As línguas muras (também línguas mura-pirrahã) constituem uma família de línguas ameríndias do Brasil.[1][2] Antes de tudo, os múras vivem em terras indígenas, no Amazonas, nas proximidades do rio Amazonas, Madeira e Púrus. Porém, devido a urbanização, alguns indígenas deixam as aldeias para viver a vida inativa nos centros urbanos regionais, como Altazes, Borba, Manaus e entre outras regiões. Os Múras possuem ampla mobilidade territorial para percorrer entre os igarapés, ilhas, furos, e lagos. O histórico linguístico, cultural e demográfico do povo nativo Múra, tiveram perdas grandes, assim como outros povos indígenas que lutam para sobreviver contra os invasores que tentam tomar as terras e obter fins lucrativos.

Mura
Utilizado em:  Brasil (Amazonas)
Região: Altazes, Borba, Manaus ...
Total de usuários: AM 18328 (Siasi/Sesai, 2014)
Família: (desconhecida)
Códigos de língua
ISO 639-1: --
ISO 639-2: sgn

À lutas para a realização na tentativa de recuperar a língua materna, pois, alguns Múra já associam uma língua chamada Nheengatú[3]( língua geral Amazônica) , como a língua fala por eles. Nheengatú é a língua utilizada para manter o contato com outros povos indígenas, negros e brancos. Por fim, a recuperação da língua nativa se torna difícil.

Línguas

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As línguas muras são:[2]

Comparações lexicais

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Comparações internas

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Comparação de palavras pirarrã (Heinrichs 1963[4]) e mura/bohurá (Hanke 1950[5]):

Português Pirarrã Mura
cabeça á²pai¹ apai
cabelo a²paí²tai²¹ apaité
orelha aó²pai² apuí
olho aó²pai¹ kosé
nariz i²taó²pai¹ taú-i
boca kaó²pai² kauí
língua í²po¹pai² ipúi
dente aí²to¹pai² aitúi
pescoço boí²to²pai² boúi, bo-úi
peito bó²pai² iju-ú-i
mão ó²pai¹
perna á²po¹pai¹ ipu-u-í
joelho aó²¹pai² jaús
áa²¹pai² apái
fígado i²bío¹pai¹ ibijuí
osso sá²ai¹ ái
sangue i¹bíi²¹
veado baí²toi¹ baitú
cobra ti²gaí²ti² chírai
cachorro gió²pai¹ dahauri
onça baó¹goi²pai¹a² bohu-ija
anta ká²ba²ti¹ tabatí
chifre sá²paì²i² apái
rabo i¹gá²toi² datúi
papagaio kaá²hai²ʔài¹ kfi-a-i, kaa-i
asa si²pó²ai² ipóa
ovo sí²toi²¹ itúi
peixe tao²í¹ʔi²hi²ai² jaraki taui, kauerê
piolho ti²hií²hi² tihyhí
milho tí²haa²¹ chihúi
mandioca áo²hoi² isubais
flor ii²¹ho²áó²bai² ijubá, ijubái
folha pí¹ itai
sol hí²si¹ huisí, u-isí
lua ká²hai¹ʔài²¹i² ka-ãnhê
estrela po²goi³sái² kâ-nhê
dia cí²¹bi²gáo²pi² huahyje
noite á²ho¹ai² áhui
ano pí²hoi²¹hi²ai² piaihúissi
chuva pí²
vento i²ó¹hoi¹ eujhy’
terra bí²gi¹ birí
pedra á²ʔa¹ti² apúi
canoa á²ga²oa²ai² arauái
arco ho¹ií² húi
flecha pó²ga²hai² káhai, ípai, jatorran
machado tái²¹si² taisy’, taisí
banha sa²haí¹ sahá
sal sí²gi¹hi² juriri
fogo ho²aí² uái, wúai
fumaça hoa¹ʔaí²¹ wúai
cinza hoa²tíi¹ wuatí
homem hí¹gi²hi¹ kaií, kai-í
mulher i²pói¹hi² karí
criança ti²o²áa²ʔai² uwaihy
pai bái²¹ʔi² hí²gi²hi¹ abái
mãe bái²¹ʔi² í²poi¹hi² diaba
eu ti²ʔáa²ga² aúri
bom i²báa²ai¹ baisí
frio a²gí¹ʔi² arí
verde á²hoa²sai² awys
preto o²paí¹ai¹ʔi¹ miupái
molhado í²hoa¹ ihúis
comprido pí²ʔi² peissí, pe-issí
longe káo²¹ʔaá²ga¹ kái
perto í²gi¹ai²go¹ irijhê


Comparação lexical (Rodrigues 1986):[6]

Português Pirahã Múra
cabeça ’apapai apai
língua ’iipópai ipue
olho kosí kuse
orelha ’aooí apoe
nariz ’itaoí tawi
mão ’oái uwe
’aaí aai
sangue biipai be
ovo sitoí sitoe
sol hisɨ huese
lua kaháí’áii kaha íai
água pii pe
pedra ’a’ái ati
anta kabatií kabatxi
fumo tí’i txihĩ
canoa ’agaoa arawa

Comparações externas

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Alguns paralelos lexicais entre o Pirahã e o Kwazá (Jolkesky 2016):[1]

Português Pirahã Kwazá
1.S ʧi si
3.S hi ‘3.S.M’; ʔi ‘3.S.F’ ĩ
árvore/madeira ʔii hi ‘madeira’
bom Mura baese/maaise wai-
canoa arũái eroha
falar/boca ɡai ‘falar’ ekãi ‘boca’
morcego hoahoi hoi
olho/cabeça kosi ‘olho’ kutɨ ‘cabeça’
olho/semente ko ko ‘semente’

Ver também

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Referências

  1. a b Jolkesky, Marcelo Pinho de Valhery. 2016. Estudo arqueo-ecolinguístico das terras tropicais sul-americanas. Doutorado em Linguística. Universidade de Brasília.
  2. a b Loukotka, Čestmír (1968). Classification of South American Indian languages. Los Angeles: UCLA Latin American Center 
  3. AMOROSO, Marta Rosa. «Língua». Povos indígenas no Brasil. Consultado em 26 de maio de 2023 
  4. Heinrichs, Arlo. 1963. Questionário: Mura-Pirahã Rios Marmelos e Maici. (Questionário dos Vocabulários Padrões para estudos comparativos preliminares de línguas indígenas brasileiras.) Rio de Janeiro: Museu Nacional. Manuscrito, 28f.
  5. Hanke, Wanda. 1950. Vocabulário e idioma mura dos índios mura do rio Manicoré. Arquivos: Coletanea de documentos para a História da Amazônia. Vol. 12. Manaus: Associação Comercial do Amazonas.
  6. Rodrigues, Aryon Dall'Igna. 1986. Línguas brasileiras: Para o conhecimento das línguas indígenas. São Paulo: Loyola. (PDF)