S.,
Você é provavelmente a única pessoa para quem uma dessas cartas vai chegar, porque ao mesmo tempo que acho muito egocentrismo da minha parte achar que você ainda me lê, acho também muito plausível. Afinal, foram anos de amizade compartilhados via blog, então não é nada fora da realidade.
Te conhecer foi algo bem aleatório, esbarrei com seu blog na internet e deixei um comentário sem expectativa de retorno. Mal sabia eu que ia florescer dali uma amizade de anos, e que iríamos compartilhar muitas coisas juntas - mas nem todas boas.
No começo nossa relação era muito leve, divertida, e era muito gostoso ter alguém que compartilhava de tantos gostos em comum comigo. Tem piadas e referências que só a gente pegava, tem memes que mais ninguém entende além de você, e em alguns momentos eu sinto falta de poder compartilhar algumas coisas contigo.
Não que eu estivesse compartilhando nada nos últimos tempos. Já faziam anos que não havia espaço pra uma conversa leve e divertida entre nós.
Quanto mais o tempo passava e mais você adoecia, menos amiga eu era e mais psicóloga eu virava. E num geral eu faço muito esse papel - de cuidar, de acolher, de ouvir, de aconselhar, mas pra mim sempre precisava haver um limite claro entre o cuidado de uma amiga e o cuidado de uma profissional. Pra mim, as coisas desandaram de vez quando perdi meu pai - e eu entendo que você estava em crise e não fez nada por mal. Mas um dia eu estava muito, muito exausta, havia tido um dia terrível no trabalho, e eu estava no ônibus cheio voltando pra casa quando você me mandou mensagem dizendo que precisava falar comigo. E eu disse claramente que não estava em condições de te acolher, mas você insistiu que "só precisava colocar pra fora" e mesmo eu negando, você me enviou muitas e muitas mensagens desabafando sobre alguma coisa. Claramente desrespeitando um limite que eu havia colocado entre nós, desrespeitando o meu cansaço e o meu espaço.
Fui eu quem pedi pra nos afastarmos, e na época eu te disse que era porque eu precisava de espaço, que eu não tinha condições de ser uma boa amiga, mas na verdade é que você vinha demandando um cuidado que uma amiga não tem condições de dar. Eu precisa ser cautelosa com tudo - com você, com sua mãe, ao falar da sua família, ao te ouvir, eu tinha que estar sempre à postos pra acolher uma crise e isso estava prejudicando a
minha saúde mental, porque eu já trabalhava com acolhimento clínico psicológico de pessoas e, fora do expediente, eu precisava descansar. E não dava pra descansar com você.
Depois de um tempo eu achei que as coisas estariam mais leves, e eu me sentia mais fortalecida pra talvez voltar a falar contigo. Como disse, tinham coisas que só você entendia, que só você riria delas comigo, e eu pensei que valia a pena, sabe? Que poderíamos tentar ter uma amizade leve de novo. E por um tempo deu certo - ficou claro pra mim que você tinha outros amigos, que você estava se cuidando, que você tinha passado por muita coisa e sobrevivido, e que poderíamos mais uma vez sermos partes positivas na vida uma da outra.
Mas você foi adoecendo de novo - o que não é culpa sua, mas você começou a insistir que precisávamos sair juntas, e embora eu tenha deixado totalmente aberto pra que você decidisse o que gostaria de fazer e o que te deixaria confortável, você deixou nas minhas mãos - eu, que trabalhava das 8h às 18h e com muitas horas extras, que só teria 15 dias de descanso, pra planejar um passeio que se encaixasse nas suas necessidades. Sugeri um lugar e me arrependi amargamente - eu nunca fiquei tão constrangida em público, com o quão abertamente você se queixava de tudo em voz alta - do lugar, dos valores, da sua família, dos seus estudos, de novo sobre valores. As pessoas nas mesas ao nosso redor olhavam pra nós chocadas, e os atendentes ficavam constrangidos sempre que você se queixava de algo, e eu não conseguia entender onde tinha errado -
por que você não escolheu um lugar, se você precisava de uma faixa de preço específica, num horário mais específico?
Passamos quase 12 horas juntas naquele dia - algo que não estava nos meus planos, mas eu fiquei sentida de te deixar perambulando sozinha num lugar que você não parecia estar habituada. E nessas quase 12 horas eu te ouvi se quieixar de
todas as coisas possíveis repetidas vezes - dinheiro, família, estudos, perspectivas para o futuro, família, dinheiro, família, estar deprimida, estudos, família, não estar bem, família. E num dado ponto você me solta que estava aliviada de poder desabafar, porque você tinha interrompido a terapia fazia cerca de um mês. Porque estava sem grana para pagar a terapia.
Em que momento você achou que era adequado me usar de psicóloga gratuita? Porque eu sou acolhedora? Porque eu tenho graduação em psicologia? Porque somos amigas? Em que momento você encontrou qualquer justificativa pra passar um dia
inteiro despejando seus sentimentos ruins e suas desgraças em cima de mim? De novo, como você fez anos atrás. Somando todos os momentos em que eu falei nessas quase 12 horas que ficamos juntas, se eu somar 2h seria muito. Cheguei em casa exausta e chateada, porque eu sugeri um rolê que eu queria muito fazer, e que eu teria curtido muito se tivesse uma companhia que quisesse estar comigo, e não me usar para uma sessão de terapia na faixa.
Daí começaram os desabafos no whatsApp quando eu estava em horário de trabalho - num dia em que minha avó estava no hospital e eu precisava ficar atenta ao celular pra receber notícias. Mas cada notificação era uma reclamação nova, um desabafo por minuto, "não precisa responder, só quero colocar pra fora". E eu entendo que você precisava de apoio, mas ouvir as pessoas também cansa e
eu precisava de uma trégua.
Eu tentei me afastar. Eu tentei ser suave, não dar retorno sempre, me preservar um pouco porque não queria te machucar. Mas não teve jeito: você teve uma nova crise e, para a surpresa de zero pessoas, se iniciou um novo turbilhão de mensagens - era no whatsApp, era no instagram, até no blog onde você não circulava mais haviam anos. Era sufocante, mas não foi surpreendente - até porque, num geral, você só me procurava quando estava em crise e precisava desabafar ou se sentir validada, e me encurralar parecia fazer muito sentido pra ter uma resposta.
Eu estava vivendo um dos piores momentos da minha vida, mas você não sabia porque estava em crise e, como de costume, meu papel era ouvir - e não ser ouvida. Não que eu tivesse coragem de contar com uma pessoa que estava sempre em crise, e que sempre podia sair com outros amigos que não eram eu, mas aparentemente não pode desabafar com ninguém além de mim - a amiga que,
coincidentemente, é psicóloga.
Então eu te machuquei. Eu te disse com todas as letras que não era você - a pessoa em crise -, era eu - a pessoa que não aguentava mais e não tinha mais forças pra cuidar de você o tempo todo. Te disse que não estávamos num bom momento pra manter a amizade e que eu não queria ter nenhuma discussão, mas que não dava mais pra mim. E você até soou compreensiva. Você nem imaginava que eu estava há meses desabafando com meus outros amigos sobre o quanto eu não queria piorar as suas crises, embora você me fizesse muito mal constantemente despejando suas mágoas sobre mim. Mesmo todos eles me lembrando algo que eu, como psicóloga, deveria saber:
você nunca foi minha responsabilidade. Você nunca foi minha paciente. Uma amizade deveria ser uma via de mão dupla, e eu não precisava me responsabilizar pelo seu bem-estar - é muito peso pra uma pessoa só, e eu não aguentava mais o medo de olhar minhas notificações e ver seu nome de novo, mais uma vez, sem trégua.
Eu imagino que te machuquei, mas eu me machuquei muito precisando te carregar tanto tempo. E às vezes eu sinto, sim, falta de rir daqueles memes que só a gente ia entender, surtar com fanfics e piadas literárias, mas eu sei agora que não vale a pena. Eu não posso ser o seu muro das lamentações, porque sou humana e também sou frágil. Também preciso de cuidado. E
eu não sou sua psicóloga. Então, eu sinto muito se te machuquei, sinto muito por não poder te apoiar, mas eu não sinto muito por ter me afastado de você.
Não foi por você. Foi por mim.
Atenciosamente,
B.
Marcadores: 30 letters, Carta, desafio, pessoal; desabafo
Novembro está quase acabando, e é claro que eu precisava decorar não só a minha casa (e da minha mãe, pois aparentemente sou decoradora oficial), mas também o blog. Já fazem uns anos que eu enrolo um pouco com o
layout de Natal do Hishoku porque demoro muito pra ter uma inspiração específica e acabo fazendo algo meio no susto - bons tempos em que eu ficava o dia todo ouvindo música e vendo imagem de anime pra fazer layouts fofos, bons tempos! Mas na verdade acho que minha própria experiência do natal tem mudado um pouco, então eu sempre quero passar um clima de alguma forma
aconchegante e quentinho (não de chocolate quente na lareira porque, né, no Brasil pe natal é 40 graus, mas de calor no peito mesmo).
Já falei muito detalhadamente por aqui sobre o que é o Natal pra mim, então decorar o blog é menos sobre o hype e mais sobre
me sentir envolvida pela data e todas as coisas que eu acho bonitas nela. É sempre uma época de correria, mas é muito especial pra mim e algumas das minhas melhores lembranças são dos preparativos natalinos que minha mãe fazia - eu já devo ter repetido isso um milhão de vezes nesse blog, inclusive, mas enfim: tudo isso pra dizer que eu estava procurando algo que expressasse isso de alguma forma no layout; as estampas e cores tradicionais do natal, uma música que trouxesse aquela sensação de estar num sofá fofinho, com meias gostosas, talvez vendo um filme, talvez lendo um livro, tomando algo gostoso e sentindo aquela alegria num momento de calma - se é que isso fez algum sentido??? Espero que tenha feito.
De qualquer forma, uma atividade que tem me trazido essa alegria 'calma' e confortável é o hábito do
journaling - que pra mim é um mix de fazer listas num caderno e fazer colagens, tipo scrapbook, e menos um diário. Também tenho trocado cartas com algumas pessoas e isso também me deixa feliz nesse sentido, então pensei em tentar reproduzir isso no blog de alguma forma e, bom, o
resultado foi esse aí.
Comparados a outros layouts que fiz esse ano, a versão de natal do Hishoku (que estou chamando de
Christmas Journal, muito criativa né?) foi provavelmente a mais de boinhas até agora. Visualizei o formato que queria para o layout e tentei reproduzir um efeito tipo
fichário ou
caderno com divisórias, e fui buscando elementos pra decorar em volta. Já tinha a maioria das estampas no computador, e conforme fiz o design fui editando alguma coisa ou outra.
Ao fazer os códigos, senti que o designj foi ganhando corpo e acabei reaproveitando várias imagens de layouts anteriores - os avatares nas páginas internas, nas sessões 'perfil' e 'blog' são de 2021; o button é da versão natalina de 2020; os desenhos do "leia mais" e das divisórias são layout de 2019, e assim por diante. Me senti como quando decoro a casa, e abro as caixas de enfeites de natal e decido quais vou usar a cada ano. Isso deixou o processo mais gostoso pra mim, porque em geral eu esqueço de fazer essas imagens e depois faço meio na correria, mas também me senti
nostálgica e feliz em utilizar designs que eu fiz mais uma vez. Acho que ficou tão temático que nem dá pra perceber que rolou essa reciclagem, hahaha!
O que mais demorou foi encontrar uma música que passasse o clima que eu queria - ouvi muitas músicas natalinas e nenhuma me passava a sensação que eu estava buscando. No fim, estava ouvindo repetidamente as músicas da Laufey, e acabei me sentindo bem inspirada com
I Wish You Love, que é basicamente uma carta de despedida - achei que o climinha bossa nova me remetia ao natal, e a letra me fez pensar em encerramento de ciclo; desistir enfim de alguém e seguir a vida adiante, o tipo de reflexão que a gente costuma ter no final do ano, sabem? Então acabou sendo essa a trilha sonora no layout de natal, é isso.
Estou especialmente orgulhosa de ter conseguido colocar minha imagem mental em prática, então torço pra que agrade mais pessoas além de mim ♥ Estou me organizando pra fazer uma série de posts de final de ano de agora em diante, então me aguardem com muitas resenhas e listas, hahahaha! Beijinhos pra quem leu até aqui e até a próxima! :*
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