal com o bem: I Samuel 24:18, Provérbios 25:21-22 e Romanos 12:21.